"Marty! Não!"

— Ykuz! Atente a mim! — Falei para meu amigo voador, em seguida me joguei de cima dele, deixando ele e Lynn para trás. O que eu acabei de fazer?

Eu sempre quis pular de paraquedas, mas não imaginava que a primeira vez em que teria oportunidade de fazer algo tão radical quanto, eu não teria um paraquedas para abrir e me impedir de me espatifar no chão de concreto.

Meu amigo agressivo não fez nenhum sinal de dor. Ele estava desmaiado em pleno ar a alguns metros de distância de mim.

Eu me sentia como se estivesse voando para baixo. Se mexer era como nadar, só que ao invés de água, era ar. Em poucos segundos, já estava do lado do meu amigo e via um mar abaixo da gente. Tarde demais.

— Ykuuuuuuuuuz!!! — Não o via. Percebi que estavam voando muito alto. Já era pra mim.

Peguei Marty pela cintura e fiquei com os pés em suas costas. Dei o máximo de impulso que consegui para lançá-lo para o alto. Óbvio que não chegaria até o cavalo, mas pelo menos ele não morreria de choque contra a água.

Após o coice provisório, fiquei em posição de mergulho, com as mãos na frente da cabeça. Caí na água. Não conseguia ouvir mais nada, mas com meus olhos pouco abertos, enxerguei o filho de Ares afundando na água segundos depois.

Ele parecia bem, exceto por ser alguém desmaiado se afogando sem ninguém podendo se mexer para ajudá-lo. É verdade. Eu não conseguia me mexer.

De repente, patas verdes, da cor do oceano, apareceram, juntamente com uma mão delicada que pegou a gola da camisa de Marty e o levou para fora d'água. Em seguida, não lembro mais de nada.

[ ... ]

— Garoto, acorda.

Abri os olhos e só vi água. Era como se eu estivesse deitado no meio do mar, mas isso não faz sentido. Aos poucos, percebia onde estava descansando: Uma superfície rochosa, bem dura e cinza. Era bem dura, meus braços estavam cansados de sustentar minha posição de bruços.

— Eu não sou expert nesse assunto, mas acho que se você quiser deixar alguém descansando, bruços não é a melhor ideia. — Eu avisei.

— Eu sei, idiota. — Marty e Lynn falaram ao mesmo tempo. Mas só pude escutar, enquanto olhava para o horizonte.

Me sentei, virando para o outro lado. Nossas mochilas estavam ao lado de Ykuz, que recebia carinho de Lynn, enquanto Marty, de cara emburrada, comia uma maçã.

Olhei para o céu, estava escuro, de noite. Me perguntava quanto tempo já estava ali, no meio do mar.

— Quanto tempo eu dormi?

— Sei lá. — Marty respondeu. — Três meses? Não sei. Tenho cara de relógio?

Percebi que ele estava sendo irônico. Ele revirava os olhos quando agia desse modo.

— Tá agressiva hoje, meu bem? — Lynn perguntou para Marty, fazendo eu rir.

Marty respondeu com uma mordida na maça. Eu estava com fome.

— Valeu. — Peguei a maçã da mão de Matt e comi o que sobrava de maneira rápida, para ele não pegar de volta.

— Ei! — Ele protestou.

— Que fracassado. — Lynn falou. — O outro nem sabe roubar alguém direito.

— E você sa- — Comecei, mas vi que o resto da maçã, onde tinha a semente, já estava na mão da garota. — Como?

Ykuz pegou o alimento com a boca e mastigou, até cuspir a semente na superfície da pedra e ela cair em um pequeno buraco.

— É muito simples, Hon. — Ela respondeu, sorrindo, com ar de esnobe.

— É bruxaria. — Marty se pronunciou.

— Não é bruxaria! — Ela pareceu ofendida, fazendo sua mecha castanha clara voar para o lado, ao bufar. — É habilidade.

Eu ri. Logo depois, olhei para o meu reflexo na água. Estava com olheiras levemente fundas, abaixo dos meus olhos verdes. O cabelo alaranjado estava todo descabelado, mas não é como se eu ligasse pra isso.

