A infância é um momento muito agridoce na vida de uma pessoa, às vezes ela se torna aquela lembrança gostosa, que a todo o momento se quer revisitar, às vezes ela é aquela lembrança que trás o amargo, que se gostaria de nunca ter vivo ou se não se pudesse escapar desse destino, se gostaria então, de não lembrar. E era exatamente assim que Robin se sentia em relação a esse período da sua vida, que agora parecia um tempo bem longínquo da sua vida.

Filho mais novo de um grupo de quatro crianças, sendo as outras três mulheres Robin cresceu em meio a figuras femininas e nunca pareceu se incomodar com isso, até que aos sete anos os amigos da escola descobriram isso e começaram a incomoda-lo com atitudes e xingamentos perversos. Foi nessa época também que sua gagueira se fez presente, sempre que passava por situações estressantes ou que se via em situações fora de sua rotina, o nervosismo o dominava e ele se quer conseguia produzir uma sentença completa sem gaguejar, e quando isso acontecia o nervosismo dele aumentava e a situação tendia sempre a piorar.

Em sua pureza infantil, ele começou a fazer promessas de se comportar melhor e ser uma criança boa para os pais e as irmãs, assim como a passou a fazer uma oração especial todos os domingos quando acompanhava a família a igreja a fim de Deus o curasse da gagueira.

Os pais de Robin cogitaram nessa época tira-lo da escola, pensando que a educação em casa seria uma alternativa viável, no entanto, após algumas conversas com a psicóloga de Robin chegaram à conclusão que isso apenas remediaria o problema por um tempo, e que a verdadeira solução seria deixar Robin lutar suas próprias batalhas e então aprender a se defender sozinho, visto que os pais não estariam ali para sempre para ajuda-lo. No entanto, a psicóloga alertou aos pais dele que era preciso um monitoramento das atitudes dos colegas do garoto para que elas não saíssem do campo do aceitável para o campo do bullying.

A inserção de Robin ao mundo culinário começou como uma terapia, tanto para ele quanto para mãe, no espaço da cozinha eles se conectavam, eles eram mais que mãe e filho, eles eram amigos e, portanto, o garotinho loiro de olhar intenso tinha a liberdade de conversar com a mãe coisas que o afligia ali na cozinha as coisas não eram estressantes, e não havia certo ou errado, nada saia do esperava e ele podia relaxar. Aos poucos os pais foram percebendo que ali naquele espaço, a gagueira já não se fazia presente.

A terapia virou em pouco tempo amor, Robin adorava passar todos os momentos que podia na cozinha ao lado de sua mãe, adorava criar combinações novas e quando algumas não davam certo ele não se sentia como se algo ruim tivesse acontecido, pelo contrario, ele sentia como se o caminho para a combinação perfeita estivesse cada vez mais próxima.

Robin era uma pessoa muito autoconsciente, nunca foi uma pessoa muito ligada a elogios, na verdade eles às vezes o faziam se sentir desconfortável, mas no dia em que se tornou referencia no mundo culinário, e um pouco mais tarde tornou-se mundialmente conhecido como o melhor Chefe Confeiteiro do Mundo, ele deixou-se ser dominado pela vaidade e no fundo mesmo que não quisesse admitir se sentiu vingado de todas as situações que havia passado em sua infância.

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Robin não acreditava que a cozinha era um espaço em que o dom era visto como algo tão forte e indissociável como nos outros lugares da sociedade, ali naquele lugar que ele havia aprendido que todo mundo tinha a chance de fazer parte de forma igualitária, alguns poderiam se sair melhor de acordo com a dedicação e o empenho que colocavam em aprender essa arte, mas no fim à cozinha era um território a um só tempo de ninguém e de todo mundo, lugar onde se demonstrava os mais diversos tipos de sentimentos sem se dizer nada.

Se havia uma coisa que Robin amava mais do que cozinhar essa coisas era aprender, por isso ao ser contato pelos representes da emissora StoryBrooke para a participação em um programa de culinária que tinha como foco a confeitaria, ele não pensou duas vezes em aceitar. Mesmo que a competição estivesse no nível amador, e que a maioria das pessoas que participariam fossem apenas entusiastas em relação a cozinha, ele não tinha duvida nenhuma que aprenderia muito.

Após conhecer quem seriam os jurados do programa juntamente com ele, Robin passou a se sentir ainda mais confortável, já havia trabalhado com Paula antes e a adorava, em relação a Giuseppe já havia ouvido inúmeros comentários positivos e sabia que aprenderia muito com ele. No dia denominado pela produção de “Dia da peneira”, os três jurados se reuniram para pode selecionar as quatorze pessoas que formariam o time de participantes da primeira edição do programa.

