Elsa correu o mais longe que podia, o mais rápido que conseguia. Parou apoiada em uma parede em um corredor deserto da escola. Não queria falar com ninguém, não queria ver ninguém, não queria se decepcionar com mais ninguém.

Vendo que estava sozinha, deixou-se escorregar pela parede até estar sentada e então foi tomada pelas lágrimas, abafando os soluços com suas vestes. “Promessas foram feitas para serem quebradas.” A frase que Elena havia dito ainda martelava incessantemente em sua mente. E para piorar, sua mão continuava a latejar, lembrando-a do que havia feito nas escadarias da Torre de Astronomia.

– Por que chora, criança? – A loira ouviu uma voz conhecida e ergueu o olhar, percebendo ser o Diretor Mouse quem estava ali abaixado à sua frente.

– Não é nada, Diretor. – Elsa balançou a cabeça e limpou as lágrimas do rosto com as costas da mão.

– Elsa, eu pensei ter dito em seu primeiro dia em Hogwarts que todos os estudantes podiam me considerar como um amigo. – O Diretor sorriu de maneira reconfortante. – Você pode me contar qualquer coisa, se achar que vai ajudar, é claro.

A loira permaneceu calada, ainda abafando seus soluços com as vestes e limpando as lágrimas que continuavam a insistir em cair.

– É a Elena? – Mickey supôs com um olhar solidário.

Elsa ergueu o olhar em tempo de ver o Diretor sentando-se no chão ao seu lado, esperando que ela falasse. A loira não o encarou, começando a fitar o teto como se de repente fosse a coisa mais interessante do mundo.

– É só que... – Começou, mas logo depois parou e respirou fundo antes de continuar. – Sabe quando você confia cegamente em alguém? E então quando você menos espera essa pessoa te decepciona? E aí você fica se punindo porque já devia saber que isso aconteceria? – Falava com pausas a cada pergunta. – Mas na verdade você nunca pensou que isso fosse acontecer e então quando tudo vem à tona, tudo o que lhe resta é sentar e chorar porque sabia que não devia confiar tanto assim nas pessoas.

– Eu acho que todos já passamos ou um dia passaremos por algo assim. – Mickey respondeu, tendo escutado atentamente cada palavra dela. – Eu mesmo já passei algumas vezes. Mas tudo o que tem que fazer é superar. Eu fiz isso.

– Como consegue? – Elsa finalmente o olhou com os olhos marejados.

– Sempre que isso acontecia, era principalmente com meus melhores amigos, Donald e Goofy. – Mickey sorriu. – Mas eles sempre acabavam tendo uma razão, na maioria das vezes não tão boas, mas tinham.

– Se ela tem, eu nunca vou saber. – Elsa deixou sua cabeça bater na parede atrás de si. – Ela não parece a pessoa que eu conheci.

O silêncio pairou pelo corredor vazio apenas por um instante. Mickey pegou um pequeno frasco transparente de suas vestes e o estendeu para Elsa.

– O que é isso? – A loira questionou, pegando o pequeno frasco e examinando-o.

– Uma lágrima. – Mickey respondeu com um sorriso mínimo. – De sua irmã. Achei nas escadarias da Torre de Astronomia.

– Para que uma lágrima serviria? – Elsa devolveu o frasco a ele.

– Elsa, você já viu uma Penseira? – Mickey arqueou uma sobrancelha, trazendo em seu rosto um sorriso divertido.

Elena estava andando por Hogwarts com os punhos cerrados e pisando com força no chão. Só parou quando alguém segurou seu braço.

Malévola.

– O que você quer? – A morena perguntou rudemente à Professora de Poções.

– Bom te ver também, Elena. – Malévola sorriu com sarcasmo.

– Não vou perguntar de novo. – Elena respondeu por entre os dentes trincados.

Malévola franziu o cenho e largou o braço da morena. Quando falou, parecia claramente insatisfeita:

– Black está te esperando à beira do Lago Negro.

– Diga ao Pitch que eu estou meio desinclinada a aquiescer ao pedido dele. – Elena respondeu com a típica frieza que vinha expressando desde que retornara a Hogwarts.

A morena não se surpreendeu quando a Professora de Poções soltou um riso baixo e divertido.

– Ele disse que talvez você fosse falar assim. – A loira anunciou. – E disse que se fosse esse o caso, eu teria que te lembrar do que vai acontecer se você desobedecê-lo.

