De dentro do carro, Robert pode ver Cláudia caminhando a passos duros pela calçada, ainda a viu secar uma ou duas lágrimas com as costas da mão. Não tinha certeza dos motivos de estar indo atrás dela, talvez por considerar sua responsabilidade o estado em que ela se encontrava. Ele não estava exatamente apaixonado pela moça do restaurante, mas nem por isso ela deixava de ser uma pessoa interessante, não queria que Cláudia o visse com a tal moça.

Não desceu do carro, percorreu o trajeto até sua casa sem que ela o visse, apenas observando-a. Ninguém a assaltou ou fez coisa pior, mas Rob ao menos se sentia aliviado pela segurança dela. Ao chegar ao prédio, decidiu ir até ela.

O elevador havia acabado de se abrir quando ele parou ao seu lado.

- Que caralhos está fazendo aqui Bourdon? – Kady praguejou em voz baixa, já que uma senhora idosa acabara de juntar-se a eles no elevador. Rob apenas se limitou a sorrir com o canto da boca e respondeu também em voz baixa.

- Precisamos conversar.

- Conversar o meu pau! – Cláudia se alterou um pouco e a senhora a encarou com os olhos esbugalhados e Kady soltou mais um palavrão em voz baixa. – Não tenho nada pra falar com você.

- Não seja tão arisca Kady, sabe que temos assuntos pendentes.

Finalmente a porta do elevador se abriu e Kady saltou mais irritadiça do que já estava, diferente dela, Robert parecia extremamente tranqüilo e isso a deixava com mais raiva ainda.

- Pronto, pode falar, o que você quer? – Kady disse ríspida.

- Não vai me convidar para entrar?

- Não, quanto mais rápido falar, mais rápido eu posso ficar sozinha novamente.

Rob assentiu com a cabeça e iniciou o assunto.

- Precisamos falar sobre o que acabou de acontecer no restaurante.

Ela soltou um suspiro longo e fechou os olhos.

- Vai embora Rob.

- Não. Eu sei que está magoada comigo, eu não fui justo com você.

- Ah, que bom que você sabe que foi injusto!

- Será que pode baixar a guarda só por um instante? Eu não estou aqui pra te humilhar nem nada, eu não estou muito melhor do que você, mas eu não quero que fique essa sombra de desapontamento entre nós dois.

- Ta dizendo que não quer ficar comigo, mas quer que nós dois sejamos amiguinhos, é isso?

- Colocando com esse seu tom de sarcasmo parece algo ruim, mas não é. Eu ainda me preocupo com você, não quero que fique assim. – Rob fez menção de tocar em seu rosto, mas ela se esquivou.

- Eu não vou ficar assim pra sempre, é porque ainda é muito recente e eu gosto de me sentir triste, faz parte do processo. Você felizmente não tem esse mesmo processo não é? Já arranjou uma ruiva peituda.

- Eu não tenho nada com ela.

- Mas quer ter.

- Provavelmente. – Kady desviou o olhar – Mas isso não significa que eu não estou triste com a nossa separação.

- Você alguma vez me amou Rob? – os olhos castanhos dela se encontraram com os dele.

- Kady...

- Não precisa responder, eu sei que não. Sempre fui a que amei mais na nossa relação.

- Você não sabe de nada Claudia.

- Não preciso da sua caridade Bourdon.

- Eu não estou fazendo caridade, eu já disse que estou preocupado com você!

- Chega Robert, vai se foder! – depois disso abriu a porta e a bateu com força. Sabia que ele ainda estava do outro lado, apenas apertou os olhos e deslizou até o chão, contando os segundos para ouvir o som dos passos dele se afastando.

Depois de um curto instante, enfim pode ouvi-lo soltar um suspiro e caminhar de volta para o elevador. Queria chorar, mas parecia que já não havia mais lágrimas para ele. Abraçou os joelhos e fechou os olhos, no fundo ainda tinha esperança de que aquilo não passasse de um sonho ruim.

**

Mike olhou para a cama bagunçada com uma pequena ruga em sua testa, se arrependimento matasse, ele tinha certeza de que estaria morto naquele momento.

