Era por volta das oito e meia da manhã. E o jovem de cabelos róseos caminhava apressado atrás da cirurgiã chefe do hospital de Sunagakure. A mulher, de um belo tom castanho em seu cabelo, sequer olhou para trás para saber que era seguida pelo garoto a alguns minutos.

— Então, como estava dizendo… — Rin tentava falar alguma coisa para Saryu, mas a oportunidade não apareceu naquele tempo.

— Pacientes primeiro, garoto. — Saryu comentou. Ela enfim olhou para trás, seus olhos castanhos se encontrando com os esverdeados e um sorriso se fazendo em seus lábios. — Vamos ao primeiro caso. —

"Que saco…" pensou, abaixando lentamente sua cabeça, então suspirando enquanto as mãos descansavam aos bolsos da bermuda que usava. Doro o acordou em cima da hora — 7h 40 min — então não teve muito tempo para escolher uma roupa, ou se preparar para aquele primeiro dia, ou falar sobre a garota na biblioteca. Saryu parou de andar, por Rin estar de cabeça baixa nem percebeu, por isso que tombou com a mais velha, levantou a cabeça e olhou para a cirurgiã chefe e engoliu em seco. A mulher adotou uma seriedade macabra, optando pelo silêncio também, enquanto seus olhos castanhos se concentravam no rapaz.

— Cabeça erguida, moleque. — Saryu declarou, depois levou suas mãos para as bochechas dele e as apertou. — Concentração, entendeu? —

— Enxengi. — Rin respondeu, mas usou sua mão direita para afastar as mãos dela de suas bochechas, depois usou ambas as mãos para massagear os lugares que foram apertados. — Entendi, Saryu-san. —

— Certo. — Saryu comentou.

A mulher olhou para a porta ao lado. Justamente no momento em que parou antes de começar aquele diálogo com o rosado. O número era 07 do primeiro andar. Levou sua mão para a porta e a deslizou para o lado, desta forma dando passagem ao interior do cômodo. Ela foi a primeira a entrar, cruzou os braços enquanto seus olhos castanhos se concentravam na pessoa que residia na cama.

Era uma mulher de pele clara, olhos esverdeados como do garoto atrás de Saryu, mas a diferença era na tonalidade. Os dela eram como o musgo enquanto os dele como esmeraldas. Seu cabelo castanho claro não era tão grande, estendendo-se até os ombros, mas com uma mecha no rosto. A mulher da faixa dos vinte e dois anos olhou para a dupla recém chegada, abaixando o livro de charada que usava para passar seu tempo, depois um sorriso calmo, receptivo, surgiu.

— Olá, Saryu-san. — A paciente cantarolou o nome da cirurgiã chefe, mas moveu sua cabeça um pouco, desta forma olhando para o garoto logo atrás. — Quem é o bonitinho? —

— Ele? Meu aprendiz e que vai nos dizer o que você tem. — Saryu respondeu, mas deu um passo ao lado e mais outro até se encostar na parede e cruzar os braços, no entanto mantendo seus olhos no rosado. — Ele veio de Takigakure. Mal sabe o que o aguarde, Mai-chan. —

— Eu tenho pena dele. — A paciente, ou melhor, Mai, comentou e levou a mão direita para a bochecha a coçando, mas mantendo seus olhos atentos no garoto. — Você não deve ter sorte. —

— Eu não acredito muito em sorte. — Rin comentou. Ele pôs as mãos nos bolsos da bermuda ao se aproximar um pouco mais da cama. Seus olhos ficaram bem concentrados na paciente. — Você me parece bem. —

— Ouviu, Mai? Você parece bem. Então, não tem sentido ficar aqui, né? Acho que você já pode ir embora. — Saryu comentou. Dava para sentir a ironia na sua frase dita com um bom humor.

— Eu quis dizer que ela não parece machucada… — Rin respondeu, mas se aproximou da cirurgiã chefe, dando continuidade na sua resposta. — …velhota. —

A paciente ficou estarrecida por um tempo, mas moveu seus olhos de um para outro, tentando identificar quem faria o primeiro movimento. A fama de Saryu-san a seguia por toda Sunagakure, por isso poucos tinham culhões de chamá-lo de "velhota" — por mais que tenha apenas quarenta e dois anos. E aquele garoto soltou a palavra proibida bem na frente da cirurgiã chefe, por isso acreditava-se que sua sentença de morte não demoraria.

