P.O.V Nick

Eu estava andando sem rumo pelo Camp fazia algum tempo. Queria esquecer a cara daquele idiota olhando a Mel como se fosse engolir ela. Estúpido! E a cara dela, toda feliz quando ele falava alguma coisa. O que aquele cara tinha afinal? Ele jogava um encanto pra cima das meninas? Porque toda menina do Fresh Air já teve uma quedinha por ele. Que saco! Chutei uma pedrinha enquanto contornava a esquina do salão principal. Mas de repente alguém trombou em mim e fui jogado no chão. Meu velho, que tipo de foguete é esse? Eu tava a ponto de xingar muito o babaca que tinha feito isso, mas me surpreendi quando chamaram meu nome.

- Nick? – Ela falou olhando pra mim. Melanie. Eu olhei pra cima surpreso. Então era ela a bala de canhão que me atingiu em cheio. Bem hilário não acha? Eu devo ter feito uma cara bem feia mesmo porque ela riu, mas logo em seguida botou a mão na cabeça como se estivesse doendo. – Ai. Você tá bem?

- Eu to... Ai. Mais ou menos. – Eu resmunguei. Ela se ajoelhou ao meu lado e me examinou.

- Onde eu bati? – Minha cabeça doía. Mas eu olhei para ela e toda a dor passou. Ela era tão linda.– Ai minha nossa Nick. Desculpa. – Ela levantou minha cabeça [com um pouco de força] e me virou pra luz. O que havia de errado? – Droga. Droga. Me desculpa. Desculpa mesmo. – Mel dizia massageando minha testa. Aposto que era pra ser de leve, mas ela estava muito agitada e massageou um pouco forte demais. Admito, bem forte pra quem deve estar com uma roxa enorme na testa.

- Ai. Ai. Ai Mel. Tá tudo bem. Ai! Tá bem, tá bem. – Eu peguei sua mão e tirei da minha testa. Já estava ficando meio tonto com aquela “massagem”. Sua mão era tão macia e tão quente. Não tive forças pra largá-la. Eu sorri sem graça pra ela.

- Não, não. Vamos, a gente tem que ir à recepção pedir gelo. Vai virar um galo isso aí... – Ela falava muito rápido. Praticamente despejava as palavras. Eu acariciei sua mão e ela pareceu relaxar.

- Certo. A gente vai. Mas se acalma. Foi só uma pancada. – Eu sorri pra ela. Mas não adiantou.

- Pancada? Isso aí ta enorme! – Eu a olhei encantado. Ela era muito linda. Ficava ainda mais quando estava preocupada. Ela pareceu perceber. Franziu a testa e olhou pra mim confusa. – O que?

- Você... Você fica linda preocupada. – É cara. Você perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado. Ela fechou a cara com raiva. – E-eu... Desculpa Mel. – Baixei o rosto.

- Não. Não foi por causa disso. Eu só... Só lembrei uma coisa. – Ela olhou pra trás de mim. Como se focalizasse alguma coisa. – Vamos. A gente tem que ver esse galo. – Mel se levantou e depois me ajudou a levantar. Eu não estava tão debilitado assim, então confesso que me aproveitei um pouco da situação. Levei um susto quando alguém atrás dela a chamou com raiva.

- Melanie? – Ah! Que ótimo. Aston James acaba de chegar. Só que ele estava... Com o nariz sangrando? E com muita raiva devo acrescentar. Ela olhou pra trás e respondeu com rispidez.

- O que você quer? – Gostei um pouco de como ela o tratou. Mas havia mais por trás daquilo. Uma hora ela está toda serelepe, encantada por esse bundão aí. Outra hora ela está soltando fogo com ele. E ele tá com o nariz sangrando! O que foi isso?

- Quero falar com você garota. – Ele falou sarcástico.

- Mas eu não quero James. – Opa! Último nome? O que eu perdi hein?

- Melanie eu... – Ele parecia estar mais calmo agora. No entanto, eu não podia dizer o mesmo sobre Melanie.