Anna saíra para pegar a correspondência em sua casa e ele ficou sozinho. Depois do sexo ela começara a falar e a agir como se a coisa entre os dois estivesse oficialmente séria, e ele não queria aquilo, não queria Anna, muito menos algo sério com ela, mas não fazia a menor idéia de como explicar aquilo sem parecer apenas um aproveitador que a comeu, se divertiu e depois a mandou ir embora. Nesses momentos ser um homem de caráter o atrapalhava muito.

Puxou os lençóis até eles ficarem arrumados novamente e se arrumou para ir até a casa de Chester, ele havia chegado de viagem e Mike queria saber em que estado ele estava, no fundo porque temia que ele e Anita tivessem voltado.

Quando estava prestes a sair, Anna chegou, esbaforida, pálida, com os olhos assustados.

- Está tudo bem Anna?

Ela levou um instante para notar que ele falava com ela.

- Sim, está tudo bem – passou por ele quase correndo e com um punhado de papéis em mãos.

Mike ficou parado na sala com uma expressão de curiosidade no rosto, caminhou de volta até o quarto e a viu pegando todos os seus pertences.

- O que está fazendo?

- Eu preciso ir pra minha casa Mike.

- Tem certeza que está bem Anna? – Ela então respirou fundo, enfiou os papéis na bolsa e caminhou até ele.

O abraçou e lhe deu um beijo suave nos lábios.

- Tenho sim Mike, eu só preciso resolver alguns problemas com o banco, não é nada demais, coisa burocrática, só fiquei um pouco irritada com isso, sabe como é o atendimento desses bancos.

- Ah, e vai embora por isso?

- Não, eu já tinha decidido ir embora, acho que você fica mais à vontade quando eu não estou aqui. – ela apertou a maçã do rosto dele com a ponta dos dedos – Apesar de que eu queria passar todas as horas do meu dia grudada em você, como não estamos mais casados, é melhor que cada um fique em seu canto.

Mike soltou um riso sem expressar muita vontade de sorrir, estava contente por finalmente ela estar indo embora, mas a atitude dela parecia muito estranha.

- Tudo bem Anna, quando sair deixa a chave reserva embaixo do tapete okay?

- Deixar? Eu achei que eu ia poder ficar com ela.

- Melhor não, eu posso precisar pra alguma emergência.

Anna fez bico fingindo manha.

- Ah, então tudo bem.

- Agora eu tenho que ir, se precisar de ajuda com o pessoal do banco me avisa. – Anna assentiu com a cabeça. Mike lhe deu um selinho rápido e depois saiu ao encontro do Chester.

**

Estacionou em frente ao enorme prédio e ainda sentada no banco da motocicleta, elevou o olhar até o topo do arranha-céu, tirou o capacete e saltou da moto. Olhou brevemente no retrovisor e deu uma ajeitada leve no cabelo, em seguida saiu caminhando para dentro do edifício.

Chamar a atenção acabou sendo algo um pouco inevitável, não estava exatamente vestida como os executivos ali dentro, mas no fundo ela não se importava. Pegou o crachá de visitante na recepção e depois tomou o elevador, em poucos instantes já estava diante da porta do advogado. A secretária particular a recebeu com um sorriso que Anita não achou ser muito verdadeiro.

- O Sr. Stuart já está a sua espera, Sra. Bennington.

- Senhorita, por favor, não sou casada. – O sorriso da secretária pareceu azedar ainda mais, Anita sorriu internamente, parecia que ela estava com ciúme do chefe? Aquilo não era da sua conta. – Muito obrigada, já vou vê-lo.

O escritório de Gordon Stuart era enorme, maior do que o novo apartamento de Anita, as paredes eram cheias de obras de arte de diferentes artistas, mas não teve tempo de analisar todo o ambiente, no fundo escorado na ponta da mesa um homem alto e um relativamente jovem a chamou.

- Srta. Bennington! Estava a sua espera. – O cabelo era mais claro que o dela, em um tom de loiro quase prateado, assim que ele se aproximou notou que ele também tinha os olhos azuis. Apertou sua mão sorrindo de maneira amigável. – É um prazer conhecê-la pessoalmente.

