–O casal maravilha pode acordar ou quer que a gente arranje um café pra vocês? – A voz de Minho entrou alta em meus ouvidos fazendo-me pular do chão empurrando Newt para o lado.

–O que... – O loiro levantou a cabeça olhando feio para Minho.

–Que bom que acordou, nem precisei ter o trabalho. – O coreano disse sorrindo.

–Va para o inferno. – Falei levantando e tirando a areia do meu corpo.

–Parece que o bom humor contagiou todos hoje. – Thomas disse surgindo atrás de Minho.

–Nada passa despercebido pelos seus sensores não é mesmo? – O coreano disse se sentando na areia ainda fria.

– Engraçado Minho, muito engraçado

–Já estão todos prontos? – Brenda falou sendo seguida por Jorge.

–Acho que conseguimos chegar lá ainda hoje, mas temos que apertar o pé.

Comecei a andar em direção a Minho segurando sua mão e puxando-o pra cima enquanto ele falava:

–Temos quantas horas até as montanhas?

–Acredito que umas quinze. – Newt respondeu.

Enquanto os meninos falavam comecei a observar as montanhas que ainda pareciam longe para mim. Talvez faltasse mais que quinze horas, principalmente pelo fato de nossa comida estar acabando. Podemos demorar alguns dias ainda.

A ideia de ficar mais dias no deserto fez um arrepio cruzar minhas costas.

O que iria acontecer depois? A pergunta que não queria calar. O C.R.U.E.L. havia nos prometido a cura, mas agora com os problemas entre minha mãe e Janson não tinha tanta certeza assim.

A cada dia que passava eu tinha mais certeza que Janson havia virado a C.R.U.E.L. contra minha mãe. Sempre foi o plano dele.

Os meninos começaram a se agrupar me tirando dos pensamentos.

–Nossa prioridade é achar algum lugar seguro para se esconder do sol, ou até de uma possível tempestade de areia. – Brenda havia começado a falar.

–Ou chuva. – Completei.

–Como? – Ela questionou.

–A noite costuma chover.

–Também tem isso.

–Gente. – Minho disse chamando a atenção de todos. – Acho melhor partirmos, tipo, agora.

O coreano apontou para trás mostrando nuvens negras ao fundo.

–Ela pode nos pegar a noite, temos que fazer o que Brenda disse, temos que arranjar um lugar seguro. – Thomas disse.

–O único lugar seguro que deve ter pelo resto do caminho são as montanhas. – Falei. – Brenda, você sabe se tem alguma cidade no meio do caminho?

Brenda parecia pensar enquanto soltou um simples “Não”.

–O que estamos esperando? Temos que sair daqui o mais rápido possível.

Com as palavras de Thomas voltamos para a fila de sempre e começamos a andar. O sol ainda estava fraco, ainda estada surgindo no horizonte então não estava quente, o que proporcionou uma caminhada muito mais rápida.

Quando o sol já estava acima de nós todos os Clareanos já haviam colocado os panos sobre a cabeça e começaram a andar devagar.

Minho e Newt estavam na frente do grupo, atrás estava Caçarola. Ao seu lado Aris encontrava-se no lugar onde Winston deveria estar.

Pensar em Winston me fez ficar um pouco triste. Eu não havia conversado tanto com ele mas ainda sabia que ele era uma boa pessoa. Assim como muitos ele não merceia seu final.

Atrás deles seguiam Brenda e Jorge que conversavam baixinho. Os dois poderiam ser legais por estar nos ajudando, mas não podia esquecer que só estão nos ajudando pois prometemos a cura para eles. Queria poder confiar neles, mas não havia muitas pessoas que tinha minha confiança.

Seguindo atrás deles o resto dos Clareanos caminhavam com calma. Tão poucos. Poucos demais. Quando cheguei na Clareira haviam por volta de cinquenta garotos. Talvez até mais, e agora nosso grupo se reduziu a isso.

Tínhamos no máximo quinze pessoas, cotando com Brenda e Jorge. Não contando com Teresa.

Teresa. Uma voz gritava dentro de mim dizendo-me para ajudá-la. Eu sentia como se fosse minha obrigação ajudar a garota de olhos azuis. Mas seus olhos estavam escondendo muita coisa. Seus olhos traziam muita dor. Sabia que Thomas, que no presente momento estava no meu lado no final da fila, se importava muito com ela.

