Oceano Atlântico 1722.

Os tambores soam pelas anteparas e pelo convés, a tripulação da Princesa Real, um navio português, corre para guarnecer as posições de batalha e no Horizonte um navio de guerra perseguindo-os.

— Preparem os canhões! – grita o capitão – botem a carga no porão embaixo da linha d’água, tragam a luneta!

— Sim capitão! – responde o oficial entregando a luneta ao capitão.

A Tripulação começa a preparar os canhões, os mastros do navio estão estalando, as velas estão no limite e o navio esta com o vento a seu favor, o balançar das ondas é intenso.

O Capitão esta na popa observando o navio inimigo com a luneta.

— Capitão, armas prontas – diz o imediato.

— Içar a bandeira, os deixe ver que estão atrás de um navio português! – diz o capitão

— aquele navio não possui bandeira visível – diz outro oficial

Dois tripulantes começam a içar a bandeira portuguesa aos sons de vivas do resto da tripulação.

— Senhor Marins fique com a luneta, ele devem içar a bandeira, descubra qual a nacionalidade dessa nau dos infernos – ordena o capitão.

— Sim senhor – responde o Imediato.

O Capitão vai para perto do leme junto dos restantes dos oficiais,

— Como estamos senhores?

— As velas estão no limite senhor.

— ele vai alcançar a gente – responde o capitão.

— Senhor, iremos alcançaremos eles em alguns minutos – diz Bridger.

— Fique aqui e comande o navio, irei chamar o capitão– diz Násser.

— Sim senhor – responde Bridger

Násser então desce para o deque de armas e o oficial de artilharia vai até ele.

— Tudo pronto senhor, as armas estão prontas para atirar.

— Muito bom senhor Motta, mantenha os homens firmes – responde Bridger.

Násser então vai em direção à porta da cabine do capitão e o chama.

— Capitão, navio português, iniciamos a perseguição, o alcançaremos em alguns minutos.

— entre aqui Násser – é a única resposta que ele escuta.

Násser entra na cabine seu irmão, uma área do navio que ninguém entra, é costume nas fragatas de se retirar as anteparas da cabine, já que dois canhões de cada lado do navio ficam dentro da cabine, mas Joseph nunca permitiu, em sua cabine há uma mesa de Jantar e no seu centro uma fruteira cheia de maças, as janelas da cabine estão cobertas por pesadas cortinas vermelhas e as anteparas viraram estantes e estão cheias de livros.

Joseph está apenas com suas botas, sua calça e uma blusa bem fina.

— Pegue meu casacão ali – diz Joseph apontando para um baú no canto da cabine.

Násser vai em direção ao baú.

— Sinto falta do meu piano – diz Joseph afivelando o cinto – sinto falta do meu galeão.

— Nem começa Juan – diz Násser já com um pesado casacão roxo escuro de Joseph – esquece ele, esquece o que aconteceu.

Nem começa Juan – diz Násser já com um pesado casacão roxo escuro de Joseph – esquece ele, esquece o que aconteceu.

— Não consigo o que ele fez não tem perdão Násser, e já disse, Juan morreu dez anos atrás.

Joseph veste o casacão, pega sua pistola e põe a espada na bainha.

— Sabe que relembrar isso não ajuda – Násser diz

— eu sei, mas, aquele dia me persegue como uma praga – ele diz indo em direção à porta e pegando o seu chapéu pendurado na antepara.

Os dois saem da cabine e começam a andar em direção a escada que leva ao convés principal, os marinheiros vão abrindo espaço para a passagem dos dois.

— O Fantasma dele não pode ficar te assombrando – Násser diz

— Fantasma? – retruca Joseph já subindo a escada – para ser fantasma ele precisa primeiro ter morrido, ficaria muito feliz de fazer essa transição, mas não sei onde ele está... – Joseph pausa terminar de subir a escada e espera Násser terminar a subida.

— Desde que o legendário Juan Elorza foi dado como morto, esse italianozinho comanda uma fragata leve chamada Concórdia, aterroriza o atlântico norte – Násser responde.

Os dois continuam a ir em direção ao Tombadilho.

— Eu daria de bom grado meu braço esquerdo por uma luta com ele – Joseph diz

— Não o direito? – Násser retruca

— Preciso do direito pra matar ele - Joseph responde com um sorriso no rosto pondo seu grande chapéu decorado com penas negras na cabeça

O dois vão em direção ao tombadilho e se posicionam na mesa de navegação em frente ao timão.

— Senhor Bridger, qual a situação? – pergunta Joseph

— Navio português senhor, possivelmente a Princesa Real.

