Capítulo 37 - Inconveniente

Anne estava andando rapidamente entre os alunos animados que saiam dali, andei mais rápido para alcança-la; aquilo já estava se tornando muito comum entre nós.

_Anne..._ Falei um pouco ofegante quando consegui a alcançar._ Passo na sua casa mais tarde. _Continuei quando já havia conseguido recuperar o fôlego.

_O-o quê?_ Ela perguntou franzindo o cenho.

_Para o projeto, precisamos resolver muitas coisas... Ah, e não me esqueci do meu sanduíche natural_ Falei dando as costas para uma Anne com olhos arregalados e com os lábios entreabertos. Era uma ótima imagem, poderia ficar olhando aquela expressão dela por muito tempo.

Eu tinha a sensação de que algum dia poderia não ver mais aquelas expressões, que tudo fosse como era antes, como se as coisas pudessem voltar a ser como eram antes: Anne quase inexpressiva, com respostas monossilábicas e eu tentando fazê-la olhar-me. Continuo a mesma coisa, mas ela não.

Em casa eu não tinha muito o que fazer, era entediante como sempre; as vezes pintava, lia, escrevia alguma coisa, dormia. Já havia desistido a muitos anos de procurar programas interessantes na televisão... Em fim, eu seguia minha rotina entediante.

Percebi naquela época que meus pais começaram a evitar-me, isso era de se esperar, pois eles nunca foram muito presentes e era natural que a descoberta dos meus inconvenientes mentais os afastasse ainda mais.

Esperei algum tempo sentado em minha cama, até que resolvi ir até a casa de Anne. O caminho foi tranquilo até chegar à casa excêntrica.

Pressionei por alguns segundos o interruptor da campainha e aguardei, olhei tudo a minha volta: as flores bem cuidadas no jardim, a grama bem cortada, a simplicidade em tudo ali, as casas do outro lado da rua e os poucos carros estacionados, tudo ali estava em completa ordem, parecia um lugar fora da cidade, um lugar que parecia não pertencer àquela cidade, parecia não pertencer a lugar algum.