A manhã de segunda feira veio mais rápido do que a morena esperava, como num piscar de olhos ela estava num segundo enrolada em uma manta sob a cama de casal de Rebecca e no segundo seguinte estava com as duas malas aos seus pé no estacionamento da emissora Storybook aguardando pelo ônibus que levaria ela e os outros participantes até a fazenda onde o reality show seria gravado.

Pequenas manifestações de amizade ou simplesmente de identificação começaram a ser desenvolvidas pelos participantes quando eles ainda estavam no estacionamento, mas Regina tinha um defeito, sempre que estava em uma situação fora da sua zona de conforto, sua primeira reação era se isolar do ambiente a sua volta, por isso antes mesmo que alguém tivesse chance de chegar até ela a fim de iniciar uma conversa, ela colocou os fones de ouvido nas orelhas e aumentou o volume do Ipod até o máximo.

A estrada que levava a fazenda onde o reality seria gravado era de chão batido e cercada por uma vegetação que começava a florescer devido à primavera eminente, a lembrava imensamente da estrada que levava a casa onde havia crescido, e sem que pudesse se conter ela sentiu uma pequena e solitária lagrima escorrer pelo seu rosto.

Regina levou rapidamente a mão até o rosto e limpou a lagrima, não estava triste ou lamentava pela decisão de estar ali, pelo contrario o apoio que havia recebido de todos com quem se importava nos últimos dias apenas fortalecia sua decisão, no entanto, sentia-se inunda de sentimentos, mas não poderia rotular nenhum naquele momento.

Menos de duas horas depois, o ônibus que levava os quatorze participantes, estacionou na próxima a entrada da casa principal do local onde aconteceria tudo. A morena deixou os olhos viajarem por toda a propriedade absorvendo aos poucos a magnitude de tudo a sua volta, os detalhes, os sons e os cheios.

“Bom dia a todos, espero que vocês tenham feito uma boa viagem, se é que podemos chamar o curto trajeto de Nova York até aqui de viagem.” Giuseppe que estava de pé na entrada da casa aguardando-os com um sorriso no rosto os cumprimentou.

“Pessoal, fico muito feliz que vocês estejam aqui, como essa vai ser a casa de vocês durante os próximos dias e para alguns os próximos meses, nós decidimos deixar o dia de hoje livre para que vocês explorem a propriedade e se familiarizem com elas.” Paula que acompanhava Giuseppe disse.

“Bom, como vocês já devem ter percebido existe alguns chalés espalhados do lado sul da fazenda e é lá que vocês vão dormir, como vocês são um numero maior do que o numero de chalés, vocês deveram se organizar em duplas. Sabemos que o numero mulheres é superior ao numero de homens, por isso pode ocorrer de termos um quarto misto, mas se isso trouxer um incomodo para a dupla envolvida, então estamos dispostos a alocar um de vocês na casa principal.” O italiano disse.

Logo que a fala de Giuseppe chegou ao fim um burburinho se espalhou pelos participantes e quase átimo de segundo as duplas já haviam se organizado, e a morena quase se arrependeu de não ter interagido mais cedo no estacionamento da emissora com as outras mulheres que integravam o grupo.

Um rapaz de porte mediano e cabelos profundamente escuros, mas não pretos, se aproximou de maneira receosa de Regina, deixando o olhar correr por ele tentando absorver o máximo de informações possíveis sem que ele percebesse, a morena julgou que ele não podia ter mais do que vinte e seis anos.

“Acho que só sobrou a gente – ele disse com um sorriso tímido no rosto- aliás, prazer, sou Daniel.”

“Regina” a morena disse estendendo a mão para cumprimenta-lo e sentiu imediatamente as bochechas esquentarem e sabia que elas estavam vermelhas a essa altura. O que havia de errado com ela? Parecia uma colegial tola que nunca havia conhecido um rapaz antes na vida, e se amaldiçoou por ser tão transparente no que diz respeito a suas emoções.

“Regina, sobrou apenas você e Daniel, você se sente confortável em dividir o quarto com ele ou prefere se juntar a nós na casa principal.”

Antes que a morena ou Daniel tivesse a oportunidade de falar, o terceiro jurado cruzou a porta da casa principal e se juntou aos outros dois. De repente como se fossem atraídos por uma espécie de imã invisível os olhos de Regina recaíram sob a figura loira e quase imponente de Robin.

