–Temos que atingir o centro de controle deles. Bem no meio de seus corpos tem uma caixa de metal que manda as informações para todo o resto do corpo.

–Acertar ela vai ser quase impossível. – Newt falou coçando o queixo analisando o que eu falava.

–Eu sei, e é por isso que tínhamos de descobrir de onde são mandadas as informações.

–Isso não vai ser fácil. Os corredores já correram tudo e nunca viram nada de diferente. – Ele dizia forçando seu cérebro a pensar.

–Eu... eu posso tentar? Digo, talvez possa tentar ver o labirinto com outros olhos, eu posso tentar achar algo que tenha passado despercebido...

–Obvio que você não pode ir ao labirinto. – Newt me cortou. – É muito perigoso e apenas os corredores podem ir para lá.

–Mas...

–Sem mais. Você não pode entrar no labirinto. – Ele disse me cortando.

–Por que? Só estou querendo ajudar.

–Porque eu não quero que você se machuque mais.

*

O clima no jardim estava normal hoje, os garotos faziam seus trabalhos cuidando das verdes plantações enquanto eu tirava alguns milhos de seus pés. Pelo visto era aqui que eu ia trabalhar mesmo. Pelo o que soube Zart tinha falado para Alby que eu era boa nos jardins. Ainda é melhor do que trabalhar como retalhadora.

Comecei a observar os garotos que trabalhavam comigo, eles estavam espalhados por toda a plantação, pude ver alguns indo pra floresta pra pegar adubo, achei Newt na extremidade dos jardins mexendo na terra com uma enxada. Ele não tinha falado comigo desde o ocorrido de manha.

Alby apareceu correndo indo em direção a Newt, cujo mesmo berrou por Zart. Suas feições eram serias, no final da conversa eles concordaram com a cabeça deixando seus materiais no chão e seguiram Alby.

Segui eles com o olhar vendo um garotinho sentado no chão da Sede. Ele era baixinho e gordinho, seu cabelo era curto e encaracolado. Ele era o novo Clareano.

Botei minha cesta no chão e fui em direção a ele. Seus olhos estavam inchados e vermelhos de tento chorar. Meu coração se apertou ao ver essa cena. Ele era apenas uma criança assustada, provavelmente tentando lembrar sua casa, sua família.

Ele olhou pra mim quando sentei ao seu lado no chão. Suas bochechas rosadas estavam molhadas pelas lagrimas. Suas pernas estavam encolhidas ao corpo.

–Oi. - Eu disse baixo tentando fazer com que ele voltasse sua atenção a mim.

O menino apenas olhou pra mim não emitindo um mínimo som.

–Então você é o novo Trolho? – Fiquei surpresa ao usar as gírias da Clareira. Talvez pelo convívio com os garotos essas palavras já se tornaram parte do meu vocabulário.

–Não precisa ter medo. Sabe, não vou te bater. - Disse observando o pequeno esboçar um sorriso.

–Há quantos dias esta aqui?

–Dois. – Ele disse com uma voz manhosa de choro. Fiquei surpresa por ele ter respondido.

–Sabe o seu nome?

–Meu nome é C...Chuck.

–Prazer Chuck. – Disse estendendo minha mão pra ele. – Meu nome é Elisabeth.

Chuck esboçou um sorriso tímido. Tinha um pouco de pena, o menino era só uma criança, deveria ter uns onze anos.

Caçarola interrompeu meus pensamentos passando correndo por mim. Berrei seu nome tentando chamar sua atenção.

–O que está acontecendo? Todos estão correndo por aí.

–Ele apareceu. Gally apareceu. Estamos esperando Minho para fazer um Conclave.- Dizendo isso ele voltou a correr para a Sala do Conselho. Era uma cabana um pouco mais afastada onde ocorriam os conclaves. Apenas os encarregados participavam. Desde que cheguei aqui nunca tinham feito um conclave.

–O que é um Conclave? – Chuck perguntou.

–É tipo uma reunião que eles fazem.

“FAÇA” – A voz berrou na minha cabeça fazendo soltar um pequeno gemido levando minhas mãos aos ouvidos. Minha coluna se curvara para frente em um ato espontâneo.

Chuck botou a mão em minhas costas, ao longe conseguia ouvir um “Tudo bem?” dele. Balancei a cabeça positivamente descurvando minha coluna.

–O que aconteceu?- Ele perguntou preocupado.

Eu não conseguia responder, uma barreira de água me separava da realidade. Fleches do meu sonho passavam pela minha mente. Chuck balançava meus ombros para conseguir olhar para ele. E na mesma rapidez que veio tudo foi embora. As vozes, os fleches, tudo.

–Elisabeth? Esta tudo bem? Quer que eu chame alguém?

–Não!- disse um pouco alto de mais. - Está tudo bem.

–Certeza?-Sua voz assumia agora não mais a voz chorosa, mas sim de preocupação.

–Absoluta. –Disse me levantando. – Eu... Eu já volto Chuck.

Comecei a correr pra sede em busca do banheiro. Pelo trajeto vi Newt encostado na parede da Sala do Conselho. Ele olhava pra mim preocupado. Ele tinha visto o que tinha acontecido. Sua testa estava franzida tentando ao certo descobrir o que tinha acontecido. Não desacelerei meu passo, pelo contrario, aumentei mais ainda a velocidade indo para o banheiro. Fechei a porta atrás de mim indo para a pia, joguei água na minha cara observando o reflexo que fazia na água que caia na pia. Eu já havia me decidido. Ia fazer isso.

*

Pude ouvir os corredores chegando, Newt e Alby estavam a espera de Minho no meio da Clareira. Gally estava no amansador, tão quieto que nem parecia ter alguém ali. Aproximei-me de Chuck que encarava o portão embasbacado.

–Eu sei. É demais. – Disse antes que ele pudesse falar alguma coisa.

Newt mancava até mim me chamando meu nome.

– Eu vou aproveitar e falar com Alby sobre seu sonho hoje no Conclave. Talvez podemos começar a pensar a respeito.

Ouvi as portas do labirinto começarem a se fechar.

–Vocês não vão encontrar.

–Como?

–Vocês não sabem o que procurar.

Falando isso meus pés começaram a correr, corri como nunca tinha corrido na minha vida. A única coisa que pude ouvir foi um “Elisabeth” solto pela boca de Newt. Mas já era tarde demais. O baque surdo atrás de mim me isolava de seus gritos. Eu estava dentro do labirinto.