Eu não tinha falado com Newt desde o ocorrido de manhã. O assunto de toda a Clareira não era mais a aparição de Gally, mas sim eu. Alguns falavam que eu era uma maluca da cabeça, outros admiravam minha coragem, mas mesmo assim ainda me achavam maluca.

Já deveriam ser mais ou menos meio dia e nunca tinha visto a Clareira tão agitada. Newt estava com Minho e Alby no meio da Clareira. Eu não podia chegar perto de Newt que ele corava radicalmente e os outros garotos riam sem entender, isso significava que eu não tinha falado com ninguém desde que que sai de lá.

Passei a manha toda com Jeff e os outros socorristas. Eu não estava muito machucada, só com alguns arranhões e algumas manchas roxas, mas eles fizeram o favor de cuidar pra mim. O que significava que minha perna esquerda estava enfaixada com um pano branco para meus ferimentos não infecionarem.

Minhas mãos soavam de medo pensando o que eles iriam fazer comigo, afinal, eu quebrei a primeira regra. Mas eu tinha achado uma coisa, eu não sabia como eu tinha achado ou como eu sabia de todas essas coisas. Minha cabeça doía de tanto que eu forçava minha mente para tentar lembrar, ou apenas tentar entender. Eu era diferente dos meninos, eles não chegaram aqui já sabendo dessas coisas. Queria saber porque os criadores me permitiam saber dessas coisas.

Caminhei tropeçando nos meus próprios pés indo em direção aos garotos. Minho mantinha uma expressão fechada. Parei a uma pequena distância deles esperando eles notarem minha presença. Coisa que não demorou muito.

–Lisa. - Minho começou com a voz arrastada. - Precisamos falar com você.

Eles me levaram para a Sede em um lugar um pouco mais afastados e me fizeram sentar, logo depois fazendo o mesmo.

– Precisamos que nos conte primeiramente o que foi aquilo. - Disse Alby com um tom não muito paciente.

– E também como você fez essa proeza de sobreviver no parque da alegria. - Completou Minho voltando a seu tom normal.

Olhei pra Newt nervosa, pensando se podia confiar neles. Minho já tinha provado ser digno da minha confiança, mas não Alby. Eu não gostava de Alby.

–Pode falar pra eles. - Newt disse lendo meus pensamentos.

–Bom, eu tive um sonho, eu estava dentro do labirinto. Eu tinha tido uma ideia de como passar pelos Verdugos, e ela funcionou. No meio deles tem uma caixa de controle, onde eles recebem as informações. Isso significa que existe um centro de controle, um lugar de onde as informações são enviadas. - Os meninos se mantinha em silencio apenas balançando a cabeça em concordância. - Pra passarmos pelos Verdugos tínhamos que desativa-los. Tinhamos que procurarmos o centro de controle.

–E porque mesmo que você entrou no labirinto com vários corredores aqui? - Disse Alby ríspido.

–Porque eles não sabem o que procurar. - Respondi aumentando o tom de voz.

–Lisa nós corremos lá todos os dias, não tem nenhum centro de controles, só paredes de pedra.

–Viu. - Disse olhando pra Alby. - É por isso que os corredores nunca vão achar nada. - Falei por fim me levantando.

Olhem para esse lugar. Vocês estão cercados pelo impossível mas continuam procurando o possível. Vocês entram lá todo dia procurando a mesma coisa. Uma resposta plausível. Mas nada aqui é plausível. O labirinto se meche. As portas abrem e fecham todos os dias questionando as leis na física, mas vocês nunca pararam pra pensar nisso. Procurem o impossível que vocês vão achar suas queridas respostas plausíveis.

–O que você está faland... -Começou Alby

–La dentro. - Cortei Alby esticando meu braço e apontando para a porta. - Ontem à noite, eu achei o impossível. Na verdade, eu vive o impossível. Eu passei por coisas que eu não acreditava em mim mesmo que podia fazer. Eu matei 3 Verdugos, eu achei a minha resposta impossível, eu achei meu mecanismo de saída, eu consegui sobreviver a uma noite lá dentro e por fim consegui sair de lá. - Disse com a respiração falha devido ao meu pequeno monologo.

Minho e Newt me olhavam boquiabertos, não acreditavam que eu tinha conseguido fazer isso tudo.