— Içar bandeira, preparar a bateria de estibordo e os canhões da proa! – Joseph ordena

— Capitão! – grita o Imediato – eles içaram a bandeira, eles são piratas!

— Descreva a bandeira!

— é um estandarte roxo senhor! – começa o oficial, o capitão se vira rapidamente – Caveira branca com duas rosas vermelhas, senhor é a...

— A Quimera – o capitão e o imediato dizem ao mesmo tempo.

A Tripulação toda fica em silencio, a Quimera é conhecido por atacar os navios portugueses no atlântico.

— Manter o curso! – grita o capitão com todos os marinheiros se movendo para terminar suas tarefas. O Capitão então se reúne com o imediato e mais alguns oficiais em uma pequena mesa a frente do timão.

— eles são uma fragata grande senhor – começa o imediato – seria mais fácil nos render.

— Eles só querem o premio senhor – conclui outro oficial

— Faremos o seguinte... – o capitão é interrompido por tiros de canhão que passam pelo velame deixando dois buracos nas velas do navio, os oficiais trocam olhares e se voltam para o capitão.

— Cessar fuga, recolher as armas e baixar o velame! – ordena o capitão.

— Estão desistindo – grita um membro da tripulação

— Essa foi fácil – fala Násser

— A Marinha portuguesa não é mais o que era – fala Bridger

— Preparar a abordagem, recolher os canhões de estibordo e emparelhar com o navio – ordena Joseph.

— Sim capitão – responde Násser

Após alguns minutos os navios estão emparelhados e o Capitão Português vem a bordo da Quimera.

— Quem é o capitão? – pergunta o capitão português.

— No tombadilho – responde Bridger antes de abordar o navio português com um grupo.

O capitão português é escoltado ate o tombadilho onde se encontra com Joseph e Násser.

— Sou Antonio, capitão da Companhia Real Africana... – diz antes de Joseph o interromper

— Sabemos quem você é, e o que você transporta, quero todos livres – diz Joseph.

— Perdão?

— Todos – Násser enfatiza.

— Quer que eu liberte a carga... – Antonio é interrompido novamente por Joseph

— Pessoas não são carga – Joseph diz visivelmente irritado.

— Perfeitamente – diz o capitão português com uma expressão de medo – Isso será arranjado, mais alguma coisa?

— Gostaria de falar com sua tripulação – Joseph responde

— Muito bem, os reunirei no deque da princesa.

O Capitão Antonio vai em direção ao seu navio, e começa a distribuir ordens, pouco a pouco os escravos vão saindo dos porões acorrentados e passam para a quimera por uma ponte de madeira entre os dois navios.

— Os quero livres das correntes, agora! – grita Joseph do tombadilho capitão português.

— Vamos negro imundo – Joseph escuta de longe, junto com o barulho do chicote, ao se virar vê um português ameaçando um dos escravos, Násser corre para intervir, mas ele chega tarde, todos escutam apenas um tiro e o barulho do corpo do português caindo no mar, Joseph esta no tombadilho da Quimera, com sua pistola na mão.

— O Próximo que pronunciar aquelas palavras ou segurar um chicote terá um fim pior!

O Desembarque continua por mais alguns minutos, muitos cativos estão enjoados do mar ou feridos, alguns possivelmente nem sobreviverão, a raiva no rosto de Joseph é visível.

— Joseph, você está bem? – Násser pergunta

— Que tipo de pessoa faz isso com... – ele pausa – eu já tirei muitas vidas, mas esses pobres coitados não possuem nem como se defender.

— estamos libertando eles – Násser responde

— eu sei mas e os que não conseguimos interceptar? – Joseph indaga – eles...

Bridger se aproxima dos dois interrompendo a conversa.

— Senhor, todos os escravos desembarcaram, já mandei o medico do navio olhar os mais feridos.

— Muito bom senhor Bridger – Joseph responde.

— Capitão Elorza – o capitão português chama do Batista – a tripulação está reunida e os escravos estão em seu navio.

Joseph se aproxima da amurada, a vista de todos.

— ex-escravos, Capitão Antonio, Ex – Joseph se vira para os ex-escravos no convés – os senhores estão livres, os que desejarem podem se juntar a tripulação e assim ajudar a libertar mais dos seus irmãos, os que não quiserem, ofereço transporte a abrigo até chegarmos à colônia, onde ganharão terras e um lar, quanto aos portugueses, os oficiais ficarão no Bote, os marinheiros elegerão o novo capitão e assim navegarão.

— Capitão Elorza esse não foi o acordo, isso não é como homens honrados fazem negócios – começa o capitão português.

— Pirata amigo – diz Bridger – pirata.