Rick abriu os olhos lentamente. A queda machucara um pouco as suas costas, contudo nada ao ponto de feri-lo seriamente. Levantou a cabeça analisando o local que invadiu.

No meio de toda a areia acumulada no antigo piso de mármore havia várias estantes recheadas de livros empoeirados, além de terem também teias de aranhas. A única explicação para o lugar não ter desabado ainda era as colunas brancas trabalhadas que sustentavam o teto.

Devia ter desmaiado por um breve instante, pois via o Mestre depositando uma corda pelo buraco da ponte para ir busca-lo. Ele não teria conseguido aquela corda tão rapidamente.

Percebeu ao seu lado direito uma escultura de arenito fixada na parede. Ergueu-se completamente, chegando mais perto da obra de arte para vê-la melhor. Enquanto isso, o Mestre já descia.

A história que era retratada havia sido dividida em quatro retângulos com diferentes relevos e cores na superfície. Com espanto, Rick viu um homem louro com um colete verde e calças marrons brandindo uma espada – ele mesmo em uma versão mais velha. A figura tinha até mesmo a faixa de cabeça verde que Rick usava todo dia.

– Esse... É você, sem dúvidas – Mestre Eddard relatou. O menino não tinha o percebido ao seu lado, mesmo com o adulto carregando uma tocha.

Rick estudou o restante do entalhado. Diretamente à esquerda do qual estavam focados ali estava ele criança, quando chegara à vila. Três aldeões empunhavam diferentes ferramentas e outro deles só se mostrava a cabeça. Rick estava supondo que retratava as habilidades que lhe foram ensinadas ao decorrer do tempo.

– É... A minha vida! – o menino exclamou, chocado – Não tem nada sobre Altos Terrenos... Mas todos os anos que vivi na aldeia estão aí!

O Mestre não comentou nada. Percebia como as semelhanças não poderiam ser meras coincidências. Como seria possível pessoas de tempos muitos distantes, julgando pela poeira e a sujeira do lugar, saberem disso tudo de alguém que nem conheceram?

Abaixo mostrava uma figura diferente cavalgando para as montanhas. E à direita do cavaleiro um aldeão apontava para uma tempestade de gelo e outras montanhas no horizonte. Somente após ver todas as imagens que Rick foi ler a descrição delas – já que a caligrafia era um pouco antiga; sendo um pouco mais difícil de entender. Leu em voz alta:

Dentre os lordes

Um dos quais se destacará

Entre mil e outros males

Derrotará a quem a todos dá temores

Irá falhar, seja pelo bem ou pelo mal.

– Uma profecia – Mestre Eddard percebeu – Que diz a seu respeito.

– Mas como eles sabem até a minha aparência?

– Devem ter descoberto nesses livros antigos ao nosso redor.

Os dois foram imediatamente pesquisar nas estantes algo a respeito. Procuraram em todas as poucas estantes, mas só conseguiram ter um incrível acesso de tosse pelo excesso de pó.

– Não entendo... Não tem nada de útil! Somente... É, nada de útil mesmo. – Rick concluiu, folheando o livro que pegara sobre como fazer um porco perseguir uma pessoa.

Vendo os vários espaços vazios que deveriam ter livros, Eddard entendeu que não adiantaria procurar.

– A informação importante foi retirada – explicou – Provavelmente abandonaram essa biblioteca por risco de desabamento... Então levaram junto tudo o que lhes interessava. Ou... Alguém achou esse lugar antes de nós e pegou o que gostou. A única coisa que nos resta é o arenito com a profecia.

Mestre Eddard se dirigiu à corda; o menino o seguiu.

– Rick, espere aqui. Vou pegar um pedaço de papel decente para copiar o que está escrito. – foi subindo enquanto falava.

O garoto suspirou. Ele pode fazer isso sem mim. Pensou, mas mesmo assim foi admirar novamente o entalhado.

Minha vida descrevida por palavras complicadas e alguns desenhos. Uma pessoa pode escrever a vida de outra? E o pior... Acertar tudo o que escreveu?

Mas os dois versos finais não se encaixavam na cabeça dele.

– Derrotará a quem todos dá temores – falou para si mesmo – Mas... Irá falhar, seja pelo bem ou pelo mal...? Como posso derrotar alguém se vou perder também?

* * *

Rick deitou-se na sua cama. Sua cama. Quase completava uma semana desde que não dormia em seu quarto. Bem, tecnicamente não era todo seu... Mas considerava que era.

Confusão não descrevia exatamente o que sentia nesses dias. Sua cabeça rodava com toda a informação que recebera.

Suspirou profundamente após entrar embaixo das cobertas.

Há uma semana, era o menino deslocado que treinava artes marciais somente para me sentir útil... Agora, sou a arma contra um demônio.

Há uma semana, sentia raiva e repulsa pelo que meu pai fez... Agora, não sei se deveria me orgulhar ou me enraivecer por ele largar para o filho um fardo tão pesado.

Há uma semana, era uma vida insignificante... Agora, o guerreiro contra as trevas.

Sua vida mudara drasticamente com aquela viagem. Certamente não se sentia como a mesma pessoa de antes. Sentia-se muito confuso sobre o que fazer a seguir.

Se perguntasse a qualquer um, a resposta seria óbvia: Treinar com o máximo de suas forças para se tornar o mais forte dessa guerra.

Mas caramba... Eu vou lutar contra o cara que venceu a morte! A MORTE! Não é qualquer um que consegue isso! Aliás, o Herobrine foi o único que conseguiu!

Decidira chama-lo de Herobrine por dois motivos. O primeiro era que via muitas mais semelhanças e sentidos na história do Herobrine do que a do Male Aurea. E o segundo era simplesmente porque achava o nome Male Aurea muito tosco.

Não deu muitos detalhes para Jean sobre a situação. Não queria assusta-lo ainda mais – Rick sabia que todos na aldeia se amedrontavam com mais ataques daquele porte. Somente revelou que descobriram o nome do sujeito e o quão perigoso era.

Não sabia como o amigo reagiria se contasse que tinha muitas possibilidades de seu lar ser um alvo para acabar completamente destruído do dia para a noite.

Contudo sabia de uma coisa: nada é conquistado sem nenhum sacrifício.

Perdendo a família, ganhara um amigo verdadeiro. Anos de treinamento lhe renderam a salvação no ataque de zumbis. Após dias pesquisando, acharam informações bem importantes sobre o seu inimigo.

Eu não vou desistir tão facilmente da luta. Afinal... A situação é ruim, mas simplesmente fugir é covardia.