That's My Secret

A oitava série e seus podres


Fevereiro

Bem, a oitava série em si é um podre. Mais podre que ela, sou eu. Clarissa Dawson, idiota o bastante para não fazer merda nenhuma o ano inteiro e achar que iria passar de ano. Bem, isso foi mais um motivo para eu odiar minha segunda oitava série, o fato dela ser uma SEGUNDA. Bem, se vocês não forem tão burros quanto eu, são que isso significa que eu estou fazendo a oitava série pela segunda vez.

Eu tenho 14 anos, faço 15 em maio. Isso dá a mim um ponto, por passar alguns meses fingindo ser uma aluna normal da oitava série. Não, espera aí... Todos os alunos me conhecem, todos os professores me conhecem, toda a escola me conhece, não posso fingir que sou uma aluna normal, porque alunos normais de oitava série tem 14 anos, não 15 – exceto por aqueles que fazem aniversário no final do ano – mas essa regra não se aplica á mim.

Muitas pessoas me chamam de dramática, mas eu estou apenas relatando fatos! Meus pais pagaram uma escola de XX reais mensais, eu estudei durante quase nove meses e para piorar as coisas, eles tiveram que pagar 5 recuperações, cada uma custando XX reais. Calculemos que eles gastaram mais de mil reais – o que para uma pessoa como eu que não tem dez reais no bolso, é demais – apenas comigo, tirando o caso que eu tenho mais duas irmãs e o outro caso que uma delas também perdeu de ano. Pelo menos uma de nós havia passado direto – Mary, que não conta muito, por ter apenas oito anos.

Voltando ao colégio, eu odiava cada pedaço daquele lugar. Ele não era ruim, um pouco, mas na minha cabeça, tudo aquilo era culpa deles. Bem, eu sou maluca, então ignoremos isso.

Primeiro dia de aula, eu sentei no fundo da sala e encostei a cabeça na mesa e fui tentar dormir. Atitude de quem quer repetir de ano mais uma vez, mas o que eu queria realmente, era mandar todos eles tomarem nos seus devidos orifícios anais. Pelo menos eu estava usando termos científicos, o que ajuda a não parecer tão obsceno.

O professor entrou na sala, batendo os pés de maneira ritmada e forte. Como se quisesse atrapalhar o cochilo de uma certa repetente.

– Bom dia classe! – ele disse com certo entusiasmo na voz. Mas que classe? Haviam no máximo 15 alunos na sala. Os famosos otários que vivem para estudar e aqueles que são obrigados a virem para o colégio, tipo eu – Hoje não vamos fazer coisas a não ser apresentações, que suponho eu, teremos que fazer novamente semana que vem, pois eu ficaria realmente decepcionado se nossa classe tivesse apenas 18 alunos – eu adoraria – Bem, eu sou o professor Augusto, eu leciono Ciências. Alguém aqui gosta dessa matéria?

Eu levantei a mão, por parte, ciências é legal, até você estudar o ser humano, que torna o assunto chato e lento.

– Clary, vejo que você criou interesse em ciências desde que essa matéria a reprovou – ele sorriu sarcástico e continuou olhando para minha mão levantada – Então Clarissa, o que mais gosta em ciências? Especificamente em anatomia humana, que é nosso assunto.

– Bem, Augusto – falei de modo sonolento – eu adoro o fato de seres humanos terem que dormir pelo menos oito horas para poderem ter mais atenção nas coisas e até aprenderem mais rápido e suponho que aulas, sete horas da manhã não ajudam muito no desempenho dos alunos.

– Suponho que você não tenha dormido as oito horas – neguei com a cabeça – Então, por que não dormiu mais cedo ontem?

– Porque tem uma coisa que eu prezo muito, chamada vida social, que adolescentes normais tem. – alguns alunos riram de minha piada sem graça, afinal, era a única coisa um pouco engraçada que aconteceu durante todo o dia – Professores normais também tem vida social.

– Alunos normais, minha querida Clary, não são reprovados. – e foi ai que eu falei sem pensar.

– E professores normais, meu querido Gu, não namoram com alunas. – e foi ai que a classe inteira ficou calada.

Augusto tinha 24 anos, era alto, com cabelos pretos espetados de forma engraçada, uma pele clara e olhos muito escuros, ele não era chato, na verdade, era um dos melhores professores, mas a partir do momento que essa foi a única matéria que fui reprovada, comecei a odiar tanto a matéria quanto o professor – mais uma das minhas maluquices.

– Não vai fazer nada com ela? – um dos alunos perguntou, esse eu conhecia. Era Alexander Williams, metido a inteligente, mas que sempre ia para recuperação, tirava banca de riquinho e era bem chato.

– Na verdade, ela está certa. – Augusto murmurou com certa decepção na voz – Professores normais não namoram com alunas no terceiro ano. Mas você Clarissa, não devia se rebaixar a isso e me afetar falando essas coisas. Você é brilhante. Relaxada, mas brilhante. Lembre-se de que é mais que isso. Quero conversar com você depois das aulas.

Revirei os olhos com aquele discurso moralista de “Você é melhor que isso. ” Meu Deus, aquilo era tão antigo, chato, démodé que dava nos nervos. Sério professor? Podia usar algo desse século, não acha?

– Que porra! – Williams gritou, e todos o olharam como se ele estivesse invocando o demônio.

Augusto revirou os olhos e continuou olhando para Williams, com uma expressão de paisagem.

– Não vai fazer nada comigo? – ele gritou, olhando para o professor com desprezo, como se espere algo á mais.

– Clary, você pode responde ao seu colega de classe o porquê de minha pessoa não fazer nada com a dele? – Augusto voltou a sorrir sarcasticamente – Se acertar, não precisa ter aquela conversa comigo.

Pensei por três segundos e falei:

– Williams, a palavra porra não é em si um xingamento, pois porra não é nada mais que o líquido que é ejaculado pelo homem durante o ato sexual. Líquido de espermatozoide. Não um xingamento. Agora se o ser humano adquiriu a mania quase ignorante de achar que isso é um xingamento. Então, o professor não pode mandar você para a diretoria ou coordenação por você ser um boboca.

– Cala a boca vadia, ninguém falou com você. Professorzinho de merda.

– Mas ele pode te mandar para a coordenação por isso – sorri vitoriosa, eu queria levantar e estapear sua cara, mas me contive e continuei com meu sorriso – E professor, eu ainda quero ter essa conversa, daí poderemos conversar sobre quem eu sou ou quem eu deixo de ser, deixando bem claro. – pisquei para ele de forma irônica e rolei os olhos quando ele começou a dar o assunto.