Uma parte de mim me dizia que eu conhecia aquele suspiro, outra me dizia que não. Eu não sabia o que pensar. Tinha três suspeitas: seria algum assassino vindo nos matar, outro prisioneiro (que só se manifestou agora) ou alguém havia achado o esconderijo e estaria ali para nos resgatar (pouco provável, mais sei lá, né?!).

Eu não estava aguentando mais ficar naquele lugar. Estava começando a ficar extremamente tonta e enjoada. Estava com vontade de gritar, mas uma mordaça impedia isso. Tinha que lutar com todas as minhas forças para não vomitar, se não eu iria acabar morrendo sufocada pelo vomito. Eu estava nos meus últimos momentos, não aguentava mais. Estava machucada, com fome, cansada, tonta, enjoada e com sono, só que eu não conseguia adormecer naquela situação, principalmente sabendo que poderia morrer a qualquer momento. Estava me esforçando. Olhei para o Doutor. Ele parecia estar pensando no que fazer. Parecia que ele estava na famosa dúvida "faço ou não" da vida, na certa aquele momento que uma parte dele diria "Fica ai! Não ouse falar onde a TARDIS está, ela é só sua, e sua só." e a outra parte "Doutor, veja o que você está fazendo, você está por causar a morte de uma jovem inocente e que você mal conhece, vá lá e diga onde sua máquina está, ela não vale a vida da garota, e nem a sua.". Ele não poderia simplesmente entregar a TARDIS, mas se ele não entregasse, nós dois iríamos morrer, e aí nada desse tempo sofrendo aqui embaixo teria servido para alguma coisa.

Ouvi novamente um suspiro. O Doutor parecia dormir, já que estava com os olhos fechados. Os meu olhos lacrimejavam, de tanto que estavam ardendo. Tentava me levantar, mas o teto era muito baixo para isso. Queria espiar para descobrir de quem vinham os tais suspiros abafados. Assim, me arrastei para frente. Eu nem conseguia enxergar direito, principalmente o Doutor, falando a verdade, ele não estava exatamente do meu lado, ele estava na cela do lado. A minha visão estava embaçada.

Não podia simplesmente morrer ali. Eu só tinha 18 anos, morreria de um jeito tão trágico, e o pior, ninguém nunca mais me veria, e se perguntariam o que aconteceu comigo. Foi nesse momento que na minha cabeça veio o pensamento sobre o que estariam os meus conhecidos pensando agora, eu não tinha dado notícia nenhuma por mais ou menos uma semana inteira, nem um sequer sinal de vida.

Voltando os pensamentos novamente à aquela situação, me arrestei mais um pouco e, ao longe, conseguia avistar um ponto branco, bem distante. E foi aí que eu me lembrei de Uhighty. Ela com certeza já devia estar morta...mas uma ideia veio à minha cabeça, nesse exato momento: será que aquele ponto branco seria a princesa e aquele suspiro teria vindo dela?!

Não estava conseguindo mais, tinha desistido. Mas aquele pensamento sobre Uhighty me fez voltar a esperança. Eu tinha que escapar dali. Estávamos sem a chave de fenda sônica. Então como será que eu me soltaria das tão pesadas correntes? Tinha que pensar, foco, era o que eu precisava, e um pouco de comida e água também. Daquele jeito era difícil de pensar. Estava quase sem conseguir respirar. Tive uma ideia. Mas ela parecia se tornar inútil por causa da mordaça. Precisa cortar aquilo. Bom que era de pano. Arrestei a mordaça sobre a parede, que era cheia de espinhos, que talvez cortariam o pano. Funcionou, cortou. Eu me sentia muito melhor, agora conseguia respirar melhor, e não me sentia mais tão enjoada, nem tonta. Estava começando a retomar o animo do início da aventura. Assim que a mordaça caiu, senti uma presença no território, era um dos guardas que ficava rondando as celas. Agora era a vez dele de supervisionar aquela área específica da prisão. O homem se sentou e, parecendo não se importar, começou a comer um lanchinho. Então era agora que o meu plano entraria em prática. Me joguei no chão e comecei a fingir que estava morrendo. O homem se virou para a cela e observou a situação, ele rapidamente entrou na cela e foi ver como eu estava. Então eu chutei sua perna, fazendo com que ele caísse. Agarrei a arma que ele segurava no seu braço e, com ela, bati em sua cabeça, deixando - o inconsciente. Assim, peguei as chaves, me soltei das correntes, e sai rapidamente, trancando a porta, com o homem lá dentro. Abri a porta para que o Doutor pudesse sair também. Ele parecia surpreso ao ver que eu tinha conseguido escapar. Eu falei para ele ser rápido, tínhamos que sair dali, e sair agora.

