P.O.V Mel

Até que o Nicholas era bem legal. Na verdade, ele era muito engraçado. Toda vez que falava alguma coisa que não queria ele parecia entrar em uma Segunda Guerra Interna. Eu viera o caminho todo rindo com ele. Eu me sentia bem do lado dele. Ele estava se tornando um ótimo amigo. Eu estava olhando ao redor do salão, reparando em cada pessoa e me senti estranha, como se alguém me observasse, procurei a pessoa, mas a cada rosto que eu olhava, percebia que seus olhos estavam em outro lugar, a não ser por um garoto. Fiquei em dúvida se ele estava olhando para ou para o Nick, mas pensei que fosse pro Nick. Meninos tem essas intrigas ridículas [que as meninas também tem], eles não deviam se dar muito bem. Então resolvi ignorar. Olhei para o outro lado, para as grandes paredes amarelo casca de ovo que rondavam o grande salão, mas tomei um susto quando ouvi alguém me chamar com raiva.

- Mel? – Eu olhei para ele confusa com seu tom, ele parecia estar bastante irritado. O motivo? Eu não fazia ideia, não podia ser culpada. Não o fizera nada. Mas me surpreendi mais ainda quando vi que quando meu olhar encontrou o seu ele pareceu relaxar. Que estranho. Tentei sorrir para ele, mas não consegui, porque mais uma vez fui surpreendida pelo garoto com olhos de ouro derretido. – Você está linda. – Eu obviamente corei e provavelmente fiquei da cor de um tomate, daqueles bem maduros sabe? Pois é. Eu não sabia o que dizer. E muito menos o porque de ele ter feito aquilo. Pareceu... Tão impulsivo. Mas antes de eu clarear minha mente ele virou o rosto para o lado oposto. Mesmo assim eu resolvi falar alguma coisa. Ah por favor.. Que minha voz saia firme!

- O-obrigada. – ÓTIMO MELANIE! Você tinha que gaguejar. Como sou idiota. Eu queria me chutar por ter falhado assim, mas minha vontade passou quando uma estranha voz rouca falou:

- Com licença. Posso me sentar? – Eu dei um pulo pequeno da cadeira e olhei pra cima procurando o dono da voz. E quando olho pra cima... UAU! Tipo, UAU meeeeeeeeeeeesmo. Nossa! Ele era mega lindo. Seu cabelo era loiro e ondulado, digno de um astro de cinema, seus olhos tão verdes quanto o oceano estavam focalizavam e mim, e sua boca rosada me dava o mais belo dos sorrisos. Ele estava próximo de mim, sua cabeça curvada para frente, me encarando sem medo dos olhares que atraíamos. Ele vestia uma roupa preta, tipo, preta mesmo. Sua camisa preta tinha alguns detalhes brilhosos [pretos] que deviam ser letras. Ele usava uma calça jeans muito escura e tênis pretos com a base branca. Que contraste! Um garoto bronzeado, loiro de olhos verdes que parecia mais um surfista, com uma roupa completamente preta. Mas que diabos estou pensando? Olhei para ele e respondi.

- Ahn... Claro. – Respondi sorrindo e ele abriu mais o sorriso que ainda estava estampado em seu rosto. Eu senti meu rosto esquentar. Mas que ótimo!

- Obrigado. – Ele sentou-se do meu lado e eu me senti estranhamente feliz, mas ao mesmo tempo perturbada. Percebi que alguém do meu lado não estava muito feliz com a presença dele... A propósito... Como era o nome dele?

- Aston James, prazer. – OPA! Peraí! Ele lê pensamentos? Ah qual é Melanie. Que coisa infantil!

- Melanie Turner. – Foi só o que eu consegui responder antes de ser sufocada por outro sorriso irradiante dele.

- Primeiro ano aqui? – Sinceramente, eu estava cansada de responder isso, mas esse cansaço pareceu ir embora quando ele perguntou. Ah... E que primeiro ano...

- É sim. – Respondi olhando pra baixo.

