OLIVER

A garota me olha apavorada, e preciso conter o sarcasmo em meu rosto com mais esforço do que o esperado. Abro um sorriso tão sincero quanto uma nota de sete e me divirto ao ver que ela não cai. Quão perturbada posso deixa-la se disser a verdade? Por puro tédio, resolvo experimentar. Me viro em sua direção com meu rosto repleto de deboche, enquanto vomito as palavras mais sinceras que ela já conseguiu de mim até o momento presente.

—Sou um agente secreto do governo. -sorrio com todos meus dentes aparentes e olhos brilhando de excitação. -Uma agencia terrorista vem tentando recrutar você e o seu namorado nerd, então estou me dobrando em dez para salvar sua bundinha linda de parar a sete palmos de terra, e tem outra agencia secreta, mas essa que está do lado do governo e previu a ameaça que dois supercérebros como o seus causariam caso se corrompam e agora querem matar vocês a qualquer custo. -seu rosto fica branco, e depois as bochechas coram enquanto ela engole em seco. Dou risada abertamente e a vejo relaxar de imediato.

—Não é divertido ficar brincando com alguém que está apavorado! -me repreende cruzando os braços sobre o peito, com a expressão de uma criança irritada. -Só é estranho que esteja sempre por perto e seja tão habilidoso e rápido. -dispara, eu mal posso entender devido a velocidade em que pronuncia as palavras. -Posso começar a cronometrar quanto tempo vai demorar até que acabe em seu colo com você me sacudindo e pulando para todo canto, e quem me dera se fosse do jeito bom, mas nem tenho tempo de aproveitar já que a morte iminente fica batendo em minha porta a cada maldito segundo! -engulo em seco, sem poder me concentrar em manter minha máscara de descontração, Felicity se dá conta do que acaba de dizer e esconde o rosto entre as mãos. Prefiro ignorar toda a conversa a tentar reverter algo daquilo.

—Vai gostar do apartamento da Patty. -comento e a vejo relaxar os ombros. -É bem colorido.

—É por isso que eu vou gostar? -sua testa está franzida e me olha com ar de desafio, muito interessada em puxar uma briga qualquer.

—Claro que não, só acredito que vai se sentir em casa. -dou e ombros e viro meu rosto para o outro lado, vendo que estávamos quase chegando ao destino.

—Você é bem prepotente as vezes, já percebeu como fica sempre julgando as pessoas? -ignoro outra vez e saio do carro, dando a volta para tirá-la em seguida.

—Me desculpe. -falo sem graça quando preciso a pegar no colo para leva-la ao apartamento da Patty. Mas na medida em que ando não consigo conter a risada, o que a deixa completamente vermelha e acabo ganhando um soco, bem forte por sinal, em meu ombro como resposta. -Sabe que me bater agora só piora ainda mais o quadro geral, não é? -provoco, percebendo que sua vergonha inibi a desconfiança que anda tendo. -Pode apertar esse botão azul aí? -aponto para uma chave eletrônica, ao lado da porta de Patty. Percebo os agentes a postos em locais estratégicos, durante todo o caminho. Finalmente um lugar onde não preciso ser babá a cada segundo.

‘Oliver, vocês demoraram tanto que já estávamos preocupados!’ A voz urgente de Patty surge do alto falante. Dez segundos depois, Barry Allen abre a porta de súbito. Seu rosto tenso parece voltar a ter cor ao ver Felicity sorrindo de forma doce para ele, que solta o ar aliviado.

—Onde a coloco? -pergunto para que se lembrem que estou a carregando e deixem a conversa muda que estavam tendo para outra hora.

—Ah, claro! -dá um passo para o lado abrindo caminho. -Acho que conhece a casa melhor que eu. -agora estava respondendo minha pergunta.

—Pode coloca-la aqui. -Patty gesticula para o sofá vermelho em L.

Sua casa é colorida ao máximo, cheia de informações pessoais que uma agente a seu nível não deveria ter. Como fotografias nossas, diplomas expostos e fotos de familiares, claro que no caso a maioria está morto, mas ainda assim é algo que ela não deveria expor, nunca. Patty sabe disso e simplesmente não se importa, isso ou é idiota mesmo. Ela se aproxima de Felicity e coloca uma mão em seu rosto, testando sua temperatura, assim que a coloco no sofá.

—Está gelada! -conclui com preocupação genuína. -Barry, pode me dar essa manta. -aponta para a outra ponta do sofá e o garoto atende prontamente. -Deve estar apavorada, sinto muito Fel. -se senta na beirada do sofá e toma as mãos de Felicity com as suas.