Minha curiosidade era tão grande que me atrevi a ir em direção ao ponto branco que tinha visto. Cheguei perto e estava certa, era Uhighty. Abri rapidamente a cela. A princesa estava presa de uma forma diferente. Ela estava presa em pé, de modo que ficava grudada à parede. Ela parecia presa não por correntes, mas sim pela gosma preta. O Doutor se aproximou, e assim, eu e ele puxamos Uhighty para fora da cela, quando esta abriu os seus grandes olhos azuis. Ela parecia assustada, já que não tinha nos reconhecido de primeira, porque nós dois estávamos realmente em um estado desprezível. Estávamos com o rosto e o corpo inteiros cobertos de cortes com sangue, suor, gosma preta e um pouco de lama e terra preta. Foi depois que ela percebeu quem eramos. Nós 3 fomos correndo em direção à saída da cela, antes que o guarda acordasse. Eu segurava no braço a arma e o molho de chaves.

Percorremos as celas, sempre com o cuidado de não deixar nenhum dos guardas - vigias nos ver. Na saída das celas estavam as nossas coisas, que nós pegamos. Chegando à um corredor, fomos correndo, até achar a parede onde ficava o elevador. Subimos correndo, chegando assim, finalmente, à superfície.

Eu não estava me aguentando em pé, por isso acabei desmaiando, perdendo totalmente os sentidos. Me acudiram rapidamente. Nós 3 fomos colocados em quartos e fomos tratados. Em torno de 2 dias eu estava acordando novamente. Me sentia muito melhor. Eles tinham injetado em min uma espécie de "soro alimentício", que me alimentou enquanto estava adormecida. Estava cheia de curativos. E assim que acordei, o Doutor apareceu no meu quarto. Ele me olhava, feliz agora que todos nós estávamos bem. Mas sua expressão também me transmitia preocupação, e eu já até sabia porque. Eles ainda tinham a chave da TARDIS. E nós literalmente não podíamos sair de lá sem ela.

Estava um pouquinho febril, mas logo fiquei bem. Descansei por mais um dia. No dia seguinte já conseguia me levantar normalmente. Assim fui até a varanda, e apoiada na base que havia na extremidade da varanda, falei com o Doutor:

– O que nós vamos fazer?

– Como assim? - respondeu

– Não pense que eu não percebi que eles ainda tem a chave da TARDIS. - disse - A TARDIS é o nosso único meio de sair daqui, então nós precisamos da chave.

– É verdade, temos que arranjar um jeito de pegá - la de volta. - falou

Enquanto isso, alguns andares abaixo, na sala do conselho, o pai de Uhighty, sua mãe, e alguns dos conselheiros perguntavam - na exatamente o que tinha acontecido. Assim eles descobriram o esconderijo subterrâneo. Continuamos a conversa:

– Nós temos que descobrir exatamente porque eles sequestraram Uhighty.

– Por dinheiro, ora. - disse

– Ana, eles são um reino, uma espécie, eles não sequestrariam uma princesa sem uma razão, ainda mais que estão em extinção. - respondeu

– É verdade, você tem razão... - murmurei

– Nós precisamos arranjar um ponto de partida. - disse

Foi nesse momento que eu parei de prestar atenção no que o Doutor estava falando, pois, em meio à suas palavras, eu ouvi um barulho, que cada vez parecia aumentar mais ainda.

– Ana? - perguntou

– Desculpa. - falei

– Voltando, os Gyandhrus devem ter feito algo... - o Doutor começou a falar, mas eu o interrompi

– Espera. - disse

– O que? - perguntou

– Escute. - nesse momento eu coloquei a mão na minha orelha, procurando ouvir o barulho

O barulho parecia cada vez mais alto. Olhamos para o pátio aberto central do castelo. Foi quando tudo começou a tremer. Parecia um terremoto. As pessoas estavam correndo daquela área e gritando. E de repente, um buraco começou a se abrir no meio do pátio. De lá saíram vários soldados Judoonoquemerises, os primeiros à sair estavam em cima de animais, semelhantes à cavalos, e alguns dos que vieram depois carregavam várias colheiras que prendiam uma espécie de cachorro gigante e cheio de gosma preta.