- Também é um prazer conhecê-lo, Sr. Stuart.

- Ah, por favor, me chame de Gordon, posso chamá-la de Anita?

- Claro. – Anita sorriu um pouco tímida, pessoas extrovertidas demais a deixavam um pouco inibida.

O advogado logo indicou uma cadeira para ela junto a sua mesa, Anita se sentou e logo observou que havia uma grossa pasta com seu nome sobre a mesa.

Gordon se sentou na outra extremidade, de frente para ela e notou que ela fitava a pasta com curiosidade.

- Estava lendo a respeito do seu caso antes de chegar, é uma história e tanto! Tem a vida muito agitada Srta. Bennington.

Anita sorriu.

- Como eu queria que ela não fosse tão agitada.

- Foi por isso que se mudou para Ohio?

- Em parte.

- Mas então, vamos falar a respeito de Kevin Finnegan. Seu ex namorado?

- Oh não, nós nunca tivemos nada, mas ele meio que nutriu uma paixão platônica por mim.

- Difícil seria se ele não nutrisse, se me permite o elogio, é uma mulher muito bonita.

- Obrigada. – Anita estava começando a suspeitar da colega de trabalho que recomendara aquele advogado, talvez a colega estivesse achando que ela era uma encalhada desesperada.

- Preciso que me conte tudo, desde o começo, até o seqüestro em que ele acabou esfaqueado.

Anita assentiu e começou a falar, desde que ele e Drew a encontraram em Los Angeles tudo pareceu virar de pernas pro ar.

- Quer dizer que você se mudava de estado várias vezes por ter roubado uma quantia de dinheiro desse tal Drew Rheon?

- Sim, quando cheguei a Los Angeles, eles finalmente me encontraram e me ameaçaram.

- Que tipo de ameaça?

- Ele disse que ia se vingar, não especificou como, mas Drew não é mal, só não gosta de perder. Ele é um cara poderoso, ser roubado não é algo que o deixe muito feliz, mas não anda cometendo crimes. O problema mesmo é o Kevin, ele sempre foi amigo do Drew, quando eu paguei o dinheiro a Drew, ele mesmo assim ficou na cidade. – Anita sentiu um leve arrepio.

- Eu li aqui na sua ficha, ele tentou um primeiro seqüestro que não deu muito certo não é?

- Sim, eu não teria escapado se não fosse pelo Mike.

- Michael Kenji Shinoda, tem aqui na ficha. – O advogado arqueou uma sobrancelha – Seu namorado?

- Não é mais.

Depois disso uma sucessão de memórias lhe veio à mente, era muita coisa para se lembrar, o retorno com Mike, à briga com Chester, o acidente, o coma, o tiro em Mike, as filhas de Chester, o seqüestro e a morte de Talinda.

- Está se sentindo bem?

- Sim, é que lembrar de tudo isso não é algo muito fácil.

- Entendo, mas como você é a vítima tem as cartas a seu favor, mesmo tendo esfaqueado o seqüestrador, foi legítima defesa. Nós só temos que trabalhar o que será dito no dia do julgamento e conseguir que Mike Shinoda e Chester Bennington deponham a seu favor.

- Okay. – Anita olhou no relógio de pulso, já estavam conversando há quase três horas.

- É, estamos aqui a um bom tempo, gostaria de ir tomar um café comigo? – Gordon disse cheio de sorrisos, tudo que Anita menos queria era isso.

- Ahm, desculpe, eu não posso, preciso falar com alguém importante. Nós já acabamos por hoje?

- Ahm, é, acho que sim, vou analisar o que me disse e logo entro em contato com você.

- Okay, ahm, obrigada.

- Não precisa agradecer, vamos colocar aquele bandido para mofar na cadeia. – ele disse e lançou-lhe uma piscadela.

Anita sorriu sem humor e se despediu dele, depois saiu do escritório. Enquanto checava com a secretária um novo encontro com o advogado, sacou o telefone do bolso, buscou um nome na agenda, criando coragem para discá-lo.

