Um ano atrás.

— Amor, levanta! — Ouvi Hermione chamar pela milésima vez.

— Não tenho direito a mais cinco minutos?

— Te dei dez minutos desde a última vez que chamei.

— Nossa, que gentil. — Falei soltando um breve bocejo. — Agora faz todo sentido a sua chamada. Como eu poderia querer dormir mais cinco minutos às 04:45 da manhã, não é?

— Ah, Draco, sem sarcasmos. — Mesmo de olhos fechados percebi sua voz irritadiça e imaginei que ela estaria fazendo o seu biquinho de costume. — Nós prometemos acordar cedo para explorar esse povoado e tentar chegar até a ilha perdida.

— Você não considera nem por um segundo que a existência dessa ilha pode ser nada mais que um mito, amor?

— Sinceramente, não. E por mais que seja, somos historiadores e arqueólogos. Esse é o nosso trabalho.

— Hermione… — Finalmente abri os olhos, e mesmo com a voz sonolenta tentei passar toda a seriedade que era possível levando em consideração a hora e o sono. — Eu sei que prometi a você que iríamos tentar ir até lá, mas você já ouviu os pescadores, não ouviu? Tudo o que acontece de ruim a quem tenta passar por aquela barreira… Barcos afundam, uma neblina toma conta do local, tempestades… O senhor Brixton jura que viu trovões e raios impedindo a passagem, mais adiante do que sempre conseguiram chegar.

— E é por todas as histórias que ouvimos que tudo se torna ainda mais interessante. Além do mais, senhor Brixton não passa de um contador de histórias com um gosto duvidoso para bebidas. Eu não sei se a opinião dele é realmente válida.

— Ok, mas e quanto a senhora Maryditt? Ela conta que essa ilha é escondida por deuses para proteger as amazonas.

— E desde quando você acredita em mitologia?

— Desde que me formei e tive que aceitar que nem tudo se explica pela lógica e razão. Tem muito misticismo rondando cada nova descoberta que nós dois fazemos.

— Está bem, então… Você está considerando seriamente a história da Mulher Maravilha, amazonas, Ilha de Themyscira, Zeus e todo o resto?

— Por que não?

— Draco, essas são histórias de crianças. Aventuras que ouvimos muito tempo atrás, por adultos que queriam nos fazer acreditar que ainda há esperança para o mundo. Que existem super heróis olhando por nós, cidadãos indefesos.

— Você falando assim até me magoa, sabe? Me faz acreditar que o Superman e o Batman não existem.

— Amor!

— Ok, ok! — Finalmente me rendi a sua expressão indignada e decidi levantar. — Você está muito animada para alguém que praticamente não dormiu.

— Foco! O que ia me dizer?

— Vamos tentar ir até a ilha. Eu só quero que você me prometa uma coisa.

— Qualquer coisa. É só falar.

— Se por algum motivo não conseguirmos ir até essa ilha hoje, você não vai dar uma de louca e sair fugida para tentar ir a todo custo, como você sempre faz.

— Eu prometo!

E essa havia sido a última promessa de Hermione a mim. E a única que eu desejei com todo o meu coração que ela cumprisse, o que, infelizmente, não foi o caso.

***

Eu não lembrava exatamente o que havia acontecido e nem entendia como Hermione havia sumido bem debaixo do meu nariz. Tudo o que eu sabia era que quando chegamos na praia, alguns barcos e pequenas lanchas estavam sendo preparadas pelos pescadores locais, mas muitos deles não pareciam animados ou mesmo dispostos a sair dali. O céu ainda estava escuro e o frio estava castigando, mas o verdadeiro motivo para não terem saído com seus barcos era a ameaça de uma forte tempestade. Os poucos pescadores que estavam dispostos a ir pescar tinham barcos muito pequenos e dificilmente caberiam eles e mais alguém. Talvez Hermione por sua estatura mediana. Mas definitivamente, eu e meus 1,90 de altura não teríamos espaço.