Talvez eles tivessem tido alguma coisa antes de irem pra Clareira. Eles tinham alguma conexão grande. E desde que entramos no deserto Thomas parecia desolado.

Como eu gostaria de ter ajudado ela. Assim como nós Teresa é uma marionete do C.R.U.E.L., eu sei muito bem disso, os meninos são muito cabeças duras para perceber, mas o C.R.U.E.L. nos controla desde sempre.

Tudo altamente programado. Todas as mortes. Chuck. Lembro quando ouvi Janson conversar com um programador sobre a saída deles do labirinto e como isso ainda doía em meu coração.

–Thomas morrerá assim que saírem do labirinto, quero que me escute com atenção entendido? – A voz grossa de Janson me assustou atrás da porta. – Quero que programem Gally para atirar em Thomas.

–Mas senhor. – O funcionário tinha uma voz de confusão. – Thomas é o preferido. Não entendo o motivo da morte dele. Se Thomas pode trazer a cura para nós, porque então elimina-lo?

–O garotinho. Chuck. –Janson continuou com a voz inabalável. – Programem ele para pular na frente de Thomas.

–Ah sim! – O funcionário trazia alivio em sua voz. Mas as palavras de Janson ainda cortavam meu corpo.

Os meninos iam sair em pouco tempo. Corri de trás da porta para a área onde ficava a saída do labirinto. A sala branca estava repleta de cientistas, incluindo minha mãe.

“Como ela pode permitir isso”

Ao ouvir Gally se preparando para atirar escancarei a porta olhando os olhos surpresos em mim. Os clareanos chocados em me ver e os cientistas não entendendo o que estava acontecendo.

Um segurança havia me segurado com força pela cintura enquanto eu berrava com todo meu pulmão.

Os olhos repletos de medo de Gally olharam para os meus enquanto o segurança me virava para me jogar para fora da sala.

Quando cai no chão duro a arma disparou atrás de mim fazendo lagrimas começarem a rolar pelo meu rosto.

–Um gole de água pelos seus pensamentos. – Thomas disse me arrancando da insanidade.

Soltei um riso olhando para ele.

–Não vale tanto assim.

Um riso um tanto quando nervoso escapou pelos lábios de Thomas.

–O que houve? - Perguntei preocupada.

Thomas respirou profundamente afundando suas mãos nos bolsos da calça.

–Queria saber o que o C.R.U.E.L. está planejando para Teresa. – Ele disse com a cabeça baixa.

–Eu não sei o que é mas vamos ajudar.

Um sorrido sincero surgiu em seu rosto enquanto ele me dava um abraço.

Uma voz feminina me fez soltar Thomas. Meninas mascaradas pelos panos surgiam em nossa volta carregando armas nos cercando.

–O que? – Thomas disse confuso.

Pensei em seguras a arma mas seria inútil, e aproposito não tinha muito sentido pois eu já sabia quem eram eles.

Olhei para trás para ver se tinha como fugir mas o tal de Ed estava com duas pistolas na mão atrás de mim.

–Saudade? – Ele disse baixo.

–Cala boca. –Respondi.

Uma garota em nossa frente tirou a máscara revelando ser a menina que eu estava pensando até pouco tempo.

Teresa tinha uma faca em sua mão e seu rosto estava sério.

–Nos estreguem Thomas e não iremos fazer nada. – E com essas palavras as garotas apontaram suas armas para nós.

Senti algo gelado em minha cabeça e supus ser a pistola de Ed.

–Thomas. – Disse baixo fazendo-o virar a cabeça em minha direção. – Não faça besteira.

–Tarde demais. – Ele falou caminhando em direção em Teresa.

Quando ele chegou em sua frente Teresa ordenou que o amarrassem. Duas garotas prenderam suas mãos e pernas e por fim o cobriram com um saco. Teresa acertou o estomago de Thomas com o cabo da faca fazendo-o cair no chão.

–Como pode? – Minho gritava com a voz embargada em ódio. –Sua traidora.

Os olhos de Teresa continuaram inabaláveis, mas quando ela olhou para mim eu vi tristeza em seu olhar. Alguma coisa a mais estava acontecendo, e eu ia descobrir.

E com esse pensamento Ed saiu de trás de mim e começou a carregar Thomas arrastando-o pelo chão.

–Não nos siga, senão não hesitaremos em entrar em combate. – Teresa disse nos dando as costa e andando com as meninas, Ed e Thomas.