Arendelle

Já com alguns dias de férias, Elsa estava sozinha em seu quarto, deitada em sua cama, pensativa. Ela olha para a mão, a qual estava calçada com uma luva azul-clara, e relutantemente retira a luva.

Ela olha em volta, receosa, mas para sua surpresa e alívio, nada congela. Com um suspiro aliviado, Elsa deixa a mão cair no colchão. Milhares de pensamentos passam por sua cabeça. Seu poder, que estava crescendo dentro de si, seus inimigos, que ela nem mesmo sabia quem eram e o medo de machucar aqueles que amava, o que incluía suas irmãs, seu namorado e seus amigos.

Tão perdida estava em seus pensamentos, ela só percebeu o que estava acontecendo quando viu metade do quarto congelado. Elsa gritou e colocou a luva de volta, arrependendo-se por tê-la tirado.

Em menos de um minuto, ela ouve batidas na porta, porém apenas fica parada em seu lugar, respirando rapidamente e assustada.

– Elsa, abra a porta. – Ouviu a voz de Elena vinda do lado de fora.

Mesmo sabendo que a irmã iria lhe entender, a loira sequer se mexeu. Passou os olhos pelo gelo que estava pelo quarto, dando-se conta da dura realidade: Que por mais que se esforçasse, jamais poderia se controlar.

– Elsa Gryffindor, abra essa porta agora! – Ouviu Elena gritar do lado de fora.

A loira levantou-se lentamente da cama e foi andando a passos curtos até a porta. Ao chegar lá, a abriu e encontrou a gêmea mais velha a olhando com preocupação.

Elena entrou no quarto e fechou a porta atrás de si, trancando-a.

– Abaffiato. – Lançou o feitiço e se aproximou da loira.

Elsa se afastou dela e foi até o canto do quarto, encolhendo-se lá.

– Eu estou com medo. – A loira declarou, evitando olhar para a morena, que a fitava com preocupação. – Estão ficando mais fortes. – Olhou para as mãos.

Elena soube exatamente do que se tratava e tentou se aproximar da loira, que pareceu se encolher ainda mais.

– Não se aproxime. – Elsa pediu. – Por favor. Eu não quero te machucar.

Elena suspirou e se aproximou, mesmo que a irmã lhe pedisse o contrário. Chegando perto o suficiente, a morena abraçou a loira, que apenas permaneceu parada, como se esperando que algo acontecesse.

– Você não pode me machucar. Mesmo se você quisesse. – Elena sorriu sem humor. – Vai ficar tudo bem, Elsa.

Elsa balançou a cabeça em negação. Ela queria acreditar nas palavras da irmã, mas parecia que ultimamente, tudo estava contra ela.

– Elsa, ficar transtornada só piora as coisas. – Elena explicou, ainda não soltando a loira. – Acalme-se.

– Como você consegue? – Elsa perguntou, ainda olhando para o chão.

– Como assim? – Elena se afastou o suficiente para olhar a loira nos olhos, mesmo que ela desviasse o olhar.

– Se controlar. – Elsa respondeu, finalmente levantando o olhar e fitando os olhos azuis que eram tão iguais aos seus. – Como você consegue?

– Eu apenas evito pensar tanto nisso. – Elena deu de ombros, sustentando o olhar da loira. – Não tem tanta importância para mim. Na verdade, nunca teve. E quando penso, eu gosto de imaginar que tudo vai ficar bem. Que eu não vou perder o controle.

– Não tem medo de machucar alguém? De destruir tudo? – A loira desviou o olhar da morena.

– Elsa, no momento em que eu deixar de acreditar que as coisas vão ser melhores, será quando eu vou saber que elas não vão. – Elena sorriu de forma encorajadora. – Você também não tem que ter medo. Eu estou aqui e eu sempre estarei aqui com você. Eu só peço que confie em mim.

Elsa assentiu e abraçou a gêmea com força, e a morena imediatamente retribuiu. A loira enterrou o rosto no ombro da irmã e deixou as lágrimas fluírem livremente por seu rosto.

– O que eu vou fazer? – Perguntou com a voz embargada devido ao choro.

Elena olhou em volta e percebeu que as paredes, a cama e todos os objetos presentes no quarto estavam cobertos com uma grossa camada de gelo.

– O que você quer fazer? – A morena fechou os olhos e suspirou.

Elsa sorriu fracamente com a resposta da irmã e se afastou dela. As duas sentaram-se no chão e se encostaram à parede atrás de si. A loira logo contou para Elena o que estava pensando em fazer para contornar a situação.

– Você tem certeza disso? – Elena arqueou uma sobrancelha quando Elsa terminou de falar. – Acha que isso é o certo?

– É o melhor a se fazer. – A loira respondeu, olhando para o chão. – Você não precisa ficar do meu lado nisso. Eu só queria que você soubesse.

– É claro que eu vou ficar do seu lado. – Elena levantou o rosto da irmã, fazendo-a olhá-la. – Sempre.

– Você é a melhor pessoa do mundo. – Elsa sorriu tristonhamente. – Sabia disso?

– Eu me esforço. – A morena bagunçou os cabelos loiros de Elsa, que até riu um pouco. – Mas é por sua causa.

– Por quê? – A loira questionou. – Por que sempre por mim? Por que você faz tudo isso por mim?

– Porque eu quero que você seja feliz. – A morena sorriu fracamente. – Custe o que custar.

– Será que eu valho todo esse esforço? – Elsa desviou o olhar.

– É claro que sim. – Elena respondeu e a loira a olhou novamente com curiosidade. – Você é família. Para mim, família vale tudo e muito mais.

– Obrigada. – Elsa disse, deitando-se no chão e colocando a cabeça no colo da irmã. – Por tudo.

– Você não tem que me agradecer. No final das contas, eu não fiz nada. – Elena deu de ombros. – Você fez. Você é uma pessoa maravilhosa com a qual coisas ruins aconteceram. Mas você passou por todos os obstáculos. E fez isso sozinha.

– Sei... – Elsa suspirou.

– Acredite em mim se quiser. – Elena ficou brincando com uma mecha rebelde no cabelo loiro de Elsa. – Mas é a verdade. Você só precisa acreditar e vê-la.

– Só porque acredita em alguma coisa não quer dizer que seja verdade. – Elsa respondeu.

– É assim que se torna verdade. – Elena disse e Elsa se levantou, fitando-a. – Isso é uma coisa que eu sei muito bem. – A morena se levantou e caminhou calmamente até a porta, mas parou e olhou para a loira pelo canto do olho antes de abri-la. – Você me perguntou como eu consigo me controlar. Eu apenas acredito que eu consigo.

Disse isso, destrancou a porta e saiu do quarto, fechando a porta novamente quando estava do lado de fora.

Elsa ficou parada em seu lugar, fitando a porta, pensativa. Mesmo tudo o que havia ouvido ali não foi suficiente para que desistisse de fazer o que havia combinado com Elena.

Com uma lágrima solitária se formando, ela se levantou do chão e foi andando até a porta. Ao chegar lá, colocou a mão sobre a chave e deixou a lágrima escorrer por seu rosto até que caísse no chão. Assim, com um movimento da mão, ela trancou a porta, um gesto que já havia feito muitas vezes em sua vida e que agora voltara a repetir.

– Acho que velhos hábitos custam mesmo a morrer. – Ela sorriu de maneira infeliz e então se deitou novamente em sua cama, deixando todas as lembranças de quando passara três anos trancada naquele quarto com Elena invadirem sua mente.