“Regina ficará na casa principal conosco.” Robin disse e seu tom não dava abertura para ser questionado, e um silencio incomodo recaiu sob o ambiente, mas foi logo quebrado pelo som de uma das garotas da produção chamando todos para tomarem o café da manhã.

O olhar de Regina encontrou o de Robin e os dois ficaram se encarando durante um curto período de tempo até que o loiro rompeu o contato visual e entrou na casa atrás dos outros participantes. A morena permaneceu ainda na do lado de fora tentando entender o que havia acontecido, e porque o loiro havia sido tão inflexível quanto a ela dividir o quarto com Daniel, e em meio aos vários questionamentos, sua mente se lembrou vagamente da impressão que ela teve de ter visto Robin aquele dia em que estava no pub com os amigos, e ela começou a ponderar se havia sido fruto de sua confusão mental aquela impressão ou ele realmente havia estado lá.

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Regina levou com o auxilio de uma das pessoas da produção suas coisas para o quarto da casa principal. Durante o café ela havia ouvido comentários muito discretos de desaprovação, alguns acreditavam que ela estava sendo privilegiada, e ela quis lembrar a eles que na verdade ela só estava lá porque como crianças do primário eles haviam se organizado em duplas e a deixaram excluída, mas acabou no fim optando pelo silencio.

O quarto tinha uma decoração que lembrava um pouco o estilo rustico, mas era perceptível que a maioria dos moveis ali e tudo mais que compunham o ambiente haviam custado alguns milhares de dólares para os donos da fazenda. Quando se jogou sob a cama de casal, antes mesmo de desfazer a mala ou tomar um banho para se trocar, a morena deixou um suspiro lhe escapar, era tão confortável e aconchegante a cama que ela podia facilmente se ver ficando ali deitada em todos os momentos livres que tivesse.

Antes que tivesse tempo de desfrutar mais do quarto, alguém bateu em sua porta e disse que os jurados estavam esperando ela assim como os outros participantes na entrada da casa. No mesmo momento a morena deixou a mala aberta e ainda feita sob a cama, e caminhou em direção aonde a esperavam.

“ Eu, Giuseppe e Robin não vamos ficar nessa primeira semana aqui na fazenda, vamos estar aqui para os primeiros desafios e então retomaremos a cidade, apenas nas semanas seguintes ficaremos aqui com vocês, visto que da segunda semana em diante desafios surpresas podem acontecer. Antes, no entanto, de retornarmos, gostaríamos de apresentar a vocês o local onde as provas vão acontecer. Vamos lá?” Sempre simpática, Paula não precisou de muita persuasão para fazer todos a seguirem.

Enquanto caminhavam na direção oposta a qual ficavam os chalés, Regina viu a construção que ela apostava ser o local onde os desafios aconteceriam. Uma tenda se erguia de maneira quase imponente no meio do espaço aberto e a morena se encantou ao perceber que poderia cozinhar nos próximos dias cercada pela natureza da mesma forma como fazia em casa.

Ao se aproximarem, Regina pode se ater aos detalhes, a tenda era sustentada por colunas feita de alguma madeira muito escura, que lembravam o ébano, mas devido ao porte ela acabou ficando na duvida se realmente essa era a madeira das colunas ou se era de alguma outra arvore que ela não conhecia. Ligando uma coluna a outra haviam panos na tonalidade de um azul tão claro que eram translucidas, mas que naquele momento estavam presas de uma maneira a formar um V inverso, permitindo assim que o ambiente tivesse uma iluminação natural.

O chão era de uma madeira clara, lembrando tabua corrida, e ao fundo havia uma parede com uma tonalidade coral até mais ou menos um terço de sua altura e então o resto era complementado por um papel de parede de temática culinária, com diversos cupcakes, biscoitos rosquinhas e muitas outras guloseimas. Era nessa parede que armários no estilo vintagem armazenavam os mais diversos tipos de vasilhames e enfeites que poderiam ser necessários no decorrer dos desafios. Ao lado direito sete fornos industrias se faziam presentes, juntamente com três micro-ondas, quatro geladeiras e dois frízeres.

No meio do ambiente estavam as quatorze bancadas que seriam ocupadas pelos participantes, sete de um lado e sete do outro, todas coloridas e encantadoras, ao se aproximar da que seria sua que estava destinada a ela, Regina sentiu o coração falhar uma batida, agora era real.

Após as apresentações iniciais e de mostrarem onde cada coisas estava, os jurados se despediram dos participantes, e os deixaram aproveitar a doce sensação das descobertas e da familiarização.

