O dia amanheceu nublado, nuvens carregadas e o céu cinzento. Eu acordei mais tarde do que de costume, pois o frio fazia com que eu quisesse ficar na cama para sempre. Ontem, com a pergunta de Richard, foi um pouco estranho.
-Então, o que me diz? - ele me perguntou depois que fiquei em silêncio por um bom tempo.
- Bom, eu… - naquele momento eu não sabia o que dizer, estava meio confusa - eu tenho diversos motivos para dizer não, porque não quero te fazer sofrer, mas…
- Mas… - ele esperava uma resposta.
- Mas eu aceito - falei e meu coração disparou com uma velocidade incomum. Eu não estava acreditando que tinha dito “sim”.
- Evelyn, eu… - ele parecia muito surpreso.
- Você… - pressionei.
- E-eu te a-amo - ele disse gaguejando nervoso.
- Eu também te amo - falei com as mãos em seu rosto e depois o beijei.
Depois disso, apenas entrei em casa, falei com minha mãe e fui dormir. Voltando ao dia de hoje, fui para o hospital para o tratamento da quimioterapia. Assim que acordei, minha mãe fez com que eu tomasse café rapidamente para não nos atrasarmos.
Ao entrar no hospital, vi que estava lotado. Fomos na ala em que eram atendidos os pacientes com câncer e notei que haviam mais crianças que da última vez. Me doía o coração ver pessoas mais jovens que eu passando pelo que eu vivia. Querendo viver só mais um dia. Essa sensação era terrível, combatíamos um inimigo que nem podíamos ver. A Dra. Emma nos recebeu com um largo sorriso e me pediu para ir até a cama para me medicar. Minha mãe parecia estar nervosa, sempre temendo que o tratamento não trouxesse bons resultados.
Era muito ruim a quimioterapia. Sempre que acabava, meu corpo ficava mole, me sentia cansada. Enquanto eu e minha mãe esperávamos Dra. Emma voltar (pois ela havia saído para buscar exames) resolvi falar com minha mãe sobre Richard. Eu era péssima em conversar sobre meus sentimentos.
-Mãe eu quero falar com você sobre uma coisa - disse muito envergonhada.
- Diz filha. Além de sua mãe, sou sua amiga - ela falou com ternura.
- É sobre Richard.
- O seu amigo? Ele é um bom garoto.
- Sim, ele é.
- O que tem ele?
- Bom é que… - parecia que eu ia explodir de tão nervosa.
- Fale filha - ela parecia curiosa.
- Eu gosto dele! - disse me livrando.
- Já contou para ele? - ela me olhou com um sorriso.
- Na realidade, ele que disse que gostava de mim. E agora estamos…
- Estão o que? - ela me encarou.
- Estamos namorando - concluí.
Dra. Emma apareceu bem na hora em que minha mãe ia dizer algo. Então, ela sorriu e perguntou “Está tudo OK com a Evelyn?”. A Dra sorriu e fez que sim com a cabeça.

Já no carro, minha mãe não disse nada. Durante todo o caminho eu apenas apreciei a chuva batendo na janela, observando os carros na pista. Coloquei os fones e resolvi ouvir música, já que estava tudo silencioso.
Ao chegarmos em casa, ela e eu subimos para meu quarto, eu não estava entendendo muito bem o que estava de fato acontecendo. Ao sentarmos na minha cama, ela me olhou com uma expressão animada e disse:
-Então, como foi seu primeiro beijo?