- Como foi a entrevista? – a secretária disse fingindo fazer pouco caso.

- Ahm foi normal. – o telefone de Anita então tocou, a pegando de surpresa. Seu coração disparou ao ver o número, o mesmo em que ela estava criando coragem para ligar. – Com licença, e-eu... preciso atender.

A secretária assentiu com a cabeça e Anita foi para o corredor.

- Ahm, oi Ann – a voz grave dele fez com que um turbilhão de emoções atingisse seu corpo, quase se esqueceu que tinha de responder. – Anita? Está aí?

- Sim... o-oi Mike.

**

O guarda deu permissão para que ela entrasse na pequena sala, ao entrar ele já aguardava, exibindo um sorriso debochado que quase fez com que ela saltasse em cima dele. Só ela sabia o tamanho da raiva que estava sentindo desde que a intimação chegara até ela.

- Seu filho da puta imundo! – Com raiva, jogou o papel já um tanto amassado contra o rosto dele, sem muito efeito, já que devido à gravidade o papel apenas pairou no ar e caiu levemente no chão, sem atingi-lo.

- É bom te ver novamente Anna.

- COMO PODE ME ENTREGAR DESSE JEITO? NÓS TINHAMOS UM ACORDO!

O riso no rosto de Kevin se alargou ainda mais.

- Isso antes de eu ser preso minha querida, agora nada mais importa além da minha liberdade.

- Você não vai sair livre!

- Não, mas pelo menos eu não vou me foder sozinho.

Anna levou as mãos até a cabeça muito irritada.

- Isso não pode estar acontecendo, oh meu deus, logo agora que eu estava tão perto de ficar com o Mike.

- Nossa que chato isso né? Mas eu não consegui ficar com a Anita, acho que você não ficar com o Shinoda é algo mais do que justo.

- Cala a porra da boca, o fracassado aqui é você, e eu posso dar um jeito de manter o Mike comigo, ele ainda não sabe da intimação. – Anna começou a caminhar de um lado para o outro. – Eu consigo um advogado e mantenho isso em segredo, talvez no dia da audiência eu consiga com que ele não me veja, eu posso pedir sigilo.

Ela falava praticamente consigo mesma e Kevin não podia deixar de achar graça.

- Ah é? Você pode conseguir que te ocultem das outras testemunhas, mas da Anita você não vai conseguir escapar.

- Merda, eu tinha me esquecido da vadiazinha.

- Admita Anna, é o seu fim.

Anna cerrou os punhos e bateu com eles contra a mesa de metal.

- Você vai me pagar seu desgraçado! – Kevin sorriu e se remexeu na cadeira, fazendo com que as algemas tilintassem.

- Não pode fazer nada, eu estou cercado de policiais.

- Você vai apodrecer nesse lugar! – Anna disse entre dentes.

- Por que não me mata? Assim como fez com a Talinda.

O sangue sumiu do rosto de Anna.

- Como é que você...

- Como eu sei? Ah por favor, assim que as noticias apareceram eu tive certeza que tinha sido você, como é que foi a sensação de matar sua melhor amiga?

- CALA A BOCA! Você não sabe de nada!

- Eu posso ter feito muita coisa ruim Anna, mas eu nunca matei ninguém.

O pouco de sensatez que ela ainda tinha se esvaiu por inteiro e então com a força que tinha, o derrubou no chão, subiu em seu tronco e apertou sua garganta com força, logo em seguida.

- SEU FILHO DA PUTA MISERÁVEL!

O estrondo do corpo dele sendo derrubado foi o suficiente para que os guardas entrassem correndo na pequena sala, um deles agarrou Anna com força e a tirou de cima do homem. Assim que as mãos dela soltaram seu pescoço, Kevin puxou o ar com força, sentindo-o entrar queimando por suas vias respiratórias. O outro guarda o ajudou a ficar de pé enquanto Anna se debatia e gritava palavras que ele mal conseguia distinguir.

- Puta maluca! Você vai desmoronar! – em seguida ele soltou uma gargalhada rouca e o policial o tirou dali.

