A vida em Londres é legal, Blur já se acostumou com a rotina e a grosseria do "puros". Já está lá desde os oito anos, vão se fazer 8 anos que uma tragédia a levou para o fim do mundo. Sentia falta de sua vida nos Estados Unidos, e faria qualquer coisa pra voltar pra lá com sua mãe. Pena que seus planos haviam mudado a pouco tempo.

– Arruma suas coisas, a gente vai sair daqui hoje mesmo. - foi acordada com a voz do desgraçado Afonso.

– E pra onde a gente vai?

– Sua mãe deixou um dinheiro, vamos voltar pro Estados Unidos, não era isso que você queria? Agora anda logo.

Seu desejo tinha se realizado em partes. Não aguentava mais Londres. Lost Hill era uma cidadezinha perdida no mapa, mas era a melhor de todas.

A primeira coisa que lhe passou na cabeça com a ótima notícia foi ligar para Charlie. Um velho amigo. Suas mãe se conheciam desde pequenas, e passaram sua amizade para os filhos.

***

Já a caminho do aeroporto, Blur não tinha trocado uma palavra com seu padrasto. E achava bom isso. Estava a cada segundo com mais raiva dele. O que ele fez não tinha perdão. E sim, foi ele, qual outro motivo para a gente ir embora?

– Sabe, eu aluguei um apartamento lá em Lost Hill, tenho um amigo...

– Você sempre tem um amigo, já percebeu? Você nunca faz algo por si mesmo. Mas também que se foda.

– Agora seria um ótimo momento pra gente se dar bem, estamos passando pela mesma coisa. Entenda, Blur, quero ser seu amigo. Estou sofrendo com a morte de sua mãe, também. Foi um choque pra nós dois.

"Peguei poltronas separadas, sabia que você não ia querer me ter por perto. Nunca quer.

– Não faz drama, tá velho escroto?

Ele tinha mesmo comprado poltronas separadas. Em todos esses anos, essa tinha sido a melhor coisa que ele fez direito, melhor, a única coisa. Blur queria distância dele. Quanto menos contato melhor.

Na viagem, pegou seu iPod e se desligou do mundo. O garoto que sentava ao seu lado era pior que a companhia de Afonso.

Não parava de pensar no que tinha lhe acontecido nesses últimos anos. A vida girava contra ela, mas era difícil entender porque, sempre foi uma garota certa. Pensava e como ela devia estar perto da mãe naquele momento.

A cada pensamento uma lágrima. Como iria viver sem a mãe e o pai? Não conseguia se ver sobrevivendo assim, mas as coisas iam mudar. Estavam voltando pra casa.

***

No aeroporto de Lost Hill as coisas pareciam diferentes, foram 7 anos, e muita coisa tinha mudado ali. Blur esperou tanto por esse momento, desde a primeira vez que pisou em Londres.

Assim que chagaram no tal apartamento que Afonso tinha alugado o sonho tinha acabado. Era muito diferente do que ela era acostumada. Não tinha espaço pra ninguém morar ali. Fora que teria mais uns amigos dele morando ali também.

– É isso que você chama de "Arrumei uma casa pra gente?" . Isso não é casa. Como tem gente que mora aqui? Olha, você que trate de arrumar um trabalho, e me deixar confortável. O que você fez com o dinheiro da casa de Londres?

– Está comigo, porque?

– Você vai dar entrada numa apartamento mobiliado agora. Não morar aqui nem fudendo. Você resolve esse problema logo, que eu vou visitar um amigo.

– O que? Um amigo? Quem gosta de você? Olha o jeito que você fala comigo. Eu não vou fazer nada, não. Se não gostou que vá morar com esse seu amiguinho.

– Então me dá o dinheiro que eu me viro bem sozinha. EU sou a herdeira da casa. O dinheiro é meu. Ou você me dá e fica com esses - ela olhou para os amigos de Afonso com uma cara de nojo, voltou a olhar para Afonso e continuou -, ou vai agora procurar um lugar decente para a gente morar.

