A doce e aconchegante Londres.

Uma das mais belas Cidades da grande Europa.

Isso já era de se esperar, afinal a Capital da tão famosa Inglaterra consequentemente seria um dos maiores pontos turísticos de toda Europa.

As ruas estão sempre cheias, pessoas transitando para todos os lados.

O que estão fazendo aqui? As opções são diversas.

Viajando para encontrar o amor? Procurando algum belo café para relaxar? Tentando se reencontrar? Em busca de alguma oportunidade? Causar encrenca?

Como eu disse a lista é enorme.

O Inverno é uma das estações mais populares, mesmo ás ruas frias são ás mais atrativas para os turistas e até mesmo para os residentes.

Pessoalmente eu gostava de ver o movimento alheio.

Ás pessoas andando com suas famílias, apreciando á vista, dando um tempo em algum belo café, ou apenas observar ás ruas iluminadas durante á noite são um dos meus pequenos prazeres de vida nesse lugar.

Mas eu não estava apenas caminhando para apreciar á vista, afinal eu precisava começar o meu trabalho.

Para jovens como eu que não tiveram muitas oportunidades, ás opções são um tanto limitadas para ganharmos a vida, ainda mais em uma cidade como Londres.

Provavelmente eu deveria estar em uma daquelas belas escolas, aprendendo alguma coisa produtiva, ou quem sabe estar no conforto de meu lar em frente á lareira tomando uma bebida quente.

Mas em um fim de semana tão agitado como esse ficar em casa seria uma oportunidade perdida.

Meu trabalho? Pode soar um tanto abstrato, mas o que posso dizer não há uma definição real para o que pode-se chamar de "mágica"

[...]

Posso não ser uma profissional do tipo que aparecem naquelas exibições exageradas ou em comerciais de Tv, mas meu conhecimento é o suficiente para entreter a clientela local.

Como esperado, famílias de todos os tipos passam por aqui constantemente, o que é uma boa oportunidade para mim.

Sempre paro em frente á essa praça mais isolada, ela ficava bem longe de onde eu resido.

Para esse tipo de exibição, uma coisa era necessária, a roupa ideal.

Minhas roupas, claro eram de segunda mão, mas estavam em ótimo estado, não se assemelham com aquelas que os mágicos reais usam, mas era a mais adequada.

Um blazer desbotado era o suficiente.

E a segunda etapa, obviamente meus adereços, ou como gostamos de chamar "itens mágicos".

Sempre os carrego em minha maleta, ela não é muito grande mas o que esperar de algo barato.

Como diziam os comerciais, qualquer um pode fazer mágica, basta "acreditar"...ou saber procurar um kit extremamente barato e outras coisas em uma loja de penhores.

Depois de procurar achei o local perfeito, posicionei minha maleta ao meu lado, claro precisaria organizar meus "itens mágicos".

Enquanto o fazia aos poucos olhares curiosos dos transeuntes se voltavam para mim, felizmente essa era a minha intenção.

Claro nenhum deles iriam parar enquanto eu continuasse aqui então para começar retirei á minha cartola da maleta.

Ela assim como todo o resto tinha um pequeno truque para ser utilizada. Ela era compacta em uma forma de disco, isso era proposital.

Comecei á assoprando, nada havia acontecido, como esperado.

Depois de o fazer e de atrair uma certa atenção eu tive que utilizar o método correto ela se armou em minha mão.

Eu sempre começo á girando e a mexendo com minhas mãos a passando pelos meus braços, depois de alguns segundos eu a colocava em minha cabeça.

Alguns curiosos pararam para me observar e eu acabei ganhando alguns aplausos.

— Damas, Cavalheiros e Jovens, espero que estejam apreciando vossa bela cidade, hei de agraciá-los com uma pequena performance para começarmos... *tosse* me desculpe, o frio inglês é realmente severo nessa... *tosse* *tosse* Blargh!

O clássico truque do baralho saindo pela boca, acaba fascinando qualquer um que vê, mesmo sendo um truque barato.

— Oh, acho que acabei exagerando no almoço...

Toda performance de rua tem alguma intenção, afinal a maioria não iria se exibir de graça.

Eu simplesmente não podia dizer "preciso de dinheiro" então como uma indireta eu retirei a cartola de minha cabeça e a deixei em frente á mim.

Seguindo com minha performance, como planejado chamei alguém para me ajudar.

Havia um pai segurando a mão de sua filha enquanto me assistia, acabei me aproximando deles sem cerimônia e me abaixava para ela.

— Escolha uma carta fofinha, qualquer uma.

Os elogios são apenas um tratamento alheio mas ajudam na hora de quebrar o gelo.

Como esperado seu pai a incentivava á entrar no meu joguinho.

