O ambiente estava mergulhado em um mar de silencio e calmaria, e isso era tudo que a morena queria naquele momento, por isso quando um barulhinho tímido começou a destoar no quarto ela logo percebeu. No entanto, levou alguns segundos para que ela percebesse que o barulhinho era na verdade o som do despertador indicando que já era hora dela se levantar. Internamente, ela se amaldiçoou até segunda geração por ter permitido os amigos a terem feito ficar fora da cama até tarde na noite passada.

Desperta ela estendeu a mão até o despertador antigo que ficava no criado mudo próximo a sua cama e bateu nele até por fim conseguir silencia-lo. Depois mentalmente ela negociou consigo mesma mais alguns minutos na cama, mas desistiu quando o seu cérebro muito inconvenientemente começou a registrar todos os barulhinhos da natureza que fora do quarto dela começava a ganhar vida com o correr dos minutos.

O leve ranger da madeira velha da escada denunciou que logo ela não estaria sozinha, conformada ela bufou e abriu os olhos querendo deixar que eles se acostumassem com a claridade do ambiente antes que a pessoa que estava subindo chegasse ao seu quarto. Minutos depois Henry bateu suavemente na porta e pediu permissão para entrar.

“A porta está aberta pai!” E com passos lentos e erráticos Henry atravessou a porta.

“Eu te acordei?”

“Não, meu despertador meio que tocou a uns quatro minutos atrás.”

“Bom.”

“Você precisa de algo?”

“Eu só queria conversar antes que Mary chegue, aquela menina é uma força da natureza e quando esta por perto a gente não consegue muito controlar as coisas.”

Henry disse com um tom de quase desculpa que arrancou uma risada de Regina. A morena sabia o quanto o pai amava a melhor amiga dela, ele até mesmo havia a adotado como uma filha torta durante a adolescência visto que ela havia perdido o pai biológico quando ainda era só uma garotinha de três anos. Regina ainda se lembrava do dia que Mary e David haviam começado a namorar, e Henry havia insistido em conhecer o rapaz.

“Eu te entendo pai, mas diga-me, o que aflige esse maduro coração?”

“Maduro? Pff – Henry desdenhou- velho seria um adjetivo melhor.”

“Pai...”

“Nina, agora é serio nós precisamos conversar.”

“Certo!”

“Nina, você sabe que todos os meus esforços nessa vida é para te ver feliz, sabe que não importa quais sejam seus sonhos eu sempre irei a apoia-la, assim como sempre farei tudo ao meu alcance para poder ajudar a realiza-los, certo?”

A morena balançou a cabeça concordando e ao mesmo tempo lutava contra as lagrimas que começavam a pinicar no canto dos olhos.

“Por isso eu só quero ter certeza se participar desse programa é o que você realmente quer. Não quero que você pense no fato de já haver sido selecionada, ou no fato de Mary ter te inscrito, quero que você olhe em seu coração e me diga qual é o desejo que pulsa lá dentro. E se você disser que é realmente isso, eu vou está aqui pronto a te apoiar até o fim.”

“Eu não vou mentir pai, no inicio tudo isso parecia uma loucura, era tão longe da minha zona de conforto que eu se quer conseguia envolver minha mente ao redor disso, mas então essas duas ultimas semanas isolada aqui na fazenda me deu algum tempo para pensar. Eu coloquei tudo em perspectiva, os prós e os contras, pensei e repensei varias vezes, e eu cheguei a conclusão de que eu realmente estou pronta para dar esse passo, eu realmente quero isso.”

Confirmar que queria participar do programa em voz alta, depois de toda a semana pensando a respeito, de repente fez com que tudo se tornasse ainda mais real, e no coração de Regina ela sentiu que havia tomado a decisão certa, e uma onda de alivio a varreu.

“Eu fico feliz de ouvir isso Nina.” Henry então se inclinou em direção à filha e a envolveu no seu abraço protetor. Mesmo que ambos não fossem do time afetivo que demonstra carinha através do toque, eram na verdade mais do tipo ações silenciosas, eles se permitiram ficar nos braços um do outro por poucos minutos. Naquele momento, ambos precisavam do abraço.

