Tenshi no Tamashi

Capítulo 156 - O Dever da Batalha vem da Manipulação entre Estratégias


O amanhecer se manifestou, clareando o recinto da cidade no pico da montanha mais alta daquela cerca natural sólida. E por volta do clarão do astro, a cidade fora se mostrando, revelando seus contornos, ruas, residências e prédios, tudo indicando que seria apenas mais uma cena comum, em um dia comum. Mas claro, não era bem assim que as coisas estavam ou seriam.

As ruas e trajetos, estavam todos destruídos e arrasados. O asfalto que os cobria fora deixado articuladamente de lado, encima das calçadas, deixando trilhas de terra, assimilando canais que circulavam por todo o local. Bom, todas as pessoas que residiam naquela cidade foram aprisionadas, e algumas delas foram mortas para virarem “casacos” aos Raptores. Devido a isso, a cidade estava completamente deserta. E bem ao norte da cidade, estava a torre de transmissão.

Ela detinha seus dez a doze metros de altura, tendo uma história de construção por mais de dez anos, como também ter sido um dos espectadores da criação da cidade. E diante disso, ainda funcionava muito bem. O calor da manhã começava a abraçar a cidade, pois a noite fora fria de uma forma inesperada. Perto das 7 da manhã, tudo estava iluminado, e isso facilitava a observação.

Kazan observava pacientemente da torre de transmissão, sentado em seu topo. Sua isca perfeita havia adormecido, presa à corda no cabo principal da torre. Esta pessoa em questão poderia se livrar facilmente, mas por conta da falta de seus poderes, não tinha escolha. O General havia comandado aos Raptores de que ficassem à espreita perto da torre em grupos de grande número. E estes portavam quaisquer meios que lhe beneficiassem, uns portavam caminhões de carga pesada, outros tinham motos, carros, e até helicópteros. A artilharia do exército demoníaco do Anjo Caído estava dominante, certo de que seus planos se realizariam.

— Eles apenas têm uma rota de vinda. – Murmurava para si. – Não importa como, o Querubim deles irá sucumbir sem um Avatar perante essa artilharia toda...

O barulho do rádio tirara sua atenção.

— O que foi?

— Parece que estão vindo. – Notificou um dos Raptores. – O alvo está entre a linha de frente...

— Ótimo. Assim que eu os sentir, mandarei meu sinal. – Mandou o General. – Fica na escuta.

O câmbio do rádio desligou, e um sorriso de empolgação cresceu no rosto do General. Ele respirou fundo, e concentrou sua aura para tentar captar os invasores.

— Ralph está se alguma forma inviável de senti-lo, mas os outros não possuem nenhum meio de se protegerem de serem detectados.

Diante de sua meditação, Kazan focou toda a sua atenção na cidade, e um minuto depois, sentiu uma presença. Um anjo! Mas, ele tinha outro tipo de detecção: a de calor. Com esta, ele viu que o anjo estava acompanhado de um parceiro, o que o deixou confuso. Se eram realmente eles, cadê os outros?!

— Câmbio! Qual é a situação?! – Disse, comunicando pelo rádio enfurecido. – Porque só há dois anjos?!

— S – Senhor, esses dois são...

***

— Acha que esse plano vai funcionar, Capitão?

— Não vejo maneira melhor de confundir esses demônios do que esta, não acha? – O barulho do veículo deixava sua voz abaixar uma oitava. – Vamos vencê-los usando nossa nova melhor posição!

— Tivemos outra, por acaso...

— Esquece...

Era de fato, dois anjos muito cabeças-duras que resolveram tomar a dianteira da empreitada: Ralph e Race!

— MAS QUE MERDA É ESSA?! PORQUE ESSE IDIOTA ESTÁ NA LINHA DE FRENTE?! – O General ria freneticamente com a pura ironia. Mas estava furioso também. Pois, de alguma forma isso o deixara abalado. – Ele só quer ser capturado mais rápido, por acaso?!

Os dois corriam de moto em alta velocidade pela cidade, mesmo de onde estavam, podiam ver a direção da torre. Não tinham certeza, mas sabiam que Mariah estava presa bem na torre. Eles poderiam voar até lá, mas graças a Race, Ralph não tomara essa decisão.

— Capitão, como suspeitava, o cheiro não falha. Esse lugar está fedendo à demônios. – Expressou o Querubim, torcendo o nariz.

— Sim, e Belfrior nos alertou que há helicópteros por aqui. Por isso, essa é a nossa melhor alternativa.

Eles avançaram pela trilha de terra, totalmente esburacada. Desde que adentraram na cidade, tudo estava silencioso.

Só que, sem aviso nenhum, um barulho de motores de automóveis foi manifestado, ouvido por eles, que resolveram virar de rua do que a esquina, mas o número de aparições de mais sirenes surgiu. Foram encurralados, por trás mais precisamente. Ou pelo menos os Raptores pensavam que sim. Sons de explosivos se manifestaram, e o prédio à esquerda da rua onde os dois entraram começou a despencar, caindo sobre eles. Race agiu rápido e saltou da moto em direção ao prédio, esmurrando-a com força, fazendo-a ficar estacionada no ar durante alguns segundos.