Afonso olhou para seus amigos pedindo ajuda, mas logo percebeu que nenhum iria ajuda-lo naquela decisão. Olhou para Blur como quem havia perdido mais uma batalha. Ela mantinha um segredo dele, que nem ela mesma sabia.

– Tá legal, eu vou, mas você vem comigo. Não sou bom nessas coisas de escolher.

Seus planos acabaram de mudar. Teria que procurar um lugar pra morar primeiro. Depois ver o lance da escola, e então visitar Charlie. Afonso pegou o carro de um amigo e foram direto pra imobiliária. Nenhum dos dois estavam afim de fazer isso.

Olharam o primeiro apartamento e decidiram ficar com ele. Não era tão ruim, era mobiliado, espaçoso. Era como um mini duplex. E estava dentro do valor que eles tinham.

Assim que toda a baboseira acabou, Blur correu para a escola onde Charlie estudava, não queria ficar longe de seu melhor amigo nunca mais. Então fez isso o mais rápido possível.

– Você sabe que as aulas já começaram a alguns dias, certo?

– Sim, senhor, mas se for ver por esse lado, não serei aceita em nenhuma escola. E como pode ver, meu boletim não é tão ruim assim.

– Não é tão ruim? Você tem média A+ em quase todas as matérias. - e com um enorme sorriso, o diretor Perks, estendeu sua mão e continuou - Bem-Vinda a Shark School.

***

– Ei, Charlie, onde você está? Ótimo, estou indo direto praí. Consegui entrar na Shark's. Eu sei é incrível. Estou a caminho, tchau.

Blur não se via feliz desse jeito a muito tempo, queria que sua mãe estivesse ali também, era o que elas mais queriam. Era o plano delas e de ninguém mais.

***

Uma grande placa indicava que Blur estava no lugar certo. Um grande carro ao lado de "Queen's" deixava o lugar com uma cara mais antiga. Assim que entrou se sentiu perdida, não sabia qual deles era Charlie, diversos grupos de amigos se encontravam ali nos fins de semana.

Um garoto sentado na poltrona nos fundos fazia gestos estranhos, mas de longe reconheceu seu grande amigo. A muito tempo ambos não se viam, mas não tinha como não reconhecer.

Blur correu em direção ao garoto, que no mesmo instante se levantou e abriu os braços para receber a amiga. Por um instante ficaram naquela posição, até que Charlie sentiu sua blusa ficar um pouco molhada na região do ombro.

– Está tudo bem, Blur?- disse Charlie afastando Blur, e com suas mão no delicado rosto da menina. Ela começou a chorar mais ainda, e mais uma vez ele a abraçou.

– É a minha mãe - tentou responder, Blur, aos prantos.

– O que tem ela? Está doente?- Charlie afastou Blur novamente. Estava assustado com a mudança repentina de humor da amiga. - Ande, Blur, me responde. Ela está bem?

Blur não conseguia responder. Não conseguia raciocinar, apenas apertou a mão enfaixada do amigo contra seu rosto, tentando de confortar. Mas não deu certo. Nada iria dar. Tirar aquela dor de seu peito seria uma missão quase impossível.

Ela se sentou na pequena poltrona, e com gesto, pediu que seu amigo se sentasse a sua frente. Ela contou o que havia acontecido em Londres todos esses anos, era difícil resumir 7 anos em alguns minutos, mas fez esforço.

A parte que mais demorou foi contar sobre a morte de sua mãe. Charlie não conseguia acreditar, pensou que aquilo não passasse de uma brincadeira sem graça.

– Para com isso, Blur - disse, entre leves sorrisos, Charlie - Não devia falar assim de sua mãe, sabia? Espera, isso não é brincadeira é?

Ela apenas balançou sua cabeça, e aproveitou a deixa para tomar um gole de chá. Fazia muito frio ali, do jeito que eles gostavam, mas dessa vez isso não tinha deixado nenhum deles animados.