- O que eu te disse hein? É eu te dei um aviso... E olha! Veio acompanhado de um soco. Agora... Eu vou te dar um segundo aviso e torça pra que ele não venha acompanhado também, porque se não vai ser num lugar onde você não vai gostar... – Nota mental: Nunca aborrecer a Melanie. – Fique. BEM. Longe. De mim. Ok? Então, eu não iria gostar de repetir uma terceira vez. Agora vai. Xô! – Ela “espantou” ele com a mão. Mas não é que o safado se atreveu a avançar um passo. Agora chega! Passei na frente dela e encarei o cara.

- Ô cara! Acho que você não escutou bem. Vaza! Ela não te quer aqui. – Seja lá o que você fez. Acrescentei mentalmente. – Sério James. Vou ficar de olho em você. – Eu não sei se fez efeito, mas ele recuou o que é uma boa notícia. Porque vou te contar... O cara é tão grande quanto Locke. Não que eu não aguente... Mas seria melhor não me arriscar. Quando tive certeza que ele tinha se afastado o bastante virei pra ela e vi uma Melanie diferente. Ela estava quase soltando fumaça de tanta raiva.

- O que foi Mel? O que ele te fez? – Ela pareceu sair de um transe e sorriu amarelo pra mim.

- Não foi nada.

- Ah qual é Melanie. Você diz isso tudo pra ele e vem me dizendo que não foi nada? Por favor. – Ela sorriu. Olhou pra baixo e respirou bem fundo.

- Ele... Passou dos limites. – Ela disse olhando pra mim como se tentasse se acalmar.

- Passou dos limites? O que ele... - Mas com um estalo eu entendi o que ela estava falando. Claro! Aston sempre teve fama de pegador. E fama também de quem passa dos limites. – Eu não acredito que ele... – Mas eu simplesmente enlouqueci quando o imaginei tentando agarrá-la. Simplesmente pirei. Saí andando de um lado pro outro tentando me acalmar. – Você chama isso de nada? Aposto que ele passou a mão em você, aquele... – Eu não consegui terminar. Era um nome realmente horrível que ele merecia ser chamado. – Mel, porque você não me contou? – Ela olhou pra baixo. – Melanie. Por que? Você devia ter me contado. – Agora eu já estava sacudindo a garota. Ela olhou assustada pra mim.

- Nick, Nick! Calma. Ele não chegou a fazer muita coisa ele só... – Ela se interrompeu quando minha careta pirou.

- O que ele chegou a fazer? – Ela olhou pro outro lado. – Melanie, me conta!

- Porque você quer saber afinal? – Agora ela também estava irritada. – Porque isso importa pra você? – BINGO! Ela me pegou. Eu desarmei totalmente. Como iria responder a isso?

- E-eu só... Você sabe...

- Não! Não sei Nicholas. Me explica! – Droga. O que eu iria falar?

- V-você é como uma amiga pra mim caramba! – Eu despejei. Eu não queria ter falado isso, mas agora já era. – Eu me preocupo com os meus amigos Melanie. – Essa parte era verdade. – E se aquele canalha mexe com algum dos meus amigos, – Ela não era só uma amiga pra mim. Mas que droga! – eu fico louco! Você mesma viu. – Eu já estava alterado. Contudo ela pareceu acreditar. Baixamos os dois a guarda e fizemos silêncio por um tempo.

- Desculpa por ter pirado. – Falei sincero, quebrando o silêncio.

- Tudo bem. Eu fui grossa. – Ela riu. – Amigos desequilibrados né?

- É. – Eu sorri tristonho. – Amigos desequilibrados. – Como aquela palavrinha poderia machucar tanto? Agora eu sei porque meu coração vacilava quando estava junto dela. Eu estava apaixonado por aquela garota. Mas tinha acabado de aceitar uma amizade que eu não queria. Que droga! Pelo visto iria ser um longo mês, ou melhor longos dois meses de amizade com ela.

- Vamos buscar gelo. Tem um galo aí já. – De repente fez sentido. Minha testa voltou a doer e eu apenas concordei.

........

Tínhamos ido até a recepção buscar uma bolsa térmica [que eu sabia que sempre tinha por lá] e a Sra. Liyn simplesmente surtou quando me viu. Devia estar feio mesmo. Ela perguntou o que havia acontecido e Mel se encolheu em um canto envergonhada. Então contei que tinha batido a cabeça na parede por pura estupidez. A Sra. Liyn acreditou na história, mas Melanie segurou uma risada [que com certeza seria alta] quando ouviu minha desculpa. Eu sorri também. Pelo visto ela estava melhor depois de tudo aquilo. Agradecemos à recepcionista e fomos para os nossos chalés.