— Ótimo, mostre pro seu pai e devolva para o baralho.

Depois de me virar ela acaba o fazendo e devolvia para o meu baralho quando ergui minha mão.

Depois de embaralhá-las, retirei á carta do topo e mostrei á eles.

Se tratava de um Valete de copas, quando mostrei essa de fato era sua carta.

O ceticismo em relação á esse truque era uma reação óbvia.

Podia simplesmente embaralhar e marcar á carta e retirá-la depois, se bem que esse é o jeito convencional.

— Claro, assim fica muito fácil, vamos complicar ainda mais.

Para convencê-los ainda mais pedi novamente para ela retirar outra carta e seguir com o mesmo plano.

Após mostrá-la para seu pai, pedi para que ele a dobrasse.

Obviamente eu não iria adivinhá-la, afinal ela está literalmente marcada.

A coloquei no meio do baralho e me afastei deles.

— A carta está dobrada, mas não vamos fazer uma adivinhação, pessoal por favor atentem-se á minha mão, quando eu estalar os dedos a carta irá subir. 3...2...1...

Snap!

O truque da carta dobrada no meio do baralho sempre impressiona, como esperado alguns começaram á aplaudir.

Trabalhar com cartas pode ser uma certa apelação e um tanto previsível, mas há quem fique impressionado com esses truques.

[...]

— 1..2..3.. em qual mão está?

O show não podia parar, mas já estava quase na hora da minha deixa, afinal já estava ficando bem frio.

Por mais que gostasse do clima gelado de Londres não quero ficar doente por conta disso, afinal em meu ramo se eu perder um dia de trabalho fico sem comer durante o dia.

De qualquer forma eu estava um pouco indisposta hoje então segui apenas com os truques convencionais.

Eles possuem uma grande preferência por truques ilusórios então era o que eu estava fazendo.

O clássico truque da bola de borracha.

Jogue-a pro alto e a pegue com as mãos fazendo-a desaparecer de vista. Pessoalmente eu adoro esse, já que demorei um bom tempo praticando e na maioria das vezes falhando em fazê-lo.

Mas são águas passadas, agora sou uma expert.

O fiz para o meu público que aos poucos estava diminuindo, o frio estava se tornando mais severo conforme a noite chegava.

Era um truque simples então não iria demorar muito, acabei apontando ás minhas mãos para um dos adultos presentes.

Ele escolheu a esquerda, mas para seu azar não era a mão certa, em seguida ergui a mão direita e a abri afinal seria escolha mais óbvia.

Porém aí que está a graça do truque, a bolinha não estava naquela mão também!

Então finalizando com chave de ouro retirei o meu chapéu e ali estava ela.

Quando o fiz ganhei alguns aplausos rápidos e saudei á todos.

— Obrigada, muito obrigada, foram um ótimo público.

Com um certo estilo e de maneira elegante eu guardei tudo novamente em minha maleta, até mesmo meus encerramentos devem ser apresentáveis.

— Lembrem-se não percam os próximos shows, estarei aqui todos os dias contando com a presença ilustre de vossos notáveis cavalheiros, belas damas e jovens promessas. E lembrem-se não deixem de acreditar na magia!

E com isso me despedi alegremente de todos, aquele pequeno grupo reunido para me assistir acabou se dispersando.

De vez enquanto é bom ver esses grupos de amigos e familiares reunidos para minha performance, chega a dar um pequeno calor no coração.

[...]

Apesar de ter um potencial dom para mágica ela infelizmente não pode me prover todas ás coisas essenciais, ou mais precisamente recursos básicos.

Seria bom ter um pouco mais de dinheiro até o final da semana. Aproximadamente 23 libras e alguns centavos, no máximo terei comida por alguns dias, mas não chega nem perto do valor que preciso para pagar alguns aluguéis atrasados.

Sendo uma jovem órfã vivo á margem da lei de certa forma, mas consigo lidar com isso da minha maneira.

Nos subúrbios dessa bela Cidade na parte menos favorecida eu possuía um pequeno apartamento ao meu dispor e com pequeno digo que ele realmente era minúsculo.

A proprietária local vem uma vez por mês para cobrar o aluguel, no caso eu estou em meu quarto mês no vermelho, ela provavelmente vai me denunciar para alguma instituição de jovens afortunados.

Ao menos era o que eu pensaria, afinal ela era apenas uma mulher sovina que queria mais dinheiro então acabou extorquindo uma jovem como eu que julgou ser desesperada então se ela o fizesse seria questionada e poderia ter mais problemas, acredito que no máximo ela só vai me despejar.

Quando cheguei na porta, podia ver aquela carta de ameaça com um lacre vermelho, de fato era uma ordem de despejo.

