Havia perdido tanto tempo com toda aquela preocupação com a vida alheia, mais especificamente a de Dylan, que esqueci completamente o almoço que tinha combinado com Carter. Que grande namorado eu era, não?

— Preciso pensar em uma desculpa urgente. - digo a Chloe.

— Não precisa. - a voz dele ecoa de longe.

— Xiii! Ferrou Adan. Vou indo, beijo. - ela sai sabendo que a coisa ia ficar feia.

— Car... Amor. Desculpe-me. - abaixo a cabeça em arrependimento.

— Relaxa amor, Sr. Steven me disse tudo. Está só ajudando um novato certo?

— Então ele te disse? Sim, é isso mesmo. - digo mais tranquilo.

— Disse. Bom, já que nosso almoço foi interrompido, e você já perdeu quase todo o dia de aula, que tal irmos tomar um café na cafeteria da esquina? - ele adorava aquele lugar.

— Eu juro que quero muito, mas eu prometi para o diretor que voltaria logo. Sinto muito.

— Tá legal.

— Me desculpe Carter. – digo triste.

— Beleza. – ele me dá as costas.

— Aonde vai? – pergunto.

— Para casa, cansei de hoje. Dane-se as outras aulas.

Não questiono, o deixo ir. Ajeito minhas muletas e finalmente atravesso as grandes portas de vidro.

Conto tudo ao Sr. Steven, o mesmo fica abismado com tal história. Peço desculpas por ficar tanto tempo fora do colégio.

— Não se preocupe Adan, foi por uma boa causa. – ele disse.

— Vou voltar para a sala então. – finalizo a conversa.

Voltando para a aula, agora, segundo o horário, era de marketing. A professora era uma japonesa bem idosa, ninguém nunca tentou adivinhar a sua idade, mas pela sua aparência já passava dos setenta.

Não achava a aula tão chata, não tanto quanto a maioria pelo menos. Pensava até mesmo em seguir nessa área, fazendo propagandas em sites e em televisões, para vender um determinado produto. Mas eram tantas opções para o futuro, algo que não conseguia escolher em uma estalar de dedos.

Benjamin era o único conhecido que fazia aquela aula comigo. Fizemos até mesmo dupla no trabalho que a Srta. Lee (ninguém sabia seu nome completo também) passou.

— Como está sua perna Adan?

— Cada dia doí menos. Obrigado por se preocupar, Ben. – chamávamos ele de Ben. Uma abreviação de seu nome.

— Melissa falou tão bem de você no fim do ano passado, era o mínimo que podia fazer por uma pessoa como você. – ele era bem simpático.

Ao fim da tortura de cinquenta minutos, despeço-me de Ben e da Srta. Lee. Quase do lado de fora da sala vejo Gewn, parecia esperar alguém. Benjamin me passa correndo, puxa a cintura da garota e a beija bem em minha frente, a propósito, que beijão.

Sem brincadeira, mas a primeira coisa que pensei foi ”MAS ELA NÃO ERA LESBICA?“. Tudo que desejava era que Chloe não aparecesse de repente e visse o aquilo. Sorte que não teve sinal dela. Chloe estava apaixonada por Gewn, e já era difícil dela aceitar esse fato, vendo ela beijar outra pessoa séria devastador, ainda mais um garoto.

— Com licença, por favor. – digo para me deixarem passar. Estavam tampando tanto a entrada quanto a saída.

— Ah, oi Adan.

— Oi Gewn. Como vai? – pergunto, mesmo que no momento a única coisa que queria era sair correndo dali.

— Vou bem. Viu a Chloe? Combinamos de assistir filme juntas hoje.

— Não vi. – foi ai que tive uma ótima ideia para evitar minha amiga de uma decepção amorosa. – Na verdade, vi ela sim. Chloe teve que ir embora mais cedo, ficou doente de repente. Pediu para avisar que não vai dar para vocês verem filme hoje.

— Poxa, que coisa mais triste. Diga a ela que desejo melhoras.

— Pode deixar. Digo sim.

— Parece que vamos ter que fazermos algo juntos então Ben. – ela dá um sorriso malicioso.

— Que pena. – ele ri, feliz. – Vamos indo então. Até mais Adan.

— Até Ben. Gewn. – saio.

Ando até a porta. Um dia a menos no meu segundo ano do ensino médio, e um dia a menos na minha medíocre vida.

Do lado de fora encontro Melissa toda aflita no telefone.