Regina perdeu-se nos detalhes, era tudo tão lindo que ela não tinha vontade de deixar o lugar. No entanto, quando percebeu que a maioria dos participantes havia deixado a tenda para voltarem para seus aposentos ela resolveu que era hora de ir também.

No caminho de volta, algo chamou a atenção da morena, e antes que ela pudesse pensar duas vezes ela se viu caminhando em direção ao haras. Um dos funcionários da fazenda havia acabado de tirar de lá um lindo cavalo de pelagem negra e a morena se lembrou do potrinho que havia ganhado do pai na infância.

“Olá” Regina disse a garota que guiava o cavalo ao local que ela acreditava ser de treinamento.

“Boa tarde!” a garota loira respondeu.

“Qual o nome dele?” Regina disse se aproximando, e a garota parou a caminhada permitindo que a morena acariciasse o animal.

“É ela, e ela se chama Twilight.”

“Um lindo nome” A morena disse com um sorriso no rosto. “Você vai monta-la?”

“Sim, os donos permitem que eu treine nela duas vezes na semana.”

“Eu posso assistir?”

“Claro”

Em silencio elas seguiram até o local onde a garota treinava, chegando lá Regina se sentou como fazia quando mais nova na cerca branca e observou encantada a loira saltar os obstáculos como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Estava completamente distraída com o espetáculo a parte que se quer se deu conta de que alguém se aproximava dela.

“Você monta?” Apesar de ter ouvido pouco aquela voz, a morena seria capaz de reconhecê-la em qualquer lugar, e naquele momento, por não esta esperando tal interrupção ela acabou se assustando, e quase se desequilibrou não fosse pelas mãos fortes que a seguraram pela cintura, ela poderia ter caído de bunda no chão.

“Eu costumava montar quando era mais nova.” Ela disse depois de um tempo de silencio quando finalmente conseguiu organizar os pensamentos. “E você?”

“Apenas por hobby.”

O silencio preencheu o espaço entre eles, mas a mente da morena trabalhava a todo vapor, queria saber o que ele fazia ali, não deveria ele ter voltado para a cidade com os outros jurados? Queria perguntar se ele havia estado naquele pub no fim de semana passado, queria perguntar por que ele parecia tão desconfortável ao redor dela. Mas nenhuma pergunta foi feita, pois ela apesar do silencio gostava da companhia dele naquele momento, e sabia que se perguntasse qualquer coisa ele se afastaria imediatamente.

Mais atenta a sua volta, Regina percebeu naquele momento outros passos se aproximando de onde ela e Robin estavam, e ao olhar por cima dos seus ombros viu que era Daniel que se aproximava e deu a ele um sorriso, estava grata por não ficar sozinha com Robin, assim não caia na tentação de dizer algo que não deveria. A morena viu o corpo do loiro tencionar e uma carranca tomou suas feições quando ele percebeu que não estavam mais sozinhos, silenciosamente ele colocou uma distancia ainda maior entre eles.

“Olá” Daniel disse ao se aproximar de ambos, Regina o saldo com um sorriso no rosto enquanto Robin apenas balançou a cabeça sem muita vontade. “É um lindo cavalo.” O moreno disse se pendurando na cerca e com uma agilidade invejável sentando ao lado de Regina.

“Na verdade é uma fêmea, e o nome dela é Twilight.” A excitação por compartilhar aquele breve conhecimento era quase palpável na voz de Regina.

Os dois caíram em uma conversa confortável quando perceberam o amor em comum que tinham por cavalos, a presença de Robin foi quase esquecida até quando ele limpou a garganta de forma não sutil e se despediu dos dois dizendo que já era hora de voltar para cidade e que havia estendido sua estadia ali mais do que devia.

Daniel se despediu um simples adeus e sem dar muita atenção ao loiro, mas Regina se virou totalmente para ele para se despedir e quando fitou os olhos dele viu inúmeras coisas não ditas ali, muitas delas ela se quer conseguia compreender o que era, mas uma era muito clara para ela, Robin não gostava da ideia de se afastar e deixa-la ali sozinha na companhia de Daniel.

O estomago da morena se contorceu de nervoso, e esse sentimento a acompanhou durante todo o resto do dia enquanto ela pensava e repensava o olhar de Robin tentando entender o porque dele se incomodar tanto que ela ficasse sozinha com Daniel.

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