"Eu não estava realmente apaixonado, mas sentia uma leve pontada de curiosidade." - F. Scott Fitzgerald.

Não era amor. Era curiosidade.

Uma curiosidade que não podia ser cessada de jeito algum.
Uma curiosidade que a corrompia por dentro, dia e noite.
A curiosidade que a fazia ponderar sobre quantas mágoas estavam escondidas por trás daqueles olhos tão azuis e tão frios, e quantas decepções haviam sido armazenadas no fundo de seu coração de pedra.
A curiosidade que a obrigava a observá-lo com atenção todos os dias, detrás dos muros de Saint-Michel, e a mesma curiosidade que também a deixava acordada todas as noites, pensando.
Pensando.
Ela nunca tivera cabeça para pensar, para fazer reflexões profundas ou qualquer coisa assim. Éponine Thénardier era impulsiva, ela agia sem pensar nas consequências.
Talvez fosse por isso que estava tão curiosa sobre ele;
Ela queria saber como o Inspetor hostil conseguia manter a calma e a ordem em tantas situações perigosas, e como fitava a tudo e a todos sem qualquer emoção estampada em seu rosto.
Ela se sentia curiosa em relação ao estranho e desconhecido, ao novo e ao mesmo tempo ao velho.
Ela se sentia curiosa em relação ao que, ou melhor, a quem pensava que conhecia.
Ela se sentia curiosa para saber se havia algo em seu coração além de crueldade e em sua face algo além da indiferença.
Ela se sentia curiosa em relação a ele. Em relação a Javert.
Éponine se sentia estranha quando estava perto dele, de fato. Sentia coisas estranhas, sensações estranhas...
Mas não era amor, não, pelo menos ainda não...
Era somente uma leve pontada de curiosidade que, de alguma maneira, conseguia ser mais forte do que ela própria.