Lembro de Hermione reclamando muito, como se aquilo fosse a maior desfeita que alguém já havia lhe feito. E por mais que no início tenha sido divertido, acabei sendo confiante demais ao deixá-la sozinha com um dos pescadores enquanto procurava qualquer comércio para fazermos o desjejum. Alguns minutos se passaram quando eu percebi que não encontraria nada e voltei para onde deixei minha noiva. Gostaria de pensar que era uma surpresa muito grande não encontrá-la ali, mas a verdade é que não teve surpresa alguma, só uma grande pontada de decepção seguida de outra maior ainda, de preocupação. Mas a esperança que ela voltasse era maior que as duas coisas, então esperei por minutos que se tornaram horas. E foi quando essas horas se transformaram em um dia completo, permiti que o desespero tomasse conta de minhas ações. Comecei acionando a polícia responsável pelo pequeno povoado, mas logo descobri que eles não se importavam muito com essas desaparições de turistas. Segundo eles, era sempre assim. Turistas se interessavam na tal ilha misteriosa e encantada, iam até o mais perto que conseguiam e se perdiam no mar com os pescadores que os havia conduzido. Depois de alguns dias, eles sempre retornavam apavoradas e iam embora, sem vontade de retornar nem a suposta ilha, nem a pequena cidade praiana.

Meu desespero era tamanho que não conseguia nem mesmo traçar um plano coerente. Tentei ir a tal ilha, mas antes de chegar na metade do caminho tive de voltar, já que o condutor do pequeno barco que havia ido, não quis seguir adiante nos primeiros sinais de neblina e tempestade que percebemos. Mais dois dias se passaram sem que eu tivesse notícias de Hermione e eu já estava louco. Por horas havia considerado ir ao QG da equipe de resgates ao mar, mas e se Hermione retornasse e eu não estivesse ali? Ela deveria estar apavorada, faminta e com frio. Poderia até mesmo estar gravemente ferida. E caso ela tivesse se afogado? Foi num desses momentos de medo e crise que pude perceber um agito na praia, algo que não era muito normal por ali. Corri até lá e vi que dois homens tentavam apoiar um terceiro pela cintura, enquanto ele passava seus braços pelos pescoços dos outros dois. O homem estava ferido, visivelmente cansado e muito molhado, e eu simplesmente soube que era o pescador que havia conduzido minha noiva até sabe Deus onde. Outra coisa que percebi imediatamente é que ela não estava ali, em lugar algum e que não havia nenhum barco diferente dos que já estavam na costa. Antes que pudesse me conter eu já o agarrava pelo colarinho enquanto outros homens tentavam me segurar, dizendo que ele não estava em condições de responder nada, mas eu não ouvia coisa alguma. Não conseguia assimilar uma só palavra dos outros. Apenas uma coisa saía da minha boca, uma e outra vez: “Onde ela está?”. Após o que pareceu uma eternidade, o homem se esforçou e conseguiu dizer que o barco havia virado e que ele viu quando minha noiva sumiu através da água. Pensei que meu pesadelo já havia começado há dias, mas naquele momento soube que em todo o tempo, aquele havia sido apenas um sonho ruim e incômodo. O verdadeiro pesadelo começou com a afirmação daquele homem.

Depois que já havia se recuperado, o pescador contou com detalhes o que havia acontecido. Hermione lhe ofereceu muito dinheiro para levá-la até a tal ilha e o homem, mesmo com medo do mau tempo, aceitou sua oferta. Foram devagar, por medo da tempestade que estava prestes a cair, mas em certo momento perceberam que estavam entrando no, até então, lugar de acesso impossível. Com o início da tempestade e a neblina seria muito difícil seguir, mas Hermione estava determinada a encontrar o lugar e prometeu dobrar o valor da proposta que lhe fez, então, é claro, ele continuou. Mais tempestade, neblina e relâmpagos começaram e ele disse que até mesmo Hermione se apavorou e decidiu que o melhor a fazer era voltar para a praia. Foi quando ele deu meia volta no barco que tudo aconteceu. Vendavais começaram a surgir de todas as direções, a água se agitava com violência e o barco virou. Hermione e o pescador ainda nadaram, lutaram com as águas e conseguiram se agarrar ao barco, que ainda boiava. Foi então que sentiram uma forte onda e o barco quebrou no meio. E daí, tudo o que ele viu foi Hermione lutando para conseguir se manter boiando, mas o pedaço do barco aparentemente atingiu sua cabeça e ela desmaiou. O homem ainda disse que com muita dificuldade tentou agarrar uma das mãos de minha noiva, porém mais uma onda forte veio, e no momento seguinte Hermione sumiu.

