Coloquei a mão direita reta na frente de minha testa e enxerguei o horizonte. Puxei minha amiga pelo braço e direcionei sua cabeça com a mão para a mesma visão que a minha.

— O que você está fazendo? — Ela perguntou.

Coloquei o meu dedo na frente dos meus lábios, pedindo que fizesse silêncio. Em seguida, apontei para a cidade que estava em frente aos meus olhos.

— Está vendo essas casas? Podemos já ter chegado nos Estados Unidos, o que significa que um bom pedaço do nosso caminho está cumprido.

— Tanto faz. — Ela disse ao olhar para mim. — Eu só quero chegar nesse local seguro o mais rápido possível.

— Eu também, algo me diz que eu já estive trilhando o caminho para lá antes, mas algo não deu certo.

— Como assim? Você não lembra de nada? — A preocupação que Lynn sentia, incrivelmente eu também tinha.

— Eu não sei como. Um dia eu acordei no meio do mar e pronto. Só lembro que tenho que ir pra lá.

— Pelo menos você sabe sobre os deuses e as outras coisas. — Marty falou, de algum ponto atrás de nós dois com a boca cheia. — Para colocar essa história na cabeça dura da minha irmã foi difícil.

Eu e Lynn fomos até ele e sentamos em roda.

— Você só come? — A menina perguntou, chocada. — Não tem um momento que eu não te vejo comendo.

— Desculpa. — Ele respondeu. — Eu gosto muito de sanduíches.

— Você nunca me contou sobre a Sophie. — O lembrei. — Quem ela era?

— Ah, ela também gostava muito de sanduíches. — Marty contou. — Sempre comíamos quando éramos crianças. Ela teria 15 anos hoje, se estivesse viva.

— Um ano a mais que você. — Lynn observou. Ela estava um pouco cansada, por isso apoiou sua cabeça na minha perna, quando se deitou na grama. Não me importei, apenas me apoiei com as mãos atrás de mim.

— Mas como ela morreu? — Perguntei.

— A última vez que falei com ela... — Marty Hudson começou, afagando seus próprios fios de cabelo pretos, pequenos e lisos. — Foi algumas horas antes de sua morte. Ela estava em uma missão.

— Missão? De onde? Do acampamento? Por que você não estava com ela?

— Sim, do acampamento. Nossa mãe disse que eu ainda não estava pronto para sair de casa. Por isso Sophie foi sozinha.

— Você tem uma mãe? Também nunca falou sobre ela.

O filho de Ares ficou cabisbaixo, olhando para as próprias mãos.

— Desculpa. — Disse para ele. — Eu sou muito tagarela.

— Tudo bem. — Ele se levantou, fazendo com que eu e Lynn fizéssemos o mesmo.

Observei como ele estava tristonho.

— Sei de uma coisa que pode te alegrar.

— Uma das suas ideias malucas? Não estou muito afim...

— Nem ligo. Quem chegar lá embaixo por último é a mulher do padre. — E saí correndo, montanha abaixo. Deixando os outros dois para trás. — Ykuz, tentaremos não demorar!

Não tinha certeza que ele tinha ouvido ou entendido meu recado, mas a correria não me deixava prestar atenção em outra coisa. A todo momento, tinha que me desviar de possíveis tropeços em pedras no meio do caminho.

— No meio do caminho tem pedras. — Disse uma voz familiar à minha frente. — Tem pedras no meio do caminho.

O que? Como era possível? Marty já estava na minha frente, mas dei um olhada para trás e Lynn ainda estava um pouco atrasada, como se não estivesse na velocidade máxima. Como também não estava, comecei a correr mais rápido, até chegar ao lado de Marty.

— Empurrão não vale, ok? — Ele afirmou quando perguntei.

— Não preciso disso para ganhar de você. — Falou. — Olha para frente.