–Você matou três verdugos? - Minho disse por fim.

–Sim.

–Vamos deixar os Verdugos para depois. - Disse Newt assumindo a postura de responsável de novo. - O que você achou? - Ele falou olhando fundo nos meus olhos tentando buscar uma explicação.

–Não tem o penhasco? Eu comecei a correr para lá para tentar me livrar dos Verdugos. Eles são burros então não iam perceber meu plano. Eu esperei por eles na beira do penhasco aguardando eles chegarem tão perto e por fim me jogar pro lado olhando eles caírem pelo penhasco. Mas quando eu fui olhar eles lá em baixo eles não estavam lá. Não tinha nada, só as pedras lá em baixo. Então eu peguei uma pedra e joguei pelo penhasco observando ela sumir. Eu fiz isso duas vezes. As pedras não chegaram no fundo, elas sumiram no meio do caminho, igual aos verdugos.

–Eu já tinha ido lá mas nunca tinha parado pra ficar jogando pedra. - Minho disse. - Isso é estranho, como eles puderam sumir?

– E isso é a parte impossível.

–Acha que pode nos mostrar? - Newt perguntou.

–Sim.

–Mas não agora. Temos uma intimação para você ir para o Conclave de hoje.

–Achei que só os Encarregados e o "tema" do Conclave deveriam ir. - Perguntei sem entender muito.

–É porque você é um dos temas do Conclave. - Newt disse por fim.

–Afinal temos que decidir o que fazer com nossa pequena rebelde. -Minho falou rindo.

*

Todos os Encarregados estavam ali conversando entre si. Eles formavam um círculo em volta de mim, e claro, de Gally. Ele estava a mais ou menos um metro de mim. Ele parecia diferente, seus olhos mostravam profundas olheiras como se não dormisse a dias, seus pés batiam em um ritmo desenfreado, seus dedos batucavam a cadeira no mesmo ritmo dos pés.

Eu olhava para todos com muita atenção. Não sabia muito bem como funcionava os Conclaves. Nunca me explicaram direito, vamos concordar que nunca me explicaram nada direito aqui. Eu fiquei enchendo o saco deles por um bom tempo e depois entrei em coma. Não tinha muito o que ser explicado.

Alby e Newt foram os últimos a entrarem fazendo todos os outros abaixarem o tom de voz, mas ainda conversavam bastante. Os dois se direcionaram para seus lugares bem na minha frente. Percebi que Newt pegou um bloco de notas e uma caneta. A pouco tempo a conversa já tinha aumentado de volume como antes.

–Atenção! - Newt berrou tentando numa falha tentativa de chamar atenção.

–CALEM A BOCA SEUS BANDOS DE PLONG! -Minho falou com toda sua delicadeza.

–Vamos pelo amor de Deus tentar pelo menos uma vez fazer alguma coisa civilizada. - Completou Newt.

Todos agora já haviam parado de falar e prestavam atenção em Alby que começara a falar.

–Os assuntos de hoje são Gally e Elisabeth. Vamos começar por Gally. Ele foi visto agredindo outro Clareano, no caso Clareana. Então, deem suas opiniões sobre o que deve se fazer a respeito começando por Wisnton.

–Eu acho que ele deveria ser banido. - Winston começou a falar me deixando aliviada. - Ele é uma ameaça para todos nós. Olhe o que ele fez com Elisabeth, ela ficou em coma por 1 mês.

Alguns dos Clareanos balançavam a cabeça e eu me segurei muito para não balançar junto. Newt anotava no papel algumas coisas e Alby mandava o próximo Clareano que era desconhecido pra mim falar.

–Eu acho que deveríamos prender Gally no Amansador por um tempo, talvez umas 3 semanas não sei, afinal ele estava fora de si, dava pra ver nos olhos dele que ele não sabia o que estava fazendo, e quando ele acordou ele não lembrava metade do que tinha acontecido. Acho que banir ele é demais.

Minha vontade de levantar e mostrar minhas marcas roxas pra ele era tanta que tive que apertar os braços da cadeira para me segurar, e acho que Newt percebeu porque ele olhava para mim escondendo um riso.

