Flávius estava detonado. Passara o dia inteiro andando para chegar à sua aldeia. Como sempre, vestia uma túnica verde e carregava uma bela espada de ferro, caso encontrasse algum inimigo.

– Caramba, estou acabado – comentou o seu companheiro, Marcelo, que vestia uma túnica marrom e carregava uma imensa mochila. – Sorte que estamos chegando.

– É... Assim que chegar vou tomar um banho e relaxar, finalmente. – pensou alto. Afinal, já conseguiam enxergar luzes de casas longes no horizonte.

Era comum saírem da aldeia para fazer comércio em outros lugares. Assim que ganhavam dinheiro para comprar mais mercadorias para vender. Geralmente passavam mais tempo fora do que dentro de casa.

Porém, quanto mais perto chegavam da aldeia, mais percebiam que havia alguma coisa estranha. Viam vultos correndo para todos os lados.

– Estão comemorando algo...? – Marcelo perguntou.

– Eu não... – Flávius foi interrompido por um grito que cortou a noite.

Só nessa hora caiu a ficha na cabeça deles. A vila estava sobre ataque.

– Não são pessoas correndo! São zumbis! – Flávius alertou, levantando sua espada e acelerando o passo. – Pegue uma das armas que compramos e venha ajudar!

– Você sabe que não luto bem... – ele falou, colocando parte da mochila na sua frente e a abrindo sem parar de correr.

– Dada a situação de lá, qualquer coisa vale! Portanto que não seja morto!

Alcançaram a aldeia rapidamente e se depararam com a péssima situação. Nem passaram a primeira plantação e já tiveram que matar cinco zumbis. Um pouco adiante várias portas eram espancadas pelos monstros.

A primeira casa que se depararam foi a qual anos atrás haviam deixado o pequeno Rick aos cuidados de Mestre Eddard.

O problema era que tinha um cadáver ali na frente dela. E a porta estava arrombada.

* * *

– ELA VAI QUEBRAR! – Jean gritou.

– ISSO É ÓBVIO! – Rick respondeu, debaixo de todo mundo – AH! NÃO ACREDITO QUE ACABEI DE DIZER ISSO! – complementou, lembrando-se do Mestre Eddard, que era a pessoa que sempre falava essa frase.

– TEMOS QUE BOLAR UM PLANO! – Henry disse.

– ESTOU ABERTO A SUGESTÕES! – Philip falou.

Faltava muito pouco para a porta ser completamente arrebentada.

– ESCUTEM! – Rick mandou, tendo uma ideia – Assim que não aguentarmos mais com essa porta, todos corram pra lugares diferentes! Peguem qualquer coisa e tentem mata-los a qualquer custo! Estamos em vantagem numérica, podemos vencer!

– Fala como se fosse fácil! – Philip opinou.

– Tem outra ideia? Não? ENTÃO CALA A BOCA E OBEDECE! É ESSE PLANO OU NOSSA VIDA! Só deixem a espada comigo...

– AH! CADA UM POR CONTA PRÓPRIA! QUEM PEGA-LA PRIMEIRO GANHA! – Henry falou.

– ALGUM DE VOCÊS SABE SEGURAR UMA ESPADA DE VERDADE A NÃO SER ELE? – Jean gritou – PENSEM MELHOR!

A porta foi quebrada em vários pedaços. Enquanto caía, Rick foi levemente atingido, pois ele ficou para pegar a espada e os outros haviam corrido para longe. Um corte se abriu em seu braço esquerdo, mas nada demais.

Derrapando pra trás, usou a espada para se proteger dos dentes do primeiro zumbi que entrara. Lentamente, a lâmina ia afundando na cara morta de seu oponente, fazendo jorrar sangue no rosto de Rick. Atingir o cérebro necessitava de uma força maior, contudo ele conseguia de poucos em poucos. O combate estava a uma distancia longe o suficiente para os braços do monstro não o atingirem.

Porém se quisesse ajudar o resto do pessoal teria que agilizar o processo. Rick cerrou os dentes e tentou aplicar mais força na investida. Uma tarefa complicada.

No outro lado, os dois zumbis restantes tentavam alcançar suas presas, que faziam um ziguezague pela sala procurando objetos de alguma utilidade. Philip resolveu pegar um balde de ferro e bater sem parar na cabeça de um dos monstros, com Henry gritando para incentivá-lo atrás. E o pior era que funcionava. Por enquanto.

Jean foi mais radical: levantou uma das cadeiras de madeira e a arremessou no zumbi restante, o atrasando alguns segundos. Mas ele já se desvinculava do móvel e começava a ir pra cima de Jean; que resolveu brincar de pega-pega com o oponente, pulando em cima de tudo – inclusive nas pesquisas de Mestre Eddard.