Elena fuzilou Malévola com os olhos, mas acabou assentindo minimamente com a cabeça, visivelmente contrariada, e se retirou dali, tomando o caminho que a levaria até o Lago Negro.

Mickey guiou Elsa até seu escritório, que continuava do mesmo jeito em que Minerva, e consequentemente Dumbledore, havia deixado. Todos os Diretores pintados nos quadros nas paredes olharam para os dois recém-chegados, alguns expressando curiosidade.

– Como você já deve saber – O Atual Diretor de Hogwarts falou. – Aqui há uma Penseira. – Abriu as portas de um pequeno armário de onde o que pareceu ser uma tigela rasa prateada saiu flutuando suavemente até o centro da sala.

– Já ouvi dizer. – Elsa concordou, aproximando-se da Penseira, assim como Mickey.

– Vá em frente. – O Diretor Mouse estendeu o frasco com a lágrima de Elena para ela e gesticulou para a Penseira.

Elsa pegou o frasco e se aproximou relutantemente da Penseira.

Os passos firmes de Elena ecoavam pelos corredores de Hogwarts e os estudantes temerosos abriam espaço, já sabendo que desde que voltara, paciência era uma coisa que a Gryffindor havia perdido.

Mais uma vez parou ao sentir alguém lhe segurando o braço e virou-se, vendo que desta vez era Anna.

– Por que as pessoas gostam tanto de fazer isso? – Perguntou-se em voz baixa com ironia, puxando o braço, mas a ruiva não largou.

– Onde está a Elsa? – Anna perguntou, tentando parecer firme, embora não conseguisse um tom tão duro quanto pretendia.

– Não sei e, mais importante, eu não ligo. – Elena sorriu com sarcasmo. – Agora, será que dá para você me soltar? – Perguntou, olhando para a mão de Anna, que ainda segurava seu braço.

– Não até você me dizer onde ela está. – Anna insistiu.

Elena suspirou pesadamente e Anna largou seu braço de súbito, massageando a própria mão, uma vez que ela ficara vermelha. Elena havia a queimado, não o suficiente para deixar uma marca, mas o suficiente para se libertar.

– Agora se me dá licença. – A morena sorriu sem humor e retomou seu caminho até o Lago Negro.

Sem mais nenhum impedimento, não tardou em chegar ao Lago Negro, onde o Professor de História da Magia lhe esperava.

– O que você quer, afinal? – Elena perguntou assim que chegou perto o suficiente para ele poder ouvir.

– Nada. – Pitch afirmou, deixando-a confusa. – Só não quero perder você de vista.

Elsa colocou a lágrima na Penseira e logo depois se sentiu mergulhando na escuridão.

Depois de alguns poucos segundos, as trevas finalmente cederam espaço a uma cabana de madeira antiga e empoeirada, bastante modesta.

Relutantemente, a loira avançou alguns passos e entrou no local. Não havia muita coisa a se ver lá dentro. Havia apenas mais uma porta que levaria a outro cômodo, mas fora isso, tudo o que havia ali era uma cama e duas poltronas, uma das quais sendo ocupada, bem como a cama.

Jennete e Elena.

A morena estava encolhida em seu lugar. O rosto estava vermelho e os braços em volta das pernas estavam completamente sangrentos e feridos.

– Elena. – Elsa chamou alarmada e tentou tocar a irmã, mas a atravessou. Aquilo era apenas uma memória.

– Quanta teimosia. – Escutou Jennete dizer e se virou para a garota, que estava sentada com as pernas cruzadas na poltrona antiga. – Vamos ver se eu consigo mudar isso. – Sorriu e se levantou da poltrona, logo apontando a varinha para a morena. – Legilimens!

Mais uma vez a escuridão tomou conta da visão de Elsa e quando desapareceu, ela estava no que parecia ser um labirinto. Como aquela era uma memória de Elena, provavelmente era aquilo que Jennete estava forçando a morena a ver.

Olhando mais atentamente, viu alguém passar por um dos corredores do labirinto e seguiu a pessoa, percebendo ser sua irmã mais velha. Só a alcançou quando a morena parou de correr. Seguiu o olhar vidrado da outra até uma pira em chamas, onde pôde ver a si mesma e também à Anna.

– Não! – Ouviu Elena gritar ao seu lado e viu que a morena tentou correr até lá, mas seus pés pareciam estar colados no chão. – ELSA! ANNA! – Ela gritava enquanto lutava para se soltar.

