A cidade continuava cheia de armadilhas. Bill ainda era uma figura. Joel andava pela cidade com a expressão fechada, sem acreditar que Ellie queria deixar Patrícia para trás. Desde que os dois discutiram, Ellie estava quieta, apenas com os olhares mortais para cima de Joel. Ela queria poder parar de se culpar, poder finalmente culpar Patrícia por ter decidido ir embora, por ter decidido deixá-la para trás. Joel não entendia isso. Não entendia a necessidade de Ellie em culpar Patrícia, nem o porquê de Patrícia ir embora. Sim, Maria devastou o acampamento, milhares de vítimas, milhares de mortes, isso era motivo dela ter ido embora? Por que simplesmente não lutou? E ele também queria culpá-la, descarregar toda a responsabilidade em cima da adolescente, todavia, ele não podia deixar outra filha sua para trás. Ela poderia estar morta; militares, vaga-lumes, máquinas, infectados, tantas ameaças. Joel não tinha como proteger a ela ou a irmã.

A cidade estava vazia, calma, sem murmúrios de infectados ou sons de tiro. Vinte minutos dentro da antiga zona de quarentena, e não encontraram nada; nem infectados, máquinas, ou Bill. Algumas armadilhas estavam destruídas, outras apenas esperando sua hora para detonarem. Vários corpos e carcaças no chão, de militares até máquinas. Joel estava se perguntando onde estava toda ação daquela cidade, já que nem animais silvestres estavam no caminho. No chão, perto do caminhão de leite, uma carta ensanguentada. Nesta, alguém (qual o nome estava manchado) pedia por socorro, falando que duas jovens estavam atacando o lugar. Duas jovens; uma com o cabelo no ombro, escuros, com uma franja de lado, dois olhos e uma pérola negra no meio da testa, outra com longas tranças castanhas, laços azuis nas pontas, um ursinho de pelúcia azul e sujo.

—Estranho...— Ellie comenta quando termina de ler.— Parece a descrição de Patrícia e Nathalia.

O Enlace parecia só um pedaço de terra, visto de cima do Pescoção. Porém, ao descerem, viram que era muito mais que aquilo. As pessoas da tribo olhavam para as três forasteiras, que andavam lentamente pelo lugar. Aloy sussurrava algumas informações para a irmã mais velha, que apenas assentia, engolindo em seco sempre que notava um olhar estranho em cima delas. Aloy não era bem-vinda ali, não ainda. Vários indivíduos olhavam curiosos para Patrícia, principalmente pelas suas vestes. Ela usava uma calça jeans rasgada, uma regata leve, um tênis gasto, uma mochila lotada de suprimentos, e armas nos coldres de sua coxa, perna, e cintura. Os noras usavam roupas como as de Aloy; feitas de pele de animais, cobrindo noventa por cento de seus corpos, e um arco e flecha.

Com apenas mais alguns minutos de caminhada, Aloy conseguiu chegar em seu objetivo. Não era exatamente no Enlace que estava a coisa que ela tanto escondia, era alguns metros depois da saída. O laboratório secreto da Umbrella durante o Mundo Metálico.

—Consegui meu dispositivo aqui, com seis anos.— Aloy fala, pedindo ajuda para tirar a pedra da entrada.— Tem várias coisas interessantes do Mundo Metálico, inclusive o que quero mostrar a vocês.

—Vai demorar muito? Eu sai um pouco da minha rota, talvez muito.—Patty fala, forçando um sorriso logo em seguida. Era péssimo ter que ficar fugindo, apenas por querer seu tempo sozinha, para chorar tudo o que havia guardado pelos últimos dias.

—Para onde você vai?— Aloy questiona, as duas conseguem abrir o caminho, enquanto checam se alguém ou algo estava olhando.

—Algum lugar seguro, que eu possa cuidar de Alia tranquilamente.— dá de ombros, seguindo a ruiva.

—Você pode ficar, se quiser.— fala cuidadosamente.— Eu sei que ser exilada não é fácil, mas tem um método de ser aceita em uma das tribos. Chama-se Provação, e acontecerá daqui alguns anos, e...

—Aloy, eu não quero ficar aqui. Eu não pertenço à tribos, ou ao Enlace, ou qualquer outro lugar daqui. Eu só quero ir embora, achar meu caminho, meu canto.— a corta, dando alguns passos a frente.

Não demoram muito para chegar no centro da base, onde a tal coisa esperava. Com dois metros de altura, braços mecânicos como o resto do corpo, com uma pequena luz acesa em seu interior, estava a coisa. Parecida mais com um ser humano, em formas metálicas.

—Um amigo meu trouxe isso pra cá. Disse que encontrou largado no meio da floresta. Tem uma etiqueta do nome: Boyce.

—É um experimento?— Patrícia pergunta, alisando os fios soltos de Boyce.

—Provavelmente, um experimento inacabado. Como você sabe?

—Papai tinha um melhor amigo, ele se chamava Boyce também.— analisou a máquina de longe, fazendo algumas anotações mentalmente.— Se conseguirmos consertá-lo e depois ligá-lo, eu e Alia chegamos em nosso destino mais rápido do que o esperado!

O sol castigava, Ellie estava a ponto de andar sem camisa, revirando os olhos a todo momento. Joel não estava muito diferente, com alguns botões da camisa xadrez abertos, com uma capa de livro (que achara no chão) o abanando. Estavam à poucos quilômetros do esconderijo de Bill, e ainda não tinham visto nada vivo ou morto. Após poucos minutos andando, os dois conseguem chegar, finalmente, ao esconderijo. Mas, não é um Bill vivo que os surpreende. O corpo do amigo de Joel estava jogado no chão, sem resquícios de sangue, bala, ou mordida. Joel apostava que era apenas um coma alcoólico, já que o amigo curtia beber. Entretanto, quando aproximou a mão do pescoço dele, checando a pulsação, soube imediatamente que tinha algo errado. Não havia pulsação. Bill estava morto, e não deixou nada que pudesse contar a causa da morte. Joel respirou fundo, olhando para Ellie, balbuciando o ocorrido. A menina apenas assente, não sentia nenhuma afeto pelo homem, ainda, sim, era uma morte.

—Sem sinais de mordida, luta... Nada que possa caracterizar que ele foi atacado.— Joel lamenta, levantando-se.

—Você acha que...— Ellie hesita, sabendo que aquilo geraria outra discussão. Porém, a curiosidade era maior.— Você acha que elas fizeram isso?

—Por que elas matariam Bill? Aliás, por que elas viriam até aqui?

—Por que elas foram embora?— Ellie ironiza, mesmo recebendo um olhar mortal.

—Nós vamos achar elas e perguntar o que elas estão fazendo. Melhor para você?

—Bem melhor.— revira os olhos, pegando um pedaço de madeira no chão.— Ei, o que acha de vasculhar o lugar? Podemos achar algo importante, ou coisa assim.

—Você fica com esse lado, eu fico com o outro.

Ellie seguiu para a esquerda, onde tinha vários suprimentos. Pegou-os, na intenção de fazer um coquetel molotov, bomba de fumaça, bomba de pregos, ou kit médico. Um gemido de dor a atrapalha, estava vindo do mesmo lugar que o corpo de Bill estava. Chegando lá, com o pedaço de madeira na mão, ela soltou a madeira, surpresa.

Como diabos Patrícia estava ali? Ainda mais, sangrando?

"Nascer, viver, sobreviver, reproduzir, morrer. Essa era nova ordem natural do mundo, e não há ser vivo que possa escapar. "

A Lagarta - Pizzle.