The High School

Luz no Fim do Túnel


Podia sentir que Elizabeth queria me confortar, mas sua dor era igualável a minha. O fardo de ter que cuidar de dois filhos sozinha deveria ser insuportável. Opa viram? Disse dois? Na verdade eram três... Me esqueci de Violette.

Sem me importar com todas aquelas pessoas preocupadas comigo, dou as costas e volto a andar. Paro apenas quando chego na porta de casa. Uma limousine branca estará parada lá. Era Carter. Esperava-me de pé diante do sol escaldante daquele dia.

— Adan... Eu sinto muito. - põem-se a chorar ao me abraçar.

Também não me movia. O choque foi tanto que não sabia nem o que estava fazendo, muito menos o que estava acontecendo. Empurrei-o de vagar, abri a porta de casa, com a chave que sempre carregava no bolso direito. Entrei e fechei a porta na cara de Carter.

Milhares de mensagens. Inúmeras ligações. As pessoas estavam preocupadas comigo. Que patético achavam mesmo que iria dar atenção a elas? Nunca mais iria confiar em ninguém. Minha única companhia era aquela sombra que me cobria.

Eu só pensava no papai. A pessoa que mais amava em todo o mundo. Nunca mais veria ele...

Olho de relance um quadro na estante da sala de estar. Era uma fotografia minha com ele, naquela mesma árvore. Sem me conter agarro-a firme e jogo contra a parede. Tudo fica em pedaços... Igual a mim... Igual ao que estava sentindo.

Depois de quebrar o quadro, vi minhas mãos sangrando. Não sentia dor física. O emocional era muito pior, sem comparação. Se por fora eu sangrava, por dentro já estava morto.

Mais uma vez meu coração aperta, e não contenho o grito espontâneo.

— PAPAAAAAAAAI - as lágrimas eram de se inundar uma cidade.

Minutos depois ouço a porta abrir. Era Theo, meu irmão. Ele me abraça, me segurando enquanto me rebato descontroladamente.

— Bota pra fora Adan, não se preocupe.

— Theo... Irmão... O papai...

— Eu sei maninho, mas ele não gostava de te ver chorar lembra?

— Eu não consigo. EU NÃO CONSIGO!

— Para com isso! Você é mais forte Adan! - ele dizia me acalmando.

Com o tempo minhas lágrimas iam secando, e dor ia amenizando. Pego no sono de repente, no colo de meu irmão. Sinto ele acariciando meus cabelos e cantando a canção de ninar que nosso pai sempre cantava antes de dormirmos...

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Meus olhos abrem de vagar, querendo que tudo fosse uma enorme mentira descarada. Mera ilusão. Vejo que era verdade ao ver meu irmão ao acordar, ainda descansava minha cabeça em suas pernas. Sem intenção, faço ele acordar...

— Boa dia maninho. Está melhor?

— Não tem como melhorar. - ele me olha desapontado.

— Vamos, vou te levar pra dar uma volta e descontrair.

— Preciso ir ao colégio.

— Adan, sei que os professores vão entender sua falta se não for hoje.

— Eu sei Theo, mas realmente quero ir.

— Precisa ver seus amigos não é? - pergunta.

— Sim. - minto.

Ele me leva no carro de nossa mãe. Ela havia passado a noite na casa dos Miller, estava incapacitada de deslocar-se de lá. Seu psicológico estava praticamente igual ao meu.

Durante o caminho, Theo ficou bagunçando meus cabelos, e colocando um sorriso falso no rosto para tentar me botar para cima. Admiro sua força, afinal por dentro estava tão despedaçado quanto eu, mas tentava me animar por fora.

Desço do carro me despedindo dele. Tudo era igual ao meu primeiro dia de ensino médio. As pessoas olhavam para mim e cochichavam, mas ninguém chegava perto.

De repente alguém cola nos meus braços.

— Chloe!

— Oi Adan! Que tal ficarmos jogando Pokémon Go durante a aula de volei de novo? Já cansei de ficar olhando aquela bola voando pra cá e pra lá, além de ter formado vários calombos no meu pulso. - ela ri, tentando fingir que estava tudo normal.

— Pode parar. Sei que está tentando fazer-me ficar bem. Esquece. - saio de perto.

— Adan! - mais um olhar de desaponto.

Fico surpreso ao ver Melissa lá, assim que passo pela grande porta de vidro. Estava enfaixada na cabeça. Sinceramente, esperava que estivesse morta! Apenas contorno e sigo. Sinto ela me tocando no ombro, nem lhe dou a honra de olhar.

Ando mais um pouco, e mais uma pessoa que uma dia já marcou a minha vida, cruza minha frente.

— Oi Carter. - digo.

— Adan? Achei que nunca mais iria falar comigo. - ele vem para me abraçar.

— Não me toque. - recuo para trás.

— Mas... - recebo mais um olhar daqueles de decepção.

— Carter Axel. Só queria dizer que eu te amo. Por mais que a raiva estaja sobre mim, eu não consigo esquecer você, mas também não posso continuar e ser um corno junto com você...

