Ai.

Eu estava inconsciente, mas não sei como, eu sentia a dor. Apesar disso, a sorte não quis ser um pouco mais generosa comigo. Uma pequena pedra caiu, aparentemente, no mesmo lugar que doía mais em minha cabeça.

— Hum? — Abri os olhos de modo devagar. Eu me movimentava em velocidade como se alguém estivesse correndo enquanto me segurava. — Onde eu estou? Hon?

— Ah, mocinha. — Hon arfava ao me responder. Ele realmente estava cansado. — Finalmente...

Ele parou bruscamente ao som de algo pesado caindo na nossa frente. Eu não conseguia enxergar direito o que era, minha vista estava cansada. Ao olhar para cima, a única coisa que via era o sorriso do meu carregador.

Rapidamente corei, o menino estava me segurando no colo, como se eu fosse uma princesa. Começamos a nos mover novamente.

— Avistei um buraco invertido logo ali onde a pedra caiu. — Avisou Marty, de algum lugar. — Mas o caminho continua, então é mais fácil continuarmos.

Hon balançou a cabeça em meio à correria, como se concordasse.

Tentei mover meus braços para me segurar no pescoço do menino e mesmo com bastante dificuldade, consegui o que queria. Ele deu um sorriso.

Até eu ver uma iluminação pelo canto do olho, eu não tinha percebido o quanto estava escuro no local que estávamos.

— Ali! — Hon falou. — Deve ser a saída!

Olhei para frente e vi a abertura. Era como uma entrada de uma caverna,as para nós, no caso, era nossa salvação de outra caindo aos pedaços. Pude ver o horizonte fazendo uma linha imaginária entre o céu e o mar, percebendo nosso próximo problema.

— Hon, não! — Gritei para ele, mas então já havíamos pulado junto com Marty.

Fui jogada em cima de algo peludo e fofo. Enquanto os meninos caíam.

Acontece que ao pular pela abertura, iríamos encontrar o mar, abaixo de nós. Então lá estavam eles mergulhados na água enquanto eu estava jogada em cima de Ykuz.

— Oi, garanhão. Como você chegou aqui? — Perguntei enquanto a entrada da caverna se fechava com pedras caindo.

Uma das pedras caía bem onde Hon e Marty estavam, mas eu estava muito paralisada para conseguir ajudá-los.

A espada de Hon foi empunhada e fincada no centro da pedra de tamanho médio, a parando no meio do caminho.

Ykuz voou mais baixo para poder apanhar seus passageiros.

— Ufa. — Marty suspirou. — Essa foi por pouco.

– Foi mesmo. — Hon concordou, dando seu habitual sorriso de orelha à orelha.

Hon estava com seu cabelo médio fazendo uma franja na frente de seu rosto, enquanto Marty tirava algas marinhas grudadas em seu braço forte.

Deitada de barriga para baixo, estendo a mão tentando ajudar. Hon a pegou, montou no pégaso e ajudou Marty a subir. Logo já estávamos dando a volta naquele morro que havíamos perdido tanto tempo.

— Ykuz... — Hon estava à minha frente, chamou o cavalo. — Provavelmente alguns semideuses passaram por aqui, você talvez saberia para onde eles foram?

A partir da pergunta, o animal mudou de direção até encontrar uma menina miúda no topo da colina.

— Saudações, amigos. — Ela falou, sua voz era como a de uma criancinha, o que fez Hon soltar uma gargalhada.

Coloquei a mão na frente da boca dele, mas o idiota a beijou para eu afastá-la.

— Do que está rindo, semideus? — A menina virou seu olho esquerdo, não coberto por sua franja até Hon. — Minha voz é engraçada. Não precisa me lembrar disso.

— Desculpa, mas quem é você? — Ele perguntou.

— Miyazaki. — Ela respondeu pausadamente, como se a vida inteira dela ela tivesse problema com as pessoas entendendo o nome. — E vocês?

— Eu sou Hon. Eles são Marty e Lynn. — Ele respondeu enquanto nos apontava e a gente concordava com a cabeça.

Ykuz relinchou em algum lugar atrás de nós e veio até a mão direita de Hon, pedindo carinho.

— E esse é nosso pégaso Ykuz. — Continuou. — O que veio fazer aqui?

— Estou em uma missão, mas parece que aquele maldito garoto me abandonou dentro da caverna. — Respondeu.

— Entendi. — Hon ainda estava fazendo cafuné em Ykuz. — Foi por isso que ele nos trouxe até você. Também estamos procurando aqueles dois jovens.