Saryu fechou sua mão direita em punho. Repúdio tomou seus olhos castanhos, rangeu seus dentes enquanto as veias de sua testa pulsavam. Aquele garoto a centímetros dela era inteligente em muitas formas, mas ao mesmo tempo burro para falar com ela daquele jeito. Seus olhos eram capazes de perceber o desafio, ou melhor, a zombaria naquele tom esverdeado. Era como se o garoto estivesse propondo começar uma briga. E ela não seria contra essa decisão. Naquele momento, sua intenção era de esfregar aquele rosto bonito na parede do quarto, até o momento em que começasse a implorar por sua beleza facial.

Rin semicerrou seus olhos. Ele já tinha incomodado Saryu o suficiente com apenas uma palavra. Sabia disso porque conseguia sentir a intenção assassina dela. Não a provocaria mais. Ele se afastou por alguns passos, retornando sua atenção para a paciente que deu um sobressalto ao sentir a atenção dele sobre ela. O jovem de cabelos róseos abriu um sorriso, inclinando a cabeça para o lado esquerdo e se aproximando um pouco mais da cama.

— Mai-san, né? — Rin perguntou, mas obviamente era uma pergunta retórica por ter ouvido o nome dela antes. Ele deu continuidade ao seu comentário. — O que a trouxe até nós hoje? —

Mai olhou para Saryu. A cirurgia chefe parou de ranger os dentes, de emitir aquela intenção assassina, para que pudesse ficar atrás do garoto. Seus olhos — desta vez calmos — se concentraram no garoto. Rin não precisou de muito tempo para entender que não era a vez de Mai falar, mas de Saryu.

— Os sintomas dela são náusea, dores de cabeça e enjôo. — Saryu respondeu. Ela cruzou seus braços, curvou seu corpo e aproveitou que estava atrás de Rin para sussurrar em sua orelha. — Então, como irá tratá-la? —

Rin sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo. Estava acostumado com Doro fazendo aquele tipo de coisa, mas não Saryu com todo aquele rancor guardado. Ele moveu seu rosto o suficiente, olhando para a cirurgiã chefe que se afastara e olhava para a janela do quarto, assobiando como se não tivesse assunto algum naquele quarto. O rosado retornou sua atenção para a paciente na cama, suas sobrancelhas semicerrando enquanto olhava para a mulher.

— Seus peitos estão sensíveis? — Rin perguntou. Sentindo as bochechas se esquentarem ao ter feito aquela pergunta pessoal, mas não queria arriscar.

Mai abriu sua boca para respondê-lo, mas Saryu se adiantou. A cirurgiã chefe quebrou o silêncio ao gargalhar, levando suas mãos para a barriga e curvando seu corpo enquanto morria de rir pelo garoto ter chegado naquela conclusão. Rin só olhou para a mulher, mas não disse nada. Então, sua atenção voltou para a paciente.

— Não. Meus peitos não estão sensíveis. — Mai respondeu, gentilmente movendo sua cabeça de um lado a outro para firmar mais ainda sua resposta, mas parando e olhando para Saryu que já tinha dado uma pausa na gargalhada.. — Não é divertido ter a cirurgiã chefe conosco? —

— Sim, claro. Porque não, né? — Rin sussurrou. Ele retornou sua atenção para Saryu que se encostou do lado da janela, mas a atenção dela era neles. — Não tem uma cirurgia para cuidar? Pacientes para ver? —

— Tenho, mas é divertido vê-lo supor que essa paciente está grávida. — Saryu respondeu. Ela levou o dedo indicador esquerdo ao nariz e o cutucou, tirou uma meleca e a jogou para fora da janela.