O que iríamos fazer agora? Eles nos matariam, com certeza. Estávamos ferrados. Eu e o Doutor nos entreolhamos com um olhar de desespero. Eles estavam se aproximando e num piscar de olhos, vários deles entraram na varanda, inclusive o líder:

– Ora, ora, então vocês escaparam.

E olhando rapidamente para os seus guardas, acrescentou:

– A melhor parte é que agora podemos matar todos juntos.

O líder só apontou para que seus guardas nos matassem e saiu em seu "cavalo". Nós estávamos cercados. Eu comecei a explorar o ambiente em busca de alguma forma de escaparmos. Eu peguei um graveto pontudo que tinha no chão e, em uma atitude um tanto estressada, comecei a apontar - lo para os guardas. O Doutor virou para o lado e avistou uma árvore e só gritou:

– Me dê sua mão!

Eu dei a minha mão para ele e nós dois pulamos rapidamente em cima da árvore. A árvore balançou um pouco, mas o Doutor me segurou. Nós fomos descendo enquanto os guardas subiam na árvore também. Quando chegamos lá em baixo, fomos correndo para o centro da cidade, onde estariam os anfitriões. Quando chegamos lá, tarde demais. Os Judoonoquemereses já tinham o domínio da cidade, e os chefes estavam sob seu comando.

Quando nós chegamos o líder, com cara de tédio misturado com raiva, falou:

– Aff, não acredito, vocês, de novo!

– Tem que haver um jeito de resolver isso sem violência! - o Doutor falou

– Depois do que eles fizeram eles não merecem misericórdia! - falou o líder

– O que eles fizeram? - perguntei

– Não é da sua conta! - gritou o líder, agressivamente

– Sério, me conte, eu posso ajudar! - exclamou o Doutor

– Não, você não pode, só eles devem saber! - murmurou o líder

– Saber do que? - perguntei

– Eu quero que eles devolvam o que é meu por direito! - gritou o líder

– Mas isso está perdido no mais profundo do castelo. - falou o anfitrião - chefe

– ENTÃO ACHE! - gritou o líder

– Achar o que? - perguntei

– Meu amuleto! - exclamou o líder

– Por favor retire as suas tropas, o meu povo não tem nada a ver com isso! - disse o anfitrião - chefe

– Eu não tirarei nem um homem sequer antes de receber o amuleto. - falou o líder, diretamente para o anfitrião

– Tenha piedade. - falou a mãe de Uhighty

– Terei piedade até as 11 horas, exatamente daqui à uma hora, se eu não receber o amuleto, vocês todos morreram. - falou o líder

Todos do castelo saíram desesperados à procura do tal amuleto. Foi nesse momento que eu lembrei do dia que eu e o Doutor exploramos o castelo. Será que aquele objeto que eu encontrei era o tal amuleto? Não estava na minha bolsa, então onde estava? Decidi passar por todos os lugares que tinha passado no dia que exploramos o castelo, e nada. Foi quando eu lembrei daquele meu tombo na escada. Eu na certa o tinha deixado cair! Fui correndo para as escadarias do 4º andar. Procurei cá e lá. Quando eu o achei, gritei para todos os outros, avisando - os, só que ninguém parecia ter ouvido. Só faltavam exatamente 5 minutos para as 11 horas. Fui correndo em direção à sala onde o líder estava. Estava no andar da sala quando só faltava 1 minuto. Abri a porta rapidamente e fui correndo em direção ao homem. Chegando o mostrei o amuleto. Seus olhos pareciam brilhar de tanta admiração, todos os outros do reino chegaram e viram a cena. O líder olhou para o resto dos seus exércitos e propôs uma reunião com o anfitrião, pai de Uhighty. E ele também devolveu a chave da TARDIS para nós.

Na reunião os dois povos decidiram criar uma aliança, permitindo que o domínio de todo o subsolo daquelas áreas pertenceria aos Judoonoquemereses, e que os dois povos viveriam em paz até o fim dos dias.

Depois ouve uma grande cerimônia de agradecimento à nós, por termos salvado o reino. Ganhamos vários presentes e ouve um grande banquete. Depois arrumamos as nossas coisas e retornamos para a TARDIS, dando adeus à todos.

Chegando na TARDIS, O Doutor disse:

– Então, para onde agora?

– Não sei... - murmurei

– Lembre - se, qualquer lugar em todo o tempo e espaço! - exclamou

– Sabe, quando é desconhecido é mais divertido. - falei, e nós dois rimos

Então o Doutor começou a mexer nos controles da nave. Estávamos nos movendo. Parte de min me dizia que aquela tinha sido só uma das primeiras aventuras das muitas que estariam por vir.