.............

- Bem... Tá entregue. – Sorri sem graça. – Boa noite Mel. Te vejo amanhã.

- Ahn. Boa noite... E, me desculpe por isso. – Ela apontou pra minha testa.

- Marcas de uma boa amizade – Doeu. – se formando. – Ela sorriu abertamente.

- Tomara que não sejam muitas daqui pra frente. – Ela falou meio sem graça.

- Espero. – Fingi tremer. Ela riu.

- Tchau Nick.

- Tchau. – Falei e fui andando pro meu chalé. Só agora tinha percebido que éramos os únicos fora dos chalés.

........

O caminho todo [não era tão grande assim] eu pensei nela. Pensei em quão turbulento tinha sido meu dia, ou melhor, minha noite, ao lado daquela garota que eu já gostava tanto. Cheguei ao chalé e fui pro meu quarto. Quando abri a porta recebi uma almofada na cara e uma chuva de perguntas.

- O que tava fazendo até agora Nicholas? – Locke perguntou em seu horrível falsete de mulher.

- Isso são horas de chegar em casa meu bem? – Pete tentava imitar a voz de uma mãe.

- Tava pegando alguém hein cara? – Tyler gargalhou.

- Deixem o cara. – Bryan falou. Mas logo em seguida também recebeu almofadadas.

- Qual é Nick... Não vai contar onde estava? – Paul perguntou.

- E com quem estava? – Clarck completou.

- Ah! Calem a boca. Eu tava só esfriando a cabeça. – Falei sem muita vontade.

- Porque hein? Ah! Já sei. Ele ficou com ciúmes da Mel com o loiro falsificado lá. – Locke debochou.

- Ciúmes? Da Mel? Como é cara? – Tyler perguntou.

- Ah qual é mano. Vai dar uma de ciumento mesmo? – Falei azedo. Eu preferia mil vezes Mel trombando em mim do que esses otários me enchendo o saco.

- Como é cara? Vê se te liga que a Mel não é pra qualquer um não.

- Ah mano. Certo, certo. Ela é só minha amiga. – Falei revirando os olhos e me jogando no colchão do beliche. Amigos. Que porcaria. Pete, Clarck, Paul e Locke gargalharam. Bryan só resmungou.

- Que foi cara? A mina não te deu bola? – Clarck desdenhou.

- Qual é gente. Vão arrumar o que fazer. A Mel não é assim beleza? – Os outros resmungaram, mas Tyler deve ter feito uma cara bem feia, porque eles se aquietaram e foram conversar normalmente. – O que cê fez Nick? – Tyler falou sentando no colchão.

- Não fiz nada cara. Eu juro. Eu não toquei na Mel. – Ele pareceu relaxar. Mas um segundo depois enrijeceu de novo. – Você tá afim dela cara? – Eu respirei fundo. Não queria falar sobre isso. Mas se existia uma pessoa com quem eu devia falar sobre ela, essa pessoa era o TJ.

- Acho que sim TJ. Toda vez que eu to junto dela eu... Eu... É como se tudo fizesse sentido sabe. Tudo em volta dela se alegra. É tão... Estranho.

- É. A Mel faz isso mesmo. – Ele falou como se já tivesse gostado dela. Fiquei com vontade de perguntar, mas me contive. – Vou te dar um conselho. Ela é a garota mano. Se você gosta dela, vai fundo... – Eu sorri pra ele. Ele não deu escândalo como eu pensei que fosse dar. – Mas se magoar ela, você tá ferrado. – Err... Acho que falei um pouco cedo demais. Eu concordei. Faria qualquer coisa pra vê-la feliz. Eu não seria capaz de magoá-la, se pelo menos tivesse a chance de...

- Hmmm. O Nick tá apaixonado... – Eles cantarolavam. – Finalmente o coração de pedra despertou... – Botei um travesseiro em cima dos ouvidos abafando a zoada, mas não adiantou. Pelo visto seria uma longa noite.