Como o esperado Robin foi surpreendido com algumas receitas que ele acreditava terem grande potencial se fossem preparadas com mais calma e mais cuidado. Logicamente ele se deparou com alguns desastres no meio do caminho, algumas receitas tão ruins que ele duvidava que seu paladar fosse capaz de se recuperar algum dia.

Tudo correu como esperado, até que ela entrou naquela sala e ele sentiu seu mundo em suspenção por alguns segundo. Com passos tímidos e um sorriso no rosto que ele duvida alguma vez em sua vida ter visto algo tão belo, ela se aproximou do local onde ele, Paula e Giuseppe estavam.

Da maneira mais discreta que pode, ele deixou os olhos passearem por ela quase que em um movimento de reconhecimento. Os cabelos negros e longos estavam presos em uma linda trança que recaia sob um dos ombros dela, o vestido de renda branca acabava pouco acima dos joelhos dela, e deixando boa parte das pernas da morena de fora, e Robin se pegou apreciando em demasia isso e logo se repreendeu. Nos pés a morena usava botas, e isso o surpreendeu, botas daquele estilo em Nova York? Interessante.

Os olhos da morena eram de uma profundidade admirável, e diziam tanto sobre ela e sobre o que ela pensava, que podia ser considerado de alguma forma um pouco assustador, e ele se questionou se ela sabia como ela era um livro aberto para as pessoas em relação a suas emoções. Mas o que mais chamou atenção do loiro foram os lábios e a cicatriz que vinha um pouco acima deles, eles se harmonizavam de uma forma tão perfeita que chegavam a ser insuportavelmente sensuais.

A verdade é que tudo naquela mulher parecia despertar em Robin sentimentos que ele não estava pronto para sentir. Quando ele provou a sobremesa dela, ele soube que estava perdido.

“Regina, é uma sobremesa muito gostosa, a base feita de biscoito esta no ponto certo, e acredito que você tenha usado o favo de baunilha ao invés da essência no creme, certo?” Paula disse e em silencio ele concordou.

“Sim” Regina disse e ela se quer conseguia esconder o sorriso, e Robin teve que se controlar para não sorrir, ela era definitivamente um livro aberto.

“Então, isso deixou o creme muito mais saboroso e o aroma é incrível. Um ponto negativo é a consistência do creme, acho que ele poderia ter fica um pouco mais firme.”

“Eu sei, o tempo foi um pouco mais corrido do que eu imaginei e não consegui deixar a base na geladeira o tanto que eu queria.”

“Tu hai mi incantato, è uma buonissima sobremesa, mas preciso concordar com Paula, a consistência non mi piace tanto. Preciso confessar que as frutas vermelhas combinam muito e estão muito saborosas e eu amei o fato de poder sentir os pedaços delas enquanto saboreava e de não ser apenas uma geleia por cima.”

“Grazie!”

Então chegou a vez dele fazer um comentário, havia gostado da sobremesa dela, e estava pronto para tecer elogios a ela, quando uma voz no seu subconsciente o acusou de esta sendo imparcial, estava encantado com aquela bela morena e não a estava julgando como havia feito, então antes que pudesse pensar duas vezes ele disse o que pensava do doce dela.

“Gosto dos sabores, mas como meus outros companheiros já salientaram, a consistência deixou um pouco a desejar, a apresentação eu esperava mais, e no fim é uma sobremesa mediana para mim.”

Quando ele viu o lindo sorriso dela murchar consideravelmente ele se amaldiçoou profundamente e inutilmente tentou se convencer que estava tudo bem afinal estava apenas agindo de maneira profissional.

“Obrigada Chefe.” Ela respondeu concordando com a cabeça.

O que ele nunca esperou foi o que veio a seguir, agindo completamente pela euforia de ter sido aceita Regina caminhou até eles e abraçou a cada um dos jurados agradecendo pela oportunidade, quando os braços dela se fecharam ao redor dos ombros dele algo aconteceu, ele não poderia descrever como borboletas no estomago ou qualquer outro sinônimo que os romances contemporâneos gostavam de utilizar, mas definitivamente havia algo ali. Algo que o perturbou durante o resto daquele dia e pelos dias que vieram a seguir.

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Fazia exatamente sete dias desde a última vez que ele havia visto ela, não que ele estivesse contando os dias, era apenas uma questão de fato. A ultima vez que ele havia estado na fazenda fora há sete dias, logo ...