—Obrigada, é bom estar aqui. -sorri para a outra com gratidão e ternura nos olhos.

—Oliver deveria ter tranquilizado você melhor! -Patty acusa me fulminando com os olhos.

—É, ele não fez isso! -Felicity ajuda a piorar e escuto o riso de Barry.

—Cara, essa é a dupla de olhar ameaçador que menos me causou medo em toda a minha vida. -comenta se divertindo. Bom, ele não conhece Spivot de verdade, ou não estaria rindo agora, posso garantir.

—Vocês devem ter coisas para conversar. -digo aos dois alvos ambulantes. -Patty, vamos ao supermercado, Felicity precisa de algo nutritivo. -pisco para a garota que estava prestes a protestar, mas parece perder a linha de raciocínio.

—Verdade! -Spivot se levanta de imediato, e começa a me seguir em direção a porta. -Fiquem à vontade, nós voltamos em alguns minutos! -deixamos os dois sem palavras e saímos do apartamento. -John está lá em baixo. -conta e começamos a correr pelas escadas.

—É melhor acabar logo com isso, Smoak é a pessoa mais esperta que já vi. -salto da escada para o térreo, poupando tempo e Patty faz o mesmo.

—Barry também não é nada bobinho. -murmura com pesar.

Passamos a andar em velocidade normal quando saímos de prédio e fingimos estar em meio a uma conversa divertida. Mas tudo muda quando entramos no carro. John nos lança duas bolsas com roupas pretas, coletes a prova de balas, botas de combate e armas. Começamos a nos trocar com o carro em alta velocidade.

—Um agente vai fazer suas compras. -Diggle nos informa. -Mandei Lawton para o apartamento deles, para pegar alguns bens pessoais.

—Algum estrago no lugar? -questiono afivelando o cinto da calça.

—Não, mas não precisam saber disso antes de resolvermos com a ARGUS. -sugere.

—Claro. -o rosto de Patty se torna sombrio. -Juro que mato o Chase se ele continuar com a ideia absurda de contenção.

—Entra na fila. -John se junta a sua revolta, mas tento me manter distante, como tenho feito desde o início.

—Vamos pela porta da frente? -pergunto a Patty com um sorriso perverso em meu rosto.

—Gosto da ideia. -prende os cabelos louros em um rabo de cavalo alto e coloca um par de óculos escuros como os meus.

—Ótimo, e eu estou novamente entre esses dois loucos. -Diggle que está vestido como nós, resmunga feito um velho.

Paramos em frente a base do FBI, usada para treinar novos recrutas que Adrian Chase coordena. Um carro já estava estacionado, e vejo Lyla saindo dele com Benjamim Turner, um homem negro do tamanho de John, com o soco mais potente de toda a CIA, que exala um ar calmo que contradiz sua aparência ameaçadora. Ele acena um cumprimento educado e para ao lado de Patty, para quem sorri, nunca vou entender como ela consegue essas coisas.

—Temos trinta minutos para conversar com Chase, fazer com que saia do nosso caminho, pegar o que ele tem sobre a ameaça e deixar os dois de volta para cuidar das crianças. -Lyla instrui com o semblante impassível.

—Parece ser tempo de sobra. -Spivot dá de ombros sem um pingo de tensão aparente.

PATTY

A ARGUS chega a ser fofinha quando quer. O que tinham em mente ao lançar um piano sobre Barry e Felicity?

Depois colocar fogo em todo um prédio, sério? Posso listar duzentas formas de matar alguém mais rápido, de forma eficiente e sem nenhum rastro para seguirem. Não querem matar os recrutas, querem expor a ameaça, força-los a se mostrar para proteger quem querem como novos recrutas. Mas esses idiotas, não entendem que a ameaça não vai tentar contra a vida dos alvos se não estiverem próximos ao desvio deles. O ainda mais idiota do John King. E graças a essa estupidez, estamos dormindo mal e comendo pior ainda, e ninguém, ninguém mesmo, mexe com meu sagrado almoço.

—Srta. Spivot, vou acompanha-la nessa noite. -Dig, brinca simulando uma reverencia boba.

—Sou uma mulher de muita sorte, prezado cavalheiro. -entro na brincadeira retribuindo o gesto e empunho meu revolve. -Vamos dançar. -pisco para Turner que abre um sorriso em resposta antes de correr a toda para a lateral da base, e Lyla faz a direção inversa.

