The High School

Abraço de Esperança


— Por favor, me diga que é mentira... Como ele conseguiu a sua guarda? - pergunto desesperado.

— Isso não importaria para você mesmo. - diz ainda com aquela única lágrima em seu rosto.

— Me perdoe Carter.

— Já disse Adan. Acabou.

— Não faça isso comigo.

— Foi você que me trocou por um embuste do primeiro ano.

— Já disse que ele só precisava de ajuda.

— Eu era seu namorado, precisava muito mais.

— Eu juro que não sabia.

— Adan, não torne as coisas ainda mais difíceis para mim. Estarei me mudando logo, não vai mais funcionar.

— Por favor... - caio no chão, minha pressão tinha baixado.

— Pare com esse shownzinho. Foi bom enquanto durou. Eu ainda te amo Adan, mas acabou... Tenho que ir agora. - ele sai dando as costas para mim. Deixa-me largado no gramado da praça. Chorando. Inquieto. Sozinho. De novo.

O sol já estava sumindo no horizonte, quando consigo finalmente levantar e firmar meus pés. Tinha acabado de perder meu grande amor, meu verdadeiro e único amor...

Não consigo ligar para ninguém, nem mesmo pedindo ajuda. Começo a dar passos leves e curtos. Quando percebo, já estou em frente a minha casa.

"Ding dong". A campainha ecoa. Para minha surpresa não era Elizabeth que abre a porta, era Theo. Fiquei feliz, mesmo estando em estilhaços por dentro. Já fazia um tempão que nao via meu irmão, a universidade tomava quase todo o seu tempo.

— Que bom que conseguiu uma folga irmão. - digo durante o jantar.

— Estava com saudade de vocês. Principalmente da comida da mamãe. Não acredito que vou dizer isso, mas cansei de pizza. - ele ri.

— Acho que o mundo vai acabar então. - brinco. A comida preferida de Theo era pizza, gostava tanto quanto eu gostava de um bom sorvete.

— Podem comer a vontade meus amores. Fiz tudo que vocês gostam. - literalmente Elizabeth tinha feito tudo. Um banquete que daria para umas dez pessoas, até mais.

Comemos, foi uma noite maravilhosa. Mesmo com tudo isso, só pensava em Carter. Precisava dele, queria ele... Era tudo minha culpa, e não tinha mais o que eu fazer.

Ao fim da noite meu irmão disse que tinha que voltar, era uma longa viajem, e se fosse de manhã poderia se atrasar. Isso que dá querer ser veterinário.

— Prometo voltar quando puder. Amo vocês. - ele sorri.

— Estarei esperando por uma revanche no basquete. - digo.

— Claro que sim, baixinho. Não chorei mãe.

— Desculpe filho, sabe como são as mães. Se cuida. - ela o abraça com força. Depois eu faço o mesmo.

— Até logo. - finalmente ele parte com a moto que ganhou do pai da Kimberly.

Digo a Elizabeth que estava com muito sono e precisava dormir, era apenas uma desculpa para ficar sozinho e refletir. Subo ao meu quarto, deito e minha cama e seguro firme meu urso Tedd no colo, que a propósito havia ganhado de Carter em um parque de diversões. O ganhou no tiro ao alvo. Desde então não desgrudo dele por um segundo.

Não consigo sequer começar a pensar nas coisas, quando abro os olhos o sol bate forte em meu rosto, percebo então que havia pegado no sono rapidamente. Levanto e vou direto ver meu estado no espelho trincado do banheiro. Estava parecendo a fera da Bela. Depois de me arrumar, acomodo-me no carro e espero por Elizabeth. Segundo depois de mim, ela aparece.

— Pronto para mais um dia? - ela pergunta animada.

— Com certeza. - respondo do meu jeito super animado (sarcasmo) de sempre.

— Está tudo bem filho?

— E por que não estaria?

— Estou com esse pressentimento desde ontem quando você chegou em casa.

— Não é nada, estou bem sim.

— Já que você diz. Vamos indo então.