- Foi o que pensei. Eu teria reconhecido com certeza se tivesse visto tamanha beleza antes. – Ele falou sorrindo e meu rosto esquentou ainda mais. Bonito e fofo claro. Eu sorri também, mas fiquei confusa em qual expressão demonstrar quando percebi Nick se encolhendo visivelmente incomodado do meu lado. Quando ia me virar para perguntar se havia algo errado com ele um senhor de meia idade numa cadeira de rodas falou de cima de um tipo de palanque que havia na ponta do salão. Ele tinha cabelos castanhos na altura do queixo e sua barba estava por fazer. Ele parecia ser amigável, seu sorriso transmitia pra mim uma sensação de velhos amigos. Ele começou a dar as boas vindas e os detalhes que todo novo membro do Fresh Air Camp deveria saber.

........

Passaram-se quase quarenta minutos desde que o homem com sorriso amigável tinha começado a falar. Aliás, ele se chamava Isaac Rhyk. Era russo pelo que pude perceber em seu nome, mas devia ter se mudado para os Estados Unidos quando era criança, pois não existia sotaque em sua voz. Tinha sido um bom discurso de “iniciação”. Não havia sido tanta embromação como eu pensei que seria. Bem, então depois disso foi servido o jantar. Comemos e conversamos bastante. Eu me enturmei com mais algumas pessoas, três garotas e quatro garotos. Bem, meu forte nunca foi fazer amizade com meninas, elas geralmente são chatas, que foi o que pareceu com uma dessas três. Elas eram: Libby, Anna e Haiden. Libby não era tão amigável quanto Annie e Haiden. Devia ser pela cor de seus cabelos, loiros falsificados. [Não sei o que isso tem a ver, mas dizem que loiras puras com os cabelos muito claros são enjoadas] n/a: autora não desmerece nenhuma loira pura hein! . Descobrimos que elas também estavam no chalé 4. Anna e Haiden, melhores amigas desde crianças, estavam no quarto cinco, que estava vazio fora elas duas e Libby estava no quarto 9. Ann [como ela me disse pra chamá-la] e Haiden tinham os cabelos castanhos, variando o tamanho. O cabelo de Ann era nos ombros e o de Haiden batia na cintura. Seus olhos eram castanhos na mesma tonalidade, e seu tom de pele era quase o mesmo, branco. No entanto Haiden era mais rosada que Ann. Elas gostaram tanto de nós [fizeram amizade com Macy e Kia também] que iriam se mudar para o nosso quarto essa noite. Libby não gostara da ideia e ficou quieta no canto dela até cansar-se e sair da nossa mesa. Os meninos por sua vez eram Tyson, Mike, Luke e Jason. Os quatro eram obviamente muito legais e engraçados até demais. Eu ri bastante com eles na mesa.

Mike e Luke eram gêmeos, idênticos a não ser pela cor dos cabelos e dos olhos. Luke tinha cabelos loiros e olhos azuis tempestuosos, o que não correspondia com sua personalidade, apesar de terem me dito que se irritava fácil. Já Mike tinha cabelos castanhos aloirados e olhos extremamente verdes e bastante convidativos, o que tinha tudo a ver com sua personalidade. Tyson era ruivo e tinha muitas sardas no rosto, seus olhos eram castanho claro, que às vezes parecia ter uns lampejos de verde, bem misteriosos. Jason era moreno claro e tinha cabelos e olhos negros que geralmente afastavam as pessoas, mas isso não me intimidou. Apesar de me divertir bastante com todos os meus novos amigos [e o antigo claro!- Jake] que estavam na mesa, eu só tinha olhos para o surfista gótico que estava sentado ao meu lado. Ele irradiava um calor tão bom que me deixava [às vezes] desconecta de algumas conversas. Ele sorria quase o tempo inteiro para mim, puxava conversa de vez em quando, mas o que ele, mas fazia era me olhar. E eu [claro] sempre corava o bastante para ele gargalhar baixinho. Aston também comentava de vez em quando o quanto eu era e estava linda naquela noite. E toda vez que ele falava algo relacionado com isso Nick, do outro lado, se mexia impaciente. Achei estranho ele, depois de Aston ter se sentado à mesa conosco, não falar muito e ignorar sempre que eu falava com ele, encaixando-o nas conversas. Dessa vez me distanciei um pouco do grupo animado que conversava a minha frente e toquei seu ombro, ele pareceu se contrair um pouco. Pensei que ele não tivesse gostado do toque e recolhi minha mão no mesmo instante, mas mesmo assim não desisti.

