Já tinha se passado uma semana depois da minha primeira corrida e eu ainda estava estudando os mapas. Não que eu não soubesse o labirinto de cabeça, eu sabia, mas algumas passagens mais distantes eu realmente não tinha muito conhecimento.

Todos os garotos ainda estavam dormindo, eu preferi estudar um pouco antes das corridas pra tudo ficar fresco. Logo Minho ia aparecer na porta falando que tínhamos que comer alguma coisa para partirmos.

Isso já tinha virado uma rotina. Agora eu não precisa correr necessariamente junto com Minho. As vezes nos separávamos no meio do labirinto para tentar coletar mais informações. Na última vez eu tinha achado algumas placas, onde se lia: Catástrofe e Ruina Universal: Experimento Letal.

Quando contei para os garotos eles não pareceram surpresos, depois me explicaram que haviam placas como aquela por todo o labirinto mas não sabiam o que significava.

Aquelas palavras iam e viam toda hora na minha cabeça. Não eram palavras muito bonitas.

Catástrofe

Ruina

Letal

Não seria o conjunto de palavras que eu iria botar na área das bonitas. Tentei achar no mapa onde todas elas estavam com a ajuda dos outros ligando-as entre si para ver se elas se colidiam em um mesmo lugar. Talvez nossa saída. Mas elas paravam em lugares totalmente oposto uns aos outros. Tudo o que eu pensava como uma forma de saída falhava.

Não conseguíamos formar nenhuma teoria sobre o penhasco. Tentei seguir alguns Verdugos para ver aonde eles iam, mas sempre algo me impedia e eu os perdia de vista.

Acreditava que nossa saída poderia estar envolvida naquele penhasco mas nunca conseguia completar meus pensamentos.

Ouvi alguns passos ao longe. Provavelmente Minho vindo me dizer que estava na hora do café. Me surpreendi ao ver Ben.

–Minho pediu pra eu te chamar pro café. – Ele dizia simpaticamente.

Ben era um cara legal. A gente se cruzava as vezes no labirinto e seguíamos juntos pelo resto do caminho.

Levantei do chão guardando os mapas em seus devidos lugares e seguindo para a cozinha. Eu não comia mais sozinha isolada num canto sendo chamada de fedelha. Os garotos não me chamavam mais assim, ou pelo menos quase todos. Agora eu comia com Minho e os outros corredores, principalmente no café pois já estávamos todos juntos para partir. No jantar Newt e Chuck se juntava à nos na mesa. Chuck havia conseguido se inteirar com todos, agora todos falavam com ele, brincavam com ele. Agora ele era um Trolho.

–Minho tire sua mão de Mértila do meu prato. – Falei fingindo uma falsa irritação.

–Nossa senhora irritadinha por favor não me bata. – Ele disse levantando as mãos fazendo todos que escutaram inclusive eu rir.

Depois de acabarmos de comer nos preparamos para ir para o labirinto. Já havia se tornado uma rotina pra mim, uma rotina que eu estava gostando muito.

As portas se abriram e vi os outros corredores entrarem pelas portas adjacentes a que eu entrava. Por fim eu entrei. Me mantinha correndo no meio do corredor, virando a esquerda e depois a direita e pôr fim a esquerda. Eu não estava correndo com Minho hoje, ele foi para o lado oposto ao meu hoje.

Tudo estava exatamente do mesmo jeito que estava ontem. Nenhum corredor novo, passagem secreta, nada. Se eu não tivesse descoberto o negócio do penhasco minhas esperanças estariam lá em baixo. O penhasco também estava me deixando irritada, eu não conseguia descobrir mais nada sobre ele. Tentei seguir os Verdugos pra ver se eles iam de lá, falhei. Nas corridas normais não posso pular lá primeiro porque é muito alto, segundo porque não teria volta. Assim eu acho.

Sentei no chão cansada de tanto correr tirando uma garrafa de água da mochila presa nas minhas costas dando alguns goles. O sol estava forte agora, deveria ser o meio do dia. A luz dele refletia algo prateado no chão, me levantei tirando as folhas da parede. A placa. Era ela de novo. Com a mesma frase que eu não conseguia entender.

Vamos Elisabeth pense, não deve ser tão difícil assim. Use sua cabeça.

A palavra “experimento” me arrepiava da cabeça aos pés pelo frio que ela me causava.

Experimento

O labirinto era um experimento? Nós éramos um experimento? Eu era um experimento?

Eu tinha tantas perguntas sem resposta que quase desistia de fazer mais perguntas. Nunca funcionava.

Irritada comigo mesma voltei a correr, agora indo para o penhasco. Quando estava quase entrando no corredor para chegar lá algo me fez parar instantaneamente. Algo pegajoso estava no chão, em grande quantidade. Me abaixei e passei os dedos por eles fazendo-os ficarem melados.

Levei eles ao meus nariz aspirando com cuidado. Não acreditando no que tinha sentido levei eles a boca deixando o fato de que a gosma estava no chão irrelevante. Meus olhos se arregalaram um pouco pelo fato de meu paladar ter concordado com meu faro.

Mel

Era mel. Porque iria ter mel espalhado no chão?

Levantei e me pus a seguir o rastro. Levava direto para o penhasco. Isso foi a coisa mais estranha que eu vi nessa semana.

Mel? Porque mel?

Provavelmente já estava na hora de voltar então comecei a correr pelo mesmo caminho de sempre. Quando cheguei na Clareira todos os garotos já estavam lá, com exceção de Ben.

Eu ia começar a falar tudo para Minho quando um barulho ensurdecedor me calou.

–O que é isso? - Falei alterando meu tom de voz.

–Um novo Trolho está a caminho. – Newt surgiu magicamente do meu lado.

Todos nós corremos para a caixa esperando para ver quem era o mais novo sortudo, até Gally estava lá. Ele havia voltado ao normal. Comia conosco, fazia tudo, menos dormia. Newt e Alby puxaram uma grade fazendo a porta do elevador tão conhecido por mim se abrirem.

Um garoto moreno estava nela, aparentemente apavorado. Talvez um pouco melhor de como eu estava. Gally pulou dentro do elevador fazendo o garoto se assustar. Pude perceber que ele havia falado algo para ele mas o som dos outros meninos fazendo piadinhas era mais alto. Gally empurrou o menino pra fora fazendo ele parrar do meu lado entre eu e Newt. O loiro se abaixou levantando o garoto pela camisa até ele ficar de pé.

–Ei Fedelho, se lembra seu nome? – Newt disse

–Meu nome é Thomas.