— Ah, ótimo. Eles trouxeram problemas pra vocês também. Como a Yumi faz falta... — A menina tapou seu olho escuro visível com a mão.

— Então vamos procurar pela cidade agora... Tchau, menina. — E ele começou a andar conosco logo atrás, menos a menina.

Deixamos a menina magra para trás. Ela aparentemente não havia gostado da gente, por isso não se importou. Passamos pelo buraco que caímos e simplesmente o ignoramos, chegando à cidade sem preocupações.

A vila, antes vista lá de cima, parecia bem vazia. Poucas pessoas trafegavam por ela, algumas crianças brincavam e não era visível carros ou até mesmo bicicletas. Era como se todos tivessem migrado para a cidade grande.

— Vocês acham que é possível os jovens estarem em algum lugar por aqui? — Hon perguntou para seus parceiros de viagem.

— Acho que não, cara. — Marty disse e eu concordei com a cabeça. — Afinal, não parece ter algo de interessante nesse lugar.

Uma bola de futebol acertou em cheio a barriga de Marty.

— Ei! — Um menininho muito pequeno se aproximou, enquanto Hon ria e Marty colocava a mão na barriga dolorida. — Nosso vilarejo tem importância! — Ele pegou a bola de volta e voltou a brincar com as outras crianças.

— Para de rir, maldito. — Marty reclamou e eu não pude deixar de rir também. _ Ótimo. Agora o casal está rindo. Vamos embora.

Paramos de rir. Hon olhou para mim e me dei conta de que tinha corado um pouco, mas não disse nada. Com isso, voltamos a andar com ele rindo novamente, só que da minha expressão. Ele acabou o topo da minha cabeça e assim eu me senti mais confortável, voltando à expressão normal.

Saindo do vilarejo, chegamos à parte mais urbanizada da cidade, que era muito mais movimentada.

As pessoas nos olhavam de modo de estranho. Eu não podia culpá-las, provavelmente estávamos bem sujos por ter entrado em uma caverna.

Eu me perguntava o que seria que estavam vendo no lugar de Ykuz. Talvez um cavalo normal ou até mesmo um pacote de jujubas. É... Eu estava com fome.

Coloquei a mão na barriga, quando ela roncou de fome, mas felizmente só eu percebi. Hon viu meu gesto e me perguntou.

— Já está melhor da queda?

— Que queda? — Perguntei de volta.

— Aquele buraco que nós passamos quando descemos o morro foi o que caímos quando entramos na caverna. Quando você caiu, você desmaiou e sua cabeça estava sangrando. Agora a pouco, eu mexi no seu cabelo e pareceu não ter mais sangue. Está tudo bem?

Apreciei a preocupação que ele estava tendo comigo, seus olhos verdes, que eu acho bonitos, estavam arregalados, mostrando o nível de o quanto estava preocupado.

— Está. — Respondi feliz enquanto olhava para o seu rosto. — Estou pronta para correr uma maratona.

Ele deu aquele sorriso que eu aprendi a gostar.

Ainda estava com fome, por isso olhei em volta à procura de alguma lanchonete ou algo do tipo. Havia uma próxima chamada Hew's, com dois "adolescentes" saindo dela.

— Achei os dois! — Apontei para os jovens. — Até que foi fácil.

— Boa menina. — Hon me elogiou, afagando a minha cabeça novamente. —Vamos! Rápido! Eles estão correndo!

Começamos a correr atrás dos dois, mesmo sem saber porque estavam correndo. Hon, muito desajeitado, trombou com uma barraquinha de um vendedor ambulante.

— Danado! Meus repolhos! — O vendedor gritou, agora lá atrás.

Hon começou a rir enquanto corria na nossa frente, mas ao não prestar atenção no caminho novamente, esbarrou em algo de novo, só que dessa vez foi com uma menina ruiva.

— Ah! — Ela gritou, enquanto caía no chão. Hon caiu junto, ficando em posição horizontal acima dela na calçada. Não sei porquê, mas tive um pouco de inveja dela.

— Me desculpa. — Hon rolou para o lado e esbarrou na perna de um outro jovem. Este tinha cabelo curto, barba cobrindo apenas o queixo, era muito magro e o mais estranho era que possuía pernas muito peludas. — Desculpa, você também. Vocês dois estão bem?

— Sem ofensas, Hon. — Marty falou. — Mas agora não é hora para se preocupar com desculpas.

Percebi sobre o quê ele estava falando. Um rugido me fez olhar para o lado e ver um enorme dragão vindo em nossa direção.