The Especies

Capítulo 7 - Recuperação


Capítulo 7 - Recuperação

Eu podia descrever que fiquei desacordada e acordei olhando para um teto branco, mas claro, seria ridículo e monótono, sem contar que não foi isso que aconteceu.

Antes de "dormir" sob os efeitos do dom de Rose, pude ver também a habilidade de Carla. Não foi nem um pouco agradável, mas foi muito útil. Agora que estava em um torpor, mas consciente, pude ver a burrada que eu cometeria se tivesse conseguido enfiar aquela agulha na minha garganta. Pensando bem, nunca pensei que tentaria me matar, ver que poderia cair em um poço sem fundo tão rápido. Agora eu entendia o que Annabeth disse.

Ela não foi má, apenas, dessa vez, não sabia como agir e como falar comigo. Será que ela já sabia o que eu tentei? Será que se culpava? Eu esperava que não, porque a culpa, como sempre, foi minha, eu fui a imprudente. Eu me fazia de forte e sem sentimentos, mas era fraca e sensível, e isso me irritava muito. Senti meus punhos se fecharem com o pensamento.

Alguém segurou minha mão direita, a que se fechou em punho. Era uma mão pequena e delicada, não sabia reconhecer já que nunca seguraram na minha mão, só a única pessoa que fazia isso era o... meu irmão.

Mesmo com os olhos fechados e me sentindo grogue, por baixo das pálpebras senti as lágrimas inundarem meus olhos. Meu irmão... Será que eu realmente havia o matado? Ouvi um barulho, como um engasgo, depois a mão que segurava a minha a apertou mais forte. Outra vez o barulho e minhas lágrimas escaparam mesmo com os meus olhos fechados. O barulho era soluços e eu estava chorando compulsivamente.

Abri os olhos pra saber quem tentava me consolar. Hermione estava em uma cadeira ao lado da minha cama e me olhava preocupada e triste. Tinha olheiras meio fundas nos olhos, sinal de que não dormia a um bom tempo.

Solucei novamente.

_ E-eu... acho-o que o-o ma... matei. - solucei mais ainda, minha respiração se acelerando junto com o meu coração que batia tão forte em meu peito que achei que quebraria minha caixa torácica.

Hermione levantou e se colocou sobre mim me abraçando. Começou a passar a mão pelos meus cabelos e sussurrar para eu me acalmar. Na mesma hora fleches da lembrança do meu irmão pedindo o mesmo, só que mais preocupado me fez entrar em mais desespero e mais culpa.

Isso durou uns trinta minutos e em nenhum momento Hermione perguntou do que eu falava ou tentou me forçar a falar ou me justificar pela minha tentativa de suicídio. Ela só queria que eu me acalmasse e se recuperasse. Quando consegui parar de chorar, mas ainda estava em um torpor de tristeza, ela me soltou e me olhou um pouco aliviada, mas ainda parecia muito cansada.

_ Vou buscar algo pra você comer. - falou simplesmente se virando e saindo da enfermaria.

_ Espere. - falei com a voz rouca. Ela se virou preocupada. - Por quanto tempo eu... "dormi"? - perguntei com a voz vazia.

_ Cinco dias. - falou e se virou. Ela estava magoada, muito magoada comigo. Mesmo tendo nos conhecido há pouco tempo, ela não esperava que eu tentasse me matar, que eu perdesse o amor à vida tão de repente. Devia ser revoltante ver alguém fazer uma coisa tão estúpida e barbara logo depois de ter sido salva e pessoas terem se arriscado por você, correndo o risco de serem capturados ou mortas e perdendo aqueles que se ama. Suicídio era algo egoísta e hipócrita. Bem, eu era assim.

_ Me desculpa... - sussurrei por fim enquanto ela saía. Ela havia escutado, pois antes de fechar a porta ela olhou pra mim e assentiu, mas aquilo não me pareceu nada convincente sua aceitação, pois seus olhos estavam cheios de lágrimas.

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_ Sua pressão está normal, seu poderes estabilizados. Não se irrite, não entre em pânico ou desespero e tudo vai ficar perfeitamente bem. O Sr. Bromberg vai ter que viajar para resolver alguma coisa muito importante, então você estará sob os cuidados de Lilian. - falou Rosalie para mim enquanto tirava a agulha de soro de mim e os adesivos dos aparelhos médicos do meu braço e anotava alguma coisa em uma prancheta. Ela falava profissionalmente e tinha uma postura de uma mulher adulta.