– É por isso que voltei, acho que ele está escondendo alguma coisa, sabe? Mas não me importo com ele, não mesmo. Estou feliz de estar aqui - Então um lindo sorriso surgiu no canto daquela formosa boca. - Era o que a gente queria. E estou aqui para realizar por ela.

– É isso ai, é assim que me lembro de você, com esse sorriso. Mas, eae, já arranjou um lugar pra ficar? - Estavam saindo do Queen's, iria apresentar a nova cidade que Lost Hill havia se formado.

– Já sim, fiz aquele miserável comprar um apartamento pra gente, não é tão longe. Te levaria para conhecer, mas não quero que se assuste com a figura.

– Bem engraçado - disse, entre uma risada.

Blur, parou de andar por uns segundos, e pegou um cigarro do bolso. Acendeu e com uma tragada se sentiu bem novamente. Era como se estivesse fumando pela primeira vez na vida. Ofereceu para Charlie, e assim como esperava ele recusou.

– Sabia que você não aceitaria, mas acho que você deveria experimentar algum dia desses.

– Eu uso. Só não estou afim agora.

– Usa é? - e fez uma cara de dúvida, debochando do amigo - Prove.

No mesmo instante ele pegou o cigarro da boca de Blur, e tragou, começou a brincar com a fumaça como se fosse uma criança. E disse "Agora esse é meu.", e começou a andar mais rápido impedindo que ela pegasse o cigarro. Ela acendeu um outro, com mais dificuldade, já que o vento não cooperava.

Depois de um longo passeio pelas principais ruas de Lost Hill, Charlie deixou Blur em casa. A convidou para visitar sua mãe no dia seguinte, estava mais ansiosa que o próprio filho. Com um sorriso, ela aceitou o convite.

Chegou no seu novo quarto mais feliz do que nunca. Até cumprimentou Afonso quando passou por ele, não estava apaixonada por Charlie, mas feliz por ter revisto alguém que lhe fazia bem desde sempre.

Olhou no espelho e viu como ali era bonito. Quem havia decorado o apartamento não tinha um gosto tão ruim assim. Sua cama era confortável, e tudo estava perfeito. Abriu uma de suas malas e colocou no grande armário, suas coleção de roupas pretas.

Estava deixando o adorável quarto rosa e branco com a cara de Blur Steves Endling. Seu nome não tinha esse "Steves", mas ela adoraria que tivesse, então colocou por contra própria.

Assim que terminou de guardar suas coisa, olhou para sua nova cama. E a desejou tanto quanto uma criança deseja um doce no Dia das Bruxas, mas antes teria que tomar um banho na grande banheira. Ela era branca e dourada, o que deixava ela mais bonita.

Tirou sua roupa de uma forma tão delicada e linda, que seria impossível não deseja-la. São suave de uma forma maléfica, que apenas Blur conseguia. Apenas um lindo corpo nu habitava aquele pequeno espaço, com a água caindo sobre a banheira, Blur aos poucos se deitou nela. Pensou em ficar por ali mesmo por um bom tempo.

Dito e feito, não foi tão cedo que ela saiu dali. Na verdade foi sim, cinco horas da manhã, acordou deitada na banheira, com o nascer do sol. A água, que na noite anterior estava morna, deu calafrios na garota. Que rapidamente saiu dali. Seu quarto, desocupado, era de uma certa forma, lindo.

Abriu seu armário e escolheu a roupa perfeita para ver uma das pessoas que mais amava. Uma blusa cinza, uma calça de couro e um coturno e logo estaria perfeita. Já trocada e maquiada desceu para a cozinha.

Blur não era a única que não havia ocupado a cama nova. Afonso estava, entre as cervejas, largado do sofá. Preparou o café da manhã perfeito e então recebeu uma mensagem.

