Surreal - Art and Insanity

Capítulo 69 - Alice


Anne e eu não ficamos muito tempo dentro da casa, preferimos andar um pouco pelo grande jardim iluminado, era realmente muito bonito durante a noite e o lago artificial melhorava ainda mais a paisagem.

Anne sentou no gramado de baixo de uma arvore, ela não parecia estar incomodada ou preocupada com o vestido. mas não havia me encarado desde que cumprimentamos Adam, vi apenas seus olhos acinzentados olhando rapidamente para alguns pontos, mas era como se ela não estivesse ali. E eu detestava isso.

Pensei em todos os motivos para ela estar daquele jeito, mas nada fez sentido.

Sentei ao seu lado tentando pensar em outras coisas que não fossem teorias e paranoias, as quais só me faziam perder tempo e ganhar mais preocupações. Estar ali tinha sido meu desejo em algum momento, mas não me satisfez nenhum pouco estar ali. Se não fosse pela Anne já teria dado meia volta e ido para casa, fazer qualquer coisa seriam mais produtivo do que estar ali.

_Achou que isso seria mais animado?_ Indaguei olhando para o lago a nossa frente, mas pude perceber que ela saiu de seus pensamentos e sorriu.

_Para dizer a verdade, não sei o que achei. Não esperava nada de bom, você que queria vir.

_As vezes não sei se o que quero vale a pena.

Ela finalmente encarou-me, mas eu não retribui. Continuei fitando o reflexo das luzes no lago, elas pareciam navegar tão livres que ninguém poderia atrapalha-las, mas eu sabia que quando amanhecesse elas já não estariam ali, ela também não e nem eu, então olhei para o lado.

O canto dos lábios dela estavam um pouco franzidos, mas não eram por um sorriso eminente e sim por ser uma mania que tinha para não demonstrar seu descontentamento verbalmente.

_Se você cogitou não valer a pena é porque não vale, não gaste o seu tempo._ Suas palavras soavam como as de um conselho, mas seu tom era duro como o de uma ofensa. Nada daquilo condizia com seus olhos que estavam distantes, frios.

Algum tempo passou, no qual ficamos em silencio, um silencio sepulcral que pela primeira vez me incomodou.

Eu não tinha um pensamento que me prendesse a ponto de não ouvir aquele grande nada. E talvez o pior nem fosse não saber o que ela estava pensando, mas sim o que eu estava pensando.

_Anne... Eu... Me desculpe

Aquela foi a segunda fez, foi menos difícil que a primeira, mas ainda assim foi difícil.

_Pelo que?_ Ela indagou e tive que olha-la diretamente.

_Por tudo_ Tentei ser mais convincente, mostrar que estava verdadeiramente querendo que ela aceitasse minhas desculpas, que acreditasse.

_Acho que essa foi sua resposta mais alheia desde que começamos a conversar. Do que exatamente você está se desculpando?

Ela estava me desafiando, mas eu já não sentia como se aquilo fosse uma grande ofensa, era apenas ela...

_Por ter te trazido aqui e por todas as outras coisas que fiz, por ter me aproveitado de todas as situações para te deixar desconfortável.

Você está arrependido do que fez?_ A pergunta veio junto com sua sobrancelha erguida e seu olhar me dizendo que não estava acreditando.

_Não exatamente, não me arrependi do que fiz, mas sim de como fiz. Existia uma forma mais sutil de aproximar-me._ Expliquei dando de ombros.

_Está desculpado._ Anne falou e sorriu por fim, mas seus olhos não tinham a mesma vida.

Passei mais algum tempo sentado ao seu lado, mas o silencio continuou a me incomodar.

_Vou pegar algo para beber, quer que eu busque algo em especial?_ Perguntei levantando-me.

_Não, mas não se preocupe em me trazer algo sem álcool, hoje não tomei meus remédios especialmente para isso.

Não pude deixar de me preocupar, mesmo tendo prometido a mim mesmo que não a trataria de forma diferente por causa de seu problema, que ela não se tornaria frágil aos meus olhos, mas era quase impossível, parecia que a qualquer momento ela poderia se quebrar.

Sem dizer mais nenhuma palavra, andei de volta até a casa, tudo continuava da mesma forma de quando sai de dentro dela. Fui diretamente ao lado onde haviam as bebidas, as quentes estavam em cima de uma grande mesa, as frias num grande freezer. Não soube o que pegar para ela, nunca tinha a visto tomar algo que não fosse um suco natural, comer sanduiches (também naturais) e bolinhos.

Algo me disse para não pegar uma bebida quente, mesmo estando frio, pensei em algo mais doce, mas não havia nada doce ali. Então entrei na cozinha. Adam não recusaria uma bebida para uma visita como eu.

Havia de tudo ali, fui passando os olhos pelas prateleiras, até que encontrei uma pequena garrafa, em seu rótulo tinha um emblema bonito, mas comum naquele tipo de bebida. As equipes de marketing daquelas marcas deviam saber o quanto os homens que são a maioria entre os consumidores, gostam de emblemas... É algo quase infantil, como a sensação de ter um símbolo que o representasse pelo menos em quanto estivesse bebendo.

Assim que me virei com a pequena garrafa em mãos, pronto para pegar alguma bebida sem álcool para mim, dei de cara com Alice.

Eu sabia que ela estaria na festa, mas não pensei que a encontraria tão rapidamente e de forma tão repentina.

Como de costume, tentei não parecer surpreso, deu um sorriso educado e como percebi que ela nada diria comecei a falar.

_Olá Alice...

Ela continuou me olhando, parecia pensativa, seria como nunca havia a visto. Até que subitamente sorriu como se acabasse de me ver. Pensando que talvez ela estivesse embriagada não me importei muito com seu comportamento. Estava quase passando por ela para voltar para o jardim.

Entretanto fui impedido, ela deu um passo a minha frente e respirou profundamente. Esperei algum inicio de conversa, do tipo que me fazia perder tempo dando sorrisos e desculpas, mas ela não se pronunciou apenas olhou-me com seus olhos envoltos com uma pintura escura, sua expressão estava como nunca vi.

_Você está bem?

_Sim Sebi, estou bem..._ Seus olhos continuavam fixos em mim. Até que abriu um sorriso e indagou como se seu comportamento fosse completamente normal._ E você, como está?