— Ei Mel. O que houve? – pergunto assim que ela finaliza o telefonema.

— Estou muito preocupada Adan. Minha apresentação no restaurante do centro será em breve, e como lá é algo um pouco maior, eles querem uma banda, e não uma cantora solo.

— Entendo. Sei que vai fazer seu melhor.

— Obrigada pelo apoio Adan, espero te ver lá. Me desculpe, mas preciso correr atrás disso, conversamos em breve.

— Tudo bem. Até mais.

Ela sai correndo até o carro de seu pai. Posso ver de longe o Sr. Fabien acenando para mim com o braço, depois da a partida e desaparece no meio dos outros carros.

Desde que acordei era a mesma coisa com Melissa. Sempre correndo atrás de alguma coisa relacionada com seu sonho, a música. Senti sua falta, não minto, mas estava feliz por ela. Quando sofri aquele acidente, que me atormentava desde então, não era minha melhor amiga que via em minha frente. Concluindo, ficava feliz em ver a nostálgica Melissa de volta a vida ativa, ao contrário daquele sombria e depressiva. Já não se lembrava mais de Justin, ou pelo menos já não se deixava mais afetar pela sua morte.

Logo em seguida alguém pula em minhas costas. Era Chloe.

— Ai Adan, estou muito animada para ver o filme com a Gewn. Mesmo ainda não estando preparada para admitir nada à ela, fico tão feliz só de estar ao seu lado.

— Então... Sobre isso...

— O que foi? – ela me olha assustada.

— Chloe, por favor, não fique triste.

— Desembucha logo garoto. – começa a se desesperar.

— Estava saindo de uma de minhas aulas hoje, quando de repente vejo Gewn e Benjamin se pegando. Descobri que eles estão ficando.

— Isso é impossível. Gewn é lésbica.

— Era o que eu também achava.

Um minuto de silêncio toma conta do ambiente. Chloe e eu nos calamos, e pareceu até mesmo que por alguns segundos, que os pássaros pararam de cantar, os motores dos carros pararam de fazer aquele barulho irritante, e os alunos todos ficaram sem mesmo resmungar uma sílaba.

— Vou embora. – ela sai apressada, vejo uma lágrima escorrendo ao virar-se.

— Chloe. Chloe não...

Infelizmente não tinha muito o que fazer, o melhor era botar tudo para fora. Depois eu falava com ela.

Estava pegando meu telefone para ligar à Elizabeth, para me buscar, quando recebo uma mensagem de Carter. Seu contato estava salvo em meu celular com o seu nome e um coração (”Carter ♥”).

“Precisamos conversar urgente, ainda hoje. Venha até a praça perto de casa quando puder”.

A mensagem dizia isso, sem palavras de carinho, ou seja, estava furioso. Mesmo que negasse, sabia que era por aquilo de não poder almoçar com ele de manhã. Resolvo tomar rumo a pé até a praça. Mandei uma outra mensagem respondendo a ele, dizendo que estava a caminho, e outra a Elizabeth, dizendo que chegaria atrasado para o jantar.

Caminho lentamente enquanto a noite cobre o fim do dia. Tempos depois estava sentado no banco da praça esperando por ele.

Carter chega minutos depois. Sai detrás de uma árvore, acho que já estava esperando lá.

— Amor eu juro que sinto muito por hoje de manhã. – logo digo arrependido.

— Sempre que combinamos algo, você esquece. Estava ocupado demais se preocupando com um garoto que acabou de conhecer, mais do que com seu próprio namorado.

— Ele precisava de ajuda.

— Eu também precisava.

— Como assim?

— Isso não importa mais. Parece que só eu me importo com essa relação, você não dá a mínima.

— Não é verdade.

— Quando você estava lá deitado naquela maldita cama por todos aqueles meses, eu tava do seu lado. Todos aqueles dias, aquelas horas, aqueles minutos...

— Acha que não sei disso?

— Se sabe, então não liga. Estava mal porque meu pai conseguiu minha guarda Adan. Ele me matriculou em um colégio militar. Estarei lá em dois dias. Achava que a única pessoa no mundo que poderia contar para desabafar, era meu namorado. Me enganei...

— Impossível. Diga que é mentira, por favor amor. – não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir. Aquele homem desprezível havia conseguido a guarda do filho?

— Não adianta chorar agora. – ele deixa lágrimas escorrerem também. – Acabou tudo para mim. Acabou tudo entre nós dois...