Em um quarto colonial decorado com todo tipo de riqueza que nobres deviam possuir, uma mulher ruiva e suada gritava enquanto agarrava aos lençóis de sua cama e a mão do marido ao seu lado; com ele dizendo que tudo terminaria bem e se sentindo péssimo por não poder fazer nada mais.

Várias pessoas com máscaras de corvo rodeavam a cama, dando auxílio a um principal no meio deles, que puxava cautelosamente um bebê do meio das pernas da moça. Finalmente, o serviço é realizado e a pequena criaturinha é retirada da barriga da mãe, ainda sem ar até receber algumas tapinhas nas costas e começar a chorar.

Dentro de instantes, o filho ainda todo sujinho foi entregue aos braços da mãe, que ao vê-lo chora de alegria, juntamente com o pai. Ao ver a criança, sabe que é seu, que agora mais um membro tivera êxito de entrar na família. Seus olhos brilhavam não somente de lágrimas, mas sim de orgulho.

* * *

Cinco anos depois, o Rei da pequena vila passeia pelos trechos rodeado de casas e observa tudo ao seu redor. Com um metro e setenta e cinco de altura, era um homem simpático e carinhoso, adorado por todos no reino; pois, acima de tudo, era humilde e um bom líder, que adorava ajudar seu povo.

Marcus IV gosta de seu lar. Mesmo sob risco de segurança nos últimos tempos graças às pragas novas, sabe que a aldeia é forte o suficiente para resistir ao perigo.

Novos pensamentos atingem sua cabeça; lembranças da conversa que tivera com outros guardas ainda no seu castelo. Diziam que pelo que puderam perceber, a epidemia aumentava cada vez mais ao decorrer dos dias. As capturas das criaturas se tornavam mais frequentes e novas espécies surgiam. Marcus disse-lhes que dariam um jeito nisso; que logo a crise acabaria de uma vez por todas, e só o que tinham que fazer era continuar detendo-os.

Uma garotinha passa correndo na sua frente e o homem decide lhe entregar uma bela flor amarela que recebera mais cedo de um menininho. Mais a frente, percebe um show de marionetes em ação, com seu pequeno menino entre a plateia. Ao ver o pai, ele cochicha em seu ouvido um pedido para animar um pouquinho às coisas. Tendo uma ideia, rapidamente vai até o palco improvisado e mete a cabeça no meio da cena, fingindo ser um monstro e animando o seu filho e amigos.

O dia anoitecia, já era hora de voltar para o castelo e sua amada esposa. Diz para o filho brincar só mais um pouquinho e voltar logo para o jantar, e ele aceita sem objeções. O rei não se preocupava em deixar o menino sozinho, pois ele tinha toda a proteção do mundo nesse lugar e o garoto era esperto; sabia todos os lugares do reino e definitivamente sabia voltar para o castelo.

Quando chega perto das construções do castelo, se depara com uma surpresa. Um daqueles monstros verdes foi pego e estava em uma jaula sendo carregada por dois guardas.

Em parte não era surpresa alguma – já estava acostumado a ver as aberrações. Mas o que foi que surpreendeu Marcus foi o fato de terem o pego de dia. Isso era estranho; geralmente só apareciam à noite, na hora que todos os cidadãos já estivessem abrigados e longe do perigo vindo da floresta ao redor. Precisavam construir um muro e rápido.

– Onde esse estava capitães? – pergunta aos encarregados de levá-lo para as masmorras, apontando para a coisa.

– O encontramos perto dos lagos, Vossa Majestade. – responde um deles, olhando o monstro com amargura.

Quando chegou perto da jaula, algo o surpreendeu. A criatura estava com medo, trêmulo com a mais que possível execução de sua vida. Pela primeira vez em anos, se sentiu um monstro – mais do que o encarava. Costumava sempre matá-los, porém, desta vez ao ver o tremor do Creeper, sentiu um nó no estômago.