_ Obrigada. - falei. Minha voz já estava normal, mas ainda sim estava baixa.

Rose se virou pra mim e me encarou, seus olhos incrivelmente cor de mel transmitiam tranquilidade. Ela não parecia me odiar. Analisou meu rosto e sorriu fracamente.

_ Não foi nada. Devia cortar os cabelos, posso eu mesma fazer isso, sou ótima com estilos. - falou alegre.

Estranhei, achei que fosse ela fosse uma monstra que se esfregava em garotos e fosse completamente falsa e esnobe, mas ela me parecia bem gentil e amável. Ela estava compreensiva. Isso tudo porque passei dos limites?

_ Rose, não precisa ser legal comigo só porque tentei me matar. Sei que não gosta de mim. - falei de uma vez e prendendo meu cabelo em um coque frouxo preso com ele mesmo.

Rosalie riu.

_ Não estou sendo legal por causa disso. Eu realmente te entendo, Jessie. Eu sei o que é passar por isso. - falou com a voz distante e indo até a porta da enfermaria. Abriu a porta e a segurou olhando para mim, para que eu saísse primeiro.

_ Você... você já tentou...?

_ Me matar? Não, mas já pensei. - me interrompeu rapidamente e sem interesse em continuar o tema. A história de sua vida devia ser longa e trágica e nem mesmo o fato de que para ela nisso fossemos parecidas seria o suficiente para me contar. - Vamos? - esticou os braços em direção à saída.

Saí do quarto passando por ela de cabeça baixa. Ela me acompanhou até a um elevador no pequeno corredor onde ficava a enfermaria e entramos, ela apertou o botão para o térrio e cruzou os braços calmamente.

_ Viu Hermione? - perguntei nervosa. Desde que levou meu almoço quando eu acordei Hermione não falou mais comigo, apenas deixou minha comida e disse que precisa tomar banho e logo voltava. Bem, ela não voltou.

Depois dela só recebi a visita de Gina que estava realmente aliviada que eu estava acordada e melhor, sem nenhum pensamento maluco novamente. Também não me encheu de perguntas, mas quando Rose foi ver como eu estava para caso de eu precisar de mais uma dose de sonífero, Gina fechou a cara e as duas ficaram se encarando por um bom tempo. Foi à única distração que tive. A única coisa que Gina me contou depois que Rose foi embora era de que não estava mais falando com Edmundo e Rose sabia que era por causa dela e o segredo de serem o mais novo casal da mansão.

_ Sim, está na biblioteca com o grupinho do barulho. - falou rolando os olhos. E a velha Rose estava voltando.

Ignorei sua ofensa aos meus amigos.

Considerava eles meus amigos, mas duvidava que eles me considerassem miga deles. Eu magoei gravemente Hermione, Annabeth devia estar receosa comigo e Percy ao seu lado. Não sabia como Leo reagiu ao meu incidente e este também não veio me ver. Gina não falou nada sobre eles quando foi me visitar. Fiquei triste, claro, eu estava me apegando a todos eles.

O elevador se abriu e Rose saiu na frente.

_ Te vejo por aí. Lilian vai te procurar no meio da tarde. - falou simplesmente e virou o corredor indo para sala de computadores.

_ Acho que vou à biblioteca. - falei comigo mesma.

Não precisava ir trocar de roupa, Gina já tinha levado umas roupas para eu me trocar quando acordasse e tomasse um banho. Era simples e leve, eram as duas coisas que eu mais precisava para meu corpo, mente e sentimentos.

Quando cheguei à biblioteca as suas portas estavam abertas e logo escutei o pessoal conversando, debatendo alguma coisa.

_ ... Não, isso está errado. - escutei Leo resmungar, depois uma iluminação alaranjada surgiu levemente.

_ Não faça fogo na biblioteca, seu idiota! Pode queimar os livros! - exclamou uma Hermione nervosa e enérgica. Sorri, Leo sabia a fazer voltar ao normal.

Passei pela estante de livros que me separa deles e parei a dois metros de distância da mesa circular em que todos estavam com vários livros e dois computadores na mesa.

_ Oi. - sussurrei.

Leo foi o primeiro se virar, Annabeth o acompanhou. Ela primeiro ficou surpresa e depois abaixou os olhos culpada.

_ Obrigada. - falei para ela. Todos os outros me olhavam sem saber o que falar ou fazer, Hermione fingia ler um livro qualquer. Era fácil perceber isso já que o livro estava de ponta cabeça.