– Viu o que você fez? – A loira conseguiu escutar uma voz a mais, uma que não estava ali anteriormente. A própria Jennete.

– Não fui eu. – Elena caiu de joelhos, ainda observando sua família ser consumida pelas chamas, desolada e sem expressão, apenas com as lágrimas caindo insistentes por seu rosto.

– É claro que foi. – Jennete se abaixou e segurou o rosto de Elena, fazendo-a olhá-la. – Você é o próprio fogo. Tudo aquilo que você toca você destrói.

– Ela tem razão. – Uma Elsa mais nova, de aproximadamente oito anos, apareceu ao lado de Elena, deixando a Elsa mais velha surpresa. – Você me matou.

– Você nos matou. – Uma Anna mais nova também surgiu ao lado da Elsa criança. – Porque você é um monstro.

– Você não é boa. – A Elsa mais nova concordou com um sorriso sádico.

– Você é uma assassina. – A pequena Anna continuou. – Você destrói tudo.

– VOCÊ É UM MONSTRO! – A pequena Elsa gritou o mais alto que conseguiu.

– Não. – Elsa se abaixou ao lado de Elena, embora soubesse que aquilo já acontecera. Ela estava apenas vendo. – Você não é. Você não é um monstro.

As duas figuras mais novas de Elsa e Anna continuaram a repetir as mesmas coisas e cada vez mais Elena se encolhia em seu lugar, colocando as mãos nos ouvidos, querendo não escutar.

– SAI DA MINHA CABEÇA! – A morena gritou.

Mais uma vez a cena se modificou e Elsa se viu novamente na antiga cabana e Jennete guardava sua varinha no bolso dianteiro da calça jeans preta. Com a outra mão, a Slytherin massageou o braço que agora estava com uma queimadura recente.

A porta da cabana foi aberta e Elsa se virou em tempo de ver ninguém menos do que Pitch Black entrando lá.

– E então? – O recém-chegado questionou.

– Parece que eu estou conseguindo o que você me pediu. – Jennete sorriu ao ver a face amargurada e a expressão assassina de Elena.

– Excelente. – Pitch elogiou e antes que Elsa pudesse partir para ele, mesmo sabendo que era apenas uma lembrança, a cena inteira foi tomada pelas trevas mais uma vez e tudo mudou.

Agora ela estava de novo do lado de fora da casa e Elena, um pouco mais alta e mais parecida com a atual, olhava com amargura e frieza para Pitch.

– Sugiro que você esconda essas cicatrizes. – O Professor de História da Magia disse, apontando para as mãos da morena, que estavam completamente cobertas de cicatrizes. – Nem devia tê-las feito para começo de conversa.

– Por quê? – Elena perguntou com tom frio e cruel que estivera usando desde que voltara a Hogwarts.

– Porque você vai voltar para a Escola. – Pitch sorriu. – E vai machucar suas irmãzinhas. Vai fazê-las te odiar.

– E se eu não fizer? – Elena arqueou uma sobrancelha, desafiando. – Vai me matar?

– Não. – Pitch bagunçou os cabeços dela e desfez o sorriso, ficando com a face dura e fria. – Eu vou matá-las. Elsa e Anna. E vou fazer isso bem na sua frente. Você vai assistir suas preciosas irmãzinhas morrerem e não vai poder fazer nada, afinal você não pode me matar. Você fez um Voto Perpétuo, lembra? – Sorriu novamente.

– O que precisa que eu faça? – Elena abaixou a cabeça e cerrou os punhos com força.

Mais uma vez a escuridão acabou com a cena e Elsa se viu mais uma vez na Diretoria de Hogwarts.

– Elsa? – Mickey chamou, esboçando preocupação.

A loira podia até ter estado chocada e ressentida com Elena até poucos minutos atrás, mas tudo isso fora substituído. Ela não estava mais confusa, chocada ou magoada. Estava completamente furiosa. Naquele momento, sentia um ódio homicida por quem havia feito a irmã mais velha passar por tudo aquilo.

Pitch Black.

– Por que você está sorrindo? – Elena arqueou uma sobrancelha ao ver o sorriso de aparente divertimento de Pitch.

– Está frio aqui. – Foi o que ele respondeu, olhando para o Lago Negro, onde podia-se ver que as águas estavam começando a congelar.