Anna foi levada pelo braço para fora da sala.

- Precisa se acalmar dona, não pode sair estrangulando os presos, eu sei que eles são insuportáveis, mas a senhora pode se meter em confusão.

Anna puxou o braço do aperto do homem.

- Não pedi sua opinião – dizendo isso, saiu dali a passos duros.

**

- Como foi a viagem? – Mike disse enquanto ninava Marissa cuidadosamente nos braços. A voz abafada de Chester saiu do banheiro.

- Foi boa... Fique quieto Tyler, anda, me deixa esfregar seus pés.

Mike sorriu de leve, sem desviar os olhos da pequena morena em seus braços, os olhinhos escuros já estavam se fechando de sono.

- E como ela está?

- Bem, eu acho, mas me pareceu um pouco triste... e descabelada.

Mike sorriu de leve, sabia o que significava Anita descabelada: Problemas internos.

- E vocês dois... – naquele instante Chester saiu do banheiro encharcado com Tyler enrolado em um roupão com estampa de dinossauros, a expressão dele era um tanto severa.

- Não Mike, não aconteceu nada entre nós dois.

Chester saiu caminhando até o quarto do menino e Mike observou Marissa adormecida em seu colo mais uma vez, foi até o quarto das gêmeas a colocou no berço ao lado do da irmãzinha, que também já dormia. Chester ajudava Tyler a se vestir.

- Eu quero o penteado igual a aquele seu papai. – Chester não pode evitar o sorriso bobo que brincou em seu rosto, tinha se esquecido de como era gostoso cuidar de seus filhos. Pegou a escova e fez um projeto de moicano no menino, um pouco desengonçado, mas não ficou tão ruim.

- Pronto, agora sim você está com cara de rockstar. – O menino sorriu e fez uma careta mostrando os dentes. – O X Box ta ligado lá embaixo, por que não vai jogar?

- Você vai jogar comigo?

- Vou sim, mas antes eu preciso ter uma conversa com o seu tio Mike, okay?

O menino assentiu com a cabeça e depois saiu caminhando, passou pelo corredor e fez uma careta para Mike enquanto fingia mostrar os músculos, Mike sorriu e fez o mesmo, fazendo o menino soltar uma gargalhada fina. Depois disso, Tyler desceu e foi jogar.

- Está fazendo um ótimo trabalho. – Mike apareceu e se escorou na porta do quarto do menino.

- Estou tentando pelo menos.

- Acho que estou orgulhoso de você, por não se deixar sucumbir, e cuidar deles.

- Agradeça a Anita, ela que puxou minha orelha. – Mike sorriu fraco. – A cadela da sua ex ainda está hospedada na sua casa?

- Não, ela apareceu um pouco perturbada mais cedo lá em casa e disse que voltaria pra própria casa.

- Sério? Nossa, estou surpreso, ela não é do tipo que larga o osso assim tão fácil.

- O osso no caso seria eu? – Disse com um sorriso descontraído no rosto.

- Não é óbvio? – Os dois sorriram juntos, talvez o primeiro riso de verdade depois de um longo período de brigas e tristezas.

- Chaz, eu vou ter que entrar em um assunto um pouco sério agora.

O riso de Chester se desfez e ele soltou um suspiro longo.

- O que é agora?

- Enquanto você estava viajando eu aproveitei para ir conversar com um policial a respeito da morte da Tali. – Chaz franziu o cenho. – Eu não quis te falar a respeito disso antes por que tive medo de como isso iria te afetar, você estava muito abalado, mas eu estava suspeitando que a morte da Talinda não tivesse sido acidental.

- Hum... – Chester grunhiu dando sinal para que ele continuasse.

- Então quando viajou eu conversei com o policial responsável pelo meu caso, aquele do tiroteio, e nós olhamos as filmagens que a sua câmera de segurança tinha captado no dia da morte da Tali.

- E...?

- Nós vimos a Anna entregando o frasco de remédios pra Tali.

- O QUÊ?? TA QUERENDO ME DIZER QUE AQUELA VADIA FILHA DE UMA PUTA MATOU MINHA MULHER?