Foi quando eu percebi que não olhava diretamente para frente, e sim também para seus pés para ver como se movimentava. Ao olhar totalmente para frente me deparei com uma pedra de minha altura. No impulso, apenas coloquei o braço esquerdo na pedra para me defender e dei uma volta completa, agora correndo mais atrás e mais para a direita.

— Tudo bem, por essa eu não esperava. — Comecei a pular, com o intuito de dar passos mais longos, o que estava dando um pouco certo, até ele tentar também.

Por ter começado antes, consegui alcançar ele, mas chegamos ao mesmo ritmo.

— Nós estamos parecendo cangurus! — Ele comentou, sorrindo e dando risadas. — Que divertido!

Ops.

Quando pulamos em um certo ponto da grama, ela caiu. Como assim caiu? Grama cai? Não sei, mas quando pisamos, algum buraco se abriu e nós caímos.

Pedras caíram sobre a gente logo após acertarmos o chão de uma caverna, devido à queda de uns três metros.

Meu amigo ao meu lado tossiu, mas não prestei muita atenção. Um objeto brilhava em algum lugar daquele espaço subterrâneo.

— Você está bem? — Marty perguntou para mim.

Ouvimos um grito e um deslize em algum lugar acima de nós, seguido de mais uma pessoa caindo no buraco.

— Lynn! Marty! Vocês estão bem? — Me dei conta da pergunta de Marty. — Ah, eu estou...

— Eu também, moço. — Ele respondeu. — Mentira, meus cotovelos e pernas estão doendo. Caí de bica.

— Que pena. — Lynn não me respondeu, fui até ela. Ela estava de olhos fechados. — Acho que ela desmaiou. — Olhei se ela tinha alguma ferida. Saía sangue da sua cabeça. — Oh, não. Acho que bateu com a cabeça.

Marty veio até nós, cambaleando.

— Pena que o kit de primeiros socorros não está com a gente. Na correria, você nem lembrou de trazer, né?

— Eu me machuco com muita dificuldade, não costumo me ligar nesse tipo de coisa. — Respondi, tentando enxergar o que brilhava ao longe. — Acho que essa aqui vai precisar de uma carona, se quisermos sair daqui.

Ele não estava prestando atenção. Também estava procurando o brilho e saiu andando.

— Ok. Eu carrego. — Disse, pegando Lynn no colo. Por que ela tinha que ser tão alta? — Sem problemas.

Após nem um minuto andando, achamos o que brilhava tanto.

Um arco de flechas dourado estava dentro de uma vitrine. Ele era um pouco maior que um arco normal e parecia especial, por brilhar tanto.

De algum lugar mais à frente, ouvimos gritos. Parecia estar havendo uma luta na próxima curva que passaríamos.

Morra de uma vez, monstro. — Alguém disse, logo antes de um monstro voar na frente da próxima passagem. Uma espada acertou seu peito e ele desintegrou-se.

Era a voz de uma menina. Ela apareceu na nossa frente. Seus olhos me chamaram a atenção. Sua íris era tão negra, que eu não conseguia diferenciar ela de sua pupila. Além disso, sua maquiagem em volta de seus olhos era muito forte, talvez para disfarçar a palidez de seu rosto.

— Olá? — Tentei dar o meu melhor sorriso para ela.

— Gente, temos companhia. — Ela disse e quase sorrindo: — E o arco! Finalmente!

— Companhia? — Um garoto com mãos pegando fogo apareceu do lado da menina desconhecida. — Nem ligo.

O menino deu um pulo alto na direção da vitrine e o vidro se quebrou. De repente, toda a caverna começou a tremer e ele começou a assobiar.

— Toma, Kath! — Ele pegou o arco e jogou na mão da garota. Em seguida, os dois saíram correndo na direção que vieram.

— O que acabou de acontecer? — Marty perguntou incrédulo.

— Não sei, mas acho que isso aqui vai desabar. — Falei. — Consequentemente, se não sairmos rapidamente, vamos morrer.

Olhamos um para a cara do outro e gritamos. Lynn nem mencionava acordar.