— Eu já disse que também sinto muito. Você é a pessoa que eu mais amei em toda minha vida. Enfrentei até meu pai por você.

— Espero que seja feliz. Enquanto a seu pai, que morra no fogo do inferno.

Ele me olha assustado. Mais uma vez sigo.

Dylan aparece correndo em minha direção.

— Adan, você está bem? Saiu de repente ontem de casa.

— Acho que foi porque recebi a notícia de que meu pai estava morto.

— Sinto muito Adan. - ele abaixa a cabeça arrependido por tocar no assunto.

— Cuide-se. - esfrego seu cabelo e mais uma vez sigo meu caminho.

Dylan era um dos poucos com quem não conseguia sentir raiva, ou arrependimentos. Aquele garoto era como um irmão mais novo para mim, na verdade era como um filho. Pode soar estranho, mas era como me sentia, principalmente quando ajudava ele com seus problemas terríveis do passado.

Mais adiante vejo Gewn e Benjamin. Resolvo parar para conversar com os dois.

— Oi.

— Adan? - Gewn espanta-se.

— Achávamos que iria faltar hoje. - Ben completa.

— Vim aqui para ver se esqueço um pouco das coisas, então vi vocês.

— Quer sentar cara? Vamos conversar enquanto o sinal não toca. Nossa próxima aula é junto mesmo.

— Obrigado galera mas vou passar essa. Preciso andar um pouco mais.

— Se precisar de alguma coisa, sabe que pode contar com a gente. - Ben continuava sempre muito educado.

Para qualquer canto que eu ia, era motivo de cochichos. Avisto Violette de longe, minhas pernas me levam automaticamente até ela.

— Perdoe Elizabeth.

— O quê?

— Ela precisa de uma coisa boa nesse momento.

— Hahahaha. Sinto muito mesmo, mas o que está me pedindo já é demais.

— Já ta na hora de parar de arrogância não acha?

— E quem é você para falar isso de mim?

— Só perdoe ela, ok?

— Ei filha, ele está te incomodando? - professor Derian interrompe nossa conversa.

— Não. Já estava de saída professor. - dou as costas aos dois e encaminho-me para a sala do diretor.

Senhor Steven dois sustos ao entrar em sua sala sem bater. O primeiro referente ao fato de estar na escola um dia depois da notícia da morte de meu pai. O segundo pelo fato de estar masturbando-se vendo porno logo de manhã.

— SENHOR BLAKE! - ajusta o zíper das calças de repente.

— Olá diretor.

— O que você faz aqui? Digo, seu irmão disse que não viria.

— Precisava dar uma passada aqui, mas pensando bem, acho que vou me retirar. Algum problema em matar aula?

— Que blasfêmia, é claro que tem. - ele para pra pensar. - Digo, claro que não Adan.

— Ta legal... Foi bom te ver.

— Igualmente.

Me retiro de sua sala. Mesmo sem querer acabei cruzando com todas as pessoas que um dia foram importantes para mim. Até mesmo Dawn e seu primo Leon me cumprimentaram. Estava me sentindo mal, resolvi sair logo do colégio...

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E cá estou eu, nesse exato momento. Sentado na calçada em frente ao Delarriva. Olhando para os céus e vendo a imagem de meu pai...

Finalmente surgiu uma força. Acho que está na hora de ir pra casa.

O dia está fervendo. É verão e o sol encontra-se mais radiante do que nunca.

As pedras que encontro no meio do caminho vou chutando devagar. Pensando em tudo o que já vivi até aqui. Olho para o lado. É a casa dos Miller. Na janela do banheiro, no segundo andar, está Elizabeth. Enxugando seu rosto marcado pelas lágrimas de dor.

Volto a andar lentamente pelas ruas... Finalmente minha casa!

Percebo que o carro não estava estacionado em frente a garagem, Theo deve ter saído.

Pego minhas chaves em meu bolso, abro a maçaneta e entro na sala. Caminho por toda a casa, olhando todos os quadros e todas as rachaduras nas paredes pintadas com verde oliva, foi meu pai que pintou tudo sozinho. Nunca parei para apreciar tudo em minha volta, está sendo a primeira vez.

Vou até a cozinha. Pego um pedaço de pudim que está sobre a mesa, adoro essa sobremesa. Então desvio o olhar para uma gaveta especifica, era vermelha, diferente de todas as outras que eram de um tom de terra. Essa gaveta era do meu pai, onde ele guardava umas ferramentas velhas. Dou um passo, abro-a e novamente começo a chorar.

Em uma das mãos seguro uma foto de nossa família. Na outra a faca favorita do papai.

Fecho meu olhos e aperto ainda mais forte a mão direita, onde segurava a faca, então levo-a até meus punhos...

Não está doendo, esse era meu único medo, a dor. Acho que eu já estava tão morto que não sentia mais nada, nem mesmo os cortes profundos...

Veja, está tudo ficando embaçado. Não, está ficando escuro... A luz no fim do túnel, aquelas que todos falavam... Sumiu...