Ela abre a garagem com o minúsculo controle em suas mãos. Finalmente saímos de casa. E todo o percurso de sempre, é realizado com sucesso. Patifaria! Já estava cansado de sempre repetir a mesma rotina.

Como sempre, lá me encontrava. Em frente a grande porta de vidro. As vezes pensava se meu irmão ficava cansado de tanto ir ao Delarriva também. Fazer o que...

Assim que entro, procuro por Carter. Pergunto a Mel, nada. A Gary, nada. A sua irmã, nada. Ninguém sabia onde o garoto estava. Eu só precisava dele naquele momento. Foi quando sou interrompido por Dylan passando do meu lado.

— Ei cara, está tudo bem? - pergunto.

— Já disse pra não falar comigo.

— Mas eu não entendo. Só quero ajudar.

— Não me lembro de pedir sua ajuda.

— Dylan, eu... - gaguejo.

— Some da minha frente. - ela me empurra e continua a andar.

Era seu segundo dia no colégio, por experiência própria, sabia que era difícil. Só queria fazer com que se sentisse em casa.

Minha primeira aula era de cálculo. Com nosso novíssimo professor Mr. Derian, e sua linda e perfeita filha Violette, que mal chegou e já rejeitou quarente e dois caras que pediram para ficar com ela. Pelo menos era o que os boatos diziam.

Ela ia começar sua aula, quando de repente olha fixamente para mim.

— Adan Blake. Venha cá. - era só o que faltava, além de Carter ter desaparecido (nem mesmo estava na aula de cálculo), levaria também uma bronca do professor.

— Diga senhor. - pergunto aflito.

— Não é nada demais. Posso lhe fazer uma pergunta?

— Claro que pode senhor.

— Quando você nasceu? - estranho a pergunto, penso até ser uma brincadeira, mas seu olhar sério dizia o contrário.

— Dia 22 de agosto de 2000 senhor.

— Era o que eu pensava. Sabe em qual horário? - ele sussurrava, como se não quisesse que mais ninguém o ouvisse.

— Não me lembro ao certo, mas se não me engano, Elizabeth deve ter comentado algo entre 19:30 e 19:45.

— Hum. Claro. - exclama.

Não consigo nem mesmo tentar entender o por que dessa perguntas. O sinal de incêndio do colégio apita. Que ótimo, outro treinamento.

Todos os alunos saem da sala, vão até o pátio e formam várias filas, organizadas lado a lado. O mesmo procedimento desnecessário de sempre. Não digo por desmerecimento, mas pensem bem, se tiver um incêncio, ninguém vai lembrar de fazer essas porras de filas, vão todos correrem desgovernados atropelando uns aos outros. É triste, mas é a verdade.

Durante o treinamento, vejo Dylan à duas filas de distância da minha. Estava suando e tremia as mãos, seus olhos fixados no diretor, e suas pupilas dilatadas ao extremo.

Quando volto meu olhos para frente, lá vai ele. Dylan sai da fila e sobe no palco ao lado do Sr. Steven. Olha todos nós de ponta a ponta. Pude sentir o seu medo e aflição, sentia que faria algo ruim, sentia que alguma coisa iria acontecer, alguma coisa nem um pouco boa.

Ele coloca sua mochila apoiada em suas pernas, abre lentamente o zíper, coloca suas mãos dentro dela, e começa a tirar algo de lá de dentro. Dylan estava com uma arma. Uma arma apontada para nós.

Minhas pernas tremiam feito pipoca estourando na panela. Dylan, por que? Eu estava do seu lado, só queria ajudar. Mas não iria desistir, sei como era uma mente perturbada, e ele era um garoto incrível atrás desse seu medo.

— DYLAN. – grito com todas as forças da minhas cordas vocais.

Posso ver Melissa (que estava do meu lado) pegar seu celular e enviar uma mensagem para alguém. Era para Carter. Pelo visto ela sabia onde ele estava, ele deveria ter contado sobre nosso termino com ela. Pelo menos ele não a bloqueou em tudo, como fez comigo.