Loucura. É a definição do que estamos fazendo, mas é isso o que a CIA tem em mente. Mostrar a ARGUS cinco agentes que estão indo peitar toda a agencia deles com nada mais do que marra e poucas armas de fogo. As vezes pessoas precisam se lembrar do motivo das hierarquias existirem, e gentilmente vamos mostrar isso a eles. Quatro minutos, é o tempo que levamos para apagar sua segurança externa, apenas com um dispositivo simples que destrói qualquer coisa eletrônica a um raio de 100 km quando acionado.

Nem mesmo estava correndo ao passar pela porta com John e Oliver me ladeando. Um grupo de recrutas corre para nos impedir, com as piores miras que já vi em toda a minha vida. Piso na perna de um deles, no quadril de outro e me lanço sobre os ombros de um terceiro, giro meu corpo e uso o peso dele para derrubar os outros dois, pouso de pé e volto a me posicionar no meio dos garotos. Oliver lutava com um cara grande demais para ser real, posso ver os segundo que leva para perder a paciência. Ele o prende pelos ombros e o vira em minha direção. Levando minha perna direita ao máximo e a desço com toda força sobre a nuca do grandão.

—Estamos na porta, como vão as coisas aí tigrão? -toco meu comunicador, com minha mão sobre uma maçaneta de metal gélida.

‘Tudo limpo, sweet.’ Turner responde de imediato.

—Ele odeia ser chamado de Tigre, como consegue que te responda? -Oliver sussurra em choque.

—Ele odeia? -devolvo a pergunta, sem me importar de verdade e vejo seu rosto vermelho antes de me pedir para dar um passo para o lado e chutar a porta com tanta força que a desprende completamente da parede. -Acho que acaba de merecer o apelido de tigrão também! -brinco entrando calmamente e Oliver sorri com sarcasmo.

—Oi Chase. -John que no momento era o único sério entre nós, caminha em direção a um cara assustado, que tentava fazer um telefone funcionar. -Vamos bater um papo.

Subimos as escadas do meu apartamento as pressas, com as sacolas do supermercado que nos entregaram na esquina, antes de chegar ao prédio. Oliver equilibra as compras em uma das mãos e destranca a porta com a outra. Não deve ter nem quarenta minutos que saímos e a quantidade de mantimentos com que voltamos é o suficiente para justificar a ausência, isso é o que meu cérebro processa de forma racional, mas o ar me falta quando vejo Barry Allen sorri como se ganhasse seu dia todas as vezes que coloca seus olhos em mim. Queria ser uma garota normal, Barry, alguém que te merecesse.

—Me deixa te ajudar. -se prontifica, tirando todas as sacolas de minhas mãos e segue Oliver para a cozinha, vou até Felicity que tinha um sorriso sugestivo nos lábios, me fazendo revirar os olhos.

—Já perguntou sobre a pizza? -sussurra para mim, contenho o sorriso com esforço.

—Já está pronta para assumir que quer muito dar uns pegas no meu amigo? -devolvo e ela engole em seco.

—Nós juntos. -estremece de leve, me pegando de surpresa por não ignorar o assunto como costuma fazer sempre que a provoco. -Não pode dar coisa boa, nós provavelmente enfrentaríamos um apocalipse zumbi no dia seguinte.

—Talvez deva encarar tudo o que aconteceu até o momento como uma coincidência triste, que não vai mais se repetir. Oliver merece ter alguém como você na vida dele, Deus sabe que meu amigo não tem mais razões para acreditar que merece qualquer coisa boa, mas sei que é mais inteligente do que aquela mula para deixa-lo pensar que estar certo. -pisco para ela, e a entrego um chocolate pequeno. -Acho que alcançaram a cota máxima de desastres para uma vida inteira.

Vou para a cozinha, a deixando em paz com suas dúvidas. Possuo minha própria cota de receios, mas tiramos a ARGUS do caminho, só precisamos encontrar a ameaça e encerrar esse caso, mas não significa que precisamos encerrar a vida que iniciarmos por aqui. John e Lyla conseguem ter um relacionamento, o trabalho e estão até mesmo planejando ter filhos, não sei por que não pode ser assim para todos.

Observo Oliver e Barry rindo descontraídos enquanto picam e refogam alguns legumes. Pego uma garrafa de vinho, três taças e decido que não vou me preocupar pelo restante da noite, eles estarão debaixo do meu teto, protegidos da ameaça e me permito relaxar por uma noite apenas.

—Não deveria beber. -Oliver soa descontraído, mas há um sinal de aviso em seu olhar.

