"Dê-me um herói, e eu lhe escreverei uma tragédia." - F. Scott Fitzgerald.

Ela se sentou na beirada da mesma ponte de onde ele pulara algumas noites atrás, perto da Catedral Notre-Dame. Não havia sangue, e ele não deixara nada para trás. Não havia nada.
Nem mesmo arrependimento.
E era isso o que a deixava tão... Solitária, e pensativa.
Era final de tarde em Paris; o sangue que escorrera pelas ruas daquela enorme cidade durante a noite das barricadas ainda não fora inteiramente limpo, e ainda haviam alguns corpos largados na rua.
A jovem ponderou sobre a última coisa que ele teria pensado antes de cometer suicídio. Teria sido seu passado obscuro? Teria sido o prisioneiro que ele perseguira por tantos anos? Teria sido... Ela?
Não, com certeza não fora ela.
Justo ela, a jovem Éponine, que passara todos os seus anos em Paris o admirando e amando silenciosamente, sem deixar que ninguém percebesse.
Principalmente o próprio Javert.
"Ele era um herói", ela pensou, a beira de lágrimas. "Ele era o meu herói".
Ele a salvara de ser estuprada por Montparnasse diversas vezes.
Salvara-a de sofrer abusos pela parte de seu pai.
Salvara-a da tristeza e da solidão.
Ele a salvara de todo o mal que podia ameaçá-la naquele mundo cruel, mesmo sem nem perceber tal fato.
"Ele era um herói", ela pensou mais uma vez, com os pés balançando e as mãos apoiadas na beirada da ponte. "Talvez não para os outros, mas para mim. Ele sempre será um herói para mim."
Ela chorou silenciosamente ao se lembrar que a vida não era um conto de fadas, e que sempre onde houvesse um herói, também haveria uma tragédia.