Ela enviou uma mensagem de socorro com apenas uma das mãos. Pude ler de relance o que escreveu.

”S.O.S. Adan corre perigo“. Talvez eu estivesse correndo perigo mesmo, estava indo em direção a Dylan. Em direção à um garoto perturbado com uma arma nas mãos. Por que estava fazendo isso? Sinceramente não sabia, só sentia mais uma vez que deveria ajuda-lo. Ele era muito parecido comigo, não me cansava de reforçar isso.

Ando lentamente, sem tirar os olhos dele. Subo degrau por degrau das escadas que dão em meio ao palco.

— Saia daqui. – ele diz.

— Jamais irei sair. – devolvo.

— Estou avisando. SAIA.

— ADAAAAAN. – Melissa grita de desespero.

— Desça daí Adan. – Chloe implora.

— Não seja burro jovem. – Sr. Steven dá um paço em nossa direção.

Estava frente a frente com Dylan. A arma apontada para meu peito. Curiosamente, estava calma, sereno. Já Dylan, tremia, suava frio, chorava descontroladamente.

— Não. – respondo a ele quando me pede mais uma vez para sair.

— Eu não consigo controlar.

— Você consegue sim. – digo com confiança.

— NÃOOO. – ele grita desesperado.

— Dylan, eu sei como é, já passei por isso, ainda passo de vez em quando. Tudo depende do seu querer. Se dizer que consegue, você consegue.

— Não sou forte como você.

— E quem disse que sou forte?

— Uhn? – fica confuso.

— Isso mesmo, não sou forte. Sabe o motivo pelo qual consegui controlar? – o silêncio se estende em nosso diálogo. – Meus amigos!

— Ninguém quer ser amigo de um estranho como eu.

— Não querem ou você não se deixa fazer amigos?

— Claro que não.

— Dylan, tudo depende de você deixar ser ajudado, e deixar pessoas maravilhosas entrarem na sua vida, assim como entraram na minha.

— Já te disse que ninguém quer ser meu amigo.

— Eu também achava isso. Veja agora. Melissa, a primeira pessoa que falou comigo nessa escola. No começo a rejeitei, achando que só estava zoando comigo, percebi que errei. Hoje ela não é só minha melhor amiga, mas também minha irmã de laço.

Escuto a porta do pátio se abrir. Alguém tinha entrado. Estava tão concentrado em ajudar Dylan, que me recuso a virar.

— Tem também o Carter. Pode ser coincidência, mas falei com ele pela primeira vez, no mesmo lugar onde te encontrei acanhado. Estava sentado igual você estava. Carter mudou-me completamente. Me aceitou mesmo com tantos defeitos, e me mostrou que posso amar alguém tão intensamente quanto aqueles filmes de romance com final feliz. Acima de meu namorado, ele foi meu melhor amigo, o cara que me ajudou em todos meus problemas. Acabei errando e o perdendo, mas ainda o amo, e agradeço a ele por ter me ajudado a tornar a pessoa que sou hoje.

Dylan começa a abaixar a arma. Bem devagar, enquanto deixa as lágrimas escorrerem por todo seu rosto.

— Fora eles tem também Chloe, que acredite ou não era meu maior pesadelo no início do ano passado. Benjamin, Gary, Alice, Kimberly, Gewn, são tantas pessoas importantes para mim. Pessoas que se eu não tivesse me aberto para o mundo, jamais teria conhecido. Tem até mesmo Justin, o garoto que nos ensinou grandes coisas enquanto estava do nosso lado, agora ele continua conosco, olhando por nós de algum lugar lá em cima. Dylan! Por favor... Deixe eu te ajudar, assim como fui ajudado por essas pessoas que amo tanto.

Ele cai no chão chorando. Abandona a arma e deixa as lágrimas escorrerem mais intensamente. Ajoelho-me a o abraço com toda esperança o possível. Um abraço de esperança!