— Tem um diagnóstico melhor? — Rin perguntou. Seu olhar era sério, havia se irritado pela forma que a cirurgiã chefe falava com ele. Ele recuou alguns passos e cruzou os braços. — Esses são os três estágios iniciais de início de gravidez. Então, qual seu diagnóstico? —

— Simples. — Saryu comentou, mas aproveitou para suspirar. Ela deixou a parede para se aproximar de Rin. Ficando a centímetros dele, mas movendo seus olhos para enxergar a paciente. — Insolação. —

— Isso é idiotice. — Rin murmurou. Ele até mesmo continuaria com algum comentário, mas foi interrompido.

— Ela é uma das guardas de Sunagakure. Além disso, seus lábios estão rachados, o que prova que não bebe água há algum tempo. Me corrija quando estiver errada, Mai-chan. — Saryu comentou, mas nem ao menos olhou para a paciente. Sua atenção continuava no rosado. — Como guarda, ela passa muito tempo no sol quente, isso piora e muito quando se usa as vestimentas de nossa aldeia. —

A expressão do rosado lentamente mudou com aquela explicação. De irritação, passou para arrependimento. Ele moveu seu rosto devagar, olhando para a paciente na cama que sorria para ele, mas ele conhecia o suficiente aquele tipo de sorriso. Era pena. A paciente estava com pena dele.

— Nota dois. — Saryu sussurrou novamente no ouvido do rosado. Seu olhar retornou para a paciente na cama e um sorriso terno ocupou seus lábios. — Desculpe, Mai-chan. Ele não está acostumado com nossa região. —

— Tudo bem. De onde ele veio? — A paciente perguntou, mas levando a mão direita para o travesseiro e o afofando antes de levá-lo para trás novamente. — Ainda não perguntei seu nome, né? —

— É Shiki. E sou de Takigakure. — Rin mentiu. Ele levou a mão direita para trás do cabelo, coçando-o um pouco antes de suspirar. — Desculpe se meu diagnóstico foi o errado, Mai-san. —

— Humilde para engolir o orgulho e pedir desculpa. Ganhou meio ponto, garoto. — Saryu contou, mas deu continuidade ao suspirar, então balançou a cabeça de um lado a outro. — Francamente… regiões tão diferentes. Não custa em nada pensar mais um pouco antes de soltar um "seus peitos estão sensíveis?". —

Rin sentiu a facada. Ele engoliu em seco e fechou devagar suas mãos em punho. Devia aceitar sem reclamar por saber que estava errado, suspirou tentando se acalmar, mas não deixaria que a cirurgiã chefe saísse por cima. Ele olhou para a mulher, levantando as sobrancelhas e sorrindo com um pouco de malícia.

— Hm… Saryu-san está suando demais, não acha? Será que não chegou finalmente na sua menopausa? — Rin perguntou.

Ele nem soube o que o atingiu, mas Mai sim, por isso que ela pôs as mãos em frente a boca. O que atingiu Rin foi um brutal e rápido soco de Saryu em seu estômago, apagando-o sem qualquer dificuldade. A cirurgiã chefe segurou o garoto por algumas mechas do cabelo, arrastando-o pelo chão para longe do quarto, mas parando na porta e olhando para a paciente silenciosa na cama, então sorriu para ela.

— Alguém já deve estar trazendo uma boa jarra de água gelada para você, Mai-chan. Então, descanse. — Saryu declarou, apertando sua mão direita nas mechas rosadas.

— Ah, tu-tudo be-bem. — Mai gaguejou, balançando sua cabeça em concordância com a cirurgiã chefe. — Não o machuque muito, Saryu-san. —

— Não é você quem decide. — Saryu sussurrou. Seu olhar era calmo, mas havia um ódio encravado neles.

Então, Saryu saiu do quarto arrastando o garoto por seus cabelos. Seu olhar se concentra apenas no caminho à frente. Rin abriu seus olhos, recuperando lentamente sua consciência, até pensou em dizer alguma coisa.

— Você é meu último aprendiz. — Saryu sussurrou. Sua mão soltando lentamente a mecha de cabelo do rosado. — Quero fazer um bom trabalho com meu último aprendiz, por isso não cometa erros como esse, garoto. Existem muitas diferenças de Sunagakure para Takigakure, assim como Sunagakure e Konoha, ou Sunagakure e Iwagakure, ou Sunagakure e Kirigakure. —

— Você vai falar das aldeias de todos os países? — Rin perguntou. Ele já tinha saído do chão, andando agora ao lado da mulher. Ele levou a mão direita ao cabelo e o coçou.

