Tenshi no Tamashi

Capítulo 157 - Mudança de Vantagem


Os dois anjos encararam a vista dos seus inimigos. Os raios de sol começavam a brilhar cada vez mais forte por ser lá para as dez horas. Estavam cercados. Em até dados instantes, não era ouvido nem um ruído, mas este foi quebrado totalmente com o ronco dos motores das motos, que cantaram pneus sobre a pilha de escombros. Aquilo foi o passe para todos os demônios começarem a atacar, mas não foram só apenas eles se movendo também. Em tão somente dois segundos, diversos tiros de metralhadoras foram atirados para bem acima das cabeças dos dois anjos, que só não foram decepados pelo Escudo Psiquê. Tiros de bazuca ao alto pareciam fogos de artifício ao céu, que ao chocarem com o solo, abalavam a estrutura instável dos destroços. Aquilo era um fogo cruzado, não tinha como escapar daquilo tão rapidamente. Ralph contra-atacou os tiros perigosos das bazucas com rajadas de vento, fazendo os dois ataques se chocarem em pleno ar, num show de explosões agora inofensivas e esplêndidas. Como se não bastasse, agora os Raptores se aproximavam cada vez mais deles, não lhes dando muitas alternativas a serem escolhidas.

— Race... Hora de dispersar! – Entoou o loiro, acelerando na frente. – Conto com você!

— Certo! – O Querubim arrastou seu pé contra o solo e moveu a moto de forma circular, criando um tornado de areia repentino. Os Raptores mais próximos ficaram aturdidos, e em questão de segundos, foram decapitados. Antes que os outros demônios puderam perceber, os dois anjos já tinham se separado.

— Isso é meio chato de se usar... – Race havia pego uma das submetralhadoras de um dos Raptores que havia matado. Melhor hora não havia para devolver o troco. – Mas não tenho escolha! – Ele apertou o gatilho, e uma salva de balas saltaram da arma para a cabeça dos demônios, matando cerca de vinte de uma vez. Várias das balas acertaram os carburadores dos veículos, causando uma irradiada explosão perto dos que ainda estavam vivos. Depois de dada revolta a eles, o anjo descartara a arma agora inútil, e prosseguiu com um caminho contrário do que Ralph. De algum jeito, todos os Raptores estavam o seguindo agora.

— Como eu pensei... Raptores continuam sendo apenas um bando de babões! – Ele empinou a moto para ganhar mais velocidade, mantendo uma distância segura dos seus inimigos. Mas logo percebeu que estava sendo emboscado como antes, e agora, ele estava sozinho.

***

— Então vai deixar o companheiro lidar com os demônios, sozinho? – Analisou Kazan, do alto da torre, vendo tudo o que estava acontecendo. – Não sei se isso é confiança demais ou é burrice mesmo, deixando tudo com um... O QUÊ?!

***

Diante de toda aquela situação desfavorável, qualquer um estaria nervoso, ou até com medo, menos Race.

Ele estava sorrindo de empolgação.

— HORA DE FATURAR GERAL COM ESSES IDIOTAS! – Exaltou-se, desviando de todas as balas que via pelo caminho. Não muito longe dele, havia um caminhão cheio de atiradores de metralhadoras, entre outras armas de calibre alto, que agora estavam lhe dando nos nervos, como não viu outra maneira melhor de atacá-los, ele se movimentou totalmente com a moto, e num momento decisivo, seus pés alcançaram o chão, e numa manobra de pura força, ele lançou o veículo para onde os demônios estavam, causando outra grande explosão. Perto dele, havia algumas armas jogadas ou abandonadas, e como estava sem uma maneira rápida de se locomover, notou que não havia escolha a não ser usá-las para seu auxílio.

