Acordo ao meio dia do dia seguinte. Preferia que eu tivesse morrido.
Minha cabeça dói tanto, que eu sinto como se meu cérebro quisesse sair de lá de dentro e ganhar vida própria. Sinto minha cabeça pequena para a dor, ela me aperta e eu quero voltar a dormir para não sentir aquilo. Mas não sinto mais sono, o que é péssimo.
Tento levantar, mas desisto. Minha visão está embaçada e, é impressão minha, ou o meu quarto está rodando? Meu celular toca em algum lugar da cama, eu tento encontra-lo, mas não consigo. Então deixo ele tocar até parar. Fico na cama, estático, tentando mentalizar a minha imagem sã e saudável, sem dor nenhuma, para tentar adormecer novamente, mas eu não consigo ficar parado por muito tempo. Então estico meu braço e tento abrir a gaveta da mesinha bem ao lado da minha cama. Derrubo tudo o que está em cima dela, até mesmo o que sobrou do abajur de Bella, e eu dou risada. Eu estou realmente péssimo.
Quando finalmente consigo encontrar o analgésico, tento encontrar água. Eu terei que me levantar, e isso é muito desanimador. Me levanto cambaleando, e percebo que apenas um de meus pés está devidamente calçado. Dou risada e sigo até a cozinha, evitando me olhar no espelho que fica próximo à porta do quarto. Eu já tenho desgraça demais em minha vida.
Pego um copo de água e engulo o comprimido. Deus, como eu estava com sede. Parecia que eu não bebia água há séculos, e isso faz com que eu beba mais dois copos em seguida. Minha mãe sempre diz que não se pode beber tanta água após engolir um comprimido, porque tira o efeito dele. Então eu busco mais um comprimido e engulo. Se eu não morrer, tudo ficará bem.
Volto para minha cama e as coisas que fiz noite passada começam a aparecer em minha memória. Eu dancei... com Tania... ela tentou me beijar... eu não deixei... John é gay... eu vomitei...
Só de me lembrar dos últimos acontecimentos fico enjoado novamente. Eu juro que nunca mais irei beber desse jeito novamente.
Lembro-me de ter contado a minha situação com Isabella para John... Oh meu Deus, eu contei para John que ela me deixou. Eu deixei algo pessoal meu nas mãos de um funcionário, tudo o que eu sempre evitei. Minha cabeça gira e eu tenho mais raiva ainda de mim. Eu sou tão estúpido!
Procuro o meu celular e o encontro enrolado no edredom. Ligo para John que atende logo no primeiro toque.
- Edward?
Edward? Pensei que ele só poderia se dirigir a mim daquela maneira ontem a noite.
- John, eu não vou me demorar, só gostaria de agradecer por ter me trazido em casa ontem a noite.
- Não foi nada. Estou à disposição. Literalmente. Você me paga!
Dou uma risada forçada apenas para não constrangê-lo.
- E eu gostaria muito de contar com a sua colaboração no esquecimento de tudo o que te contei ontem sobre a minha relação amorosa com a minha noiva, Isabella.
- Não vai sair nada da minha boca.
- Considere isso um segredo oficial, ok? Só você sabe do que eu contei...
- Não se preocupe.
- Ok. Tenha um bom dia.
- O Senhor também.
Ótimo, o Senhor está de volta!
Relaxo mais uma vez na cama e olho minhas chamadas perdidas no celular. Minha mãe havia ligado... Mas agora eu não quero mais lhe acusar de tentar me enganar com aquele presente supostamente enviado por Isabella. Tudo o que minha mãe queria era que eu me divertisse, relaxasse, e eu o fiz ontem a noite, embora me arrependa de tudo hoje. Foi o que ela conseguiu com toda aquela farsa.
Sinto minhas pálpebras pesarem, e imagino que seja efeito dos dois remédios que tomei. Acho que dois apenas não me matarão, mas talvez eu durma como nunca antes em minha vida. Puxo o travesseiro para mais perto, e percebo que aquele não é o meu, e sim o dela. Eu devo ter pego quando cheguei bêbado ontem a noite... Eu não me lembro disso, mas se ele está ali, não custa nada imaginar que ela está ali também.
Lembro-me dela dormindo de lado, como sempre fazia. Ela dormia virada para o lado esquerdo, e eu sempre encaixava meu corpo atrás do dela, para dormirmos do jeito que ela gostava. Bom, eu gostava também. E adoraria que ela estivesse aqui agora. Que ela se virasse para mim quando eu beijasse a sua nuca e acariciasse a minha própria, com aqueles dedos pequenos e finos, e um deles em especial, enfeitado com a aliança que lhe dei no dia em que lhe pedi em casamento.