A partir daí, avisei a todas as pessoas que a amavam e eles se desesperaram. Seus pais pagaram várias vezes equipes de busca para encontrá-la. Nossa amiga Pansy, que era uma nadadora profissional, tentou ir até o ponto em que Hermione se perdera, para pelo menos ter uma pista sobre ela e no pior dos casos encontrar seu corpo. Todavia, isso não obteve sucesso algum, uma vez que o pescador afirmou que estavam perdidos quando tudo aconteceu. Eu não sabia o que pensar. Havia passado meses sofrendo, tentando encontrá-la de todas as formas, mapeando aquele mar, tentando achar outras costas e cidades que compartilhavam das mesmas águas para ver se conseguia chegar até ela, mas nada funcionava.

Foi depois de seis meses, quando todos já haviam se conformado com o sofrimento da partida, que as coisas começaram a se iluminar para mim. Eu não viveria o luto pela perda de minha noiva, como todos diziam que eu deveria fazer, porque eu sabia que ela não estava morta. E foi exatamente com esse pensamento que fui até nosso escritório. Não ia até aquele lugar desde o acontecimento. Como éramos donos do lugar, apenas aluguei as salas vazias para outros historiadores e pedia para a nossa secretária me mandar tudo sobre os novos trabalhos por e-mail. Entretanto, eu sabia que se fosse até a sala de Hermione, descobriria algo. E eu precisava desse “algo” para encontrá-la. Não para me convencer de que ela estava viva, pois tinha certeza disso, mas para que eu mesmo não morresse de angústia.

Luna me recebeu com seu maior sorriso e me mostrou a sala de Hermione. Elas eram grandes amigas e qual não foi minha surpresa ao descobrir que Luna também acreditava na sobrevivência dela. Por esse motivo fez questão de catalogar todos os casos que Hermione estava estudando antes de nossa viagem, incluindo um sobre a tal ilha. Assim que saí dali, depois de muitos incentivos de Luna, me dediquei a estudar tudo o que havia chamado a atenção de Hermione. E logo descobri a ligação de uma de suas pesquisas a tal ilha e uma mulher. Quem era aquela mulher, eu não fazia ideia, mas tinha certeza que iria descobrir.

Foi rápido descobrir que a mulher se tratava de Diana Prince e que ela era apenas uma pessoa normal que trabalhava no departamento de antiguidades do Museu do Louvre, mas eu sabia que tinha mais. Tinha que haver mais ou Hermione não a estaria estudando com tanto interesse. Se ao menos ela tivesse deixado o seu notebook no hotel em que estávamos, eu com certeza teria acesso a mais pesquisas, porém, ela havia levado-o no dia do acidente.

Entre os trabalhos do dia a dia, as pesquisas sobre a tal mulher e as demais coisas da vida, eu não conseguia encontrar brechas para entender a ligação entre as duas coisas, mulher e ilha, então pedi a Luna que estudasse tudo sobre a ilha e que me mandasse o maior número de informações possíveis, o que ela fez com toda a eficácia possível. Nada era novo, no entanto. Não havia nada de concreto ou verdadeiro naquele lugar, apenas histórias de crianças. Uma ilha cheia de mulheres poderosas e guerreiras, deuses, o lugar de origem daquela que havia sido escolhida para propagar a paz no mundo dos homens e mais mil teorias infantis. E então a ficha caiu…

Apesar de me convencer momentaneamente no contrário, Hermone acreditava nas lendas e no misticismo do local. E como em um passe de mágica eu descobri que não deveria pesquisar só sobre quem era aquela mulher, mas também sobre quando aquela mulher surgiu em nosso meio. Era loucura, eu sabia que sim, mas eu preferia acreditar em tudo aquilo a acreditar que eu a havia perdido para sempre.