Ele vai me matar se eu sobreviver – Jean pensou preocupado enquanto passava por cima dos pergaminhos e livros. Porém seu plano de correr como um louco estava falhando: a sala já era pequena; e o zumbi chegava cada vez mais perto de acertar as mordidas.

Depois de nem um minuto, Jean cometeu a falha imperdoável: tropeçou em uma das cadeiras e se estatelou no chão. Percebendo a gravidade do erro, virou-se para trás e só teve tempo de proteger seu rosto do zumbi com o braço esquerdo. Mas o monstro não se importou: mordeu agressivamente o pedaço de carne que encontrou.

Jean gritou com a dor insuportável que sentiu no braço; sangue seu já começava a pingar no chão.

É o meu fim – pensou em meio à dor.

De repente, uma espada acerta a cabeça do zumbi tão fortemente que ele nem teve chance de saber como morreu – somente caiu com um baque surdo para a direita.

Tentando conter o fluxo de sangue que escorria da parte arrancada da carne de seu braço, Jean olhou pra cima.

Ali estava Rick, completamente coberto de sangue e o encarando com uma ira assassina.

– Seu idiota! Não seja ferido desse jeito! – ele falou, o ajudando a se levantar.

– Desculpa essa não era a minha intenção. – Jean respondeu, conseguindo esboçar um leve sorriso, que sumiu rapidamente vendo a situação de Philip e Henry.

Mesmo eles estando em vantagem numérica, o zumbi já conseguira arranhá-los em diversos lugares. O balde não parecia mais surgir efeito em seus golpes, e Philip estava prestes a ser violentamente atacado; como acontecera com Jean e Otávio.

– A não...! – mesmo não gostando dele, os dois não queriam vê-lo morrer tão cruelmente.

Uma pessoa apareceu no vão onde já existira uma porta: ela era careca, como todo adulto na vila, vestia uma túnica verde e se equipava com uma espada de ferro. Assim que ele viu o que estava prestes a acontecer com Philip, correu para onde o zumbi preparava o ataque e atravessou a arma em seu crânio.

– Flávius! – Rick exclamou, o reconhecendo; afinal fora um dos quais o salvara em Altos Terrenos.

– Marcelo! – Jean percebeu que ele entrava na casa, analisando os zumbis mortos pela segunda vez no chão.

– O que está acontecendo aqui? – Flávius perguntou temeroso, escutando todo o barulho e vendo os ferimentos de todos.

– É uma... Longa história. Mas o óbvio você já deve imaginar: os zumbis estão invadindo. Em montes... – Rick respondeu.

– Espera aí! Você sabe mais sobre tudo isso? – Henry perguntou.

– De certa forma... Mas acho que somente vi mais coisas, assim como o Jean.

– Onde... Onde está o Martin? – Jean perguntou, reparando na ausência do terceiro colega deles.

Os dois adultos olharam para baixo. Esse não era um bom sinal.

– Fomos atacados de surpresa por dois Creepers na ida para Darren-hal. Ele não resistiu aos ferimentos – Marcelo enfim revelou, com a voz falhando.

Rick e Jean ficaram paralisados momentaneamente, em choque. Martin era uma boa pessoa: nunca perdia a oportunidade de cumprimenta-los quando passava pela aldeia, além de sempre ajudar com as plantações. O que chamava a atenção era que a sua arma era a pá que achara em Altos Terrenos – ele dizia que se sentia motivado nas lutas.

Uma grande perda.

O som da porta quebrando da casa vizinha os trouxe à realidade.

– Ouçam: vocês se protejam em outra casa. Vou lhes dar cobertura pelo caminho, mas por enquanto esse lugar não é mais seguro. Vamos! – Flávius falou, respirando fundo com determinação.

– Só um minuto. – Rick saiu da sala e se dirigiu ao quarto extra onde se encontravam as camas. Colada à parede, se encontrava uma mesinha de suporte a objetos. De lá, pegou uma toalha.

Voltando e dobrando-a uma vez, disse a Jean: – O seu braço está feio. Temos que evitar o fluxo de sangue.

Ele pediu para Jean levantar o braço, o que foi feito. Rick evitou ficar olhando para a gravidade do problema, só viu que a parte arrancada fora um pouco mais de cinco centímetros. Rapidamente enrolou a toalha branca em volta, amarrando-a formando um laço com a mesma.

Rick pegou novamente a espada.

– Iremos tão rápido que os zumbis nem saberão que estamos passando por eles antes de massacrá-los.