Temporada de Caça: Lobos

Através da escuridão chegarei até voce


Marcho tomando a liderança da matilha, correndo pelos caminhos de neve densa, quase me desequilibrando pela profundidade dos montes. Os flocos de neve caem formando um lençol e rasgamos a densidade alva cortando o vento com nossa resiliência. Firmes e focados, perseguíamos o cheiro selvagem da manada de caribus, o som das patas pesadas trotando sobre a neve, cascos resistentes para superfícies instáveis. Assim, com o objetivo definido, a matilha organizada e a fome bestial prestes a romper-se e roubar nossas insanidades, avançamos para uma caça bem sucedida.

Visão trotava ombro a ombro. Cada um ciente de sua função na matilha, um não se intromete na decisão do outro e sugerem melhorias baseado no sucesso da família e preferencialmente, a segurança de Wanda e os filhotes. Dessa forma, há parceria. As renas migram anualmente no verão e no inverno e são as temporadas que mais precisamos de alimentação. A melhor oportunidade é o retorno das fêmeas que deram à luz na região norte e trazem os bezerros retornando para a segunda temporada de suas vidas.

Atento a manada migrando, contornamos ela pela traseira, permanecendo a quilômetros de distância, analisando o momento ideal de atacar e testar as presas, a neve está densa e manejá-los para o declive do terreno seria vantajoso para dificultar a fuga e deixá-los cansar, para então capturar. Começamos a se aproximar e nos dividimos em dois grupos, levo a retaguarda de fiadores para virar o rebanho, não me importando com os que se afastam, era uma aposta alta e pagaria o preço para garantir que toda a matilha fosse saciada. Os caribus aumentam a velocidade significando que o grupo de Visão começou a empurrar.

As nuvens cobriam o céu antes claro, trazendo os raios lunares e o manto roxo enegrecido, a lua acompanharia a exibição de crueldade como um patrono. No meio dos saltos das renas, começava-se notar as dificuldades, lato abrindo caminho entre elas, focado às mães com filhotes, as lentas, mancas ou idosas. Ordeno os lobos irem à frente e dispersam, perseguindo uma das caribus, prendendo pelas mordidas nas patas traseiras e dianteiras, salto mordendo-lhe o pescoço, com impulsos contínuos, até que cai, os gemidos de lamúria rasgam o véu da noite. Capturo o filhote que fugia e trago-o, alguns lobos mordiam a fêmea caída e espanto-os às dentadas, rasgo a carne furiosamente e engulo os pedaços grandes, quebrando os ossos, a besta movida a carne e sangue tem poder e vitalidade que nunca experimentei antes sendo humano.

Enfio a cabeça na carcaça, sentando para raspar as costelas, lambo os beiços que voltam mais sujos que antes, com carne pendurada. Sem sentir os fantasmas da fome, levanto e entrego o restante para a matilha, que parecem piores que hienas; chamo um ômega para avisar Wanda sobre a caça, o lobo arranca um naco e o engole enquanto parte, com olhar relutante para a refeição.

Puxo o filhote e me transformo trazendo-o nas costas. Visão aproxima, agora tingido no sangue do animal. Em humano assente, tanto pela caça quanto pela estratégia, instantes depois os únicos vestígios de refeição eram a mancha rubra na brancura do chão banhado no silêncio da noite. Retornamos conversando e animados, não era uma matilha grande, mas era o suficiente, principalmente com os filhotes de Wanda. Seríamos uma família poderosa.

Encontramos a loba escarlate na metade do caminho e lhe entrego o filhote, rapidamente digere-o sem dificuldades, enlaço seu pescoço e caminhamos, estende a mão para Visão. Devolvo todos em segurança na caverna, os betas e ômegas tinham a caverna onde permaneciam juntos. Antes de entrar vou para a floresta. Encontro Jimmy sentado e lhe jogo a perna do filhote, petrificado, encara-me, vou até o riacho beber água e volto, a carne intacta, dou um riso de canto.

— Está bem adestrado. — Divirto. — Coma. Coma. Coma.

Ele permanece acuado.

— Eu não me importaria se tivesse roubado a presa de Wanda, isso vocês resolveriam…— Me aproximo. — Mas você roubou a carne dos meus filhotes.

As palavras frias congelam no ar gélido.

— Aproveite sua última refeição, Jimmy! — Sinto as gotas de chuva. — Você é inútil para nós.

O animal come a carne, desesperado.

Volto para a caverna, após ver como estavam os outros. Wanda lambia os filhotes, estavam acordados por dormirem a tarde. Visão mantinha seus dois entretidos entre si, dividindo o osso de roer.

Correm em direção ao me verem, me deito no pelego, aliviado. Wanda lambe meus pelos molhados, em uma linguagem de agradecimento. Pego os bebes, agarrando-os em um abraço de urso. Os dez lobinhos se atropelam por meu peito e cabeça, seguro-os jogando para cima e pegando, por ordem de nascimento. Donna, a lobinha marrom, Pietro, o lobinho cinza, Vizhy, a lobinha inteligente, Bernard Strange, o lobinho brincalhão, Alof Maximoff, o lobinho explorador, Loony, a lobinha rebelde, Artch, o lobinho perfeito, Leo, o lobinho pequeno, Bloom, a lobinha caçula e Misty, a lobinha branca. Embora algumas pelagens fossem iguais, as personalidades e as habilidades eram completamente diferentes. Com um respirar de sentimentos quentes, sento puxando Wanda para o meu colo, seguro seu rosto acariciando as bochechas sardentas, beijo os lábios rachados.

— Obrigado! — A abraço contra meu peito, depositando a cabeça sobre a dela. — Você tem sido uma mãe incrível.

Sorri mordendo meu queixo.

— Quando nossas filhas crescerem, você terá companhia para cuidar das crianças. — Observo os filhotes e trago as duas lobas. Se contorcem. — Donna será uma grande loba, mas não acho que seja uma boa companhia para você.

Beijo os pelos marrons e tenta morder meus dedos.

— Vizhy, do contrário, será inseparável. — Beijo a lobinha preta que solta um latido.

— Eles têm um pai heroico. — Agarra as bebês e sorri maternal.

Visão leva seus filhos para dormir. Faço duas viagens levando os nossos.

Bocejo erguendo os braços, foi um dia agitado, como todos os outros. O alfa deita por primeiro piscando algumas vezes, tentando espantar o sono, sigo logo atrás, a mãe fareja os filhos uma última vez e então, deita conosco. Não demoro para pegar no sono apalpando o seio de Wanda e antes, sinto a perna do outro sobre as pernas da loba.

Eu estive nas ruas mais sombrias

Vi o lado escuro da lua

Para chegar até você, chegar até você