- Nick? – Eu chamei baixinho. Não queria que mais ninguém nos ouvisse. Ele não falou nada, parecia estar querendo me ignorar. Mas eu tentei de novo. – Nick, por favor. O que houve? – Eu estava realmente preocupada agora. Em pouquíssimo tempo ele já havia se tornado especial, e eu me preocupava com todos os meus amigos. Ele hesitou um pouco, suspirou e se virou lentamente pra mim com um olhar que eu não entendi. Parecia... raiva e desespero? – O que foi? Por favor, me diga. – Ele suspirou de novo.

- Não foi nada Mel. – Ele falou já se virando de novo. Sem pensar duas vezes eu o puxei.

- Ora! Não me diga que não foi nada Nicholas. Desde que o Aston – Ele se movimentou impaciente ao nome. – sentou-se conosco você simplesmente nos ignora... Me ignora. – Ele contorceu o rosto, como se estive com dor.

- Ahn... É só que não gosto muito desse cara... – Ele apontou com o queixo para a pessoa atrás de mim.

- Porque? – Ele se mexeu de novo.

- Não importa Mel... Eu... Eu vou indo. – Eu não gostei da ideia. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer objeção, ele se levantou e saiu andando de cabeça baixa. Porque ele estava assim? Será que eu tinha feito algo de errado? Mas como? Eu me lembraria não é? Afinal, porque eu estava tão preocupada assim? Claro, ele tinha virado meu amigo e tudo mais, mas eu devia deixá-lo. Não devia? Eu estava a ponto de me levantar e ir atrás dele, mas mãos quentes me puxaram de volta. Foi aí que eu esqueci tudo.

- Mel? Você quer conhecer o lugar? – Aston me perguntou me olhando intensamente nos olhos. Eu queria de verdade... Mas eu tinha que fazer alguma coisa. O que era?

- Quero. Claro! – Saiu sem querer da minha boca. Não. NÃO MEL! Lembra! O que você tem que fazer? Mas ele segurou minha mão e me puxou com ele pra levantar da mesa. Eu? Fui junto claro. Meu corpo não estava trabalhando junto com minha mente. Mas o que havia de errado com minhas pernas? Pensa garota. O que era? O que era? Eu tentava, tentava de verdade lembrar o que eu iria fazer. Mas minhas pernas ainda se mexiam deliberadamente.

Quando chegamos lá fora eu esqueci completamente. Não adiantava... Eu não lembraria de jeito nenhum. Então só o que fiz foi seguir Aston pelos caminhos de pedra que atravessavam o jardim. Ele andava com um pouco de pressa. Eu não entendia o porque, mas simplesmente o acompanhava.

.........

Aston diminuiu a velocidade quando chegamos ao jardim oeste do Camp. Era incrivelmente lindo. Um carpete verde impecável e nivelado, era bordado em alguns lugares por flores amarelas e rosa. A grama refletia a luz da lua, o que dava um brilho prateado nas pontinhas de cada folha da grama. Era simplesmente encantador ali. Parecia que seres encantados como fadas podiam aparecer a qualquer momento para completar a cena com sua beleza. Eu ainda estava admirando a beleza do lugar quando senti que o aperto da mão dele na minha havia afrouxado. Olhei para trás e vi que ele havia parado a alguns metros atrás, e agora caminhava lentamente na minha direção.

- Aqui é tão lindo. – Eu disse para quebrar o silêncio.

- É sim. – Ele falou sorrindo e me olhando de cima a baixo. Eu corei. – Muito lindo. – Agora ele sorria diferente. Não era mais aquele sorriso doce.

- Então... – Pensei no que falar. Eu já não estava mais tão à vontade. – Você sempre vem pra esse lado do Fresh?

- Não. Só em ocasiões especiais. – Ele já havia chegado perto o bastante para que eu pudesse sentir seu hálito. Doce e inebriante, mas havia algo errado.

- Ocasiões especiais? Ahn... E agora é uma ocasião especial? – Eu já estava ficando um pouco nervosa. O que ele queria? Comecei a recuar devagar, enquanto ele avançava.

- Tudo. Esse novo ano. Novas pessoas. – Disse gesticulando e de repente sério. – Você. – Eu ainda continuava recuando.

- E-eu? – Ele sorriu deliciado. Pode parecer estranho, mas eu me sentia naqueles episódios quando um predador cerca uma presa e brinca com ela, deixando-a nervosa. Vou dizer... Não é nada legal. Eu ainda estava recuando, mas uma coisa que eu nunca esperava que fosse acontecer... Aconteceu. Atrás de mim havia uma parede. Então eu não tinha pra onde mais recuar.