— Race! Meia-volta, agora! – Berrou o loiro, segurando a moto do parceiro.

Era provável, como dito antes, de que os Raptores estavam atrás deles, seguindo o fato de terem escutado os sons somente na retaguarda. Race fez uma forte pressão apenas socando o ar, empurrando o prédio justamente na retaguarda, criando uma enorme cacofonia de barulho, abalando os prédios ao lado, levantando muita poeira. Esta cortina de pó pôde ser vista de longe. Como esperado, os dois saíram ilesos. Pelo menos cerca de vinte a trinta demônios foram mortos com esse contra-ataque.

— Começamos bem, vamos lá! – Disse o loiro, acelerando o quanto podia. Os dois viraram uma esquina do que parecia ser uma rua principal. Por ser longa. Só que, por terem chamado atenção, não poderiam ser mais discretos, e logo mais Raptores surgiram no início da rua, já começando a atirar, e por não terem notado antes, os anjos não puderam defender-se, mas as balas foram chicoteadas!

Não seria preciso dizer que os Raptores ficaram chocados.

Ralph contra-atacou com uma rajada de vento, mirando nas rodas dos veículos, furando-os facilmente. Uma distração perfeita. Eles continuaram o trajeto.

— Como assim atiraram e não surtiu efeito?! – Esbravejou Kazan, furioso.

— N- Não sei, chefe! Os caras atiraram e as balas foram refletidas, como se algo os protegesse! – Explicou aflito o Raptor.

— Refletidas... – Kazan pensou um pouco na situação. E ficou surpreso logo depois. – Não pode ser...

O General ficou pensativo durante alguns minutos.

— Cara, eles realmente nos pegaram... vamos ter que agir antes que cheguem até aqui!

Acima de Kazan, uma grossa nuvem começava a se locomover.

***

— Funcionou mesmo... – Expressou Race. – Eles são incríveis, mesmo!

— Sim... – Ralph lembrara-se da estratégia que formara com todos.

**

— Eu tenho algo em mente. – Expressou o loiro.

Todos ficaram quietos para escutá-lo.

— Tendo em mente de que iremos para outra cidade, a possibilidade de que aja vários Raptores na entrada da cidade sejam muito altas. Por isso, não vai ser possível aguentarmos tudo por nós mesmos. Poderíamos voar até lá...

— Não vai ser uma boa ideia. – Disse o Querubim.

— Eu pesquisei sobre a cidade e ela detém de helicópteros. Iriam ser pegos facilmente. – Completou o Serafim.

Ralph começou a pensar em uma solução. Até que algo veio à sua mente no mesmo instante.

— Certo, então. Mas ainda precisamos de uma maneira de nos locomovermos rapidamente, por isso podemos usar as motos. Precisamos de proteção, e ela virá... de vocês dois!

**

Nem a meditação ou a visão de calor alcançavam a encosta da montanha. Todos os outros estavam lá. Com o poder de Áries e Belfrior, eles criaram uma espécie de escudo corporal em Ralph e Race, impedindo balas e explosivos de os ferirem. A concentração deveria ser máxima, portanto, iriam ficar vulneráveis à ataques inimigos, e para esse cargo, Jack e Gigan estavam de guarda.

— Parece que eles já devem estar no meio da cidade... – Expressou o Querubim, observando a cortina de poeira levantada por causa da série de prédios derrubados.

— Ao que parece, eles já foram atacados. O Escudo Psiquê está funcionando perfeitamente bem. – Analisou o Serafim.

— Teremos que aguentar até que ambos cheguem bem até a torre. – Lembrou Áries, suando devido à extrema concentração exercida.

— Mas não estamos exatamente em segurança. – Interveio Jack. – Se já souberem do escudo, descobrirão que foi feito por Serafins.

— Bem, não importa. Estava nos planos, afinal. – Disse Belfrior. – Apenas temos que garantir sua segurança e lhes dar tempo. O quanto for preciso.

O sol começava a subir. Já era nove da manhã. O tempo estava aberto, mas nuvens haviam chegado. Kazan estava impressionado com a ideia de Ralph, mas ele também era um estrategista, portanto, já estava com algo em mente.

— Vamos ver se irá continuar com essa confiança toda! – Ele se levantara, e descera até onde Mariah estava, cerca de três metros abaixo de onde ele estava. – A hora do show começou!

***

Não tardou a demorar para que mais demônios aparecessem. Eles resolveram virar a esquina seguinte, só que dessa vez, os Raptores foram mais rápidos. Um caminhão de carga parou bem no final da rua, fechando a passagem. Ralph bufou, dando meia-volta com a moto para ir pelo outro caminho, mas este também fora barrado. Vários motoqueiros e mais alguns automóveis vieram à toda velocidade. Os motoqueiros portavam armas calibre 40 a 50, sempre com os parceiros no banco de trás, além dos Raptores nos automóveis portarem praticamente ao mesmo tempo.