" Você vem mesmo, né? É bom que venha, minha mãe já preparou tudo aqui pra você. Acorda, se arruma e vem tomar o café da manhã aqui em casa. Estou indo te buscar, em cinco minutos estou ai. "

"Não acredito", disse em suspiros, o café da manhã estava perfeito. Algumas panquecas, mel e amora. Um suco de laranja, e um sanduiche. Eles teriam que esperar um outro dia, o interfone tocou. Blur já sabia o que era. Desligou, pegou suas coisas desceu pelas escadas.

No hall, viu o amigo sorrindo. Usava uma touca cinza, calças largar e uma blusa vermelha de manga comprida. Eles se abraçaram novamente, enquanto isso, o porteiro ficou olhando os dois, como se quisesse alguma coisa.

Rápido, eles saíram do prédio. Não conversaram muito no caminho, não sabiam o que dizer, já tinham conversado sobre tudo na noite anterior, mas estava bom, aquele silêncio. Ainda estava frio. Blur o abraçou, de lado.

– Senti sua falta, juro.

– Também senti a sua, Blur. Sabe, foi difícil no começo, ai eu mudei de escola e conheci Tony, acho que você vai gostar dele, ainda somos amigos.

– Espero que sim - disse com um enorme sorriso no rosto.

– Ah, você não fumou ainda né?

– Não, não, não curto fumar de manhã.

– Ótimo, minha mãe não curte essas coisa. Por isso não queria fumar ontem a noite. Ela não sabe.

– Tudo bem.

A casa ainda era a mesma. Exceto por umas reformas, ela estava maior, e no fundo tinha uma piscina grande. Coisa de classe média alta. Assim que chegaram lá, Evanna estava preparando milhares e milhares de coisas para a chegada de Blur.

– Minha queria - gritou da cozinha, Evanna, assim que ouviu a porta bater. Saiu correndo em direção da porta com seus braços abertos - Ó meu Deus! Como você está linda, Blur, lembro de você tão pequena. Não gostava de usar vertidos, e veja só, como cresceu.

"Venha, venha. Espero que não tenha tomado café ainda, preparei de tudo. Irá passar o dia conosco, para compensar o tempo que ficou longe de sua madrinha, certo?

Blur, concordou, novamente com um sorriso. Estava disposta a passar o tempo que fosse possível com a melhor amiga de sua mãe. Não estava se sentindo muito á vontade. Com certos empurrões, chegou a cozinha. Estava tudo tão diferente. Sentou a mesa, estava cheia de comida. Pães, bolos, doces, sucos de todo tipo e gosto.

Sentia falta de comer aquela comida, e iria aproveitar tudo. Em alguns minutos, sr. Deens desceu as escadas, cantarolando. Blur no mesmo momento que ouviu sua voz se levantou e saiu correndo em direção a Peter. Na frente da escala, Peter foi surpreendido com um abraço.

– Céus, Blur, quase me mata do coração. Veja, só. Como está crescida. - ele olhava pra ela de cima a baixo, e abraçou mais uma vez quando viu o rosto da garota corar. - Ó, minha querida, também senti sua falta. Todos sentimos.

Depois da emocionante chegada de Blur, todos estavam sentados a mesa, conversando, comendo e rindo. Pareciam uma família de comercial. Evanna e Peter chegaram a pensar que Blur fazia mesmo parte da família, que ela era de fato, filha deles.

– Como vai sua mãe, Blur? Preciso mesmo falar com ela - Em meios de risadas e bagunça, sra. Deens perguntou. No mesmo instante, Charlie parou de falar, e como companhia, seu pai o seguiu.

– Ah, eu... Eu achei que Charlie tivesse te contado - toda a bagunça havia acabado. A atenção estava toda em Blur. Não saberia como contar, não olhando nos olhos assustados daqueles que mais amavam sua mãe.

– Contado o que, Blur? Ela está bem?

– Está ótima - disse Blur, vendo a cara de aliviados que o sr. e a sra. Deens faziam, mas não era a mesma felicidade que via no rosto de Charlie, ele não estava entendendo porque estava mentindo -, está muito bem, eu espero. Ela está morta.

