Pedaços de vidro espalhados pelo chão. Cabos cortados de um lado para o outro. Um disco rígido cheio de informações cortados ao meio. Papéis queimados. Monitores quase caindo das paredes. Assim que a princesa viu o estado da sua sala de vigilância secreta, ela se surpreendeu.

— QUEM FEZ ISSO?!?

Seu plano de recuperar a sua imagem foi para o saco. Seu plano de atacar o Reino de Fogo em segredo não seguiria em frente, pois ela mal teve tempo de estudar quase todo o local através das câmeras, além de observar os horários da patrulha da guarda real.

Ela ficou revoltada. Quem fez isso com a sala dela? Ela achou que fosse Cornelius ou um dos aprendizes, mas ela ficou ao lado do velho mestre o dia todo e os aprendizes foram embora mais cedo para se encontrarem com o garoto. Ou será que um cidadão revoltado do reino sabia do segredo e veio aqui destruir tudo?

Suas dúvidas foram esclarecidas quando ela viu um DVD no meio daqueles destroços com algo escrito na frente: ME ASSISTA SEM NINGUÉM POR PERTO. O verdadeiro culpado disso tudo deve ter deixado isso aí para dar um recado para ela. Ela pegou o DVD e saiu da sala.

—--

Cornelius não sabia se ficava decepcionado com os seus aprendizes ou mandava eles de volta para o lugar de onde vieram. Assim que eles voltaram para o castelo, eles contaram tudo o que aconteceu após Finn ter sido capturado por Roxanne.

Ele achou que mandar os três para esta missão foi uma péssima ideia, pois eles mal conseguiram atacá-la. Mas isso não é culpa deles. Roxanne está mais forte, e capturá-la seria uma missão quase impossível. Ele tinha que pensar em alguma coisa.

Mas isso teria que ser resolvido em outra ocasião. O velho mestre ficou curioso quando soube que Marceline queria falar com ele. Ele não conheceu a vampira pessoalmente, mas os aprendizes disseram que ela conhece o Finn muito bem, pois ela vem observando o garoto desde que ela o conheceu. Além disso, ela tinha algo importante para falar com ele.

Ele pegou o seu telefone e discou para a vampira. Alguns bipes depois, ele ouviu uma voz feminina vinda do telefone.

— Alô? Com quem estou falando?

— Marceline, eu presumo. Meu nome é Cornelius.

— Oh, o mestre da Usagi. Eles já falaram com você?

— Sim, já falaram de tudo o que aconteceu na praia.

— Então você já sabe o porque eu estou ligando, não é? Essa missão é perigosa demais para eles. Aquela garota doida vai acabar matando um deles. É melhor mandar eles de volta para casa.

O mestre deu uma pequena pausa antes de responder a chamada. Foi o que ele estava pensando, mas havia algo que não deixava ele tomar essa decisão.

— Para ser completamente honesto, eu estou pensando nisso, mas não sou como qualquer outro general ou coronel que você vê por aí. Eles quase sofreram uma perda terrível por causa dessa garota e estão querendo que a justiça seja feita. Mas depois do dia de hoje… eu não sei mais o que eu faço.

— Eu sei disso. Usagi me contou tudo.

— O quê?!? TUDO?!?

Eu sei de tudo. Seu propósito aqui neste continente e suas identidades. Não fique brava com ela, mas ela e os outros dois aprendizes estão determinados a capturar aquela garota, especialmente a Sunny.

Cornelius ficou quieto por alguns segundos.

— No entanto, eu tenho uma pergunta para você: quem é essa garota? Quando eu lutei contra ela, eu senti algo errado nela. Não era normal.

O velho mestre ficou surpreso ao ouvir isso.

— Então, você deve ter percebido…

— Mas eles não sabem disso, né?

— Não.

— Então, pode me explicar?

— Sim, mas me prometa que manterá isso em segredo.

— …eu prometo.

—--

Jujuba foi até a sala de vigilância do castelo e dispensou os guardas banana do serviço. Ela trancou a porta, plugou um fone de ouvido para que ninguém ouvisse o vídeo e colocou o disco no DVD Player. Uma garota de longos cabelos loiros apareceu na imagem.

— Olá, Princesa Jujuba. Meu nome é Roxanne.

A feiticeira?!?

— Horas atrás eu fui fazer uma pequena visita na sua sala secreta de vigilância, e o que eu descobri me chocou. Então eu resolvi trazer o Finn comigo.

Não! Ela não fez isso!