Os Raptores se convenceram de que agora que o anjo estava sem um veículo, tinham uma vantagem ainda maior, por isso, apelaram para tiros de calibre pesado e de bazuca. Não estavam tão longe de Race, o que indicava que ambos poderiam levar ataques graves e sérios, ou melhor, os Raptores em questão, não para o Querubim. Com uma forte pisada contra o solo, as armas no chão ficaram suspensas no ar em poucos instantes, porém foram momentos mais do que suficientes para que o anjo pudesse alvejar todos - sim, todos. – Os demônios que ali estavam. Race fizera movimentos circulares, atacando e defendendo ao mesmo tempo. Enquanto atirava e descartava as armas, ele usava pressões de ar causadas pela sua espada para contra-atacar os tiros poderosos das bazucas. Em aproximados sessenta segundos o fogo cruzado estava parcialmente encerrado. Não estava completamente porque, somente os que estavam perto dele foram acertados e mortos, mas o Querubim sabia que haviam mais. Muito mais. Para ele, aquilo não fora nada especial, portanto, estava desconfiado. Se ele era o alvo, o inimigo deve ter preparado algo muito pior para ele enfrentar. Vendo tudo aquilo da torre, Kazan observava tudo como se estivesse jogando xadrez. Estava impressionado, mas não acuado.

Ele não podia ver os detalhes dos inimigos com clareza pela distância de onde estava, mas sua visão de calor era perfeitamente capaz. Podendo ser aumentada várias vezes, ele praticamente estava observando de perto, e notou que apesar da habilidade de Race ser tremenda, sua defesa ainda contava com alguns furos, mas isto fora preenchido com o que parecia ser um escudo psíquico, já que magicamente as balas eram refletidas. Pela informação que obtivera, tinha total certeza agora de que aquilo era obra de um Serafim.

— Mal posso esperar para ver a cara dele... Esta batalha só está para começar. – Murmurou o General, confiante.

Seu rádio portátil começou a chiar.

— Chefe. O anjo loiro está vindo na direção da torre. Devemos atirar?

— Já era para ter feito isso, idiota. – Respondeu, desligando o rádio. – Agora, é a minha vez de participar. Vamos ver o quanto este escudo aguenta.

***

Mesmo que tenha se afastado já fizera tempo, o loiro ainda escutara os barulhentos tiros consecutivos dos demônios. Não conseguira deixar de ficar preocupado com Race, mas sabia que o Querubim estava bem. Não era à toa de que ele era o anjo mais forte, e o bem mais preparado para aquela batalha. O caminho estava limpo, mas de repente, tiros vieram até o loiro, sendo refletidos pelo Escudo.

Agora os Raptores estavam focados nele, por estar se aproximando da torre. Sabendo disso, Ralph ficou mais confiante de que Race estava mais seguro. Acelerando ao máximo, o loiro atacava em todas as direções com fortes rajadas de vento, mas não eram o bastante pelo fato dele não ter visto realmente a direção onde os inimigos estavam. Dito isso, os Raptores estavam confiante de que poderiam ao menos atrasá-lo, mas o que não perceberam, era que Ralph só os estava testando. Naquele dado momento, ele já estava há poucos metros da torre, e já estava impaciente de ir até lá por terra. Por isso, ao ver a precisão dos tiros das armas, ele estava convencido de que as balas perderiam a direção se forem atiradas de muito longe.

— Controle Atmosférico! – Proferiu o loiro. Sua energia celeste dominou todo o seu corpo e o veículo também. Mas, antes de começar a levitar sobre o ar, ele pegou impulso acelerando ao máximo o veículo e, como em um salto, ele foi em direção aos céus, na exata direção à torre. Os Raptores, chocados, tentaram impedi-lo atirando nele, mas as balas perderam direção pela grande distância estabelecida, assim como o loiro havia previsto, e nada puderam fazer contra ele.

***

Na encosta da montanha, os anjos esperavam ansiosos e esperançosos. Belfrior e Áries suavam cada vez mais, estavam ao máximo de seus poderes, porém se acostumaram com a essência do Escudo e o controle devido já não era tão grande.

— Quanto mais você acha que vai aguentar? – Perguntou Gigan ao Serafim. – Já se passaram mais de duas horas.

Respondeu, sem fôlego.

