O Inferno manda lembranças

O caos reinava. Um dos aldeões era sacudido de cabeça para baixo por uma das criaturas. Pessoas corriam por todos os lados; procurando armas ou abrigo.

Thiago procurava desesperadamente alguma solução. Os seus companheiros estavam espalhados pela aldeia e ele não conseguia andar direito, por conta da flecha fincada um pouco abaixo do seu joelho esquerdo.

De repente, um deles o apunhalou direto no estômago com sua espada dourada. Thiago simplesmente caiu – morto.

Perto dali, Henry engatinhava para trás até se encontrar com aquela pedra vermelha esquisita. Não podendo mais fugir, e com o monstro vindo, não tinha mais nada a fazer a não ser gritar.

A espada de ouro parou abruptamente no meio do ato. Quando Henry olhou para cima não acreditou por um instante – Rick estava ajudando-o; segurando o braço da criatura e a impedindo de mata-lo.

O guerreiro pôs todo o seu peso na apunhalada e arremessou o oponente longe. Nunca vira criatura mais nojenta; nem mesmo os zumbis o forçavam a prender a respiração. O monstro tinha uma cabeça de porco e abaixo do pescoço toda a estatura de um humano, somente diferenciando estar completamente em decomposição e rosado; o que era extremamente enjoativo, pois boa parte das costelas e outros ossos estavam à mostra.

Rick espiou para baixo e Henry havia sumido. De nada, otário.

Uma janela foi arrebentada logo ao seu lado e Mestre Eddard surgiu; pronto para qualquer coisa, mesmo sem estar com nenhuma arma até o momento.

Ambos correram para lugares diferentes e partiram à matança. Rick viu um dos porcos-zumbis desarmado e rapidamente exterminou-o.

Uma péssima ideia; imediatamente todos os porcos e esqueletos que vagavam pela área sem prestar atenção viraram suas cabeças e entraram no modo ofensivo.

– Eu e minhas ações precipitadas – disse para si mesmo, encarando todos eles – Agora é a parte que me ferro.

Os esqueletos trataram de preparar suas flechas e os porcos a balir e vir na sua direção. Felizmente, havia treinado muito para esse tipo de ocasião. As flechas foram arremessadas ao seu peito, onde os esqueletos quase sempre miravam, então, Rick posicionou sua espada no meio do caminho. Nenhuma das três o feriu.

Ouviu o monstro antes de vê-lo, somente por esse motivo conseguiu se defender a tempo da espada de ouro. Ela o atacou ferozmente, mas Rick só precisou continuar na defesa por dois golpes e já fez um corte profundo na cabeça imunda.

Não teria descanso; vários e vários porcos-zumbis o viam como alvo nesse instante.

* * *

Eddard era mais prático e móvel. Desatou a correr, desviar de flechas, acertar seus inimigos e acudir as pessoas. Depois de três anos, não sobrara praticamente nenhum guerreiro útil para ajuda-lo a ajudar os indefesos.

Usando a parede como auxílio, disparou contra um esqueleto e decepou sua cabeça com um chute semicircular. Nem parando na base já se desviou do porco-zumbi e deu um soco na nuca.

Perto dali, ouviu uma forte pancada e algo desabando. Tentando imaginar o que poderia ser, Mestre Eddard correu para a origem do barulho e parou praticamente dentro da parte inteira de uma casa.

Um aldeão, que tentava salvar seus bens preciosos segundos antes, saiu correndo do monstro. Eddard teve que conter a sua tentação de segui-lo.

O porco-zumbi à sua frente devia ter uns dois metros e meio de altura (e para não bastar o tamanho extra, o cheiro de podridão também aumentou). Boa parte das suas costelas estava à mostra; bem como o fêmur mais embaixo. A criatura enorme usava um elmo de ferro e segurava uma bola de ferro gigante unida a uma corrente, para ser perfeitamente manejada e destruir as coisas.

Como esperando a deixa, puxou fortemente a corrente e arremessou a bola de ferro cheia de espigas para bem próxima de Mestre Eddard, contudo ele não vacilou; pelo contrário, ajustou a sua posição e deu um chute no meio da boca com dentes tortos do oponente.

Usando toda a sua força, Eddard novamente deu outro chute, dessa vez no peito e lançando o porco longe, desabando outra parede da moradia.

O monstro começou a procura-lo lá de fora; o Mestre viu que ele não era o dos mais inteligentes do mundo, então simplesmente segurou um destroço da casa e tacou no elmo de ferro, chamando enfim a atenção do seu usuário.

Mestre Eddard já sabia o que ele iria fazer; saiu de perto da construção de arenito enquanto o porco avançava como um touro e terminou de desabar a moradia acima de si assim que esbarrou fortemente em uma das paredes.

Com o monstro derrotado e preso nos escombros, somente dava-se para ver um pouco abaixo da cintura que se encontrava um ser vivo ali. Uma coisa chamou a atenção do Mestre: junto à toga do projeto de um animal, havia um pedaço de pergaminho atado ao tecido.

Curioso, Eddard pegou o conteúdo e foi analisa-lo. Após vê-lo por um instante, percebeu do que a carta se tratava. Seu coração disparou; aquilo era uma boa e má notícia. O lado positivo seria o fato de Rick ter mais chances de derrotar seu maior inimigo; o negativo seria que o garoto poderia ainda não estar preparado para encará-lo.

Contudo algo muito mais importante fora esquecido; o porco gigante não estava morto.

Mestre Eddard ouvira vagamente objetos sendo deslocados, porém ficara muito focado no conteúdo do pergaminho para prestar atenção. Tarde demais, percebeu a gravidade do seu erro, junto com os sons de correntes sendo movidas rapidamente.

Ainda teve tempo de olhar para trás; um gigante rosa com uma cara horrível de porco o encarando satisfeito enquanto manejava a sua arma letal.

Quando o Mestre foi atingido não encontrou reação; as espigas enfiaram-se dolorosamente em seu abdômen e peito e o arremessaram para longe, direto para a parte sólida do portal.

Como se seus machucados não fossem sérios o suficiente, quebrou algumas costelas com o impacto. Perdeu completamente suas forças nesse ataque; sabia que não viveria outro dia.

A criatura avançou em uma velocidade surpreendente; assim como a bola de aço na sua cabeça.

Não teve tempo para se despedir de nada; a morte lhe alcançou sem misericórdia.