O clima foi quebrado quando a voz melodiosa e doce de Mary soou escada acima quando ela atravessou o hall de entrada da casa. Henry e Regina não aguentaram e acabaram caindo na gargalhada. Ele se levantou e saiu em direção ao corredor, dizendo a filha que mandaria a amiga dela subir enquanto colocava a mesa.

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O carro de Mary percorria as ruas movimentadas de Nova York a uma velocidade que Regina duvidava ser a velocidade máxima permitida, mas naquele momento enquanto as duas amigas riam e tentavam acompanhar a letra do rap que tocava na radio, a morena não podia ligar menos para isso.

Regina teria que se apresentar a emissora responsável pelo programa nas primeiras horas da segunda feira, e então seria levada para o lugar onde o programa aconteceria e ficaria reclusa por lá por pelo menos dois meses, isso é logico dependendo do quão longe ela iria na competição. Ao saberem dessa novidade Rebecca e Mary se organizaram e programaram um final de semana das meninas para poderem se despedir de Regina.

Rebecca tinha um apartamento que ficava próximo à zona boemia da cidade, e era pra lá que Regina e Mary estavam indo naquela manha de sábado.

“Nina, você esta muito ansiosa?” Mary perguntou enquanto manobrava o carro na rua do apartamento da Rebecca.

“Bom, eu estava até dois minutos atrás quando você achou que me lembrar disso seria uma boa ideia.”

“Conhecendo como te conheço duvido que esse pensamento tenha se quer deixado sua mente desde o momento em que você foi aprovada, por isso não jogue a culpa em mim.”

“Droga, você me conhece tão bem que às vezes chega a ser irritante.”

“A reciproca é verdadeira baby!”

“Preciso confessar que a perspectiva de saber que o país inteiro vai esta acompanhando cada passo meu, e que qualquer erro que eu cometer vai ser televisionado tem me mantido acordada por algumas noites.”

“Regina olhe para mim – e dizendo isso Mary esperou até ter certeza que atenção da amiga estava totalmente sobre ela para poder continuar – Você tem cozinhado por toda a sua vida, e você não é a melhor nisso porque é a melhor da turma, ou porque passa as madrugadas estudando, você é a melhor porque você ama o que faz, é claramente perceptível no seu olhar enquanto você prepara qualquer comida o quanto você gosta de fazer isso, o quanto isso te faz bem. Então não deixe essa oportunidade mudar isso, vá com toda a garra e determinação que você sempre teve, aproveite o momento para crescer, e aprender o máximo possível, e se não der certo, pense apenas que cada segundo lá de uma forma ou de outra vai valer a pena, e que Henry, eu e todas as outras pessoas que te amam, vão estar imensamente orgulhas não importa qual seja o resultado.”

Quando Regina finalmente absorveu todas as palavras da amiga as lagrimas que se acumularam no canto dos olhos não conseguiram ser detidas. A carga emocional e todas as verdades não ditas, mas que estavam ali subentendidas foram demais para ela.

“Ai Meu Deus, você passou duas semanas longe de mim e já esta chorando só com a ideia do nosso reencontro?” A voz de Rebecca invadiu o ambiente e Regina não conseguiu segurar a risada. Rebecca era assim, uma pessoa que onde chegava trazia luz e alegria, sua personalidade era aquela que fazia com que as pessoas quisessem sempre gravitar a sua volta.

“Eu já disse que você é ridícula?”

“Não, hoje não. Agora da pra vocês levantarem a bunda desse carro e começarem a se movimentarem? A gente tem um monte de coisa para fazer hoje.” Regina gemeu em resposta sabendo que ficar parada e apenas relaxar antes que a competição começasse não era uma opção que ela teria aquele fim de semana.

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“Vira vira vira vira” O coro de vozes já tão conhecidos por Regina sobressaia o barulho do ambiente.

“Ok, essa é a ultima dose que eu tomo ou eu vou ter que sair daqui carregada” A morena disse com a voz arrastada e algumas silabas saíram mais enroladas do que o normal.

“Você precisa aproveitar, você não sabe qual vai ser a próxima oportunidade que terá de beber, imagina passar dois meses inteiros sem engolir uma gota de álcool?” Rebecca disse num tom acima do seu tom de voz que normalmente já era alto, e Regina ficou admirando a amiga que tinha ingerido uma quantidade de álcool consideravelmente maior que a dela, mas parecia infinitamente melhor.