Ralph teve o instinto de parar e desviar dos tiros, mas Race, sem medo, foi em frente, ainda mais confiante com a proteção dos Serafins. As balas eram refletidas antes que o acertassem, e isso possibilitou de que ele decapitasse quatro Raptores de uma vez por ter se aproximado.

O momento de tensão momentâneo sumira de Ralph, e pronto para ajudar o parceiro, ele lançou várias rajadas de vento consecutivas, mas desta vez, ele foi mais decidido, atacando os Raptores também. O loiro acelerou e, junto ao Querubim, atacaram juntos um dos carros, como se fossem uma muralha ambulante. O carro foi arremessado até o outro quarteirão, totalmente estilhaçado. Nisso, já tinham passado dos outros dois carros, e viraram a outra rua, de forma a quererem contornar o caminho inicial. Porém, algo explosivo foi lançado contra eles de cima, acertando-os em cheio, mesmo assim, saíram ilesos (o Escudo Psiquê estava sob as motos também), mas o susto o deixaram atordoados por alguns momentos.

Ralph olhara para cima, e notou que eram raptores no topo dos prédios portando bazucas. Pelo menos vinte deles estavam nos prédios mais próximos.

— Tsc! Esses caras não desistem, não? – Retrucou o loiro, estressado.

— Desse jeito, precisaremos ir até eles. – Analisou Race. – O que faremos?

— Bem...

A conversa foi abruptamente interrompida quando algo imenso atingiu um dos prédios próximos deles, causando uma forte explosão, derrubando-o junto com os Raptores que nele estavam. O que se seguiu após deixou os anjos chocados, pois no céu estava uma chuva de bolas de fogo! As bombas de fogo atingiam sobre os prédios da cidade, destruindo tudo. Todo o local fora abalado. Ruas, trajetos, residências e tudo mais foram destruídos. O que sobrara do lugar estava sob uma imensa nuvem de fumaça, assimilando uma cabeça de cogumelo pela forma. O céu, outrora igual, permanecera cintilante pela constante queda das chamas gigantes.

O fenômeno abalara os outros que estavam fora da zona de risco.

— O – O que está acontecendo?! – Forçou-se a dizer Belfrior.

— Isso foi o ataque inimigo?! – Questionou Gigan.

— É pior do que pensei... – Expressou Jack, incrivelmente surpreendido.

— Espero que o Escudo não tenha falhado agora... – Murmurou Áries, preocupada.

Os destroços que restaram com o fim da chuva de fogo estavam espalhados por todo o lugar. Ralph empurrou metade de um prédio para não ser soterrado com seu poder de vento, enquanto Race fizera a mesma coisa usando sua extrema força. Estavam bem, incluindo suas motos, mas o ataque sucinto fora inexplicável.

No topo da torre, Kazan visualizara toda a destruição causada. Sua satisfação pura era óbvia. Agora, ele estava segurando a cabeça de Mariah, que ainda estava adormecida.

— Ah cara, o que eu faria... para ver a cara deles por terem sido atacados pelo ataque da própria companheira!

Com o comentário, a ruiva despertara sonolentamente, e vira o estado atual da cidade. Ela sabia do que ele estava falando.

Ele a olhou irônico.

— Está vendo como é problemática? – Ele a encarou. – É tudo sua culpa, ruivinha.

Em meio ás risadas sarcásticas de Kazan, Mariah fitava o que estava à sua frente com surpresa e amargura. Ela que causara tudo aquilo. Seu poder causara tudo aquilo.

— Pe... pessoal... desculpem-me... – Em meio ás palavras roucas, lágrimas escorriam dos olhos de Mariah, ainda mais tão pesados naquele momento.

Os dois anjos levantaram suas motos. Ralph estava cabisbaixo.

— Como se atreve... – Ele elevou sua voz. – COMO SE ATREVE?!

— Ruiva... – Murmurou Race.

Próximo a eles, todo o caminho estava uma bagunça. Seria difícil ir com as motos. Mas naquele momento, aquilo não tinha importância.

— Race... – O loiro montara no veículo. – Chega de sermos discretos. Vamos em frente. – Ele encarou a torre intacta, ainda há muitos metros de distância. – Vamos ultrapassar qualquer coisa na nossa frente!

— Sim!

Mas, sucintamente, os arredores foram preenchidos por vários Raptores. Alguns feridos por estarem agindo, mas a maioria ali estava escondida, preparada para agir justamente naquele momento. Era como se Kazan realmente faria aquilo de qualquer jeito. O silêncio estabelecido após ás explosões foi quebrado pelos milhares de motores dos veículos dos Raptores.

— O Segundo Round começa agora! – Exaltara o General, ainda contemplando o cenário da cidade destruída.