The Dream
Capítulo 25
Isaac ajoelhou-se perante Eleanor. Esta estava à volta de um manequim com uma almofada de agulhas no pulso e uma agulha na mão a costurar uma das mangas do vestido e ele ficou de cabeça baixa.
— Peço desculpa, senhorita Eleanor. Prometi que lhe traria novidades sobre o caso de quem fez o atentado, mas não tenho nada para si. Fico muito, desapontado comigo mesmo por não conseguir cumprir a minha palavra. – Cerra o punho com força e Eleanor observa-o pelo canto do olhos, continuando a atravessar a agulha pela manga, fazendo um padrão com a linha diferente.
— Porque se encontra de joelhos, Isaac? – perguntou Eleanor, parando de coser e passa os dedos pelo padrão feito pela linha de costura. – É normal não existir grandes detalhes do caso. Mesmo com uma carta, é muito difícil de conseguir encontrar o dono da mesma a não se que a pessoa seja estúpida o suficiente para deixar as suas iniciais ou escrever com a letra habitual. É como encontrar uma agulha num palheiro.
— Mas sendo assim, a sua vida corre perigo, senhorita! Vai participar no baile da sua irmã e isso deixa-lhe exposta!
— Eu confio em si e no Oliver, Isaac. E eu quero aparecer lá. Que tipo de irmã seria se eu não aparecesse no aniversário da minha irmã mais nova? – Deixou cair a manga e deu uma volta à manequim, olhando para os diferentes detalhes.
— Se a sua família se interessasse pelo seu bem-estar, nem fariam este baile.
— Tecnicamente, não querem nem saber de mim, nem de Duque nem de Edward. Fomos alvos e lá vamos nós todos bem vestidos para a festa. Fingir que nada aconteceu. Nada abala a casa Stirling. Por enquanto… E eu estou entusiasmada pelo baile. Gosto de eventos em que posso vestir-me melhor do que aquilo que faço no dia a dia.
— Eu ainda penso que seja melhor dizer que está doente. Não comparecer.
— E eu respeito a sua opinião, mas não o farei. – Ele levantou-se do chão, olhando para Eleanor com um ar de preocupação. Quer falar, mas sabe que não pode contrariar aquilo que ela lhe diz. Ela vai até sua secretária. – Tenho de entregar a prenda à minha irmã. – Passa a mão pela caixa de veludo. – Fiz-lhe algo muito pessoal.
Batem à porta antes de abrir. Aparece Alika e Kayin.
— Chegaram no momento certo. Podem embalar este vestido e levar aos aposentos de irmã Theresa? – pede Eleanor e elas assentem.
Eleanor vai ao seu guarda-fato e retira o vestido que usaria para o baile. O vestido de alças finas, o decote cowl, a parte de cima apertada e o restante em saia rodada, negro cheia de volume. Colocou um colar de ouro, combinando com os brincos oferecidos por Príncipe Ashar. Tem o cabelo feito em ondas perfeitas, uma parte a cair à frente do peito e o resto atrás. A maquilhagem era simples, realçava as pestanas, o rosto parecia brilhante e uniforme, como uma pérola e os lábios pintados de rosa.
Alika segurou no vestido dela de forma a ajudar Eleanor a movimentar-se e Kayin carregou a caixa de veludo que continha a prenda. Saíram todos dos aposentos dela. Dirigiram-se para a festa. Desceram as escadas, indo para uma divisão que raramente era utilizada.
O espaço era enorme, fortemente iluminado por candeeiros a gás, algo utilizado apenas nestes momentos especiais, estava cheio de nobre de várias famílias influentes, empregados a levarem prendas para o devido lugar.
— Parabéns, menina Theresa. – dizem as várias pessoas passando pela aniversariante.
Ela tinha vestido criado por Eleanor. Azul de forma a combinar com os seus olhos, cheio de brilhantes. Tem o decote em formato de coração, as mangas três quartos abalonada, cintura definida e a saia grande, cheia de camadas de renda branca por baixo que se revelavam nas extremidades. Tem o cabelo puxado para cima e um colar de pérolas.
— O vestido é lindíssimo. – aproxima-se mãe com um copo de champanhe na mão, colocando outra mão nas costas da filha. – Vê-la assim tão crescida dá-me muito orgulho. – Deposita um beijo longo e carinhoso na bochecha de filha.
— Muito obrigada, mãe. O vestido foi pessoalmente escolhido pela irmã Eleanor. – Tem um sorriso grande, mas Marquesa vai diminuindo ao dela ao ouvir o nome da tal rapariga.
— Podíamos ter ido às compras arranjar-lhe um vestido para hoje. Podia ter sido uma das nossas tarefas na preparação do baile. – Tenta ser politicamente correta.
— A Eleanor quis oferecer-me e eu achei que era boa ideia.
— E penso que fiz um excelente trabalho. – Aparece Eleanor por trás de Marquesa com um pequeno sorriso. As mãos cruzadas à frente do corpo. – Está lindíssima, irmã. – elogia, dando mais alguns passos em direção à aniversariante. – Parabéns! – Abraçaram-se e Eleanor cruza o olhar com Granville.
Ele está vestido com um fato branco, real com algumas medalhas ao peito do lado direito, o cabelo escovado para trás, apenas com algumas mechas de cabelo a caírem sobre a testa. Eleanor sorriu, afastando-se e pegou em dois copos de champanhe que viu em cima de um tabuleiro.
— Devíamos brindar. – Entregou um deles a Theresa. – Devíamos fazer todos juntos. Eu, você… Marquesa… O seu marido e todos os convidados.
— Não sei… – Theresa estava tímida, não querendo chamar a atenção.