—Você não deveria continuar sóbrio. -o ofereço uma taça de vinho e dou outra ao Barry. Depois olho para Oliver de forma sugestiva, para que dê o fora da minha cozinha de uma vez. Ele gesticula para as panelas, e reviro meus olhos em resposta.

—Vou ver como Felicity está. -me oferece a faca e sai contrariado.

—Nada sutil. -Barry debocha quando dou a volta no balcão para lavar minhas mãos e ajuda-lo com o jantar.

—Não tentei ser. -dou de ombros, mas congelo ao sentir sua mão em minha cintura, me fazendo girar para ficar de frente para ele. -Barry... -olho surpresa para seus olhos verdes cheios de determinação, focando meu rosto, perto demais.

—Quer que me afaste? -questiona sério e nego balançando a cabeça. -Tem algo em você que me faz pensar que só enxergo a ponta do iceberg. -diz cada palavra com seus olhos presos ao meu rosto. -Mas não me importo com seus segredos, Patty. -não consigo encontrar nada para o responder, é como se toda minha mente sofresse um blackout. -Sei com todas as minhas forças que é uma boa pessoa, alguém que merece a confiança que recebe.

—Está me dando mais crédito do que mereço. -sorrio culpada e ele nega balançando a cabeça e dá mais um passo acabando com toda a pequena distância que restava entre nós.

—Sou um policial forense e a essa altura deveria saber que sou bom no que faço. -ele tira algo que estava preso em meus cabelo, que parece ser uma pequena lasca de vidro, mas seu rosto continua doce e sereno. -Só me avisa se precisar de alguma ajuda, não quero que pense que está sozinha.

—Não é o que...

—Não tem que mentir. -me interrompe e se inclina dando um beijo demorado no canto dos meus lábios. -Eu acho que gosto mesmo de você Patty. -fala com seus olhos brilhando e percebo que o que mais quero é dizer que também gosto, que também não desejo mentir, mas não posso fazer nada disso por que ele é quase perfeito, merece alguém completo, alguém muito melhor do que eu.

—Sinto muito... -contenho as lágrimas que se acumulam em meu rosto e tento me desvencilhar dele, que segura meu braço e me prende entre ele e a bancada.

—Entende que só estou abrindo o jogo, por que não quero que se afaste, não quero que pense que vou enchê-la de perguntas. -então seu rosto se torna sério, os olhos transbordando de emoção e a voz soa rouca e baixa quando volta a falar. -Não quero perder você. -sua sinceridade manda meu alto controle pelos ares.

—Não quero te perder também, e isso é o que...

Ele interrompe minha confissão, me beijando. Seus lábios são pressionados contra os meus, estavam macios e gélidos, mas a sensação que se segue é incrível. Barry segura meu rosto com delicadeza entre suas mãos e me permito deixar de pensar por um instante, o que é muito fácil com ele por perto. Recebo um selinho carinhoso antes de encerrar o beijo e Allen me olha com um sorriso de lado que me faz perder o restinho de resistência que me restava.

—É melhor voltarmos a cozinhar, ou não terminamos isso hoje. -diz beijando minha testa e se afasta, voltando a se concentrar na comida, como se nada tivesse acontecido.

—Eu estou muito ferrada, não estou? -vejo seus ombros largos tremerem com a risada que estava dando.

—Prometo que serei um bom garoto na maior parte do tempo. -pisca para mim e não sei como alguém poderia ser mais lindo do que ele.

—Na maior parte? -engulo em seco, mas ele se limita a sorrir. -Vai ficar bancando o enigmático agora Barry Allen? -pego a faca que deixei sobre o balcão e volto a picar os legumes, ao seu lado.

—Obrigado por cuidar de mim e da Fel. -se inclina e beija a ponta do meu nariz, um gesto inocente que não deveria me acender como fez. -O que acha de colocar camarão? -muda de assunto, se voltando para o conteúdo das sacolas.

—Na sopa? -franzo o nariz e tiro o camarão de suas mãos. -Acho que deveríamos chamar Oliver de volta. -dou risada.

—Então, não posso discordar. -Barry coça a nuca e olha em direção a porta depois para meu rosto. -Só tenho que fazer uma coisa antes. -antes que possa protestar ele me puxa em suas direção e me beija novamente, com muito mais intensidade do que o primeiro beijo e envolvo seu pescoço com meus braços me pressionando contra ele que deslizava suas mãos sobre minhas costas e me prendia, me deixando completamente zonza.

—Agora vamos chamar o Oliver. -me forço a tomar certa distância e começo a andar de imediato em direção a porta. -Você é muito bom nessas coisas. -tagarelo e o vejo segurar o riso. -Muito, muito bom!