_ Pelo que? Ter causado sua desgraça? - falou Annabeth sarcástica e totalmente irritada, mas com sigo mesma.

_ Você me fez ver o quanto sou instável. Não se culpe, por favor. Você me fez um favor e cedo ou tarde isso ia acontecer, até pior. - falei, deixando o final mais para mim do que para ela. - Eu fui estúpida.

_ É, foi mesmo. - falou Hermione inesperadamente. Todos se viraram para ela como se fosse ela que tivesse surtado. Principalmente Rony e Harry. - Ainda bem que sabe que o que você tentou fazer foi uma completa idiotice. Sabe o quanto as pessoas se preocupam com você? Sabe como elas ficaram? Sem dormir por dias, preocupadas, desesperadas e sem acreditar em uma atitude tão irresponsável e falta de agradecimento da sua parte com aqueles que te salvaram e se preocupam com você! Faz pouco tempo que veio pra cá, mas a partir do momento que fica na mansão, você faz parte da família. Somos uma família, Jessie, e você faz parte dela! - desabou a falar e entrando aos prantos. - Sua imbecil, eu quase morri de preocupação!

E se levantou vindo correndo até mim e quando eu pensei que ela ia me bater, ela me abraçou apertado.

_ E finalmente ela admitiu. – falou Rony recebendo um aceno de concordância de Leo.

_ Sua monstra, não faça mais isso! Nunca mais! - falou Hermione aos soluços e ignorando seu namorado.

Eu não sabia o que fazer. Sabia que Hermione segurava seus sentimentos e angustias, mas vê-la explodir tão de repente foi inesperado. Todos estavam paralisados com sua reação, menos Gina, Rony e Harry, eles pareciam já ter passado por isso.

Quando voltei a mim, abracei Hermione.

_ Pode ter certeza, não vou. - falei sorrindo.

Não ia deixar que minha família tivesse morrido em vão por minha causa e só porque não suportava tanta carga não iria desistir, porque de alguma forma, eu sabia que meus pais e irmão não desistiram de mim. Talvez eu tenha o matado, mas talvez não. Aquela memória era incompleta e eu precisa do resto dela, como todas as outras que eu me esqueci.

Separamos-nos e ela se afastou envergonhada sendo abraçada pelos ombros pelo Rony.

_ Por que fez aquilo? Por que entrou em choque? Por que não acho que não foi só ter visto que não controlava seus poderes. - falou Leo realmente curioso sem conseguir se conter por mais tempo. - Quero dizer, eu fique muito preocupado com vocês... Todos ficamos. - acrescentou rapidamente e ficando vermelho de vergonha.

Sorri.

_ Obrigada. Mas sim, não foi só por causa do que Annabeth me explicou. Mas graças ao que ela disse eu recuperei uma lembrança e foi ela que me assustou tanto.

_ O que você lembrou? - perguntou Percy preocupado.

_ Meu irmão. Não conseguia ver seu rosto, mas ele tentava me ajudar a controlar meus poderes quando eu tinha dez anos. Acho que foi a partir daquilo que comecei a me iludir sobre controlá-los. Eu me desesperei por alguma coisa e me senti muito culpada, acabei me descontrolando, ele que corria atrás de mim me alcançou, mas eu comecei a tirar o oxigênio a minha volta e ele foi atingido e... estava sendo sufocado... - senti as lágrimas novamente. Suspirei tentando me acalmar e me lembrando das instruções de Rose. - Depois eu pedia desculpas, mas perdia controle dos meus poderes, eu falei o nome dele, mas eu fiquei com tanto medo de que ele provavelmente estivesse morto que não consegui ouvir o que eu dizia, só lembro do começo. Lo.

Senti braços me apertarem e era Leo. Sorri para ele agradecida.

_ Ah não! - lamentou Hermione. - Eu fui tão egoísta! Você tentou falar comigo sobre isso, se explicar e a única coisa que eu fiz foi continuar irritada com você! Desculpa Jessie, desculpa mesmo! - falou Hermione desesperada e olhos cheios de culpa.

_ Tudo bem, quem iria imaginar uma coisa dessas? - falei mais calma. - Eu só quero agora é ter o resto dessa lembrança pra saber se meu irmão esta bem, se eu não o ...matei e depois lembrar de todos o resto, a minha vida, minha família e... - suspirei tentando não ficar com raiva. - Lembrar quem me capturou e matou meus pais e talvez o meu irmão.

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