“A gente pode dar o presente para ela agora?” Mary que estava sentada no colo do namorado e que de todos era a que parecia pior, perguntou.

“Presente?” Regina perguntou sem entender.

“Puta que pariu, eu acho que esqueci” Rebecca disse gargalhando sem nenhum pingo de constrangimento por ter sido a encarregada de trazer o presente e simplesmente tê-lo esquecido.

“Eu trouxe, eu trouxe, na no porta luva do seu carro, eu sabia que você ia esquecer.” Mary disse tentando se levantar do colo de David, mas se embolou nas próprias pernas e não fosse pelos braços ágeis dele teria caído de cara no chão.

“Eu acho que está na hora de começarmos a tomar coca-cola, certo baixinha?” David perguntou e Mary acenou com a cabeça concordando.

“Deixa, eu vou buscar!” Rebecca disse se levantando, e caminhando para fora do pub numa elegância surpreendente.

Alguns minutos depois a ruiva voltou para a mesa com dois pequenos embrulhos e os colocou sob a mesa.

“Bom, esse aqui é um presente meu e de todos que estão aqui essa noite, é uma forma de desejarmos a você boa sorte e também que você tenha um pedacinho nosso com você enquanto você estiver longe.”

Emocionada a morena abriu o pequeno embrulho e soltou um suspiro de surpresa ao perceber que dentro dele havia uma caixinha de joia. Com as mãos um pouco tremulas ela tirou lá de dentro uma pulsei prata com um pingente no formato de um cupcake, e ela quase não conseguiu segurar as lagrimas, e se repreendeu por ter se tornado uma completa chorona nos últimos dias.

“Ah, o cupcake foi Henry que deu, Mary disse a ele o que iriamos fazer e ele quis participar de alguma forma.”

“Oh! Isso é tão doce, eu nem sei como agradecer, vocês são os melhores amigos que alguém poderia ter.” E dizendo isso ela se pendurou sobre a mesa e puxou para o abraço a maior quantidade de pessoas que conseguiu.

“Bom, agora abra o outro, é o mais legal e é apenas meu e de Mary.” Rebecca disse batendo palmas em excitação e Regina ficou um pouco apreensiva de abrir o presente na frente de todos com medo do que o conteúdo podia ser.

Ao abre o segundo embrulho Regina encontrou duas tiaras grossas de pano brancas com pequenas maçãs vermelhas salpicadas por todo sua extensão e uma touca preta com as iniciais RLM gravadas seguidas pelo desenho de uma pequena coroa num tamanho bem pequenininho no cantinho esquerdo.

“A gente sabe como você tem pavor de se quer imaginar cabelo caindo na comida, então...” Mary disse com um sorriso sapeca no rosto.

“É incrível e eu estou completamente apaixonada, muito obrigada meninas, aliás muito obrigada a todos vocês, vocês são realmente os melhores amigos que alguém poderia ter.”

Sem conseguir se conter, Regina chorou em agradecimento pelos presentes. Mas o choro logo se transformou em gargalhada quando Rebecca começou a implicar com ela, e todos os outros amigos seguiram o mesmo caminho.

A morena decidiu se dar uma folga, deixaria pra se preocupar com as coisas quando segunda feira chegasse, naquela noite ela se permitiu embarcar na farra dos amigos, e a aproveita-los o máximo possível. Por isso virou mais algumas doses garganta a baixo, dançou descoordenadamente com Rebecca e com vários desconhecidos que apareciam ao seu lado na pista de dança, e até mesmo permitiu um rápido selinho ser roubado dela por rapaz que conheceu no balcão do bar enquanto esperava por sua coca-cola.

Quando ela e Rebecca caminharam em direção a saído do pub, usando uma a outra como apoio, Regina jurou ter cruzado o caminho de uma cabeleira loira e profundo olhos azuis que ela conhecia muito bem, assim como jurou que os olhos azuis estavam fixos nela, como se monitorassem cada passo dela. Mas no fim ela só abanou a cabeça e pensou o quão estupida era por imaginar que ele estaria no mesmo lugar que ela, e ainda por cima estaria dedicando sua atenção a ela.

“Acho que bebi demais!” ela disse para si mesma em um tom de reprovação, e Rebecca apensa gargalhou.

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