— E – Eu vou aguentar! Nem que seja por mais duas horas! – Disse Áries, até mais cansada do que Belfrior, porém muito mais confiante. – Eu tenho que aguentar!

Todos a observaram, sabendo que a tarefa dela era a mais importante.

Não muito longe, alguém com uma faca se aproximava cada vez mais deles.

***

Kazan pressentiu a aura de Ralph se aproximando numa velocidade incrível, e viu ao longe de que ele estava vindo pelo ar montando em sua moto. Mas, aquilo era também esperado pelo General. Claro, não necessariamente desta maneira, mas sabia de que o anjo conseguiria ultrapassar os Raptores. Mas agora sabia que não deveria perdoá-los por tamanha incompetência.

— VENHA, TOLO! – O General juntou suas mãos para cima, e as desceu na direção do anjo loiro. E bem acima dele, várias bolas de fogo gigantescas desceram consecutivamente, a mesma coisa que acontecera antes. Ralph percebeu que Kazan era quem estava realmente protegendo a torre para que ele não a atravessasse, mas aquilo não o impediu. Com o Controle Atmosférico e o Escudo Psiquê, ele encarou as enormes chamas brilhantes, que iluminavam o céu uma vez mais para tentar impedi-lo, mas ainda não estava acabado. Kazan inspirou profundamente e cuspiu uma enorme cortina de fogo, parecendo um véu escarlate que poderia encobrir a cidade inteira. Ao longe, parecia uma cascata de lava descendo contra o solo.

***

Race olhou o imenso poder de fogo, e concluiu de que Ralph já estava se aproximando da torre, mas Kazan o estava contra-atacando. Sua parte estava praticamente feita. Conseguiu servir de distração para pelo menos metade dos Raptores. Estava quase sem fôlego pelo grande esforço que fizera, mas estava contente por ter contribuído tanto. Conseguira pegar uma moto de um dos Raptores que matara, e agora avançava mais uma vez.

Mas foi surpreendido.

Pelo menos mais do que o dobro de inimigos que enfrentara antes o emboscara antes, e estavam com praticamente o triplo das armas, ou seja, um poder de fogo muito maior. O Querubim bufou, vendo que teria mais trabalho do que imaginara, e se preparou para o novo confronto, mas quando começou a ganhar espaço e tentar desviar dos primeiros tiros que o encobriam, sua mente ficou pálida.

Dor.

Quando percebera, praticamente todo o seu torso fora atingido pela salva de tiros, seus braços e pernas também. A dor era tão angustiante, que por dados momentos ele não conseguiu escutar nada, sua visão ficou completamente embaçada, e sem poder desviar, fora atingido por um tiro de bazuca, que explodira na frente dele. O choque do impacto o arremessara para trás. Sua roupa estava chamuscada, seu corpo e membros estavam feridos e seus sentidos, confusos.

Mas a primeira coisa que percebeu não fora o seu estado. E sim, de que os outros estavam sendo atacados!

ÁRIES!

***

Em dado momento de uma batalha, os lados podem ser invertidos.

A questão é a maneira como isso acontece.

Quando todos os quatro anjos perceberam, já era tarde demais. Belfrior fora acertado por uma faca nas costas, cessando sua concentração. O corte fizera uma grande hemorragia nele, o fazendo desmaiar, isso porque sua pressão corporal havia abaixado pela tensão.

Áries ficou aterrorizada, que só conseguia ver a poça de sangue envolvendo o Serafim. Sua mente ficou embaçada, ainda muito mais pela grande concentração de que estava tendo, mas por ter ficado tanto tempo refletindo de como sua tarefa era tão importante, o choque do momento só fizera o Escudo ficar mais fraco, oscilando por qualquer coisa, mas agora, uma forte onda de calor poderia atravessá-lo, por exemplo.

O que Gigan e Jack não entenderam era que, um humano comum havia feito isso. E atrás dele, vários outros estavam se aproximando com armas, como se fossem zumbis.

No alto da torre, Kazan só conseguia rir da situação atual que se encontrava.