— O resultado? O mesmo que você viu. Todo aquela sistema, todos os seus planos, toda a vigilância… já era. Não existe mais.

Ela ficou com raiva, mas continuou assistindo o vídeo.

— O que você vai ganhar com todos aqueles planos? Paz? Você acha mesmo que erradicar um reino inteiro é a resposta? Se você ver alguém ameaçar o seu reino, você vai partir pra cima de outro reino com tudo? É o que eu pensei quando eu vi o documento com os seus planos para o Reino de Fogo. Aquele reino ainda tem um pouco da influência do rei anterior, mas a nova rainha está fazendo o melhor para estabilizar as coisas… ou quase. Mas isso não importa. Voltando ao assunto…

Oh não. Ela deve ter lido o documento inteiro, pensou a princesa. Ela começou a ficar preocupada.

— Deixa eu ver se eu entendi: você planejou destruir os gigantes do Reino de Fogo, além de congelar todo aquele reino até quase todos os cidadãos morrerem. E agora eu te pergunto: você faria isso porque você considerou aquele reino uma ameaça para a paz deste continente ou você faria isso para recuperar a sua reputação, já que ela caiu consideradamente já que metade dos seus súditos sabem que você os espiona? Não só isso, mas parece que tem mais uma coisa aqui…

Ela pegou um pedaço de papel e mostrou na tela.

— E parece que você quer fazer de mim um bode expiatório. Em outras palavras, você atacaria um reino inteiro, colocaria a culpa e mim e mandaria as suas tropas para salvar o dia. Essa é a coisa mais cruel que eu já li em toda a minha vida. Mas não se preocupe, eu não guardo rancor. Eu não vou te matar por ter me tornado seu bode expiatório. No entanto, eu não diria o mesmo do Finn.

Ela começou a falar do garoto.

— Um garoto que é conhecido por muitos como o herói de toda a Ooo. Corajoso, leal, destemido, determinado… e você usa ele para os seus propósitos egoístas. Eu não sei como ele não conseguia ver a podridão que você tem por trás dessa sua máscara antes. Mas como todos dizes, a verdade dói, e eu tive que mostrar a verdade para ele. Ele merece algo melhor do que ser o seu fantoche. Quando ele aceitar o seu potencial, ele irá atrás de você. Comece a contar as horas que restam de sua vida miserável, princesa.

O vídeo acabou. Enfurecida, pegou o DVD Player e jogou no chão, destruindo o aparelho junto com o disco. Ela não aceitaria a ameaça de uma feiticeira louca.

— Então você acha que pode me ameaçar, não é? Você não perde por esperar, sua louca. Quando tudo isso acabar, eu vou acabar com você. Isso eu garanto.

Ela pegou o DVD Player destruído e saiu da sala.

—--

–…isso é sério?

— Sim. Não estou brincando.

— Mas como isso é possível?

— Pra ser honesto com você, eu não faço a menor ideia. Isso não significa que ela deixe de ser uma ameaça para todos.

— E mesmo assim você manda os seus aprendizes atrás dela. O que você vai fazer se os três forem mortos por ela? O que você diria para os pais deles?

O velho mestre nunca pensou nisso. Ele passou várias habilidades para os três para capturarem a feiticeira depois da atrocidade que ela cometeu, mas ele nunca pensou no perigo que eles poderiam ter corrido nesses últimos dias.

Ele pensou demais enquanto falava com a vampira. O velho mestre finalmente chegou a tomar uma decisão.

— Você tem razão. Eu nem pensei na segurança deles. Mesmo com todas as habilidades que eu dei a eles, eles ainda são jovens. Eles tem uma vida longa pela frente.

— E o que você vai fazer?

— Eu irei pedir para que eles não façam nada. Felizmente eles irão me ajudar a montar uma máquina que nos ajudará a encontrar o santuário a partir de amanhã. Quando isso acabar, eu irei atrás da Roxanne pessoalmente. Enquanto isso, eu peço um grande favor para você.

— Ficar de olho no Finn, certo?

— Exato. Por favor, proteja ele. E por favor, mantenha tudo isso em segredo.

— Não se preocupe. Ele está em boas mãos.

O velho mestre desligou o telefone. Suas únicas preocupações agora são encontrar o santuário e capturar Roxanne. Ele também ficou mais tranquilo ao saber que Finn está seguro ao lado de alguém que ele conhece. No entanto, ele se sentiu desapontado com a decisão que ele tomou. Mas isso é para o bem deles.