Hoje seria o primeiro dia de filmagens, o ambiente que ate então havia se apresentado como pacifico agora estava mergulhado no caos. O assistente de produção passava os últimos comandos para os participantes, e logo eles estariam liberados para o café da manhã, pouco antes das dez da manhã eles começariam a grava a primeira parte do primeiro episodio.

A produção havia entrado em consenso com os jurados e a temática de todas as provas seria escolhida por ambas as partes. Cada episodio do programa consistiria em dois momentos, o primeiro momento em que eles fariam um prova individual ou em dupla e em um segundo momento fariam provas em grupos. O vencedor ou os vencedores, da primeira prova teria alguma vantagem em relação à segunda prova que só seria revelada na hora.

As dez em ponto, os quatorze participantes adentraram a tenda e caminharam até suas bancadas. As câmeras se posicionaram e então com o sinal do diretor os três jurados entraram no ambiente dando as boas vindas aos telespectadores e aos participantes também.

“Bom dia!” Paula disse com um lindo sorriso.

“Bom dia Chefe!” Em coro os quatorze responderam.

“Bom a primeira prova de hoje é bastante simples, apenas um aquecimento para o que vocês irão enfrentar nas próximas semanas.” Paula continuou.“ O primeiro desafio do Sweet Desires é ... ”

“Coockeis” Robin disse completando a frase de Paula. “Vocês vão ter de fazer coockies para nós, como Paula disse, é uma prova bastante simples, por isso esperamos que vocês nos surpreendam.”

“ O tempo de prova será quarenta e cinco minutos, e começa AGORA!” Giuseppe disse e então a tenda virou um caos, os competidores começaram a correr a fim de pegarem os vasilhames assim como os ingredientes necessários.

Enquanto pegava os vasilhames a mente de Regina começou a trabalhar em todas as possíveis combinações de sabores, estava em duvida entre arriscar e errar ou manter-se no esperado e ser apenas mais uma. No fim optou por se arriscar.

Quarenta e cinco minutos depois eram nítidos em todo o participante os sinais de nervosíssimos. Alguns pareciam felizes com os resultados, outro estavam completamente descontentes, já Regina olhava para seus biscoitos sem saber como se sentia. Quando viu os três jurados se aproximarem dela, ela sentiu o estomago sem contorcer, mas se obrigou a sorrir.

“Regina, o que você fez para nós?” Giuseppe perguntou com um sorriso amigável.

“Eu optei pelo caminho não tradicional, eu fiz coockies de limão com gotas de chocolate branco saborisadas com lavanda.” A apreensão era visível no semblante da morena, e enquanto ela assistia os jurados experimentar, ela podia jurar que estava a beira de um colapso nervoso.

“Incrível Regina! Os sabores estão super equilibrados, a textura esta ótima e é perceptível que ele assou o tempo necessário.” Paula foi a primeira a comentar.

“Obrigada Chefe”

“Você me surpreendeu Regina, parabéns!” Robin disse e ao fita-lo a morena podia jurar ter visto a sugestão de um sorriso surgir em seus lábios.

Após experimentarem todos os coockies, os jurados se retiraram da tenda para deliberarem quem seria o ganhador da prova, minutos mais tarde eles voltaram e revelaram que a vencedora havia sido Regina, por ter feito algo original e ainda assim gostoso. A morena demorou alguns segundos para assimilar que realmente havia ganho a prova, e quando a ficha finalmente caiu, ela não conseguiu tirar o sorriso do rosto.

“Todos que ganham uma prova individual ganham também um bônus que de alguma forma o ajudará na prova em grupo. Então, Regina o bônus dessa prova que você ganhou é o seguinte, você poderá escolher a equipe com a qual você quer trabalhar e também escolhera o líder da outra equipe.”

“Tudo bem!” A morena disse respirando fundo.

“Regina, qual é a primeira pessoa que você escolhe para sua equipe?” Robin perguntou olhando-a de maneira tão intensa que ela se esqueceu por alguns segundo de respondê-lo.

“Daniel.” Sem pensar duas vezes ela escolheu o rapaz que havia conhecido mais nos últimos dias, Daniel tinha uma personalidade fácil o que fez com que a aproximação e o sentimento de conforto surgisse rapidamente entre eles, além disso, o fato de que compartilhavam algumas coisas em comum, facilitou ainda mais as coisas.

A morena havia desviado o olhar de Robin para dar um sorriso de boas vindas a Daniel que se aproximava dela, quando ela voltou sua atenção para Robin ela sentiu o estomago afundar, e ela sentiu como se tivesse feito uma escolha errada, mesmo que não entendesse o por que.

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