A cara de espanto não havia retornado ao rosto de ninguém, mas sim a de tristeza, susto e ... Não sabiam como reagir, nenhum deles. Tantos os Deens como Blur. Evanna se levantou na mesma hora, Blur se levantou e foi direto abraça-la. Evanna foi a primeira e hesitar ao controle do choro. Não aguentava aquilo.

Era a pior perda, a de uma irmã que nunca teve. Tudo que ambas haviam passado juntos se passou na mente de Evanna. A infância, adolescência, faculdade. Tudo. Ela não conseguia se controlar. Charlie e Peter se levantaram juntos, como consolo, abraçaram as duas. Peter também chorou. Ficaram por um tempo assim, todos chorando. Até que Blur foi a primeira a voltar a realidade.

– Sorte a dela não? - dizia enquanto limpava as lágrimas na manga da blusa. - Não tem mais que aturar me padrasto, nem outra crueldade no mundo.

Todos se sentaram novamente na mesa, mas não era a mesma coisa. Assim que acabaram, todos foram a sala assistir TV, e conversar mais um pouco. Mais a tarde foram ao shopping, e compraram milhares de coisas para Blur.

A noite, Evanna serviu o jantar, e pediu que Blur passasse a noite ali, com eles. Ela concordou. Evanna arrumou o quarto de hóspedes e nisso, mais um dia havia acabado.

***

Na manhã seguinte, Blur acordou com o belo cheiro de café da manhã. Tomou um banho, escolheu uma de suas roupas novas, um vestido florido, um colete jeans e um coturno branco. Se maquiou, colocou alguns acessórios que tinha ganhado pegou sua bolsa, nova também, e desceu correndo.

Estava tudo pronto para eles, o café da manhã seria mais uma vez delicioso, mas tinha que ser rápida, já estava atrasada. Enrolou muito se arrumando. Nunca tinha se visto tão ansiosa para ir a escola.

***

– Chega mais, quero te mostrar um lugar - disse Charlie puxando Blur pelo braço, indicando que ela estava indo pro caminho errado.

– Sorte a minha que eu peguei meu horário no sábado, se não eu ficaria sem, graças a você.

– Relaxa, vou te apresentar a umas pessoas.

Depois de atravessar toda a escola, a o campo por trás, chegaram a uma árvore velha com algumas pessoas sentadas de baixo.

– Olha só, arranjou uma garota, é Charlie? E que garota, hein? - ouviu-se Henry, gritar de longe.

Blur, de longe tinha visto Tony, também, impossível não notar pelo escândalo. Porém, estava errada. Aquele que gritava feito um louco não era Tony. Não se importava, tinha gostado dele, e de seu humor.

– Pessoal, essa aqui é Blur. É uma amiga minha de Londres.

– E desde quando você conhece alguém que mora em Londres? - disse Tony, tirando pela primeira vez do dia, seus olhos do celular.

– Não sou de Londres, sou daqui. Mas fui obrigada a me mudar pra lá. E agora voltei - disse que com um sorriso no rosto, olhando fixamente para Tony.

Emma não foi com a cara dela logo de primeira. Olha com uma cara feia para ela. Blur ficou indiferente, já que não tinha percebido a presença dela ali.

– Esses são: Tia, Henry, Tony, Maxxie e Emma.

Ela ainda olhava para Tony, mas perdeu sua atenção quando Charlie disse o nome de Emma.

– Ainda não sabemos seu nome.

– Blur - disse, virando o rosto para Tia

– E porque você voltou? - perguntou do outro lado, Emma, com uma cara esnobe.

– Minha mãe morreu - respondeu Blur, como se aquilo fosse normal. Comentar até era, já estava acostumada a dizer aquilo, se acostumou quando isso aconteceu com seu pai. Todos se viraram para ela com expressões assustadas, e murmuravam algo como "Sinto muito" -. Por favor, não sintam, é pior pra mim.

