Corredora. Isso era tão estranho, eu nunca tinha pensado em virar corredora. Na verdade nem tive muito tempo para pensar nisso, afinal fique fora do ar por um mês.

Os encarregados saiam aos poucos mas eu permanecia sentada encarrando o nada a minha frente. Minho chegou perto de mim rindo da minha cara, eu realmente deveria estar com uma cara linda.

–Você tá viva Trolha? – Ele perguntou não parando de rir.

–Eu acho que sim.

–Relaxa que vou te ensinar tudo, mas pelo o que parece você já sabe bastante coisa não é?

Soltei um sorriso em resposta e logo depois ele foi embora. Restava apenas Newt e Alby que conversavam um pouco. Newt guardava o bloco de notas que tinha pegado no mesmo lugar e Alby se preparava para sair sendo acompanhado por Newt.

–É melhor você vir Elisabeth. – Alby disse.

Soltei um som qualquer como resposta e segui eles.

–Estávamos falando que seria melhor você começar suas punições logo hoje, você vai trabalhar agora com Zart e quando estiver bem de noite você vai para o Amansador e sai no mesmo horário no dia seguinte ok? – Alby me explicava.

–Ok.

Comecei a procurar Zart que já estava nos jardins começando a cuidar de tudo.

–Oi Zart. – Cheguei pegando uma enxada no chão.

–Que dia hein? – Acho que pela primeira vez ouvi Zart brincar. – Comece com aquelas plantações ali e depois pegue adubo pra mim por favor.

Fiz o que ele mandou, não estava muito acostumada a mexer com a enxada, mas dei meu jeito, logo depois peguei o adubo e continuei com meu serviço. A tarde se arrastou, as horas nem pareciam passar, quase não me aguentava mais em pé, meus braços doíam assim como minhas pernas.

Eu só ia para o amansador um pouco antes de todos irem dormir, agora todos os garotos já estavam se preparando para jantar e eu ainda estava terminando meu serviço, afinal de contas meu trabalho hoje era dobrado. Terminava de botar o adubo no solo e finalmente me direcionei para junto dos garotos. Não me preocupava em tomar banho nem nada estava muito exausta pra isso.

Caçarola tinha feito purê com carne. Acho que nuca tinha comido tão rápido em toda minha vida. Repeti a comida que para mim estava maravilhosa. Talvez se ele botasse pedra para eu comer ainda ia achar maravilhoso.

A maioria dos garotos começaram a sair se encaminhando para diferentes lugares da Clareira. Eu levantei comecei a andar meio sem rumo pela grama rala.

Pelo o que me disseram Gally ia começar a dormir no Amansador após que eu saísse, o que era amanhã. Enquanto isso ele ia dormir afastado de todos em uma cama improvisada na floresta. O mais longe que ele tivesse de mim ia ser melhor. Na realidade tudo o que ele tinha falado de mim ficava martelando na minha mente. Eu não fazia a menor ideia do que aquilo significava.

A distância com a luz da Clareira pude ver Newt sentado na parede oeste olhando fixamente para o chão perdido nos próprios pensamentos. Caminhei devagar em direção a ele sentando do seu lado.

–Oi. – Disse tão baixo que me surpreendi dele ter ouvido.

Newt soltou um longo suspiro demostrando o quanto estava cansado antes de falar um singelo “oi”.

Como era o esperado um silêncio constrangedor se instalou no local. Ele continuava a encarar o chão e eu batia meus dedos na minha perna em um ritmo compassado.

O garoto manco do meu lado se mexeu para virar para mim e finalmente falar alguma coisa.

–Sobre ontem... eu... – Newt se embolava nas suas palavra não formando nenhuma frase logica. Ele coçava freneticamente a nuca mostrando um nervosismo tão grande que poderia ser engraçado.

–Eu só queria falar que... – Eu não sei onde tirei tanta coragem para fazer isso mas colei meus lábios aos deles impedindo de completar sua frase.

Senti seus ombros relaxarem depois do meu ato fazendo com que ele botasse suas mãos no meu rosto. Nossos lábios se moviam lentamente enquanto passava minhas mãos pela sua nuca. O beijo aumentou o ritmo como se tivéssemos esperado isso por anos. Newt descia suas mãos para o meu quadril enquanto eu mexia minhas mãos em sua nuca fazendo ela ficar arrepiada. Ele cortou o beijo arfando em busca de ar com um sorriso em seus lábios e também podia apostar que tinha um nos meus.

Nós não falamos mais nada. Eu tinha deitado no chão apoiando minha cabeça em sua perna enquanto ele passava suas mãos pelo meu cabelo. Mas isso não durou muito, dava pra ver os garotos ao longe indo dormir. Isso significava que tinha que ir para o amansador.

–Acho que é melhor irmos. – Ele disse por fim.

Concordei silenciosamente com a cabeça.

Ele me levou para o Amansador, era do mesmo jeito como me lembrava. Extremamente vazio. Newt abriu a porta com as chaves para que eu pudesse estrar, o que fiz sem dificuldade. Ele fechou a porta e ficou me olhando por ela.

–Eu venho te buscar aqui amanhã nesse mesmo horário. – Ele falava tão calmo que nem parecia mais o garoto que aparentava estar morrendo de cansaço.

–Vou estar aqui. – Disse sorrido.

–Boa noite fedelha. – Ele falou soltando um sorriso verdadeiro me fazendo soltar uma verdadeira gargalhada.