Depois de mais alguns falarem cheguei à conclusão que poucos concordaram com o banimento mas todos concordaram que ele tinha que ser severamente punido. O que já era um bom começo.

Zart era o próximo, ele falou quase a mesma coisa que todos, uma alta punição mas não um banimento. Será que vou ganhar uma advertência maior se eu levantar e bater em todos?

Chegou a vez de Minho e comecei a torcer que que falasse o pior que ele conseguisse imaginar, afinal de contas, era Minho.

–Bom, não adianta eu falar que concordo com o banimento pois estaria em menor número, então vou falar sobre sua punição. Eu acho que ele deveria ficar por um tempo no amansador, fazer o trabalho em tempo dobrado e dormir afastado dos Clareano por um tempo, não sei, talvez na floresta.

Minha vontade de levantar e beijar Minho era sobre humana mas consegui me conter, depois de mais alguns falarem chegou a vez de Newt dar sua opniao.

–Eu concordo com as punições de Minho, já ouvimos todos e acho que já chegamos a uma conclusão. - Ele disse olhando para Alby. - Mas primeiro temos de ouvir Gally. Pode falar.

Gally se ajeitou na cadeira e começou a falar.

–Acho um completo exagero me banirem, vocês deviam ter visto o que eu vi. - Ele disse agora olhando diretamente pra mim. - Vocês deviam ter visto o que ela fez, não iriam confiar nela e tão menos proteger ela como uma irmã caçula. Não me arrependo de nado do que fiz. - Ele disse por final.

–Acho que você deveria abaixar sua arrogância nas suas condições Gally. - Disse Alby. - Acho que já temos um veredito. Conversei agora com Newt e ele concordou comigo. Gally você ficara no amansador por 1 mês, trabalhara em dobro e dormira afastado dos Clareanos como Minho havia sugerido. Todos de acordo?

No final todos acabaram sacudindo as cabeças, quase abri a boca pra falar que eu não estava de acordo mas pela milésima vez me segurei.

–Agora vamos para a outra parte. Elisabeth.

Me mexi na cadeira um pouco desconfortável encarando Alby.

–Elisabeth quebrou nossa primeira regra para dar uma de Super Homem e salvar o dia, ela alegou que os corredores estavam procurando por algo errado e surpreendentemente ela achou algo que pode nos ajudar a sair do labirinto. Comecem por Wisnton novamente. - Newt falou pegando uma outra folha.

–Bom, se ela achou algo que realmente pode nos tirar daqui isso é bom não? Por ela ter quebrado nossa primeira regra ela deveria ser punida, não sei, ficar uns dias no amansador talvez.

–Vocês protegem ela como cachorros. -Soltou Gally.

–Você não tem permissão para falar Gally. - Cortou Alby.

Outros Clareanos falaram tudo praticamente igual a Wisnton, apenas um que falou que eu deveria ser banida, assim como ele falou para Gally ser também. Me remexi na cadeira ao ouvir a palavra banida, mas ela não seguiu a diante.

–Olha, eu nunca vi uma Trolha com tanta coragem como ela. Ela é uma garota e tem mais coragem do que muitos aqui. Ela entrou no labirinto e descobriu algo que pode nos ajudar a sair daqui, acho sim que ela deveria ficar uns dias no amansador mas eu também quero que ela vire uma corredora. - Minho disse por fim.

Minho boca se abriu em um perfeito "O" e dessa vez não fui eu que me remexi na cadeira. Pude ver Newt se remexer totalmente desconfortável quase deixando a caneta cair no chão.

–O que você está falando seu pedaço de Plong? - Newt perguntou pra Minho.

–O que? Ela é boa! Ela fez algo que nunca ninguém fez, ela sobreviveu! Ia ser maravilhoso ela no time.

–Algo para dizer Elisabeth?

–Eu só estava tentando ajudar, vocês não iam acreditar em mim mesmo se eu falasse o que eu falei pra vocês dois depois que eu sai do labirinto. Só isso que eu tenho pra dizer.

Newt batia a ponta da caneta no papel olhando para Alby. Eles cochicharam um pouco antes de Newt levantar.

–Elisabeth ficara no amansador por um dia, trabalhara dobrado com Zart também por um dia e ... - Ele parou e me encarou. - Ira virar uma corredora. - Ele disse contra seu gosto.