- Sim, você. – Dizendo isso ele apoiou as duas mãos na parede atrás de mim e chegou bem perto.

- A-aston. Eu não acho que...

- Shh Mel. Silêncio é uma coisa importante num momento como esse sabia? – Momento como esse? O que ele estava querendo dizer? Eu me desesperei. Não era uma coisa que eu achava que podia acontecer num acampamento de verão. – Sabia que você fica linda assustada? – Ele ainda sorria daquele jeito assustador. Seus lábios estavam chegando perto dos meus e agora ele passava uma das mãos pelo meu braço. / Eu estava paralisada. Não sabia o que fazer. / Ele passava as duas mãos pela lateral do meu corpo enquanto seus lábios chegavam cada vez mais perto. Ele encostou seus lábios nos meus de leve quando enfim acordei do meu transe idiota. O empurrei pra longe, ou pelo menos tentei. Ele era forte de mais. Se eu consegui afastá-lo cinco centímetros foi muito. Ele chegou perto de novo, agora colando seu corpo no meu. Não tive dúvidas. Juntei toda a força que tinha e despejei um soco [bem dado por sinal] no nariz dele. Ele caiu no chão praguejando.

- Você. Nem. Me. Conhece. Fique longe de mim Aston James! – Gritei. Não sabia de onde eu tinha tirado aquela força, mas decidi que usá-la agora para correr não seria uma má ideia. Corri pelo caminho de pedras de volta. Corri e corri. Eu não sabia exatamente para onde estava indo. Mas com certeza eu chegaria a algum dos chalés logo, logo. Certo? Errado! Quando eu dobrava [correndo] a esquina de alguma das casas eu trombei com alguém. Devo dizer que não foi só um simples: Ah! Eu esbarrei em você. Desculpa! Foi uma trombada mesmo. Tão forte que derrubou ambos [eu e a outra pessoa]. Levantei com a mão na cabeça. Nossa, que dor. Se eu estava assim imagina a outra pessoa. Me levantei e limpei minha roupa. Olhei pra frente e me surpreendi com quem estava sentado no chão e com a mão também na cabeça.

- Nick? – Ele olhou pra cima surpreso. Eu ri, mas minha cabeça doeu. – Ai. Você tá bem?

- Eu to... Ai. Mais ou menos. – Eu me ajoelhei junto dele pra olhar o estrago que tinha feito.

- Onde eu bati? – Ele olhou pra mim e eu vi um ponto roxo em sua testa. – Ai minha nossa Nick. Desculpa. – Eu levantei sua cabeça e virei-a para a luz. Não era só um ponto roxo. Era uma mancha roxa do tamanho de um limão na testa dele. Tá. Posso ter exagerado, mas era enorme. – Droga. Droga. Me desculpa. Desculpa mesmo. – Eu falava massageando de leve sua testa. Talvez não tão de leve.

- Ai. Ai. Ai Mel. Tá tudo bem. Ai! Tá bem, tá bem. – Ele pegou minha mão e tirou da cabeça dele. O engraçado foi que ele não a soltou.

- Não, não. Vamos, a gente tem que ir à recepção pedir gelo. Vai virar um galo isso aí... – Eu despejava as palavras freneticamente. Ele alisou minha mão. Confesso que me tranqüilizei um pouco.

- Certo. A gente vai. Mas se acalma. Foi só uma pancada.

- Pancada? Isso aí ta enorme! – Ele me olhou achando graça. De repente senti meu rosto ferver. Não era só achando graça. Era meio que... admirando. Eu franzi a testa. – O que?

- Você... Você fica linda preocupada. – Eu teria ficado mais vermelha. Mas o que ele disse me fez lembrar porque eu estava correndo. Fechei a cara. – E-eu... Desculpa Mel. – Ele baixou o rosto.

- Não. Não foi por causa disso. Eu só... Só lembrei uma coisa. – Olhei pra trás dele. Não queria lembrar nunca mais daquele episódio de horror. – Vamos. A gente tem que ver esse galo. – Me levantei e ajudei-o a se levantar, mas quase o deixei cair quando alguém atrás de mim me chamou.

- Melanie?