Rick tropeçou no próprio pé recuando. Imagens rapidamente passaram pela sua mente: uma ponte; ele e sua mãe caindo dela; a sua mãe desfalecida no chão e ele a sacudindo.

Caído, foi rastejando-se para trás, com o Creeper o seguindo. Atrás dele, dois zumbis gemiam alto. Rick gritou, com puro terror. Os monstros foram chegando perto, e até podia-se ouvir o “shhhhh...” que significava a explosão...

Então, o inesperado veio. Mestre Eddard apareceu com uma espada de ferro; e antes que o Creeper pudesse explodir, ele deu um golpe fatal no seu peito, matando-o instantaneamente. Os dois zumbis que restaram foram exterminados igualmente, com dois golpes nas suas cabeças mortas.

Admirado, Rick encarou seu salvador. Nunca vira alguém tão habilidoso com uma arma, nem mesmo os guardas do castelo. O seu Mestre o encarou.

– O que pensa que estava fazendo? – ele perguntou seriamente.

– Tomando banho! Como o senhor mandou! – Rick respondeu, defendendo-se.

– Não, você estava fugindo dos monstros, feito uma criança, e iria morrer aqui e agora se eu não tivesse aparecido.

– Mas... Eu sou uma criança! O que eu poderia fazer? Não tenho nenhuma arma!

– Pelo menos, poderia ter corrido mais rápido. Agora vamos embora, ficar discutindo aqui a essa hora da noite não vai dar certo.

* * *

Depois de comer uma misera janta, desabou em sua cama. Respirou profundamente, tentando se esquecer dos olhos negros que o encararam. Eram idênticos aos de seus outros companheiros que possivelmente mataram sua mãe e seu pai. Só lembrar-se de sua família o fazia derrubar uma lágrima no travesseiro.

Mestre Eddard já havia deitado e dormido há muito tempo quando Rick finalmente adormeceu. Nos seus sonhos, encarou novamente os monstros, porém, atrás de todos eles, sempre aparecia um homem com um capuz e vestes completamente negros, com seus olhos brancos o fitando. Rick era devorado pelos zumbis quando acordou completamente encharcado de suor, sentando-se ereto e agarrando-se à coberta.

* * *

Hoje seu dia não seria tão cheio. Mestre Eddard disse somente que deveria limpar o novo cavalo que encontraram perdido, além de alimentá-lo devidamente. Poderia tirar o resto do dia de folga. Rick não sabia dizer se não se manter ocupado seria legal, pois esse era o único jeito de não se deixar levar pelas suas emoções.

Cuidar do potrinho foi muito mais legal do que pensara. Ele ainda era praticamente da sua altura, e se comportou bem quando Rick limpou-o. Depois de muito esforço, conseguiu ajustar a sela nele, já que sempre vira os cavaleiros de seu pai fazer isso. O cavalinho até o deixou fazer carinho na sua crina. Pelo menos, de alguma coisa gostava da aldeia.

Perto de uma hora da tarde, foi para o lugar onde distribuíam o almoço. Era uma casa como as outras, mas aquela era a única que tinha o caldeirão para fazer a comida. Depois de pegar sua sopa de cogumelos, sentou-se perto das plantações. Depois de terminar de comer, ainda ficou sentado, gostando de relaxar um pouco. Então, um menino se aproxima acanhado. Era uma cabeça mais alto que Rick, que quando o viu o encarou.

– Oi. Vi que estava sozinho e resolvi fazer companhia. Posso me sentar? – o garoto perguntou, apontando para o espaço vago ao lado de Rick. Ele, surpreso, acenou com a cabeça. Havia suspeitado que o menino fosse provoca-lo.

– Queria me desculpar por ontem. Mesmo achando errado, não fiz nada para fazê-los pararem com aquilo. – o garoto disse. Rick, pensativo, o analisou melhor. Seu cabelo era castanho, assim como seus olhos. Sua pele era bronzeada devido ao sol e suas feições eram duras, dando um ar mais sério. Lembrava-se dele. Fora um dos únicos que não disseram nada naquela hora.

– Tudo bem. – Rick somente falou.

– Meu nome é Jean. E o seu? – indagou, estendendo uma mão.

– Rick. – aceitou o cumprimento.

– Ouvi os adultos falando sobre como o encontraram. Eu sinto muito.

Rick sabia que sua chegada era motivo de conversa, mas se sentiu incomodado quando Jean disse aquilo.

– E o que exatamente você ouviu?

– Que foi encontrado praticamente soterrado nos destroços. Que viram sua mãe morta, e que depois de certificar-se que você ficaria bem, procuraram pelo rei. Não o encontraram, então acham que ele fugiu do reino.

Essas palavras o atingiram como um soco no estômago. Primeiro, era uma confirmação que sua mãe realmente morrera. Isso já era ruim o bastante. E segundo, a impressão que o pai deixara para todos e até pra ele mesmo: de ser um covarde. Sabia que ele deveria ter tido os seus motivos, mas mesmo assim... Abandonara sua família para a morte.

Sentiu seu olho arder, mas piscou forte para reprimir as lágrimas. Não iria chorar na frente de ninguém. Contudo além de tristeza, sentiu raiva também. E sinceramente não tinha ideia como conseguia sentir as duas coisas ao mesmo tempo.

Jean percebeu que Rick estava muito triste e resolveu logo mudar de assunto. Passaram a tarde andando e conversando, conhecendo um ao outro. Pela primeira vez desde que saiu de Altos Terrenos, Rick sentiu que podia ter um amigo. Jean era dois anos mais velho, porém aquilo era irrelevante. Certa vez, ele ofereceu para irem brincar com os outros garotos, certamente poderia fazê-los não o provocarem mais, contudo Rick negou.

– Não quero ficar perto de pessoas que me desprezam. – Jean deu de ombros e continuaram conversando sobre diversas coisas.

Quando ameaçava anoitecer, Rick perguntou ao seu novo amigo se os monstros não chegavam perto da vila à noite.

– É raro, mas de vez em quando temos invasão de zumbis, nada mais. Eles não passam pelas nossas portas, e os poucos de nós que sabem lutar os exterminam rapidamente. Nunca foi um problema.

Monstros nunca foi um problema em Altos Terrenos, e olha o que aconteceu. – ele pensou.

Depois que se despediu de Jean, foi ligeiramente para a segurança da sua nova casa. Não queria que acontecesse nada igual ao dia anterior. Não precisaria tomar banho, pois não se sujara. Mestre Eddard chegou mais tarde e fez uma janta para os dois. Assim que Rick saiu da mesa, o Mestre o avisou:

– Amanhã vou te acordar cedo, pois vamos sair.

O garoto franziu a testa – Sair?

– Sim. Está na hora de colocar alguma disciplina na sua cabeça.