"Ah, bom, foi legal... Só que eu não sabia como be-beijar" disse gaguejando para minha mãe, depois que ela me perguntou como tinha sido meu primeiro beijo.
–Mas isso você aprende com o tempo filha, não vai ser a última vez que você vai beijar Richard. Não é mesmo? - ela perguntou com um sorrisinho.
– Não sei - falei nervosa - eu não tenho como saber, mas espero que não.
– "Espero que não" - ela frisou rindo - Evelyn está toda espertinha.
– Para mãe - comecei a rir também.
– Ele precisa te pedir em namoro para o seu pai - ela deixou a conversa um pouco séria - você tem que falar com ele, vou conversar com seu pai também.
– É verdade - ponderei - vou falar com Richard.
Ela fez que "sim" com a cabeça e saiu do quarto ainda sorrindo. Eu não esperava que minha mãe reagisse tão bem assim em relação a Richard. Eu estava muito feliz, me sentindo nas nuvens. Tinha até me esquecido de que teria pouco tempo com ele, pouco tempo para viver uma paixão. Uma paixão que eu sempre teria remorso, não por ter sido feliz, mas por ter que deixar alguém sofrendo por causa da minha ausência. Alguém que nunca mais tocaria meu rosto, veria o brilho dos meus olhos, ouviria minha voz. Alguém que me veria nos sonhos, me sentiria nas lembranças, sorriria ao pensar no meu sorriso. Alguém que para mim seria eterno, e de eternidade em eternidade, as pessoas poderiam ver nossa história escrita no nascer do sol, ou no rosado do crepúsculo. Alguém que me guardaria na mais bela parte da sua alma.
O dia foi calmo, frio e pacífico. Fiquei conversando com meu pai a maior parte do dia, falando sobre como seria a aparência de meu irmãozinho. Ele queria que o bebê puxasse a ele e tivesse os cabelos negros, e não ruivos como os de minha mãe. Apostei que o neném também seria ruivo. Pensávamos em nomes para ele, como Harry, Daniel, Robert... Mas não chegamos a nenhuma decisão. Desde a notícia da gravidez de minha mãe, se passaram 4 meses. Ainda tínhamos 5 para decidir seu nome. Ou melhor, eles teriam. Meu futuro eram um caminho incerto com vários rumos que chegavam ao mesmo destino: o abismo.
A noite chegou, e como sempre, eu corria para a janela para olhar as estrelas. Sempre prateadas, brilhantes. Pareciam guardar um segredo, algo muito importante que precisava permanecer em oculto. Talvez fosse lá que ficasse guardado nossas lembranças, nossos rostos. Apenas supondo, talvez cada estrela tivesse uma parte da alma de uma pessoa, a mais pura. A que mais valesse à pena de ser apreciada.
Durante a madrugada, fugi para o parque, não era algo realmente perigoso. O vento batia em meu rosto, deixando minha pele gelada. Sentei no balanço, como de costume e balancei lentamente. Estava usando um vestido escuro e calçava sapatilhas. Cada momento de minha vida passou pela minha cabeça, lembrei-me de Richard correndo na grama atrás de mim, na escola, enquanto brincávamos. Meus curtos cabelos balançavam ao vento, nossas risadas. A vida preenchia meu corpo, irradiava minha alma. E era para ser assim por muitos e muitos anos...
–Evelyn - senti alguém tocar meu ombro, era Richard - o que faz aqui?
– Sempre venho aqui, esqueceu? - falei baixo.
– É você vem, - ele me olhou - como foi a quimioterapia hoje?
– Boa. Por que não está dormindo, ou tocando?
– Deve ser porque uma certa ruiva não sai da minha cabeça...
– Já está se deixando levar por garota? - perguntei rindo.
– Ela não é só uma garota. Ela é a minha garota.
Sorri corada, então Richard me puxou para um beijo.