Merida e o Urso Elinor haviam fugido para a Floresta Proibida. Elinor não se sentia a vontade ali, mas a ruiva a guiava cada vez mais fundo pelas árvores.

As duas acabaram parando naquele mesmo conjunto circular de rochas onde Merida havia visto as Luzes Mágicas que a guiaram até a bruxa.

– Luzes Mágicas! – Merida começou a andar pelas pedras, chamando as luzes e desejando que elas aparecessem. – Apareçam, Luzes! Levem-me até a casa da bruxa! Eu estou aqui! – Logo suspirou e parou de andar. – Ótimo. Não apareçam logo agora que minha mãe está vendo. – Resmungou.

O urso Elinor, que até aquele momento se encontrava de pé sobre duas patas e com as patas dianteiras cruzadas, olhou para ela.

– Eu estava bem aqui. – Merida falou. – E uma Luz Mágica apareceu bem ali. – Apontou para o local certo. – Então várias delas me guiaram pela floresta...

O urso Elinor fez sinal com a pata para que Merida parasse de falar. Logo, começou a andar em direção à floresta, guiada por algo que a ruiva não sabia o que era.

– Ela acha que a gente vai esbarrar por acaso na casa da bruxa? – Merida resmungou, mas seguiu a mãe pela floresta.

As duas foram andando silenciosamente por alguns minutos, porém logo Merida começou a notar as semelhanças entre aquele caminho e o que percorrera antes.

– Mãe. – Chamou e o urso Elinor olhou para ela. – Eu conheço esse lugar. A casa da bruxa é por aqui. – Apontou para a direção para onde a mãe a estava guiando e começou a correr para lá.

As feições de urso se distorceram em algo que seria indignação se estivesse na forma humana. Mesmo assim, Elinor seguiu a filha pela floresta.

As duas acharam a mesma clareira que a ruiva encontrara antes e a mesma cabana que Merida sabia ser a casa da bruxa.

– Não acredito. – Merida sorriu. – Eu achei!

A indignação de Elinor aumentou, mas ela seguiu a filha até perto da cabana quando a ruiva correu para lá. Não tardou para que Merida entrasse na cabana, mas encontrasse apenas o vazio lá dentro.

– Não. – Merida entristeceu-se. – Ela estava aqui.

Fechou a porta novamente e virou-se para a mãe.

– Não, não, é sério. Ela estava bem aqui. – Merida tentou convencer.

Elinor olhou para cima, parecendo estar em dúvida.

– Já sei. – Merida declarou e andou alguns passos à frente, passando pela mãe.

Pegou sua varinha nas vestes e a mexeu como a bruxa havia feito antes. Logo, voltou para a cabana e abriu a porta novamente. Porém, tudo continuava do mesmo modo. Vazio.

– Não. – A ruiva negou e fechou a porta novamente, mas abriu-a novamente logo depois, como se esperando encontrar algo diferente. – Não. – Repetiu o gesto feito anteriormente. – Não. – Refez o mesmo gesto de antes. – Não. Não!

Olhou em volta e adentrou na cabana, mas logo parou quando seu pé mexeu num fio no chão, que acionou o sininho da porta. Com isso, uma bola foi solta e esbarrou numa pequena escultura móvel de urso, que se moveu para frente e esbarrou numa pá, fazendo-a cair e acertar uma faca, o que a fez voar para longe, cortando uma corda acima do caldeirão, fazendo com que um pequeno frasco caísse no mesmo. A faca acertou a porta, próximo à cabeça de Merida, assustando-a.

O caldeirão, na qual o frasco caíra, soltou uma fumaça verde, que pairou acima dele e formou a imagem da mesma velha bruxa de antes. Merida, juntamente com o urso Elinor, se aproximou do caldeirão, a qual a imagem de fumaça começava a falar:

– Bem-vinda ao Artes e Manhas. – A voz da velha bruxa soou pela cabana. – Lar de peças de madeira espiradas em ursos. Estou completamente sem estoque no momento, mas se quiser encomendar porta retratos ou bonecos para bolos de casamento vire o frasco um no caldeirão. – Isso fez com que Merida e Elinor olhassem para uma mesinha com cinco frascos enumerados que estava ao lado do caldeirão, mas logo voltarem-se novamente para a imagem de fumaça da bruxa. – Se quiser ouvir o menu de produtos vire o frasco dois. Se você é aquela garota ruiva vire o frasco três...

Merida imediatamente pegou o terceiro frasco e o virou no caldeirão. A imagem da bruxa não se alterou, começando a falar:

– Princesa, eu fui para um festival em Stormway. – A imagem de fumaça da bruxa declarou. – Só volto na primavera. Tem uma coisinha que me esqueci de dizer sobre o feitiço: Ao segundo nascer do sol, seu feitiço será permanente. – Merida se assustou e olhou para o urso que era sua mãe, mas logo se voltou novamente para o caldeirão quando a imagem de fumaça recomeçou a falar. – A menos que se lembre dessas palavras. – Falou e a fumaça mudou de verde para vermelho. – Sina alterada. Olhe em sua alma. Remende a união por orgulho separada. – Depois disso, a fumaça voltou ao tom verde.