— Eu sinto muito, meus jovens. Eu sei que vocês querem justiça, mas eu farei isso com as minhas próprias mãos. Assim que nós encontrarmos o santuário, eu enfrentarei Roxanne pessoalmente.

—--

As coisas não começaram bem no dia seguinte. BMO ficou com medo de chegar perto do Finn desde o dia anterior. Ele não sabia o que tinha acontecido.

— Ei BMO.

— Huh? Quem está aí?

Marceline apareceu na frente dele.

— Como está o Finn?

— E-eu não sei dizer. Ele parece estar com raiva desde ontem. Estou com medo de chegar perto dele. – disse BMO, apavorado.

— Não se preocupe BMO. Eu vou falar com ele.

A vampira estava curiosa desde ontem. Aonde Roxanne levou Finn ontem? Ela ia descobrir isso agora, mesmo que ela tenha que forçar o garoto a falar. Assim que ela entrou no quarto, ela viu o garoto com a mesma expressão de ódio em seu rosto.

— Finn?

— Vá embora. – disse o garoto.

— Eu vim conversar com você. Estou preocupada desde ontem.

— Não precisa se preocupar comigo. Por favor, vá embora.

Parece que ele não quer falar o que aconteceu.

— Finn, eu sou a sua amiga. BMO está com medo de você e os três aprendizes também estão preocupados. Por favor, me diga o que aconteceu.

— Eu já disse, não precisa se preocupar comi-

Ela agarrou o braço do garoto.

— Finn, me diz a verdade agora! Aonde ela te levou?

— Me larga, Marceline! Isso não te interessa!

Ela se jogou para cima do garoto, prendendo ele no chão. O garoto tentou tirar a vampira de cima dele, mas ele não tinha força o suficiente para levantar.

— Me diga. Agora.

— Mesmo que eu dissesse, você não acreditaria em mim!

— E como eu não acreditaria em você? Eu sou a sua amiga, Finn. Você pode confiar em mim.

Ele tentou fazer mais força ainda para se levantar e tirar a vampira de cima dele, mas não conseguiu. Ela era forte demais. Sem nenhuma outra opção, o garoto desistiu.

—…ela me usou. Desde que eu a conheci, achei que fosse leal a ela. Eu pensei que estava fazendo o que era certo para o reino dela. Mas eu estava cego e fui feito de trouxa por todos esses anos. Eu fui um idiota.

— Huh? Do que está falando?

Marceline saiu de cima do garoto. Ele se levantou e explicou.

— Roxanne me levou para o Reino Doce ontem. Eu descobri… coisas horríveis. Jujuba estava me usando todo esse tempo.

— O que? Finn, ela está fazendo o melhor…

—…para o reino dela? Destruir o Reino de Fogo é melhor para o reino dela?

Marceline arregalou os olhos. Ela não podia acreditar no que acabou de ouvir.

— …d-d-destruir o Reino de Fogo?

— Sim. Ela queria destruir o Reino de Fogo. E não é só isso. Eu descobri que ela também quer destruir os outros reinos caso eles sejam uma ameaça para ela.

— …não. Bonnie não faria isso. Eu sei que ela toma algumas decisões idiotas, mas ela não faria isso.

Finn olhou para ela.

— Por isso que eu disse que você não acreditaria em mim.

Isso era difícil de acreditar. Marceline conhece a princesa faz séculos, e ela sabe que ela já tomou algumas decisões bem idiotas ao longo dos anos, mas ela nunca cometeria genocídio em sua vida. Isso tinha que ser uma piada de mal gosto ou uma armação daquela feiticeira, pensou a vampira. No entanto, ela tem notado que a princesa anda agindo de forma muito estranha ultimamente nos últimos meses.

— Olha, a Bonnie anda esquisita faz muito tempo, mas quero saber se isso é mentira daquela feiticeira ou não. Não tem como isso ser verdade.

— …acredite como quiser. Eu nunca mais vou jurar lealdade a el-

— FINN! FINN!

BMO subiu até o quarto do garoto, correndo feito um maluco. Algo deve ter acontecido.

— BMO, o que aconteceu?!? – perguntou Finn.

— Ela está aqui, Finn! Ela está aqui! – disse o robozinho, agitado.

— Quem? Roxanne? – perguntou a vampira

— Não, é a pr-

— Não precisa me introduzir, BMO. Eu quero ver a cara de surpresa dele.

Finn reconheceu aquela voz. Uma voz que ele não ouvia faz meses. Ele quase caiu duro no chão quando viu quem estava subindo até o quarto dele.

— Oi Finn. Surpreso? – perguntou a Princesa de Fogo.