- Espera, me deixa terminar.

-Eu não posso acreditar... – Chester parecia surdo para qualquer coisa, se levantara e parecia a ponto de esmurrar qualquer coisa que aparecesse em sua frente, internamente Mike temeu que essa coisa fosse sua cara.

- Me escuta Chester... eu falei com a Anna depois disso, eu perguntei para ela o que tinha acontecido, se ela tinha mesmo entregado os comprimidos à Tali e ela confessou. – Chester voltou o olhar para Mike. – Ela confessou Chester, disse que a Tali pediu os comprimidos porque não estava conseguindo dormir e estava estressada por sua causa.

- Ela disse que Talinda estava assim por minha causa? – Chester soltou um riso sarcástico, Mike não conseguia enxergar a maldade que existia em Anna, mas ele podia, e ele sabia que aquilo era uma mentira. Sentiu toda a musculatura do tórax e dos braços se contraírem com a fúria que ele tentava conter, a culpa nunca foi dele, tinha sido ela o tempo todo, agora tudo parecia começar a se encaixar. – Eu e Talinda estávamos muito bem, muito mesmo, eu estava até cogitando reatar, isso é uma mentira! Além disso, ela não estava com insônia, pelo contrário, estava dormindo pelos cantos, eu a encontrei dias antes de isso acontecer. A Anna mentiu Mike! Ela mentiu pra você Mike, ela matou a Talinda.

- Chester não dá pra ter certeza...

- ELA MATOU! – Chester acertou o punho com força na escrivaninha de Tyler, fazendo com que os objetos sobre ela saltassem e tilintassem.

Mike ficou sem ação por um instante.

- Você tem certeza que a Talinda...

- Tenho! – a voz de Chester parecia se embargar com um choro preso e com a fúria. – Ela mentiu Mike, ela matou minha mulher! Deixou meus filhos sem mãe!

- Por que ela faria algo assim?

- Eu não sei o que se passa na cabeça daquela maluca!

Mike soltou um palavrão mudo.

- E ainda acusou a Ann, fez aquela cena no velório, meu deus! Isso é minha culpa, não devia ter deixado que ela se aproximasse.

- Nós precisamos ligar pra polícia Mike.

- Não, eu quero falar com ela antes.

- Pra quê? Pra ela fazer sua cabeça? Não seja idiota Mike, para de ver bondade onde não tem.

- PAAAI?! Vem jogaaaaaar!! – Tyler gritou lá de baixo.

Chester engoliu seco e respirou fundo algumas vezes.

- A gente precisa fazer alguma coisa Mike, ela cometeu um crime, não lave as mãos pra isso agora. – Dizendo isso, Chester respirou mais algumas vezes, passou a mão no rosto tentando recuperar a calma e desceu para ir até Tyler.

Mike se sentou na cama do garoto e apoiou os cotovelos nos joelhos, respirando com um pouco de dificuldade, parecia que a asma atacara de leve, estava se sentindo mal, era um estresse com que ele não sabia como lidar.

Não queria acreditar, mas os fatos estavam ali, diante dele, exigindo que ele tomasse uma atitude. Tentou respirar mais devagar e a intervalos regulares, fez esse pequeno exercício até sua respiração começar a voltar ao normal. Pegou o telefone e buscou o nome de Anna nos contatos, o encarou por um instante, mas acabou desistindo de ligar para ela, não fazia a menor idéia do que falaria quando ela atendesse. Olhou para a tela do celular mais uma vez e o nome acima do de Anna lhe chamou atenção, sem hesitar muito, chamou o número de Anita.

- Ahm, oi Ann. – Sentiu a própria voz saindo falha, do outro lado ninguém respondeu. – Anita? Está aí?

Então a voz dela veio macia como veludo, doce, causando uma sensação que ele nem sabia como descrever.

- Sim, o-oi Mike.

Respirou aliviado, no fundo tinha medo de que ela não quisesse falar com ele, ainda mais depois dele ter sido tão covarde.

- É muito bom ouvir a sua voz de novo.