– Sina alterada? – Merida repetiu sem entender. – Remende a união? O que quer dizer?

Como se para responder à ruiva, a imagem de fumaça recomeçou a falar:

– Mais uma vez. – Declarou e a fumaça tornou-se novamente vermelha. – Sina alterada. Olhe em sua alma. Remende a união por orgulho separada. – A imagem de fumaça tornou-se novamente verde. – É isso. Tchau, tchau e obrigada por comprar no Artes e Manhas.

A imagem de fumaça verde se desfez assim que terminou de falar.

– Não! – Merida ficou aterrorizada. – Não!

A ruiva começou a jogar as outras poções no caldeirão, querendo ajuda, mas sendo a péssima aluna de poções que era, o caldeirão acabou por explodir. Elinor protegeu a filha da explosão com o enorme corpo de urso. Logo as duas se encontravam no que um dia fora a cabana da bruxa.

Elinor olhou para a filha com decepção e preocupação, abaixando as orelhas. Uma chuva começou e Merida montou um abrigo com alguns troncos para que ela e a mãe ficassem. Assim que terminou, sentou-se no lugar vago que havia lá dentro, uma vez que o enorme corpo de urso de Elinor ocupava quase todo espaço.

– Vamos resolver isso, mãe. – A ruiva tentou tranquilizar Elinor.

O urso olhou para ela com decepção e virou-se de costas para a ruiva. Merida abaixou a cabeça e deixou-se levar por uma memória há muito tempo esquecida.

Numa noite chuvosa, no castelo de Highland, uma Merida de talvez sete anos estava em um dos quartos, sentada no chão brincando com um pequenino cavalo de madeira, enquanto sua mãe costurava uma tapeçaria com o desenho da família Dunbrooch.

Um trovão assustou a pequena ruiva, que se escondeu por baixo da parte da tapeçaria que já estava pronta. Elinor riu um pouco e retirou a tapeçaria de cima da filha.

– Minha garotinha valente, eu estou aqui. – Tentou tranquilizar a ruiva. – E eu sempre estarei aqui com você. – Assegurou, sorrindo.

Merida assentiu com a cabeça e mãe e filha se abraçaram. Elinor começou a cantarolar baixinho, ainda abraçando a filha.

Merida acordou pela manhã ainda cansada e levantou-se. Acabou por encontrar o urso que sua mãe havia virado arrumando algumas coisas em cima de uma pedra lisa. A ruiva aproximou dela.

– Bom dia. – Falou. – Então... O que seria tudo isso? – Perguntou, olhando para as coisas que a mãe estava arrumando na pedra.

Não ouviu a voz da mãe que tanto sentia falta, mas sim o mesmo barulho de urso que vinha escutando desde que aquela confusão começara. Elinor indicou que a filha se sentasse numa pedra que havia perto da “mesa” que estava montando. A ruiva largou o arco e a varinha que vinha carregando desde Hogwarts na “mesa”, logo recebendo um olhar reprovador da mãe, que bateu com as patas na “mesa”.

– O que? – Merida olhou para ela com confusão.

O urso Elinor começou a “falar”, querendo responder a pergunta da filha. Assim que terminou, olhou para a filha de uma maneira que estaria de sobrancelhas erguidas se ainda fosse humana e levantou as orelhas.

– Perdão. – A ruiva pediu, levantando os braços em rendição. – Eu não falo ursês.

O urso Elinor fez uma careta e fez um gesto simbolizando o uso de um arco e logo depois de uma varinha, apontando para os dois objetos na “mesa” em seguida.

– Ah. – Merida entendeu e colocou o arco no chão próximo à “mesa”, também guardando a varinha nas vestes sujas e rasgadas de Hogwarts.

Elinor logo pegou o “garfo” e a “faca” que havia feito com galhos e começou a tentar cortas as pequeninas amoras que havia posto no “prato” à sua frente. A amora acabou por ser atirada do “prato” e acertar a testa de Merida. O urso assustou-se e largou o “garfo” e a “faca” na mesa, pegando uma das amoras restantes no “prato” e colocando elegantemente na boca, mas logo estremecendo com o gosto. Merida pegou uma das amoras e examinou.

– Achou elas perto do rio, não foi? – A ruiva supôs e o urso fez que sim com a cabeça. – São Amoras das Sombras. – Merida disse, mas como Elinor não sabia o que aquilo significava, pôs outra na boca. – São venenosas. – Ela explicou.

Elinor não tardou em cuspir as amoras e colocar a água que estava em um pote de pedra num “copo” de pedra. O urso logo bebeu. Merida pegou o pote de pedra e examinou a água restante.

– Onde é que você pegou essa água com vermes? – Perguntou.

Elinor imediatamente cuspiu a água e caiu no chão, com a pata no peito. Merida riu e levantou-se.

– Vem, mãe. – Chamou e começou a andar.