— O ponto é: Não tire conclusões precipitadas. Primeiro conheça o ambiente, depois a profissão do paciente, por fim de seu diagnóstico. É nisso que acredito. — Saryu comentou, cruzando os braços abaixo dos seios e olhando para o garoto ao seu lado. — Quer tentar de novo? —

"Aprendi alguma coisa nova" Rin pensou, abaixando sua cabeça o suficiente para esconder um sorriso, mas aproveitando disso para servir como uma resposta para a cirurgiã chefe. Sim, ele queria muito outra tentativa com um dos pacientes dela. Saryu amenizou seu olhar com aquela resposta.

— O que você queria me dizer antes? — Saryu perguntou. Sua voz não passava de um sussurro já que o garoto estava tão perto dela.

— Doro está na biblioteca. Está lendo aqueles livros enquanto conversamos, Saryu-san. Ela ficou interessada em Ninjutsu Médico. — Rin comentou. Se lembrando de ver a garota concentrada num livro antes dele sair.

— Ela não está só interessada no Ninjutsu Médico e você sabe disso, garoto. — Saryu comentou, mas deu continuidade ao se recostar na parede ao seu lado. — Era só isso? —

— Não. — Rin respondeu. Ao perceber o olhar da cirurgiã chefe, continuou com o que queria falar. — Há várias áreas para o Ninjutsu Médico. Eu estou na principal delas, que é a cura. —

— Sim. E qual é o seu ponto? — Saryu perguntou. Semicerrando suas sobrancelhas, mas exibindo um sorriso de divertimento ao rosado. Ela sabia exatamente onde ele queria chegar.

— Substitua aqueles livros quando puder. Deixe apenas os de medicamentos e venenos, Saryu-san. Posso ensinar o Shosen Jutsu a ela, mas não vou me aprofundar o suficiente. — Rin comentou, mas levou seu indicador direito para os lábios e piscou um dos olhos para a cirurgiã chefe. — Pode ser? —

— Claro. — Saryu comentou. Ela levou o punho direito para perto do garoto. — Cada um faz um favor ao outro. O que acha desse acordo? —

Rin olhou para o punho de Saryu, depois para o rosto da mulher, então sorriu um pouco e levou seu punho ao dela, desta forma encostando-os. Ele estava para dizer alguma coisa, mas a cirurgiã chefe se adiantou e usou a outra mão para abrir a porta ao lado dela, dando passagem para o próximo paciente que ele deveria diagnosticar.

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Misa estava no jardim da casa Uzumaki. A jovem Yamanaka queria se mostrar para o Hokage, revelando o quanto progrediu. Afinal, ele ainda não sabia que havia concluído o Rasengan. Por isso, quando chegou naquela casa pediu para que fossem ao jardim. Ela olhou para Himawari, depois para Hinata, e por fim Naruto de braços cruzados, aguardando por alguma coisa.

— Você não contou algo importante, Hokage. — Misa comentou, balançando sua cabeça de um lado a outro, então fez um selo bem conhecido pelo loiro. — Kage Bunshin no Jutsu. —

Naruto sorriu. Alguém teria dito para Misa como ele fazia o Rasengan. Não demorou nada para que visse a esfera azul surgindo na palma direita da Yamanaka, mas desaparecendo não muito depois quando a mesma fechou sua mão em punho.

— É o mesmo Jutsu do papai. — Himawari contou.

— Aprendeu rápido. Bom… vou chamar o Konohamaru para te passar o contrato dos sapos, Misa. Desculpe, mas é ele que… — Naruto foi interrompido.

— Kuchiyose no Jutsu! — Misa comentou um pouco depois de morder o polegar direito e espalmar o chão.

Então, o mesmo símbolo de invocação surge. Aquilo surpreendeu a família Uzumaki. Daquele símbolo uma fumaça surge, e Misa afastou sua mão e olhou para o que tinha invocado. E alargou um sorriso, levantando seus braços em comemoração, ao conseguir invocar um girino verde musgo com patas traseiras.