Vozes distantes entravam na minha mente, uma barreira invisível me separava delas. Elas saiam em um tom de preocupação.

Minha cabeça girava me deixando tonta, meu corpo reclamava um pouco de dor e tinha quase certeza que meu ouvido esquerdo não estava funcionando. Abri os olhos devagar observando algo que não via a um tempo. Luz.

Três garotos estavam na sala, suas expressões eram de cansaço. Alby, Minho e Newt conversavam baixo, não conseguia entender se quer uma palavra que eles falavam, soltei um grunido para chamar a atenção deles.

Sinceramente eu achava que ninguém podia olhar pra mim mais surpreso do que no dia que eu cheguei. Eu estava errada. Os garotos me olhavam como se eu fosse um fantasma, seus olhos pareciam atravessar meu corpo.

–V-você... – Newt disse gaguejando. – Você está viva.

Nenhum deles ameaçou falar alguma coisa.

–É claro que eu estou viva, eu só desmaiei.

–Elisabeth. – Alby disse se aproximando de mim. – Você dormiu por um mês.

*

Um mês. Como é possível? Parece que eu dormi por algumas horas.

Sentei na cama olhando meus machucados. A maior parte já tinha se curado, mas ainda tinha alguns lugares que ainda estava roxo.

–Você deu um baita susto na gente hein Fedelha. - Newt disse se aproximando da cama.

–Posso fazer uma pergunta? E eu juro não estar maluca nem nada mas...

–Fala logo. – Ele me cortou.

–O que aconteceu?

–Como assim o que aconteceu?

–Eu não me lembro de tudo. Apenas fleches.

–Bom, Gally foi picado, e ele ficou falando algumas coisas sobre você. Nós descemos para jantar e bem, foi quando você apareceu gritando. Pelo visto ele bateu bem feio em você. Você estava muito machucada, nós até achamos que você não ia acordar mais, mas ai você acordou.

–Ah. – Foi a única coisa que saiu da minha boca. – O que ele falou de mim?

–Ele disse que você era uma deles. O que isso significa?

–Eu não tenho ideia.

–Se você lembrar de alguma coisa, me diga ok?

–Ok.

Ele se levantou indo em direção à porta parando na mesma e se virando.

–É... hã... tome cuidado Elisabeth.

–Eu vou. – Respondi.

–Espere! – Disse em um tom mais alto para ele me ouvir.

–Sim?

–Você me chamou de Elisabeth. –Disse sorrindo.

Ele esboçou um sorriso.

–Você dormiu por um mês, você não é mais a fedelha.

*

Eu ia ser mais inútil do que eu já era. Agora eu estava machuca e surda de um ouvido. Ótimo. Andava pela Clareira em busca de alguma coisa para fazer. Acho que trabalhar com Zart não ia ser uma boa ideia.

Tentei procurar o novo Clareano mas ele tinha sumido. Deve estar escondido em algum lugar.

Fui atrás de Jeff para tentar ajudar os socorristas. Não tinha muito que fazer, tinha só alguns corte para tratar, nada de mais.

Depois de umas horas voltei a andar pela Clareira. Tinha ficado fora por um mês. Muita coisa acontece por um mês. Não posso esquecer de anotar em um bloco que estou ficando louca. Estou vendo coisas. Coisas do labirinto. Eu vejo os corredores, tudo. Como seu soubesse eles de cor.

Gally havia sumido. Não tinha visto ele desde então. Deitei em uma rede para descansar um pouco e acabei adormecendo.

**

Eu estava no labirinto, minhas pernas me guiavam por ele como se já soubessem o caminho. Mas eu não sei por que, meu subconsciente falava que eu sabia. Eu comecei a correr pelos corredores, virando para esquerda e depois para direita até me deparar com uma dúzia de verdugos. Minhas pernas congelaram. Eles apenas viraram pra mim. Eles são burros, muito burros pra fazes um plano e me cercar. Meus olhos viam diferente, eles deram um zoom dentro do verdugo e eu pude ver como ele funcionava. Uma falha. Tem que ter uma falha.

Nada. Não tinha nada.

“FAÇA!” – Uma voz berrava na minha cabeça me fazendo levar às mãos as orelhas.

Minhas pernas destravaram. Como se fosse a deixa para eles os verdugos começaram a rastejar até mim. Dei as costas para correr mas as passagens que eu tinha passado anteriormente haviam sido fechadas. Novas tinham se aberto e eu não fazia ideia pra onde elas me levariam. Corri por elas ouvindo o som metálico atrás de mim.

As paredes me cercaram me levando a um corredor sem saída. Os verdugos se aglomeravam atrás de mim prontos para atacar.

Vamos Elisabeth pense.

O que os verdugos são? Animais. Ou quase isso. Dos mais burros possíveis, preciso de uma distração. Olhei ao meu redor pra procurar algo para fazer a atenção deles sair de mim. Dei passos lentos para trás pisando em algo metálico. Uma adaga. Bingo.

O sol atravessava o corredor me fazendo pensar. É loucura, mas tem que dar certo.

Prendi a adaga no cos da minha calça e comecei a escalar o murro. Preciso ver como eles são por cima. Preciso ver as engrenagens. Subi uns dois metros do chão me segurando para não cair.

Eu conseguia ver. Bem no meio deles. Como uma caixa de controle no centro deles pedindo para ser destruída. Os fios saiam dela e iam para todos o corpo. O sol atravessava a minha frente me dando outra ideia. Tirei a adaga da calça e levei ao sol. O reflexo dela batia diretamente na caixa.

Vamos.

Tem que funcionar.

E funcionou. Uma pequena fumaça começou a sair da caixa, uns segundos depois virou uma pequena chama. O verdugo se contorcia para apagar a chama.

–É isso. –Eu disse rindo.- é só atacar o lugar onde os controles são mandados.

**

–Ei! Ta na hora da janta. – Newt berrava.

Escancarei os olhos e sente na rede quase caindo. Ele tomou um susto pela minha reação. Olhei para ele com a respiração ofegante.

–Eu sei como passar pelos verdugos.