— Ô, Galã de Cinema. — Ouvi a voz de Marty. — Você já acordou. Quer parar de olhar seu reflexo e levar a gente para outro lugar?

— ... Baby. — Sussurrei, porque depois da pergunta do meu amigo, lembrei de uma música e continuei. — Tudo bem, mas por que eu?

— Porque você é líder. — O garoto colocou a mão fechada na testa, como se fosse óbvio.

— Eu não gosto de ser o líder. — Falei.

— Quem é o líder, afinal? — Lynn perguntou, já montada no cavalo, ajeitando as mochilas.

Eu e Marty nos olhamos. Perdi.

— Tudo bem. — Aceitei. — Pode ser eu. Mas vamos mudar às vezes?

— Não. — Ele respondeu secamente, montando no cavalo, ajudando a ajeitar as mochilas que lá já estavam.

Bufei com minha boca pequena, pegando a única mochila que estava no chão e a colocando nas costas.

— Eu já caí uma vez e não quero cair de novo. — Marty disse, se sentando na frente de Lynn. — Agora é sua vez.

— Tatiti! Tatiti! — Cantei a música de Yu-Gi-OH!. Com eles me olhando estranhos. Sentei em Ykuz, logo atrás de Lynn, o cavalo começando seu vôo. — Ah, qual é? Vocês não tiveram infância ou não gostam de cantar?

— Não. — Marty respondeu secamente.

— Eu estou com sono para is... — Lynn dormiu, caindo pra cima de mim, então tive que segurá-la durante a viagem.

Como eu tinha acabado de dormir, fui o vigia.

[ ... ]

— Terra à vista, marujos. — Disse, mas ninguém acordou.

Pousei com Ykuz em cima de uma montanha e vi o oceano atrás de mim. Estou no litoral. Será que finalmente na costa dos Estados Unidos?

— Pessoal? — Ykuz desabou no chão, derrubando os dorminhocos junto.

— Ai. — Lynn resmungou, acordando. Marty continuava dormindo.

Eu ri um pouco. Eu era a parte humorada do grupo, mas eu era acostumado com isso.

Lá no pé da montanha, tinha um conjunto de casas que parecia uma vila. A vila se estendia para frente e lá começava a cidade. Queria descer para perguntar em que cidade estávamos e quando faltava para chegar à Long Island.

Já era dia, mas mesmo assim, existia uma luz verde mais forte que o Sol brotando-se de algum lugar no topo da montanha.

Lynn e eu fechamos os olhos, mas quando abrimos a luz ainda estava presente, só que mais fraca. Nós víamos uma silhueta na luz, cada vez mais destacada. Era uma pessoa vestindo algum tipo de casaco e de braços abertos. Pensei ser uma mulher pelos seus cabelos pretos compridos, mas quando a luz sumiu, percebi que era um homem.

O homem era relativamente alto, seus olhos eram castanhos e em sua volta havia uma áurea mágica, como se dissesse que ele é especial.

— Oi, filho! — O homem disse, fechando os olhos.

Lynn estava calada.

— Érr... — Comecei. — Quem é você?

O homem abriu os olhos e deu um sorriso fraco.

— Não importa, garoto. — Ele respondeu. — Eu quero falar com o meu filho.

Olhei para Marty, deitado.

— Ah... Ele está dormindo. — O homem chegou perto de Marty e comecei a pensar que ele era Ares.

— Você é Ares? — Lynn finalmente falou alguma coisa.

— Ares, criatura?! — O homem pareceu ofendido, mas continuou olhando para Marty. — Claro que não! Eu sou um deus muito mais poderoso que ele! Esse não é meu filho! Isso que dá fazer visita no dia do aniversário! Errei a localização!

A luz forte apareceu novamente, vinda do deus. Fechamos os olhos novamente. Quando abrimos, o homem já tinha desaparecido.

— Hum? — Marty acordou, sonolento, coçando os olhos. Olhou pra baixo e tomou um susto com a altura da montanha, já que ele estava na ponta. — Wow! Muito alto. O que aconteceu? Onde estamos?

— Quanto ao lugar, espero que Hon nos diga. — Lynn respondeu. — Quanto ao que aconteceu... Acho que vimos um deus pela primeira vez na vida.