Só mais um dia

Com quem me imaginei


Passar a noite no hospital nunca fora algo que eu tivesse conseguido achar um lado bom, mas dessa vez não me pareceu tão ruim. A Dra. Emma pediu para que meus pais descansassem um pouco em casa, já que agora a minha situação não era tão alarmante quanto antes, pois eu tinha acordado. Richard se ofereceu para passar a noite "me vigiando", mas acabou não fazendo isso direito. Ele passou um bom tempo conversando comigo, mas depois acabou adormecendo. Já tinha chegado dezembro e a neve caia delicadamente, eu amava a neve. Quando a época do natal se aproximava, me trazia a boa sensação de que eu tinha vivido mais um ano. Mas me trazia o triste temor de que esse fosse meu último natal. Eu colecionava expectativas que me faziam mais mal do que bem.

Richard dormiu na poltrona ao lado da minha cama, eu amava vê-lo dormir. Às vezes ele fazia caretas que pareciam ser reações ao que estava sonhando e isso me fazia rir. Seu cabelo preto ficava jogado no seu rosto, o deixando atraente além de fofo. Estiquei meu braço para segurar sua mão, mas quando fiz isso ele acordou.

— Evelyn? - ele perguntou um pouco assustado e com os olhos ainda fechados - Me desculpe, acabei dormindo.

— Não se desculpe, você é uma graça dormindo - falei e depois ri fraco.

— Eu também tive que te ver dormindo por vários dias. Confesso que prefiro te ver acordada - ele riu pouco.

Ele se aproximou para me beijar mas eu me afastei. Ele me encarou com um pouco de decepção.

— O que foi? - ele parecia intrigado - Eu fiz algo?

— Não é isso Richard - sorri - estou com gosto de remédio.

— Não seja por isso - ele se levantou e deu um beijo em minha testa - ainda assim eu te beijo.

Eu ri um pouco, então segurei sua mão. Quando ele sorria para mim parecia que eu não precisava de mais nada no mundo, que eu não precisaria viver mais nada, só aquele momento já bastava. O modo como ele me olhava me deixava nervosa e também calma. Namorar Richard não me fez apenas descobrir o que era amar, mas eu havia descoberto uma porção de outros sentimentos. Richard era o único garoto que conseguiu meu coração, e ele só precisou sorrir para conseguir isso.

— Como você está se sentindo? - ele perguntou me olhando um tanto aflito.

— Estou acostumada com essa tensão. É como um filme de suspense em que você nunca sabe quando alguém vai morrer. É assim que me sinto.

— Você tem medo? - ele perguntou de cabeça baixa.

— Eu não diria medo. As pessoas deveriam ter medo de viver, estão sempre propensas a acabar com a vida de outras pessoas e a delas mesmas. Mas também tem a oportunidade de terem uma vida memorável. A questão é que ninguém nunca sabe. Morrer é mais um descanso do que uma má sorte ou uma "fatalidade". Morrer talvez seja uma forma de se ter paz, porém nao é a única para alcançá-la. Não é de todo mal.

— A questão não é o que significa a morte Evelyn. A questão é que eu não posso te perder. Eu sei que sou muito novo para dizer isso, mas você é a única garota com que imaginei viver a minha vida toda. A única garota que eu imaginei vestida de branco.

Uma lágrima desceu de meus olhos. Eu não estava chorando de tristeza, mas de felicidade. Abracei Richard com dificuldade, e senti seu coração bater forte. Era a coisa mais bonita que eu já tinha ouvido de um garoto. E talvez fosse a forma mais bonita de se dizer "eu te amo" sem dizer essas três palavras.