O urso Elinor a seguiu até um riacho. A água era tão limpa que chegava a ser completamente transparente e cristalina, com alguns peixes nadando ali. Merida pegou seu arco e apontou uma flecha, logo a atirando e acertando um peixe no rio. Tirou o peixe da água e o apontou para a mãe.

– Café da manhã. – A ruiva sorriu.

O urso Elinor bateu palmas com o feito da filha.

– Mas uma princesa não deve usar armas. – Merida repetiu a frase que tantas vezes a mãe dissera para ela. – Em sua opinião.

O urso Elinor concordou, mas logo balançou a cabeça, notando o que a filha havia feito. Merida riu e se aproximou do enorme urso negro.

– Esse aqui é para você. – Estendeu a flecha com o peixe para a mãe.

O urso Elinor abaixou-se e cheirou o peixe, mas logo recuou, franzindo o nariz.

– Ah, come! – Merida pediu.

No mesmo momento, o peixe se mexeu e Elinor recuou ainda mais.

– Como sabe que não gosta se não experimenta? – Merida arqueou uma sobrancelha.

O urso Elinor olhou para ela como se fosse óbvio. Logo, Merida fez uma fogueira e assou o peixe para que a mãe pudesse comer. Colocou o peixe assado numa pedra. Elinor concordou com a cabeça e pegou o “garfo” e a “faca” de madeira, cortando um pedaço do peixe e comendo. Logo balançou a cabeça e comeu como um verdadeiro urso.

Merida estranhou o ato da mãe, mas se manteve calada, apenas observando-a. Quando Elinor percebeu o olhar da filha em si, levantou-se e limpou a boca elegantemente com uma folha. Com um gesto, pediu mais dois peixes à filha, que logo pegou, assou e lhe deu.

Elinor comeu novamente como um urso e quando acabou, com um outro gesto da mão, pediu mais peixes. Merida suspirou e apontou para o riacho, gesticulando para que a mãe pegasse seus próprios peixes. O urso Elinor retirou a coroa do Reino de Highland de sua cabeça e deixou-a numa pedra, logo indo para o riacho.

No lugar onde havia uma pequena queda d’água, onde os peixes pulavam bastante, Elinor se postou sobre duas patas, tentando pegar os peixes com as duas patas dianteiras, mas sem obter sucesso, uma vez que os peixes escorregavam de suas patas. Numa das tentativas, acabou por cair no rio.

Merida gesticulou para que ela usasse a boca ao invés das patas. Elinor se postou sobre quatro patas como um urso de verdade e começou a pegar os peixes.

Mãe e filha brincavam naquele riacho e Merida ria sem parar, sendo aquela a primeira vez em muito tempo que se divertia de verdade com sua mãe.

Ambas já estavam incrivelmente molhadas quando Elinor começou a andar sobre quatro patas até a floresta. Achando estranha a atitude da mãe, Merida pegou suas coisas na beira do rio e a seguiu.

– Mãe! – Chamou, porém o urso não olhou para ela, prosseguindo seu caminho sobre quatro patas pela floresta.

Não obtendo resposta, Merida se aproximou e tocou o urso, que se virou violentamente para ela. O urso à sua frente tinha olhos completamente escuros e... Vazios. Como os de um urso de verdade.

O urso começou a avançar para a ruiva, mostrando os dentes.

– Mãe? É você? – Merida perguntou.

O urso se levantou sobre duas patas e levantou uma das dianteiras para dar um golpe, porém se interrompeu antes de machucar Merida. Elinor assustou-se ao perceber que estava prestes a ferir a filha e se pôs sobre duas patas novamente.

– Mãe, você mudou. – Merida declarou, aproximando-se do urso. – Como se fosse um urso de verdade por dentro.

Elinor assustou-se e olhou para algo atrás de Merida. A ruiva seguiu o olhar da mãe até uma pequena chama de Lacarnum Inflamare, ou Luz Mágica, como gostava de chamar.

– Luz Mágica. – Merida surpreendeu-se.

No mesmo momento, Elinor correu e pulou por cima da Luz, tentando pegá-la, mas estava desapareceu e apareceu em outro lugar, onde ela tentou novamente pegá-la.

– Pare! – Merida pediu.

Uma Luz Mágica pairou acima da cabeça de Merida. Elinor levantou-se sobre duas patas e tentou pegá-la com as dianteiras, mas esta novamente desapareceu e apareceu em outro lugar.

– Mãe! – Merida chamou quando Elinor começou a seguir uma Luz Mágica que estava se movendo.

Na tentativa, o urso acabou por esbarrar numa árvore. Merida revirou os olhos e foi até a mãe.

– O que eu fiz para merecer isso? – Resmungou.

Merida se aproximou de Elinor, que estava se levantou e se apoiou na árvore na qual havia batido.

– Mãe, eu sei que você está assustada. Sei que está cansada e sei que você não entende, mas nós temos que ficar tranquilas. – Merida tentou acalmá-la. – Então, calma agora. Apenas escute.

Elinor levantou as orelhas e juntamente com Merida, olhou em volta. Uma trilha de Luzes Mágicas apareceu à frente delas. As duas se entreolharam e seguiram.