Ela estava certa, como já era de se esperar. Ainda mais obcecado pelas pesquisas, consegui acessar um livro muito antigo na Biblioteca Municipal e ali descobri uma reportagem também antiga, dos tempos da Primeira Guerra, com um grupo de “heróis” que foram pouco conhecidos. E lá estava ela na foto, Diana Prince. Ou melhor, a princesa de Themyscira, conhecida como Mulher Maravilha. Fui, então, atrás de Diana, na esperança de que ela tivesse alguma informação sobre Hermione ou pudesse me ajudar a entrar naquele lugar, onde eu cria piamente que era onde Hermione estava. Todavia, como a pessoa sortuda que era, cheguei ali e soube que ela havia sumido há meses, mandando apenas uma carta para o RH e explicando que não poderia mais trabalhar ali e pedindo que ficassem no aguardo de seu advogado, que iria lhe representar no processo formal de demissão, já que ela não estava mais na cidade. Daí em diante, ninguém mais a viu. E foi impossível não achar aquilo estranho e suspeito. Continuei investigando com toda a determinação que havia em mim. Por algum motivo eu sabia que aquela mulher era a garantia de um reencontro com minha noiva. E foi me agarrando nessa certeza que eu segui cada nova pista. Cheguei até mesmo a ir em seu apartamento e arrombá-lo, encontrando apenas uma corda dourada e quente, conhecida nas histórias infantis — ou pelo menos não tão mais infantis assim — como o Laço da Verdade. Vasculhei um pouco mais o apartamento, notando que haviam algumas coisas erradas ali e após avistar algumas coisas quebradas e pelo chão eu tive certeza que aquele lugar ou estava sendo invadido constantemente, ou havia acontecido ali uma pequena luta.

***

Mais meses se passaram sem que eu tivesse a menor ideia de onde Hermione estava e a única que poderia me dar a informação correta, havia desaparecido misteriosamente e sem deixar rastros, mas o fato era que eu não havia desistido um só dia. Havia estudado todas as possibilidades coerentes, voltado ao apartamento mais vezes do que gostaria de admitir e me sentia obcecado por tudo aquilo. Já estava completando um ano que eu não a via e por mais que eu fugisse da dor todos os dias, ela estava lá. A saudade, o amor, a preocupação, a sensação de incapacidade e limitação por não conseguir um meio de trazê-la de volta e outra infinidade de sentimentos que eu sabia, se permitisse que eles viessem, sucumbiria.

Cansado de tudo aquilo, eu havia tomado a última decisão sobre o assunto: eu chegaria aquela ilha, ou morreria tentando, mas sem Hermione eu não ficaria nem por mais uma semana. Fui até a cidade praiana e não pedi para que um pescador me acompanhasse. Não queria envolver mais alguém naquele risco, então aluguei um barco e fui, assustado, inseguro, temeroso, mas com a certeza de que aquela viagem daria em alguma coisa.

Os ventos fortes e a neblina me deixavam com um tremendo frio na barriga, mas nada se comparava ao medo que eu estava sentindo ao avistar de longe aquele absurdo de nuvens escuras, que demonstravam que a qualquer momento o céu cairia sobre minha cabeça. Os trovões, raios e relâmpagos estavam ali, me desafiando a prosseguir. Já estava há horas ali, com fome, frio e bastante assustado, tendo quase certeza de que estava perdido, mas eu não desistiria de encontrar o amor da minha vida. Apesar de a situação não estar das melhores, tudo piorou quando as ondas começaram a se agitar demais e a tempestade caiu. Então eu tive certeza de que estava muito perto… A ilha estava ali, deveria estar a poucos metros de distância. O ânimo me fez esquecer por um segundo das dificuldades que havia enfrentado até ali, porém, um forte estalido me fez acordar e eu percebi que o barco havia rachado ao meio com a violência da água. A qualquer momento ele iria quebrar ou virar, se não acontecesse as duas coisas ao mesmo tempo. A adrenalina me fez tomar a atitude mais estranha possível e eu me joguei na água.