Pagar com migalhas e aos poucos não vai mais adiantar então acho que essa pode ser minha última noite.

Mesmo assim esse lugar é péssimo mas não podia ser tão exigente dado a minha condição.

Um único cômodo compacto.

Basicamente a minha cozinha, quarto, sala de estar e banheiro eram em um único lugar, no caso apenas algumas cortinas eram utilizadas como uma divisória improvisada, mas tudo estava em condições medianas.

Eu mesma tive que limpar a banheira com minhas próprias mãos, acabei perdendo alguns tecidos por conta disso, mas ao menos é decente para um banho.

Quando o faço por precaução fecho a cortina e desço a persiana da janela afinal podem ter alguns olhares indecentes da janela.

Eu não tinha um fogão no máximo um pequeno acendedor á gás, quando o ligava apenas uma coisa poderia ser feita, massa.

Não havia erro, alguns minutos na água quente e depois escorrer a água naquela pia imunda, após isso fazer o molho da minha maneira, existiam várias possibilidades mas infelizmente só consigo fazer da maneira tradicional.

Na Itália eu provavelmente poderia ter algum conhecimento culinário desse prato de maneira mais aprofundada mas aqui é Londres então acabava fazendo uma combinação estranha entre massa e uma boa xícara de chá.

Eu não precisaria lavar minhas roupas por hoje, afinal estava bem frio então iria dormir assim mesmo após minha refeição.

O frio inglês pode ser cruel no inverno, por mais agradável que sejam ás ruas não queria estar em uma casa sem aquecedor ou lareira, que é o meu caso infelizmente.

Depois de preparar essa refeição leve me deitei ao chão me enrolando em alguns tecidos velhos e me cobrindo com eles, não tenho uma cama, muito menos um colchão para me confortar apenas um chão duro e gelado.

Havia um truque para não passar frio, como geralmente descarto a água após fazer a massa hoje acabei fazendo diferente, deixando a panela aberta com aquela água quente o vapor podia aquecer um pouco á minha volta, claro não era equivalente á uma sauna, muito menos á um aquecedor mas é apenas um dos métodos de sobrevivência que aprendi com o tempo.

Quando me deito me pergunto, será que é isso que me reserva para essa vida?

A mágica pode ser minha paixão, mas eu reconheço que não vou chegar muito longe com isso, apenas pedindo esmolas e vivendo em lugares de baixas condições.

Temo muito pela minha vida adulta, se nada der certo terei que apelar para a venda da minha própria dignidade nas ruas? Isso jamais!

Eu sempre evito pensar o pior, mas essas ideias sempre me aparecem no final do dia, então acho que dormir é a melhor opção, afinal o amanhã é sempre um novo dia, quem sabe algo interessante possa acontecer...

[...]

Algo parece estranho com o meu corpo.

Tive uma sensação de leveza extrema e quando o mexia não podia sentir nada ao meu redor em uma fração de segundos e quando recobrei a consciência pude voltar á sentir aquele chão duro porém com uma sensação mais aveludada, será que dormi por cima do meu braço de novo? Ele está um pouco dormente isso explicaria algumas coisas.

— Hey...Hey... (???)

Eu escuto uma voz bem baixa, será que é a proprietária? Ela acabou invadindo o lugar sem me avisar? Poxa o despejo seria feito na próxima semana, não hoje!

— Hey! Garota...está me ouvindo? (???)

— Hgm...*boceja* Sim...Não precisa gritar, eu já disse que vou pagar o aluguel! Se puder me dar mais algum tempo...

— Do que é que você está falando? (???)

Essa voz...ela parece bem feminina, não o som arrastado de uma velha caquética e ameaçadora.

Minha visão estava bem turva, eu acabei dormindo de mais outra vez.

Quando recobrei a consciência, de imediato percebi que estava sonhando.

Havia uma bela moça diante de mim.

Ela tinha uma vestimenta que parecia ser de luxo, um casaco de pele, sem falar que estava com um pouco de pele á mostra, esse era o estilo comum para ás mulheres ricas desse país.

— ...Quem é você? O que faz na minha casa?

— Sua casa? Foi você quem veio parar na minha.

— Pfft, ela já está apresentando os novos inquilinos? Temo dizer á você que esse é o meu...lar..?

Ok...eu achava que meu apartamento tinha uma temática sombria durante á noite, mas acho que estava um pouco enganada dessa vez.

Tudo o que há ao meu redor são livros, muitos deles, como se eu estivesse em um acervo histórico de uma grande biblioteca.

Sem falar que há uma grande luz saindo de meus pés, isso é algum tipo de tapete estrangeiro? Ele brilhava intensamente em uma área redonda.

— Ok...Acho que esse é o sonho mais louco que eu já tive...

Continua...