– E seu pai? Está morando só com ele agora? - perguntou Maxxie, enquanto, Charlie, por trás de Blur fazia gestos impedindo que ele continuasse a pergunta.

– Ele morreu também, quando eu tinha oito anos, por isso fui morar em Londres, para tentar me esquecer. Já que aqui, todos sentiam pena de mim.

– Se sentiam, antes, imagina agora - comentou, Emma, com um tom de deboche. Tia olhou para Emma com uma cara de censura.

Então o sinal bateu. Todos se levantaram, pegaram suas mochilas e colocaram nas costas.

– Qual sua aula? - perguntou Tony, puxando Blur para trás.

– Ah, deixe eu ver - parou no meio do caminho e abriu a bolsa para verificar - Segunda-feira... Ahn, Literatura Avançada.

– Ótimo, você é comigo.

Blur disse algo que pareceu demonstrar a mesma emoção que Tony. Assim que chegaram na sala, procurou um lugar no meio e sentou por ali. Tony que estava indo até o fundo, parou no caminho a procura de Blur, até perceber que ela já tinha encontrado um lugar. Voltou o caminho todo e se sentou ao lado dela.

Não era uma garota normal, como Tony imaginou. Era diferente, nunca viu alguém querer sentar na frente antes. E talvez andar com ela seria divertido.

– Bom dia, pessoal. Queria informar que temos uma aluna nova se juntando a gente hoje - uma professora que agia como idiota na frente dos alunos, mas que era muito bonito. "Vai ser engraçado" pensou Blur. - Quem é? Quem é? Deixe me ver, Blur Endling. Onde está você querida?

"srta. Endling? Sim ai está você. Ai está. Levante-se, querida, e fale um pouco sobre você. Vamos levante, não tenha vergonha - Blur continuava imóvel, olhando pra professora como se ela fosse um doente mental, ou como se não entendesse uma palavra que ela estava dizendo - Não quer? Está bem então.

"Hoje vamos começar a aula com uma linda obra de Luís de Camões, "Os Lusíadas". Alguém aqui já ouviu falar? - alguns alunos que estavam sentados na frente levantaram a mão. - Ótimo. É um poema muito conhecido. Um clássico.

"É muito longo também. Sim? - todos viraram seus olhos para uma garota sentada no meio da sala, Blur, com o braço levantado.

– Eu não estou me sentindo bem. Acho que foi o que eu comi de manhã, devia ter alguma coisa estragada, ou talvez eu não tenha me acostumado com a comida daqui. - Blur estava fazendo um sotaque britânico para deixar a encenação mais real - Posso...?

– Sim, claro querida. - Blur se levantou o mais rápido possível, com sua mão no estômago, fingindo que iria vomitar. - Mais alguém? Sim, sr. Bright.

– Também não estou me sentindo tão bem, será que?

– Claro, sim. - Tony se levantou tão rápido quanto Blur, e saiu da sala seguindo-a. Do lado de fora deu pra ouvir a professora ainda dizer - Céus, espero que mais ninguém esteja se sentindo assim, certo?

Blur estava no fim do corredor sentada no chão com a cabeça encostada em seu armário. Estava com dois fones no ouvido, e nem percebeu que Tony estava seguindo ela.

Tony se sentou ao lado dela, mas Blur ainda não tinha percebido a existência dele. Ele a cutucou, e então ela tirou seus fones do ouvido.

- Ei. Você...

- Tony, Tony Bright.

- Endling. Blur Steves Endling. Quer? - ela estava com um baseado na mão, escondendo atrás do vestido. Quem diria que uma garota vestida daquele jeito faria coisas como aquelas.

- Qual seu segredo, hein? - Disse depois de fumou.

- O que você quer dizer?

- Todos tem seus segredos, quais são os seus?

- Me conte os seus, que eu te conto os meus.

- Me conte primeiro, acho que não devo confiar tanto assim em você.

- Eles ficaram em Londres, Tony. Não quero lembrar...