­– Levem-no para as masmorras, verei o que fazer com ele mais tarde.

Os guardas confirmaram com a cabeça e seguiram adiante com seu trabalho. Marcus seguiu o seu caminho, cumprimentando todas as pessoas e finalmente subiu as longas escadas e chegando ao enorme salão de entrada, onde Elizabeth – uma linda mulher ruiva com um vestido lilás; se encontrava o esperando.

– Olá querido – ela disse, beijando a boca de Marcus; Como foi o dia hoje? Cheio? Parece tenso.

– Mais ou menos, meu amor. Só estou um pouco preocupado com a praga, que está aumentando cada vez mais. Não sabemos mais o que fazer para impedi-las de invadirem o reino. – precariamente fala o rei olhando para baixo, enquanto Elizabeth o segura pelos ombros.

– Você dará um jeito. Sei disso. – Marcus a olha agradecido; Onde o Rick está? – ela pergunta.

– Brincando com os amigos, logo chega.

– Então quando finalmente chegar, vamos animar um pouco as coisas por aqui.

­– O que quer dizer?

– Uma surpresa. Se eu não perceber a presença de Rick, me avise.

– Sim, Vossa Majestade. – diz Marcus brincando e fazendo uma bela reverência, o que faz a esposa rir enquanto se retira do salão de dez metros de altura com ótimos detalhes de madeira e um trono no centro.

Uma hora depois, lá estava o rei em seu trono, assistindo o bobo da corte animá-lo. Rick e Elizabeth permaneciam ao seu lado em pé; a criança rindo e a mãe olhando para o marido, já que Marcus nem sequer sorria. Permanecia preocupado com as defesas do reino – e no fundo mesmo malabarismo nunca o divertira realmente.

Finalmente, Marcus diz à esposa e ao filho descansarem, dizendo que iria fazer o mesmo. Elizabeth o olhou, preocupada, mandou Rick ir à frente e roubou um beijo de seu amado, que o mesmo retribuiu. Os quartos de todos eram separados um do outro, por isso só se veriam novamente na manhã seguinte.

– Fiquem de olho em tudo senhores – deu o comando aos guardas antes de sair.

Marcus dissera que iria descansar, mas só gostaria mesmo de um tempo sozinho para pensar nas devidas precauções que deveria tomar e construir para o bem maior de todos no reino. Seu quarto era luxuoso – uma cama king size no centro, uma varanda ao canto direito do quarto, três janelas enormes na parede esquerda em frente à escrivaninha com vários objetos de valor e documentos assinados.

O rei suspira e abre as cortinas para ir à varanda, que dava uma vista espetacular do reino logo abaixo. A noite caíra, revelando uma lua cheia para iluminar os campos ao redor.

De repente, Marcus ouve um estrondo, parecendo surgir do castelo mesmo. Ele fita o chão, mas não se preocupa muito. Os guardas dariam um jeito no que quer que fosse. Sai da varanda e dá uma olhada nos documentos assinados; permissões para construções, contas do castelo e coisas do tipo. Resumindo: dor de cabeça.

Contudo volta à varanda dez minutos depois, com um pressentimento estranho. Marcus não saberia explicar direito o porquê continuar na varanda, nem a estranha sensação que sentia. Escuta um grito agoniado lá embaixo. Vê um homem subindo as escadas para o castelo, mas o que assusta a majestade é o fato de que a pessoa está cambaleando muito e com o corpo inteiro cheio de flechas fincadas.

Marcus abre a porta de seu quarto forte e desce as escadas rapidamente até o salão principal, querendo ajudar o pobre homem. Quando finalmente chega lá, todos os guardas estão perplexos com a mais nova visita, escutando o que ela tem a dizer e tentando ajudar. O rei só escuta o final da frase antes do cidadão revirar os olhos e desabar no chão sem vida:

– ... Estão... Lá embaixo... S-socorro...