Junho

O resto da manhã decorreu do mesmo jeito, Luigi soltando indiretas ridículas, Eduardo rindo abafadamente e Agatha sorrindo de modo que não entendia nada do que se passava ali.

Eu não via o mínimo de logica nas coisas que eu estava fazendo, mas era divertido. O que foi muito contraditório foi que eu fiquei enraivada pelo Bennet ter me chamado de vadia, mas segundos depois mostrei a ele o que era ser realmente uma vadia... Isso não faz o menor sentido para mim, mas tenho que assumir que foi divertido.

Perto do pôr-do-sol eu me despedi de todos e fui para casa com tanta informação que nem mesmo parecia que era eu.

Já havia tomado banho e tirado todo o cloro do cabelo e corpo ainda na casa de Luigi, graças a insistência de sua mãe e depois disso, ela havia me chamado para ver um filme com eles, a cara de seu filho ficou ainda mais emburrada quando ela nem mencionou o nome de Eduardo na lista de convidados para aquele cinema de sala.

Cheguei em casa e não havia ninguém, meus pais provavelmente tinham chegado do clube com minhas irmãs e saíram para outro lugar logo depois e nem se deram o trabalho de ligar para mim.

Fui até meu quarto, joguei minha mochila em qualquer lugar e depois me joguei na cama com toda a vontade do mundo. Peguei meu celular e liguei para Isa, que não sabia de nada e teria mais de uma surpresa hoje.

Depois de dois toques, ela atendeu.

Você não consegue passar um dia sequer sem ouvir minha voz? Ok, pode assumir que ama o som de minha voz – amava mais ainda a explicação que ela iria dar – E ai, o que rolou na casa do galinha mais cobiçado da oitava série?

– Isa! Meu Deus, você tem que saber das coisas que ele me contou! – não iria ser tão fácil assim, eu ia jogar verde para colher maduro – Luigi não é tão ruim assim, ele é bem legal na verdade, acho até que depois de hoje, podemos ser amigos! – ouvi a risada de Isabella no outro lado da linha – Mas enfim, ele me contou o nome de todas as meninas que ele ficou! E não foram poucas... Quer dizer, as da oitava série... Cada ogro feio, não sei como ele conseguiu trocar saliva com aquele tipo de gente, sério.

Ele te falou todas as meninas que ficou lá do colégio? Todas? Todas mesmo? – seu tom de voz era assustado, por dentro, eu ria das palavras que saiam de sua boca.

– Bem, nem todas, ele não me falou alguns nomes não é? Algumas ele deve ter muita vergonha de falar, mas eu nem liguei, foram tantos nomes que eu nem senti tanta falta assim. Mas enfim, não sei quem é pior, as nojentas lá do colégio por ficarem com ele ou ele por aceitar ficar com aquelas garotas que se humilham por um pingo de atenção. Fico impressionada com a vadiagem desse povo.

Eu também. Eca. Quem em santa consciência fica com Luigi Bennet? Ele já ficou com tantas garotas que não se pode contar com os dedos... Quem sabe ele tem alguma doença, ninguém sabe onde ele enfia aquela boca. De hoje em diante eu nem chego perto dele, vai que é contagioso!

– Quanta hipocrisia cabe em você? Será que é contagiosa também? Que coisa feia Isabella Ferraz, mentindo para sua melhor amiga. Isso é um exemplo de confiança, talvez um selo. Posso anotar o dia de hoje como o dia que fui traída pela minha melhor amiga por ficar com um cara que eu odeio! – palavras saiam como um canhão, quanto mais eu falava, mais vontade de falar eu tinha – Então quer dizer que se você soubesse que ele ficou com todas essas meninas, não teria ficado com ele? – Isa ficara muda, não dissera nada, simplesmente congelara com o celular agarrado a orelha – Vai falar ou o gato comeu sua língua? Depende do gato né? Se ele se chamar Luigi Bennet, talvez ele volte. Porque você pode fazer mais coisas com ele, quem sabe ele arranque sua calcinha também, seu sutiã, vai variando de acordo com o seu humor.

Eu não queria contar porque sei que você odeia qualquer pessoa que tenha ficado com o Luigi e achei que...

– Não posso odiar a mim mesma – a interrompi seca, sem expressar nenhuma emoção, e então, Isabella congelara mais uma vez do outro lado da linha – Sim, ele me beijou hoje, na casa dele. Pode me chamar de hipócrita depois disso tudo, mas quem pegou o telefone para falar á suposta melhor amiga que pegou o menino mais gato e galinha do colégio fui eu, não você. Não esquecemos isso. Mas enfim, voltando ao assunto, ficamos duas vezes, brinquei com ele e depois me chamou de vadia.

Clary...

– Calada. – a cortei, balançando os pés de forma rara, agitada e rápida. Eu estava nervosa, muito empolgada também, eu sentia na ponta do meu estomago, um sentimento bom o bastante para merecer mais alguns dias e talvez meses de glória como resultado. Endireitei meu corpo e sorri, me preparando psicologicamente para o que eu falaria a seguir – Você tem duas opções. Primeira: Esquece que um dia foi minha amiga e vai correndo para Luigi, porquê além de mim, ele é a única pessoa daquele colégio que consegue passar mais de dez minutos conversando com você sem se irritar.

Tenho que declarar que essa não é a opção mais acolhedora, mas como eu infelizmente não estou em situação de escolher muito, estou a todos ouvidos para a segunda opção.

– Vamos mostrar quem é a vadia. – numa alegria contagiante, murmurei com um sorriso nos lábios.

– Essa raiva toda é impulsionada pelo beijo, por ele te chamar de vadia ou por sua amiga piranha? – Isa soltou uma gargalhada abafada e continuou esperando minha resposta.

– Um pouco de cada.

– Me lembre de te irritar mais vezes para conseguir despertar o ser maquiavélico que habita seu interior. – agora sim ela ria de verdade, gargalhadas contagiantes e estranhas, como uma hiena parindo um unicórnio – Ah! Essa o colégio precisa ver! Clarissa Dawson, nossa nova vadia. Bem vinda ao clube.