Fico assim, acolhendo-o em meus braços por um bom tempo. Sentia que devia. Acho que a partir daquele momento adotei aquele garoto um ano mais novo que eu. A partir daquele momento, nunca abandonaria Dylan.

— Eu sempre, sempre, sempre vou estar ao seu lado.

— Adan... – ele chora.

— Não diga nada. – faço um leva carinho em seus cabelos.

— Obrigado. – ele fala, por fim.

Após todos se acalmarem do susto, as aulas são suspensas e os pais de Dylan noticiados sobre tudo. Nenhum pai quis dar queixa aos Miller por ter uma arma. Mas os mesmos disseram que iriam guardá-la melhor daquele momento em diante.

— Adan, como posso te agradecer querido. – a mãe de Dylan fica infinitamente agradecida por tudo que eu fiz.

— Não precisa agradecer. Já fico feliz de que tenha conseguido me tornar amigo de seu filho.

Ela me agradece mais uma vez e sai, levando seu filho. Dylan fica me olhando antes de sair pela porta, no final ele sussurra mais uma vez.

— Obrigado. – e solta um até ”amanhã“, em seguida.

Elizabeth puxa minha orelha quando chega para me buscar. Estava furiosa e nervosa com tudo que falaram à ela por telefone.

— Você está louco garoto? Poderia ter levado um tiro. Um mês de castigo para você, e sem Carter também.

— Receio que não tenha que se preocupar com essa última coisa mãe...

— Quê? – ela fica sem entender.

Fico feliz ao ver meus amigos todos me abraçando coletivamente, e agradecendo pelas palavras ditas em cima do palco. Mel, Chloe, Ben, e o pessoal todo estava lá, menos Kimberly, claro. Alguns (vulgo Melissa e Chloe), choraram ao me abraçar. No final não toquei só no coração de Dylan, e sim no de todos os meus amigos... Meus melhores amigos.

Sr. Steven me agradeceu incansavelmente pela grande ajuda. Imagina como seria explicar para os pais se algum aluno tivesse se ferido. Ele me dá um forte abraço.

A polícia que chegara no local, estava escoltando todas as mochilas dos alunos do colégio. Um por um, ao passar pela porta de entrada/ saída.

Estava quase saindo para ir embora, quando uma voz conhecida me chama. Uma voz que sentia saudade. Carter...

— Adan. Espere.

— Carter, você já me deixou muito mal noite passada. Se quer assim então tudo bem, só que preciso de um tempo.

— Não é isso.

— O que é então?

— Ouvindo suas palavras eu percebi que eu errei. Errei em tudo que disse para você, em todas minhas atitudes. Adan eu te amo, e eu vejo que só queria ajudar aquele garoto. Por favor me perdoe! Lembro perfeitamente o dia que você abaixou no corredor para me ajudar, tinha terminado com Rachel na época. Você, Adan Blake, mudou minha vida, me mostrou que posso te amar, e que se dane a opinião dos outros. Por você Adan, eu sou o maior homossexual do mundo. Eu te amo. Me desculpa?

Eu tive que engolir o choro e as risadas conforme ele ia falado. Como eu amava aquele garoto!

— Mas e seu pai?

— Que se foda. Eu quero você. Não vou te perder, continuarei no Delarriva. Queira ele ou não.

— Eu te amo. – digo sorrindo.

— Isso foi um sim? – pergunta.

— Me beija! – e foi esse um dos beijos mais intensos que nós demos. Nem ligava pelo fato de que minha mãe estava bem ali, ou melhor, que a escola inteira estava nos olhando. Só queria Carter naquele momento.

— SEU VIADO. – uma voz grosseira e nervosa vem de trás de nós.

Nos viramos em um piscar de olhos. Franzo as sobrancelhas para o homem, minha raiva não tinha fim. Enquanto isso, Carter fica paralisado, acanhado atrás de mim.

— Adan. Não deixa ele chegar perto de mim. – a voz do meu namorado fica tremula de medo.

Quem era o homem? O pai de Carter!