— Que querida. Não podemos ser humildes no único dia do ano em que celebramos o nosso nascimento! – Riu Eleanor, cruzou o olhar com Marquesa que parecia ter a expressão facial bastante fechada, desconfiada, antes de se virar para todos. Limpou a garganta. – Todos aqui presentes! Peço a vossa atenção por algum tempo! Segundos na verdade!
Deu a volta, tentando ver se aos poucos, a multidão ia parando as suas conversas paralelas para se focarem na aniversariante.
— Peço desculpa por vos estar a interromper. E agradecemos muito, mas muitíssimo a vossa presença no dia de hoje! – Sorri, levantando o copo de champanhe. Suspira antes de se voltar para Theresa. – A minha querida irmã faz anos hoje! É uma pessoa com quem cresci, que me orgulho muito. É uma pessoa carinhosa, sempre preocupada com os outros! Sempre com um sorriso tão lindo que ilumina o dia de qualquer um! Fico orgulhosa por todas as conquistas que teve. Fico contente que tenha conseguido um parceiro para a vida como Duque Granville! Que tenha uma coleção de joias a iniciar brevemente em seu nome! De ter alguém assim ao meu lado todos os dias! Então, gostaria de fazer um brinde. A esta pessoa tão incrível que não trocaria pelo mundo!
Levantou o copo. Theresa tinha os olhos molhados, tentando não chorar enquanto ouvia o discurso de sua irmã.
— Viva a minha irmã! Theresa Stirling! – grita Eleanor e o resto do público segue a dica dela, berrando antes de darem o gole. De seguida, continua:
— E como eu adoro a minha irmã, quis dar-lhe algo com muito significado. Uma prenda que lhe faria sempre lembrar de mim e desta aniversário. – Ela olha para Alika que percebe e avança com a caixa de veludo.
— Aí Deus… Isto é demasiado, Eleanor. O vestido e outra prenda… – Theresa tem o rosto corado, parecendo entusiasmada com a prenda. Pede a Duque para segurar no copo antes de pegar na caixa.
Quando abre, revela um colar de prata com um pendente de formato de coração.
— Aí… Meu Deus… – Theresa parece contente, os olhos brilhantes, cheios de emoção.
— Muito obrigada, irmã! É lindo! Nem… Nem sei o que dizer. – Sorri e Eleanor diz:
— O pendente dá para abrir. Sou uma caixinha de surpresas hoje.
— Deixe-me ajudar-lhe. – sugere Duque enquanto as pessoas estão curiosas com a prenda oferecida.
Theresa finalmente abre o pendente e tem uma frase escrita em cada lado do coração. Ela sorri e diz:
— Muito obrigada. Tem uma mensagem muito bonita. – Nem volta a olhar novamente, pois claramente não percebe o que está escrito.
— Só isso? – Eleanor pergunta, virando suavemente a cabeça para o lado, – Gostava muito que lesse a mensagem. Demorei vários dias a pensar nessa prenda. Gostava que lesse em voz alta. Estou entusiasmada por ouvir. Toda a gente também está curiosa para ouvir o que diz, não é? – pergunta com um grande sorriso no rosto, voltando-se para o público.
— Confesso que agora fiquei muito curiosa! – comenta uma criança e começam todos a dar uma gargalhada.
Marquesa Stirling aperta o copo entre a mão, foco total e intenso sobre Eleanor que continua com um grande sorriso, os braços cruzados, encarando-a sem medos. Sem hesitação. Sem um momento de quebra da sua confiança.
— Eu posso ler. – sugere Marquesa Stirling.
— Ler? Porque quer ler? A ideia é ser a aniversariante a ler a sua prenda! É aquilo que queremos! Tem mais significado! – pressiona Eleanor e a mão da Marquesa treme freneticamente. – N… Não me diga que estou a meter o pé na poça? Deve ser… Talvez porque Theresa é tímida? – Fica com ar de preocupação e baixa a cabeça. – Deixe estar irmã. Eu peço desculpa…
As pessoas começam a comentar entre si. “Porque é que ela simplesmente não lê?” “Porque é que a Marquesa está assim?” “Coitada da rapariga!”. Eleanor continuou cabisbaixa.
— Não quero pressionar a minha irmã. – Voltou-se para as pessoas. – Podemos continuar na normalidade! Muito obrigada pela vossa atenção. – O sorriso mais fraco. As pessoas retornaram então pouco a pouco às suas conversas paralelas.
Duque Granville observou Eleanor e depois Theresa que parecia ter visto um fantasma. Não sabia porque é que ela não queria ler. Pegou no colar, lendo a mensagem. “Continua a iluminar o coração de todos nós com o seu sorriso.” “Desejo-lhe um futuro com muito sucesso.”. Duque une as sobrancelhas, não percebendo.
— O que pensa que está a fazer? – questiona Marquesa e Eleanor volta-se para ela. – Quem pensa que é? – A respiração está pesada e tenta controlar-se enquanto diz cada palavra. Por momentos, a Marquesa vê a figura escura com o turbante vermelho na cabeça no lugar de Eleanor.
— Estou a dar uma prenda feita com muito carinho. Animar o dia da minha irmã. Mas penso que talvez tenha metido o pé na poça. Peço desculpa, Theresa. A minha intenção era deixar-lhe constrangida. – diz, enquanto encara a Marquesa.
— O Marquês será informado sobre isto. – ameaça Marquesa.
— Não esperava menos. – Bebeu o seu champanhe, colocando em cima do tabuleiro de um empregado que passava. – Bom proveito! – Fez uma vénia com a cabeça antes de se ir embora.
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