Enquanto lutava para não me afogar naquelas águas revoltas e fortes, agarrei minha mochila e percebi que algo brilhava ali, se destacando. Abri o fecho com alguma dificuldade e percebi que o Laço da Verdade parecia estar mais brilhante e vivo do que nunca… Talvez ele conseguisse sentir a presença daquelas que eram as suas donas por direito, o que significava que eu só precisaria aguentar mais um pouco. Foi me agarrando àquela esperança que eu continuei. E como se estivesse desafiando as leis da física sobre matéria, o laço simplesmente começou a sumir. Com o pedaço que sobrou, eu simplesmente o segurei e senti algo me puxando, ao mesmo tempo que mais uma onda me acertava com uma força descomunal, me fazendo afogar. Pensei estar delirando quando, segundos depois desse episódio, vi o céu tão azul, as águas haviam se acalmado e eu parecia ter chegado ao paraíso. Então era assim que as pessoas se sentiam quando estavam mortas? Era estranho me sentir tão vivo? Mas minhas teorias sobre a morte simplesmente desapareceram quando percebi que não havia sido o laço a me puxar, como eu acreditei no princípio. Havia uma mulher, com as mãos fortes e ásperas me puxando. Era muito bonita, mesmo que não fosse tão jovem, e sua força me admirou. Ela nadava com uma mão enquanto me puxava com a outra, como se eu fosse a coisa mais leve e pequena que ela já havia visto na vida. Quando cheguei na areia, ainda tossindo muito e tentando respirar, pude perceber que ela vestia uma armadura em formato de vestido e então eu finalmente entendi que estava na ilha, que as amazonas eram reais e que eu não estava louco… Ou estava e aquilo tudo não passava de uma fantasia?

Os meus questionamentos não puderam continuar, quando percebi que estava sendo erguido por mais duas mulheres, e uma delas me amarrava com uma corda grossa e forte. Os rumores imediatamente começaram. Elas perguntavam tudo ao mesmo tempo: quem eu era, como havia conseguido chegar ali, quem mais teria vindo comigo e poderia entrar na ilha, como eu havia conseguido o Laço, onde estava Diana... Era incrível e confuso, mas eu me contentaria em admirar tudo aquilo depois. Naquele momento eu vasculhava cada canto onde meus olhos podiam chegar. Onde estava Hermione? Será que elas a haviam prendido como uma prisioneira? Alguns minutos se passaram eu percebi que elas faziam mil perguntas usando vários idiomas diferentes, entre eles, francês, italiano e espanhol.

— Eu entendo quando vocês falam em inglês.

— Então já nos deveria ter respondido. Quem é você e por que está com o Laço da Verdade que estava com Diana? — A mulher que me tirou da água perguntou com seu tom furioso e assustador.

— Saory, acho que devemos chamar a rainha antes de começarmos o interrogatório. — Uma mulher de cabelos pretos e lisos disse séria.

— Então vá, Mérida. O que está esperando?

E a resposta que a mulher deu, foi simplesmente virar-se de costas e correr muito rápido, como eu nunca havia visto alguém correr antes. Mas ela era uma guerreira criada por Zeus, não era? Essa deveria ser a menor das suas habilidades.

Enquanto os minutos passaram, minha ansiedade aumentava e a certeza de que Hermione estava ali também. A pergunta que não saía da minha cabeça era a seguinte: Ela estava sendo tratada como convidada ou como prisioneira?

Essa pergunta foi respondida assim que eu a vi, vindo com uma mulher loira, com uma beleza nata e poucas rugas de expressão. Aquela deveria ser Hipólita, porém eu não estava me importando com aquilo, só conseguia encarar Hermione. Séria, linda e com aquela armadura que me fazia sentir coisas nunca antes sentidas. Seus olhos decididos me encaravam com algo que eu não esperava ver. Parecia que ela estava tentando lembrar de quem eu era. Isso me assustou, mas ignorei novamente. Talvez ela estivesse tão em choque quanto eu.

A saudade se misturou ao medo que eu carreguei por um ano, de perdê-la. E esse sentimento se misturou aos outros que eu nem sequer sabia que estava sentindo, entre eles o alívio por ver que ela estava ali, bem e saudável. Minha noiva e o amor da minha vida estava ali, bem na minha frente, depois de um ano sem que eu tivesse notícia alguma dela.

— Hermione! Eu sabia que te encontraria aqui, meu amor. Estou te procurando feito louco há um ano.

E assim que eu disse isso, Hermione arregalou os olhos e empalideceu como se aquela revelação tivesse lhe causado o maior susto da sua vida. E então eu tive certeza, mesmo sem entender o porque: Hermione não lembrava-se de mim.